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A indústria da construção civil como executora da estrutura básica para o desenvolvimento do País e por absorver grandes contingentes de mão-de-obra, desempenha um importante papel social, porém, possui peculiaridades únicas que a diferem das indústrias dos demais setores.

Pode-se citar algumas peculiaridades desta indústria, segundo a visão de LIMA (1995):

• livre ingresso no subsetor de pessoas com pouca ou nenhuma qualificação profissional para desempenhar suas funções com qualidade, em geral com

baixo grau de instrução, com capacidade de iniciativa reprimida e, por vezes, com massa crítica pouco desenvolvida;

• utilização de trabalhadores sob vários tipos de vínculos empregatícios e formas diferentes de remuneração, que por sua vez provocam insatisfações pelas disparidades existentes;

• os métodos de construção são incorporados e difundidos pela própria força de trabalho, que podem acarretar vícios, além de criar forte barreira na aceitação por parte dos funcionários de novos métodos de trabalho;

• a estrutura de ofícios do processo produtivo da construção civil requer do trabalhador uma diferenciada qualificação para cada etapa da construção, sujeita-os ao deslocamento contínuo entre as obras em construção de uma empresa e mesmo à rotatividade, impedindo-os assim de conhecer e se integrar à organização e desenvolver relações amistosas com seus colegas, além de inviabilizar a eficácia dos programas de treinamento;

• faltam padronização dos serviços e qualidade dos materiais utilizados, que acarretam prejuízo financeiro e técnico para a empresa e para a qualidade do produto final, além de causar a insatisfação no trabalhador, ao encontrar maiores dificuldades na execução do seu serviço;

• a variabilidade é predominante quanto aos materiais e métodos construtivos, com baixa padronização e pouca estruturação, o que toma a atividade extremamente dependente do trabalhador;

• a forma como são transmitidas as informações, ordens de serviço, especificações, composições de materiais e metas, não permitem ao trabalhador espaço para a sua manifestação, seja para apresentar sugestões ou mesmo para esclarecer eventuais dificuldades e dúvidas, o que contribui para a falta de integração deste com a empresa;

• os níveis salariais são baixos quando comparados aos de outras indústrias, não permitindo sequer que o trabalhador satisfaça suas necessidades primárias, consideradas básicas para o ser humano. Esta estratégia de manutenção de um baixo nível salarial que as empresas erroneamente mantêm, como um meio de redução de seus custos, representa um fator de

entrave à qualidade do produto, afinal a qualidade depende diretamente do engajamento do trabalhador ao seu trabalho e, sem um salário justo, dificilmente isto ocorre.

Ao analisar este quadro pode-se verificar índices nada atrativos, nos quais os sintomas são: baixa produtividade, problemas de qualidade dos serviços, número elevado de acidentes, desorganização do local de trabalho, dentre outros problemas.

Vários profissionais discutem as causas e conseqüências destes problemas e buscam encontrar possíveis soluções, por meio de intervenções nas organizações. Ao se referir especificamente a estas possíveis soluções, pode-se enfatizar a importância que se deve fornecer às ações que objetivem qualificar a mão-de-obra. Verifica-se claramente que os operários não possuem a devida qualificação e não são totalmente integrados ao processo produtivo. Em decorrência desta falta de qualificação e integração adequadas, existe a dificuldade de visualização de todo o sistema, onerando custos, aumentando a possibilidade de perdas, diminuindo a qualidade dos serviços e ocasionando acidentes de trabalho, fazendo com que os resultados esperados fiquem aquém dos níveis de excelência que as empresas desejam e precisam alcançar.

SILVA (1994) destaca que a desqualificação da mão-de-obra, nas últimas décadas, é causada por fatores como: carência de programas de treinamento institucionais e dentro das próprias empresas; elevada rotatividade da mão-de-obra; utilização crescente de subcontratação e origem da mão-de-obra.

Para MUTTI (1995), a falta de parâmetros nas precárias técnicas de contratação, baixa remuneração, inexistência de treinamento, controle informal da segurança e higiene no trabalho e as precárias condições de vida dos trabalhadores são razões para desqualificação da mão-de-obra. Não deixando de considerar o fato de que a carência de programas de treinamento no setor, desestimula a busca de crescimento profissional dos trabalhadores.

De modo geral, a construção civil, caracteriza-se por más condições de trabalho e por indicadores sociais negativos, como elevados índices de acidentes de trabalho e baixos padrões salariais, justificados pelas empresas como decorrentes do despreparo profissional e baixa produtividade do trabalhador, assim como rotatividade e absenteísmo elevados, justificados por sua vez, pelo trabalhador, como conseqüência da insalubridade,

níveis salariais insuficientes e inadequada organização do trabalho. Este ciclo de insatisfação tanto por parte das empresas como por parte do trabalhador, acaba por formar um quadro em que a desqualificação impera (LIMA, 1995).

As condições de trabalho precárias e todos estes indicadores que delineiam o atraso da construção civil, constituem em um entrave natural ao comprometimento do trabalhador com a empresa, acarretando em um serviço de baixa qualidade. Segundo VROOM (1997), os relacionamentos eficazes entre trabalhadores e empresas baseiam-se na confiança dos funcionários. No entanto, o desenvolvimento desta confiança por parte dos funcionários, freqüentemente exige que sejam superados anos de experiências desastrosas e crenças disseminadas entre alguns de que as empresas os exploram, nas quais muitos se sentem decepcionados ou prejudicados quanto ao ambiente de trabalho ou ao trabalho propriamente dito.

Melhorar as condições de trabalho, assumir novas formas de gestão e satisfazer, na medida do possível, as necessidades dos trabalhadores, é o caminho que possibilitará manter profissionais com maior qualidade, entendida aqui como sinônimo de comprometimento, integração, participação etc.; e que justificará o esforço conjunto das empresas com relação ao resgate da qualificação do subsetor da construção civil em geral. Afinal, como discutido anteriormente, a qualidade almejada pelas empresas só terá sentido no momento em que houver a conscientização destas de que os investimentos não devem concentrar-se exclusivamente em tecnologia, mas sim, paralelamente e na mesma proporção, no seu capital humano, provendo não só a este capital de condições de trabalho propícias à satisfação das necessidades físicas e psíquicas dos trabalhadores, mas também dando-lhes condições de aperfeiçoamento e de atualização profissional.