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Tempo de serviço dos trabalhadores na empresa B

6.3. APRESENTAÇÃO DAS ANÁLISES REFERENTES ÀS NECESSIDADES DOS OPERÁRIOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL

6.3.4. Necessidade de inovação

Ao se valorizar a inovação para as experiências individuais, as reais capacidades do ser humano podem ser de fato aproveitadas pela empresa.

É primordial criar um ambiente organizacional no qual se saiba conduzir os erros e acertos, fazendo com que as pessoas não tenham receio em participar, em inovar. Dar liberdade à experimentação a fim de criar um clima favorável ao aprendizado e, conseqüentemente, expandir a capacidade do trabalhador para criar e inovar.

A falta de criatividade e inovação tem muito a ver com os paradigmas organizacionais e culturais que direcionam à comportamentos predeterminados pela empresa e pela sociedade.

Segundo CHIA VEN ATO (1996) a criatividade representa a geração de idéias novas, enquanto a inovação a aplicação prática dessas idéias. A criatividade desenvolve novas soluções para os problemas percebidos, fornecendo a matéria-prima para a inovação. Neste sentido, a inovação significa o resultado prático da criatividade.

Embora as empresas queiram e precisem de inovação, geralmente são elas que criam mecanismos que bloqueiam a criatividade das pessoas e, em conseqüência, impedem a inovação. Tolhem tanto a liberdade das pessoas que estas se acostumam inconscientemente a trabalhar dentro de viseiras, voltadas exclusivamente para a continuidade das coisas e a considerar o conservantismo como filosofia de trabalho.

Ao seguir esta postura, observa-se que o ambiente organizacional da construção civil não possibilita a liberdade à experimentação, os trabalhadores são extremamente manipulados e reprimidos à simples execução de suas funções. Os trabalhadores sequer participam das decisões que os afetam diretamente.

Carlos José de Lacerda Chaves, da construtora Lacerda Chaves, em Ribeirão Preto - SP, acredita que “o trabalhador pode ter uma cultura não tão desenvolvida por causa da falta de oportunidade, mas é um ser humano como outro qualquer. O que ele não teve foi oportunidade de se expressar e participar, ou seja, de fazer parte de um sistema de uma empresa. É que ele é discriminado. Em qualquer empresa, é um trabalhador que é pago para fazer aquilo da maneira que for feita (REVISTA CQ-QUALIDADE, p. 14).”

No que tange à criatividade e inovação dos trabalhadores nos trabalhos realizados em canteiro, perguntou-se:

Para ser percebido pelos outros pelo trabalho que executo: a) faço tudo o que meu superior manda; b) sou criativo / inovador no meu trabalho.

No tocante a esta questão, a maioria dos trabalhadores (72%) afirmaram serem criativos, inovadores em seu trabalho, entretanto pode-se constatar por meio das respostas, que alguns profissionais confundem criatividade com iniciativa. Na verdade, o trabalhador já sabe o que deve fazer e toma as decisões previamente estabelecidas dentro de um

cotidiano já implícito, vivenciando uma liberdade à experimentação vigiada, em que eles são inconscientemente manipulados a um comportamento padrão.

Esta relação autoritária pôde ser bem caracterizada na empresa A, em que os trabalhadores sentem medo em tomar iniciativa, assumir riscos e cometer enganos, e a partir disso, limitam-se a uma rotina previamente estabelecida que os impede a assumir a possibilidade de insucesso de qualquer ação criativa. Para a criatividade desabrochar, o sistema autoritário deve diminuir, deve-se definir critérios de punição, de forma a não impedir que as pessoas se arrisquem na busca de novas alternativas cada vez melhores. As pessoas só irão se arriscar a assumir novos riscos se as forças de resistência e oposição diminuírem, à liberdade expandida e autonomia despertada.

No que tange à empresa B, observa-se que a administração é mais flexível, fazendo com que os trabalhadores possuam menos receio em dar opiniões a respeito do seu trabalho, sendo agentes mais participativos do processo de trabalho. Observa-se que os próprios funcionários já têm consciência, de que eles precisam deixar de ser espectadores do processo. Vale ressaltar a postura do gerente de obra desta empresa, que por meio do seu grande potencial de líder, dentre outras atitudes favoráveis, dava liberdade aos trabalhadores de experimentar, criar e participar. Ao seguir esta postura é possível melhorar o processo de trabalho a partir de idéias e sugestões de quem está com a mão-na-massa, dividindo responsabilidades, em que a busca de alternativas e soluções é realizada em conjunto.

A seguir transcreve-se algumas declarações:

“ ... eu faço do jeito que ele manda, mas às vezes eu dou uma sugestão e se fo r

melhor ele concorda. A gente aqui, tem a liberdade de dar opinião, de dar sugestão. ” (pedreiro, empresa B)

Quanto à pergunta: Tenho uma grande tendência a fazer as coisas: a) de modo diferente das outras pessoas, porém correto; b) como sempre todos fizeram.

Observa-se ao analisar esta questão que 83% dos funcionários afirmaram que realizam suas atividades do seu modo, como pode ser observado por meio das seguintes declarações:

aqui nunca dizem como é para fazer, falam o que é para fazer, aí cada um

fa z o serviço do seu modo”(contra-mestre-de-obra, empresa B)

“ ... todo mundo é diferente no trabalho, porque antes de tudo são diferentes como pessoa, cada um tem sua personalidade ... tem muita gente que fa z errado.” (eletricista, empresa B)

Entretanto, ao analisar as respostas dos entrevistados, conclui-se que para muitos a busca por inovação não existe, constata-se apenas que os trabalhadores, respeitando a sua individualidade, possuem formas diferenciadas de organizar um material no local de trabalho ou ainda de realizar um serviço. Claro que dentre estes, alguns profissionais procuravam desenvolver suas atividades da melhor forma possível, em decorrência disso se esforçam a buscar sempre melhorar o seu produto final dentro do limite de seu conhecimento.

E por que não descer ao detalhe dos métodos executivos, evitando assim delegar ao funcionário a responsabilidade de decidir qual é a maneira de executar o serviço, mostrar o certo, treinar? Afinal, discute-se aqui a necessidade de inovação, mas como inovar se na construção civil depara-se com uma mão-de-obra sem formação profissional e educacional? Ao seguir esta postura não significa desacreditar na capacidade profissional de uma força de trabalho, que na sua maioria é menos culta, e sim dar condições mínimas para que eles sejam profissionais hábeis para desempenhar suas funções.

Tornou-se então significativo, ao buscar satisfazer esta necessidade, utilizar de maneira inteligente a real capacidade destes trabalhadores, estimulando e ouvindo novas idéias, abrindo os canais de comunicação, obtendo colaboração irrestrita, valorizando a competência e utilizando a experiência profissional dos trabalhadores nas atividades desenvolvidas do treinamento realizado.