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CAPÍTULO II – ESTUDO EMPÍRICO

4. Natureza do estudo

Com o objectivo de definir a natureza do estudo, torna-se necessário, primeiro de tudo, identificar a metodologia e o método dentro de uma investigação científica.

A metodologia delineada neste estudo aborda aspectos qualitativos, dando ênfase a aspectos qualitativo-interpretativos, e tendo uma dimensão temporal delimitada no período em que foram efectuadas as entrevistas, 2010/2011, procedendo-se a uma análise qualitativa, não deixando, porém, de recorrer a tratamentos quantitativos.

Os instrumentos de recolha de dados, que mais à frente serão abordados, referem-se a entrevistas realizadas a 25 Magistrados Judiciais da 1ª Instância, da Relação e do Supremo Tribunal de Justiça, bem como uma análise de acórdãos, sentenças, doutrina, teorias, estudos e pareceres.

Podemos enquadrar três tipos de estudos exploratórios, a saber: o estudo exploratório descritivo-combinado; os estudos que utilizam procedimentos específicos para a recolha de dados, por exemplo, a análise de conteúdo, e os estudos de manipulação experimental, que demonstram a viabilidade de determinada técnica ou programa com uma solução viável.

O que mais se adequa à nossa investigação, é o estudo que utiliza procedimentos específicos para a recolha de dados, uma vez que pretendemos identificar, através desta investigação, os factores geradores e determinantes da credibilidade do testemunho e que contribuem para a sua dimensão e relevo. Sendo objectivo desta investigação recolher as opiniões de Juízes das várias instâncias, sobre a credibilidade do testemunho e aspectos que o influenciam. No presente estudo, optamos pela recolha de dados através de entrevista e análise documental. Neste sentido, procedemos anteriormente à revisão da literatura, a uma análise do que é a prova, do conceito da livre apreciação desta pelo julgador, da prova testemunhal, da testemunha, do testemunho, da percepção e da memória, da mentira nos Tribunais, das emoções, da actividade gestual e da credibilidade do testemunho.

4.1. Opções das técnicas metodológicas da investigação

A investigação foi realizada nos anos 2010/2011, limitada aos métodos de recolha de dados através das entrevistas efectuadas a Magistrados Judiciais das várias instâncias e da análise documental de acórdãos, sentenças, doutrina, pareceres e estudos pertinentes para o tema em apreço.

Pretendíamos entrevistar um maior número de Senhores Magistrados, porém, em função de situações adversas e falta de acesso aos mesmos, foram entrevistados apenas os que se disponibilizaram a responder às entrevistas.

4.1.1. A Entrevista

A entrevista tem como principal objectivo obter informações acerca de determinado assunto, sendo efectuada através de uma conversação de natureza profissional. É um procedimento utilizado na investigação social, para a recolha de dados ou para apoiar no diagnóstico ou tratamento de um problema social.

Trata-se de um diálogo estabelecido de forma metódica entre entrevistador e entrevistado, que tem como objectivo obter determinada informação do entrevistado, sendo, para tal necessário que o entrevistador especifique a informação que deseja obter e defina o tipo de entrevista que irá realizar.

Existem diferentes tipos de entrevistas, que variam de acordo com o objectivo do entrevistador. A entrevista estruturada, em que o entrevistador segue um plano previamente definido, sendo as questões colocadas pré-determinadas. A entrevista não estruturada é uma forma de o entrevistador poder explorar mais amplamente uma determinada questão, na medida em que tem liberdade para desenvolver cada situação na direcção que considere mais adequada. Neste tipo de entrevista, as questões são, de uma forma geral, abertas e podem ser respondidas no âmbito de uma conversa informal. Neste estudo, realizou-se uma entrevista semi-estruturada a Magistrados Judiciais. As questões foram previamente elaboradas, com o objectivo de seguir um plano definido, evitando assim o desvio de opiniões.

A entrevista semi-estruturada efectuada é composta por 6 questões, que dividimos em 5 categorias de análise – factores que influenciam negativa e positivamente a credibilidade do testemunho; como apurar se um testemunho emerge de conhecimento directo ou de falsa memória; alteração de aspectos da realidade ao longo do depoimento e sua

138 repercussão na credibilidade; depoimento genericamente pouco credível mas gerador de convicções, e, por último, da necessidade da identificação das razões para a ausência da credibilidade (Anexo 5 – Guião da entrevista).

4.1.2. Análise documental

A análise documental revelou-se uma fase importante para o entendimento das questões gerais deste estudo. Quando se inicia uma investigação que inclui análise documental, pode-se definir por duas abordagens, sendo a primeira uma abordagem orientada para as fontes e a segunda orientada para o problema. A investigação realizada faz uma abordagem orientada para as fontes, na medida em que analisa jurisprudência, doutrina, pareceres, escritos e estudos oriundos das mais variadas instâncias e saberes.

A análise documental pode ser usada segundo duas perspectivas: servir para complementar a informação obtida por outros métodos, esperando encontrar-se nos documentos informações úteis para o objecto em estudo; e, ser o método de pesquisa central, ou mesmo exclusivo de um projecto, e, neste caso, os documentos são o alvo de estudo em si próprios (Bell, 2004).

A análise documental pode ser entendida também como uma operação ou um conjunto de operações que visam representar o conteúdo de um documento sob uma forma diferente da original, a fim de facilitar num estudo posterior, a sua consulta e referenciação (Bardin, 1995). Enquanto tratamento da informação contida nos documentos acumulados, a análise documental tem por objectivo dar forma conveniente e representar de outro modo essa informação, por intermédio de procedimentos de transformação. O objectivo é o armazenamento sob uma forma variável e a facilitação do acesso ao observador, de tal forma que este obtenha o máximo de informação com o máximo de pertinência.

4.2. Caracterização da amostra

Nesta investigação foi efectuado um estudo sobre factores determinantes ou decisivos para a credibilidade dos depoimentos, sendo sujeita uma amostra que abrange 25 Magistrados Judiciais.

4.3. Técnicas de análise dos dados

A análise dos dados recolhidos durante o processo de investigação é fundamental para alcançar os objectivos delineados, pois, é neste momento que as capacidades crítica e reflexiva do investigador contribuem para uma percepção sobre o objecto de estudo. Diante dos instrumentos de recolha de dados utilizados nesta investigação optamos pela análise de conteúdo.

4.4. Análise de conteúdo

Devido à natureza deste estudo iremos utilizar a análise de conteúdo para melhor entender os componentes da investigação. A análise de conteúdo, que, segundo Bardin (2000, p. 27) se define como ―um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando por procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens, obter indicadores quantitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) das mensagens‖. A análise de conteúdo é, segundo Bardin, a interpretação das comunicações através do conteúdo das mensagens emitidas. Esta técnica tem vindo a ser utilizada ao longo dos anos com a finalidade de descrever, de forma sistematizada, o conteúdo das comunicações.

Bardin (2000) assinala três etapas básicas no trabalho com a análise de conteúdo, a pré- análise, a descrição analítica e a interpretação inferencial. A pré-análise é a etapa que tem por objectivo a organização do material. Numa segunda etapa, iniciaremos o estudo do material organizado, orientado pelas hipóteses e referenciais teóricos. A última etapa consiste na interpretação inferencial, apoiada nos materiais de informação.

4.5. Triangulação de dados

Uma vez que optamos por mais do que um instrumento de recolha de dados, torna-se fundamental a sintetização e a condensação da multiplicidade de informação obtida. Uma das técnicas que nos apoia nesta tarefa é a triangulação.

Para Yin (2001) esta é uma técnica que permite utilizar várias fontes de evidências, que contribui para a validade do constructo dos instrumentos utilizados, dado que várias fontes fornecem várias avaliações do mesmo fenómeno. O tipo de triangulação que usamos nesta investigação denomina-se de triangulação de dados, uma vez que

140 confrontamos dados recolhidos através de entrevistas e da vasta análise documental. Além deste tipo de triangulação, temos a triangulação de pesquisadores, a triangulação da teoria e a triangulação metodológica (Patton, 1990).

Também para Guba e Lincoln (1989) a triangulação deve ser sempre precedida de uma recolha de dados em perspectivas adversas, utilizando diversos métodos e fontes, para que as preferências dos investigadores sejam comprovadas.