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A fase de negociação, e sendo o Artigo 50º do TUE omisso quanto ao seu conteúdo, deverá desenrolar-se de modo semelhante à inerente ao acto de adesão de um

93 - O processo de co-decisão, ao abrigo dos Tratados da UE, é aplicável a quase todas as matérias em que o Conselho vota por maioria qualificada, que são a grande maioria.

Estado à UE, embora não obedecendo a critérios pré-definidos95. Paulo Sande lembra mesmo que será preciso “abrir dossiês nas diferentes políticas” comunitárias, que o Estado demissionário terá de “cumprir com as suas obrigações”, à semelhança do que sucede com o processo de adesão e que as diferenças entre os procedimentos de saída e de adesão prendem-se sobretudo com o facto da UE “não poder dizer que sim ou não a um Estado membro que pretenda sair, contrariamente ao que se passa na adesão”96

e com a força negocial de cada uma das partes nos processos.

Assim como num acto de adesão, as matérias em negociação num processo de retirada da UE vão variar de Estado para Estado, desta feita consoante o estipulado nos respectivos Tratados de Adesão, a fase de integração em que se encontra e o acervo comunitário alcançado97 e as futuras relações de interesse a manter com a UE. O Estado demissionário terá, certamente, que renegociar diversos dossiês e acertar „contas‟ com a UE, tendo em conta os financiamentos obtidos enquanto membro da União e as suas contribuições para o orçamento comunitário.

Se em causa está apenas a saída do Estado da Zona Euro, então só um dossiê deverá ser alvo de negociação, o relativo à UEM e ao euro, às políticas monetárias e cambiais, ficando o Estado ligado à UE em todo o restante acervo comunitário. Será, certamente, uma negociação mais fácil e menos prolongada98.

Mas, qualquer que seja a situação, o „ajuste de contas‟ dependerá da força negocial de cada uma das partes envolvidas nas negociações: de um lado a UE e do outro o Estado membro.

95

- CE - Compreender o Alargamento - A política de alargamento da União Europeia. Luxemburgo: Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias, 2007. ISBN : 978-92-79-06646-7. Vide Critérios de Copenhaga para a adesão e os dossiês (num total de 35) que respeitam ao acervo comunitário e que são alvo de negociação com todos os Estados candidatos. Estes dossiês são: Política social e de Emprego; Política da Empresa e Industrial; Redes Transeuropeias; Política Regional; Aparelho Jurídico e Direitos Fundamentais; Justiça, Liberdade e Segurança; Ciência e Pesquisa; Educação e Cultura; Ambiente; Protecção dos Consumidores; União Aduaneira; Relações Externas; Política Externa, de Segurança e Defesa; Controlo Financeiro; Disposições Financeiras e Orçamentais; Instituições; Livre Circulação de Bens e Pessoas; Livre Circulação de Capitais; Direito de Estabelecimento; Mercados Públicos; Direito de Propriedade Intelectual; Política de Concorrência; Serviços Financeiros; Sociedade de Informação; Agricultura; Segurança Alimentar; Pesca; Política de Transportes; Energia; Política Económica; Fiscalidade; Estatísticas; Outras Questões.

Para a saída não é necessário cumprir quaisquer critérios como na adesão. 96

- In entrevista a 11-02-2010.

97 - Quando um país adere à UE passa a ser obrigado a respeitar todas as leis e normas vigentes na União, seja em matéria agrícola, comercial, industrial, concorrencial, social, ambiental, financeiro, energética e de defesa do consumidor, entre muitas outras políticas que hoje são comuns aos Estados membros. 98 - Note-se que nunca ultrapassará os dois anos, de acordo com o estabelecido no Artigo 50º do TUE.

À luz da teoria intergovernamentalista, a força negocial de um Estado será maior no processo de saída, onde a União Europeia não tem a possibilidade de recusa, nem o próprio Estado tem tanto em jogo, do que num processo de adesão, em que a União ou qualquer Estado membro podem negar a entrada a um país candidato que, por seu lado, pouco tem a negociar na prática: “(…) As negociações de adesão centram-se nas condições e calendarização da adopção, aplicação e execução das normas da UE por parte do país candidato. Referimo-nos a aproximadamente 90.000 páginas de legislação. Estas normas (também conhecidas por “acervo”) não são negociáveis. Para os candidatos, é apenas uma questão de aceitar como e quando adoptar e aplicar as normas e procedimentos da UE”99

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Como explica Andrew Moravcsik100, referindo-se à adesão: “(…) nestas negociações, os países candidatos encontram-se sempre numa posição negocial fraca vis a vis dos seus parceiros da UE e concedem mais em troca”. E isto porque, explica: “(…) países mais interdependentes tendem a beneficiar mais da liberalização dos mercados e estão, assim, mais disponíveis para fazer mais concessões (…). Estes países, geralmente, são forçados a fazer concessões desproporcionadas durante as negociações. De facto, isto é função dos seus benefícios líquidos (…)”. Segundo este teórico, o alargamento é sobretudo benéfico para o novo Estado membro, pelo que este parte para as negociações já relativamente fragilizado e a ter de fazer mais concessões para conseguir alcançar o acordo, custe o que custar, que permita a sua entrada na UE. E estas concessões serão tanto maiores, quanto mais pobre economicamente for o Estado aderente, pois menos contribuirá para o bem estar global da Europa.

Ora, num processo de saída, o Estado membro parte para as negociações sabendo, a priori, que não „precisa de mendigar‟ a sua retirada, pois esta não lhe pode ser nunca recusada, juridicamente. O seu poder negocial é sempre mais forte do que aquando da adesão e será tanto maior quanto mais sólida for a sua economia. Se o Estado demissionário for economicamente forte (por exemplo, a Alemanha), a fragilidade até está no lado da UE, pois será esta que mais perderá com o abandono deste Estado.

99 - In Compreender o alargamento. Op. Cit. 100

- In “National Interests, State Power and EU enlargement”. In East European and Societis. EUA, Volume 17, nº 1, 2003, p 44.