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4. NORMATIVAS DA EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS

4.2. Normativa na Organização dos Estados Americanos

4.2.2. Os programas específicos de educação em direitos humanos

4.2.2.4. O Marco estratégico 2011-2014: a educação como chave do futuro

Em 2011, foi lançado pelo IIDH o Marco estratégico 2011-2014: a educação como chave do futuro democrático. O documento traça um panorama da atuação do IIDH desde sua fundação, em 1980, quando foi criado para fortalecer os direitos humanos e contribuir para a consolidação da democracia, o que tem desenvolvido por meio, principalmente, da educação em direitos humanos558.

A partir desse histórico e das experiências adquiridas, o Marco estratégico 2011-2014 reafirma as diretrizes básicas anteriores e as adapta à conjuntura atual para construir o futuro, com a pretensão do IIDH “a fortalecer nossa visão e trabalho regional, a consolidar nossas alianças estratégicas, a melhorar nossos serviços educativos e formativos, e, com base em uma gestão baseada em resultados, a otimizar nossas contribuições ao desenvolvimento das condições educativas para o exercício do direito à vida digna e dos direitos humanos da população excluída, em situação de extrema pobreza e relegada nas Américas”559.

O Marco considera a complexa realidade dos Estados Americanos, na qual, a despeito da proliferação de diversas plataformas paralelas à OEA, como UNASUR e CELAC, não

557 Ibid.

558 Observa que, desde 2000, o IIDH orientou seu trabalho operativo para esferas estreitamente relacionadas com

a educação em direitos humanos, quais sejam a participação política, a segurança e o acesso à justiça, com ênfase na população mais excluída.

Em 2003, foi apresentado o primeiro documento com estratégia institucional, “Âmbito para o Desenvolvimento da Estratégia Institucional”, no qual se fixaram os quatro conjuntos de direitos objetos de maiores esforços e ações – a justiça e a segurança; a participação política; a educação em direitos humanos; e a vigência dos direitos econômicos, sociais e culturais do sistema interamericano – bem como as trâs perspectivas transversais – a igualdade e eqüidade de gênero; o reconhecimento e a preservação da diversidade étnica; o fomento de espaços para a participação da sociedade civil e sua interação com o Estado.

Acrescenta que, desde 2006, o IIDH tem inserido “na agenda do sistema interamericano a perspectiva dos direitos humanos desde a dimensão da pobreza, a exclusão e a desigualdade social com enfoque de direitos” 558,

tanto que, no período de 2008-2010, “foi adotado o âmbito estratégico “Os Direitos Humanos desde a Dimensão da Pobreza” (outubro 2007), orientado a dar uma resposta inovadora, ética e de justiça desde a perspectiva dos direitos humanos, à premente pobreza nas Américas. Com essa orientação se propôs que, gradualmente, todas as ações do Instituto tivessem especial enfoque na priorização dos direitos dos grupos excluídos por suas condições econômicas sociais e culturais”. (Marco estratégico 2011-2014: a educação como chave do futuro democrático, p. 7. Disponível em: <http://www.iidh.ed.cr/multic/defaultIIDHpt.aspx?Portal=IIDHpt> Acesso em 15 mar 2014).

houve aumento da integração regional para melhorar os direitos sociais, e, na qual, embora tenha ocorrida a superação dos autoritarismos militares, a democracia não resolveu diversos problemas graves de igualdade, pobreza e violência. Tais condições exigem que se reflita sobre a qualidade da democracia e sua inter-relação com o desenvolvimento, segurança e igualdade e que as qualidades e potencialidades construídas pelo IIDH sejam sustentadas com uma visão realista, mas inovadora.

O documento estabelece a estratégia de promover a educação e a educação em direitos humanos às populações mais excluídas da região, para melhoria do nível de vida e do futuro da democracia e dos direitos humanos, com base no esquema prático do Pacto Interamericano de Educação em Direitos Humanos, valorizando-se o magistério e a melhoria da plataforma tecnológica, para garantir a educação em direitos humanos na faixa escolar de 10 a 14 anos.

Retoma e eleva à categoria de eixos temáticos os quatro conjuntos de direitos e temas transversais sustentados em 2003, de modo que os eixos temáticos passam a ser: a) educação em direitos humanos; b) justiça e segurança; c) participação política; e d) direitos econômicos, sociais e culturais. Os mesmos temas transversais – a igualdade de gênero, o reconhecimento e a preservação da diversidade étnico e cultura, a interação sociedade civil e Estado e a segurança humana – funcionam como critérios de priorização de cada eixo temático, que seguirão as seguintes linhas de atuação nos programas e iniciativas: a) investigação; b) formação; c) assessoria técnica; d) trabalho em redes; e) incidência; f) informação e comunicação (editorial, biblioteca conjunta Corte IDH-IIDH, Centro de Documentação e página web).560

560 Sobre o segundo eixo temático, acesso à justiça e segurança, trata, inicialmente, do acesso à justiça e assevera

que se continuará apoiando a justiça rápida, eficaz e acessível a todos e apresenta os seguintes temas prioritários: a) fortalecimento das capacidades das pessoas promotoras e defensores de direitos humanos; funcionários/as públicos, operadores/as jurídicos/as tomadores/as de decisões e usuários/as do IIDH; b) acesso à justiça interamericana, com ênfase nos grupos em condição de vulnerabilidade; c) investigação e denúncia da impunidade.

No tocante à segurança cidadã, “entendida como a situação política e social na que as pessoas têm legal e efetivamente garantido o gozo pleno de seus direitos humanos e na que existem mecanismos institucionais eficientes para prevenir e controlar as ameaças ou coerções ilegítimas que podem lesionar tais direitos”, salienta que o foco é atender as comunidades que mais sofrem pelo desamparo social e político e fixa os seguintes temas prioritários: a) função policial como garante de direitos humanos; b) direito das vítimas, com ênfase naquelas em estado de maior vulnerabilidade; c) prevenção comunitária da violência; d) enfoque de segurança humana. Com relação à participação política, entendida como a participação real e plena de todas as pessoas na vida pública (decisão sobre sistema de governo, escolha e controle de representantes, definição de normas e políticas), apresenta como temas prioritários: a) exercício da cidadania, com ênfase nas populações em condições vulneráveis; b) consolidação dos processos eleitorais por meio da valoração e fortalecimento da autonomia e as capacidades institucionais dos organismos eleitorais; c) democratização dos partidos políticos e exercício de direitos políticos (Artigo 23 CADH); controle político, auditoria social e prestação de contas das autoridades públicas.

Sobre o eixo temático da educação em direitos humanos, observa que é o eixo articulador do sistema educativo formal e que:

Trata-se de um processo de aquisição de conhecimentos, habilidades e valores necessários para conhecer, compreender, afirmar e reivindicar os próprios direitos, sobre a base das normas dos distintos instrumentos internacionais de direitos humanos. A EDH está orientada a promover que, desde a infância, as pessoas compreendam seus direitos e responsabilidades e pratiquem e fomentem uma cultura para seu respeito e reivindicação. Da mesma forma, propicia a compreensão da cidadania a respeito da inter-relação entre direitos humanos, Estado de Direito e o sistema democrático para o exercício de valores, atitudes e condutas concordantes com eles. A EDH constitui o núcleo das atividades do IIDH. No âmbito da estratégia atual, será nossa ferramenta central para que os grupos humanos tradicionalmente discriminados - com ênfase nas mulheres, os povos indígenas, as comunidades afro-descendentes, as pessoas incapacitadas e em situação de pobreza- possam aceder a seus direitos e organizar-se para sua promoção e proteção desde a idade escolar.561

Apresenta os seguintes temas prioritários: a) promoção e acompanhamento à implementação da EDH e do PIEDH 2010 como parte das estratégias de política pública; b) reconhecimento legal do direito à educação em direitos humanos; c) fortalecimento das condições e recursos pedagógicos do sistema educativo para a educação em direitos humanos; d) desenvolvimento das capacidades institucionais e das pessoas promotoras de direitos humanos, funcionários/as públicos/as, operadores/as jurídicos/as, tomadores/as de decisões e usuários/as do IIDH.

Após cuidar dos eixos temáticos, o documento aborda os temas transversais da igualdade de gênero, da diversidade étnica e cultural, da relação da sociedade civil-estado e da segurança humana, estabelecendo subtemas entre eles.

Em seguida, o documento estabelece linhas de ação para formular e organizar os programas e projetos, entre eles a linha de ação investigação, a linha de ação formação, a linha de ação assistência técnica, a linha de ação trabalho em redes a linha de ação incidência e a linha de ação informação e comunicação.

Em seguida, o documento trata das alianças estratégicas e observa que o IIDH tem uma vasta rede de aliados e que pretende ampliá-la e especializá-la a partir de mecanismos de

No eixo temático direitos econômicos, sociais e culturais, tomando como base o Protocolo de São Salvador, o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966) a doutrina e a jurisprudência dos órgãos de proteção do SIDH e o sistema universal, bem como considerado a essencialidade de tais direitos, estabelece os seguintes temas prioritários: a) monitoramento e acompanhamento de indicadores de progresso no cumprimento de DESC no sistema interamericano; b) promoção da articulação do enfoque de DESC nas políticas públicas; c) modelos de justiça constitucional em matéria de amparo e tutela de direitos econômicos, sociais e culturais (DESC); d) revisão de práticas efetivas em matéria de DESC e direitos humanos desde a dimensão da pobreza. (Ibid.).

cooperação horizontal intra-regional entre os países e instituições das Américas”562. Trata, ainda, da gestão organizacional e da execução do âmbito estratégico.

Ao final, o documento apresenta as seguintes conclusões, que merecem ser transcritas:

“Este âmbito estratégico, assim como os lineamentos propostos ampliam, estendem e complementam o enfoque estratégico que desde 2001, tem orientado o trabalho institucional para a promoção ativa dos quatro conjuntos de direitos e as políticas transversais do IIDH. Este enfoque institucional é um imperativo ético, que se promove ao constatar que o cenário dos direitos humanos e a democracia está em constante movimento e acelerada transformação. A orientação geral que se propõe, aponta para sua especialização crescente em matéria educativa durante esta primeira década do século XXI, ao impulsionar a proposta da educação em direitos humanos (EDH) contida no Pacto Interamericano pela Educação em Direitos Humanos (PIEDH).

A educação, pois, é uma fortaleza do IIDH desde sua fundação e uma das áreas onde tem acumulado maior experiência, conhecimento especializado e capital relacional. Esta tendência tem se aprofundado perante a crise vivida durante esta complexa década, mediante a progressiva vinculação do trabalho educativo com os DESC. É um enfoque que lhe permitirá ao IIDH visualizar mais impactos e metas integradoras, assim como novas modalidades de trabalho, como o sistema de custos compartilhados com a cooperação Sul-Sul e a renovação de redes, em conjunto com a dignificação do trabalho do magistério e, em geral, do campo do ensino público em direitos humanos nas Américas.563

Da análise realizada sobre os planos da OEA, nota-se que, especialmente a partir do IIDH, o tema vem sendo desenvolvido de forma séria e aprofundada e tem contemplado as diversas esferas da educação em direitos humanos, destacando o especial enfoque da educação em direitos humanos no combate às causas da pobreza, exclusão e desigualdade social a que estão submetidas as populações vulneráveis.

562 Ibid, p. 30.