• Nenhum resultado encontrado

3. ASPECTOS GERAIS DA EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS

3.2. Natureza jurídica

Conforme já asseverado, educação em direitos humanos é um direito humano, tanto por sua fundamentalidade – diretamente relacionado à dignidade da pessoa humana e instrumento para a efetivação dos direitos fundamentais – quanto pela previsão em diversos instrumentos legais.

No âmbito da ONU, é possível extrair a fundamentalidade do direito de diversos documentos que serão analisados, valendo apontar, desde já, a Declaração das Nações Unidas sobre educação e formação em direitos humanos422, que reconhece a educação em direitos

420 Plano de ação para a primeira etapa do Programa Mundial para educação em direitos humanos. Disponível

em: <http://www.dhnet.org.br/dados/textos/edh/br/plano_acao_programa_mundial_edh_pt.pdf> Acesso em: 24 jul 2013.

O plano de ação para a primeira etapa foi prorrogado para 2009 por meio da Resolução 6/24, de 28 de setembro de 2007, do Conselho de Direitos Humanos.

421“Professa-se como garantia da total liberdade a demissão completa do Estado enquanto educador político

(mesmo a formação para a Cidadania e os Direitos Humanos é quase nula, em países democráticos – pelo menos é muito menor do que deveria ser), com a preocupação, reconhecidamente saudável, de não doutrinar. É o espectro totalitário, que dá receios destes, sabemos bem...Mas este laissez faire tem tido o catastrófico resultado de que a democracia, valores democráticos, cidadania democrática, estarem ao deus-dará da sorte, para mais caluniadas pelas desventuras que a ‘República real’ causa à República dos sonhos (diríamos, recordando Álvaro Ribeiro).” CUNHA, Paulo Ferreira da. Crise do Direito e do Estado e Educação para os Direitos Humanos. In: CLÈVE, Clèmerson Merlin; SARLET, Ingo Wolfgang; PAGLIARINI, Alexandre Coutinho (coords). Direitos

humanos e democracia. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 125.

A mesma opinião foi reproduzida por CUNHA em Educação republicana para os direitos humanos: sua importancia num Estado Democrático de Direito. Revista da Defensoria Pública. Ano 4, n. 2, p. 98, jul./dez. 2011.

422 Segundo a declaração, toda pessoa tem o direito de obter, buscar e receber informação sobre todos os direitos

humanos como um direito, que é favorecido pelo efetivo gozo de todos os direitos humanos, em particular dos direitos à educação e informação.

Na esfera da OEA, vários documentos que serão analisados reconhecem a educação em direitos humanos como um direito humano a partir do artigo 13 do Protocolo Adicional à Convenção Americana de Direitos Humanos em matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais –Protocolo de San Salvador, entre eles o Pacto Interamericano pela Educação em Direitos Humanos, que, inclusive, refere à educação em direitos humanos como um direito humano no sistema interamericano.

No plano interno, a educação em direitos humanos também deve ser compreendida como um direito fundamental, considerando o contexto da Constituição Federal de 1988, que criou um Estado Democrático de Direito, fundado na dignidade da pessoa humana e que garante os direitos humanos, entre eles a educação. Conforme observam Maués e Weyl,

o amplo reconhecimento dos direitos humanos/fundamentais pela Constituição de 1988, além de impor um conjunto de obrigações ao Estado e aos próprios particulares para com sua proteção e promoção – cujo cumprimento contribui decisivamente para o fortalecimento da cultura humanista – também fornece bases para a educação em direitos humanos, ao promover o conhecimento de seu conteúdo e das garantias que podem ser acionadas para sua concretização423.

O direito à educação foi disciplinado no artigo 205 e seguintes da Constituição Federal, que estabeleceu que “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Nota-se que o dispositivo constitucional asseverou a imprescindibilidade da educação para o exercício da cidadania, fundamento da República Federativa do Brasil (artigo 1º, inciso II, da Carta Magna), o que também foi reafirmado pela lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.396/96).

Ademais, conforme verificado, o § 9º do artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases, incluído pela recente Lei nº 13.010 de 26 de junho de 2014, referindo-se aos currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio, neles incluiu a educação em direitos humanos.

são essenciais para a promoção do respeito universal e efetivo de todos os direitos humanos, em conformidade com os princípios da universalidade, indivisibilidade e interdependência.

423 Cf. MAUÉS, Antonio; WEYL, Paulo. Fundamentos e marcos jurídicos da educação em direitos humanos. In:

SILVEIRA, Rosa Maria Godoy; DIAS, Adelaide Alves; FERREIRA, Lúcia de Fátima Guerra; FEITOSA, Maria Luiza Pereira de Alencar Mayer; ZENAIDE, Maria de Nazaré Tavares (Orgs). Educação em direitos humanos: fundamentos teóricos e metodológicos. João Pessoa: Universitária/UFPB, 2007, p. 111.

Evidente, portanto, que o direito à educação em direitos humanos foi inserido no plano constitucional, por ser necessário para o pleno desenvolvimento da dignidade humana e da personalidade e, portanto, imprescindível para o exercício da cidadania, da participação ativa e responsável nos destinos da própria existência e da vida política e social.

Não bastasse isso, o Brasil também incorporou a educação em direitos humanos como um direito ao ratificar uma série de tratados internacionais que conferiram essa condição a ela, entre eles o Pacto Internacional sobre direitos econômicos, sociais e culturais (artigo 13.1) e o Protocolo de San Salvador (artigo 13.2).

Por fim, o próprio desenvolvimento de uma política pública nacional, por meio do Programa Nacional de Educação em Direitos Humanos, que culminou no Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, não pode significar outra coisa senão o reconhecimento de que a educação em direitos humanos é um direito fundamental.