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O grande vencedor das eleições para o Parlamento Europeu é, em regra e não só em Portugal, a abstenção. Daí, que estas eleições sejam consideradas de segunda ordem por comparação, por exemplo, com as legislativas, onde a abstenção é, geralmente, mais baixa, o que revela a menor importância das primeiras para o eleitorado. Mas outra característica das eleições para o PE é que elas espelham a opinião do eleitorado relativamente às políticas do Governo na condução do país, sobretudo quando ocorrem com pequenos intervalos de tempo face a eleições de primeira ordem. E isto foi bem nítido em Portugal nas eleições europeias de 7 de Junho de 2009 e, depois, nas legislativas de 27 de Setembro de 2009 e em plena crise económico-financeira. Se, nas primeiras, os portugueses já tinham expressado bem o seu descontentamento face às políticas seguidas pelo Governo para resolver os principais problemas económicos do País, através de um aumento da abstenção e de votos nulos e brancos, nas segundas não cumprir todos os critérios de adesão, definidos em primeiro lugar no Conselho Europeu de Copenhaga em 1993 e reforçados em 1995. Os critérios são os seguintes: 1. Políticos: instituições estáveis que garantam a democracia, o Estado de direito, os direitos humanos, bem como o respeito pelas minorias e a sua protecção. 2. Económicos: existência de uma economia de mercado funcional e capacidade de fazer frente à concorrência e às forças de mercado da UE. 3. Capacidade para assumir as obrigações dos membros da União, nomeadamente a adesão aos objectivos de união política, económica e monetária. 4. Adopção de toda a legislação europeia e sua aplicação eficaz por meio de estruturas administrativas e judiciais adequadas”.

264 - In entrevista a Ana Isabel Travassos a 30-05-2011. Vide Anexos. 265

- In entrevista a Ana Isabel Travassos a 21-06-2011. Vide Anexos. 266 - In entrevista a Ana Isabel Travassos a 02-06-2011. Vide Anexos.

restaram dúvidas sobre a insatisfação dos cidadãos, com o partido do governo (PS) a sair das eleições com menos votos e menos deputados e a perder a maioria absoluta, detida anteriormente. O eleitorado português penalizava o governo em funções pela crise ou, pelo menos, pela ineficácia na resolução da mesma. E voltou a penalizar o Governo em Junho de 2011 nas eleições legislativas antecipadas, provocando mesmo um „volte face‟ político no País, com a vitória do PSD-CDS. A crise influenciava os resultados eleitorais

Mas se, em Portugal, voltou a vencer um partido pró-Europa, nas eleições ocorridas, entretanto, em alguns Estados da UE, verificou-se um aumento significativo da força de partidos políticos eurocépticos, reflectindo a descrença da população nos respectivos governos e mesmo nas decisões adoptadas no seio da Zona Euro ou da UE. A profunda crise económico-financeira que atingia a Europa, embora mais nuns países do que noutros, respondia por estas reacções adversas.

Mas a descrença dos europeus não ficou expressa só nos actos eleitorais realizados em muitos países, mas também nos resultados das sondagens que regularmente são promovidas pela Comissão Europeia. No caso concreto de Portugal, se os cidadãos ainda consideram (mas já menos do que há uns anos atrás) que retiram benefícios da UE, já estão no entanto dispostos a desprezarem o aumento do défice público se isso representar menos desemprego, o que contraria um dos princípios da União Monetária, o de manter o défice público em cada estado da Zona Euro abaixo dos 3% do PIB.

Se a descrença dos europeus na UE ainda não assume proporções alarmantes, a verdade é que ela tem vindo a aumentar ultimamente, como revelam os resultados eleitorais e das sondagens, impelindo os Governos a ponderarem, cada vez mais, as suas decisões no seio da UE, se não quiserem perder o seu eleitorado. Sair da Zona Euro ou da UE é cada vez mais uma possibilidade política, para além de ser uma decisão política.

IV - CUSTOS E BENEFÍCIOS DA SAÍDA DA ZONA EURO

Hoje, e como se viu no capítulo anterior, existe a possibilidade de Portugal vir a abandonar a Zona Euro, mas apenas esta. Há mesmo consenso entre os estudiosos da integração europeia, pelo menos entre aqueles que foram entrevistados, de que a saída da União está completamente fora de questão, não revelando qualquer vantagem, antes pelo contrário. Como opina Sarsfield Cabral: “esta possibilidade [abandono da ZE] não pode ser descartada, embora espera-se que não venha a acontecer”, mas já “seria impensável sair da UE, por muito que sejam importantes (e são) os mercados dos países emergentes. O nosso mercado natural é a Europa” 267

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João César das Neves partilha a mesma posição: “cortar os laços com a Europa seria uma catástrofe e teríamos que começar a exportar para outro lado e não para aquele que é o nosso mercado normal”268

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Do mesmo modo, Teresa Moura sublinha que: “(…) cerca de 80% das nossas exportações são dirigidas para a União Europeia. Paralelamente às imensas vantagens/oportunidades geradas por este processo, existem fragilidades que não podemos ignorar e se prendem com o facto de nos termos tornado, porventura, demasiado vulneráveis, como consequência desta dependência excessiva, face ao mercado europeu. Daí a necessidade de diversificar a nossa exportação e presença económica para novos mercados”269

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Já enquanto Mário Soares considera que “Portugal tem beneficiado a nível económico, social, cultural e internacional da sua entrada na CEE, sendo hoje um país irreconhecível em relação ao que era antes da adesão”270, Pedro Lains defende que: “Nós, fora do Euro, não estaríamos necessariamente melhor. O Euro trouxe enormes vantagens às pessoas nos últimos dez anos, particularmente por causa da redução das

267 - In entrevista a Ana Isabel Travassos a 20-06-2011. Vide Anexos. 268 - In entrevista a Ana Isabel Travassos a 30-05-2011. Vide Anexos.

269 - MOURA, Teresa - “Os alargamentos da UE”. In 20 anos de integração europeia (1986-2006). O

testemunho português. Edições Cosmos. 2007, p 167-175. ISBN 978-972-762-300-6.

270 - Trecho de discurso de Mário Soares a 09-02-2007, por ocasião das comemorações dos 50 anos do Tratado de Roma na Fundação da Câmara dos Deputados de Itália. Disponível em: http://www.fmsoares. pt/mario_soares/textos_ms/001/71.pdf

taxas de juro (…). A pergunta de Portugal sair do Euro ainda vale a pena explorar, agora de Portugal sair da UE não vale a pena explorar”271

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Por sua vez, João Ferreira do Amaral sublinha que: “não vejo razão para sair da UE. Ainda há mais vantagens do que inconvenientes para estarmos na UE, embora as vantagens não sejam tão grandes como se dizia, nem os inconvenientes sejam tão grandes como se previa; mas julgo que ainda é benéfico estarmos na UE. Agora, temos seriamente de considerar a possibilidade de a própria UE se desagregar, na medida em que está a pôr em causa tudo aquilo que foram os pilares que garantiram o seu êxito”272.

A suceder a saída de Portugal da Zona Euro273 e assim como ocorreu com o processo de adesão à UE, isso teria, inevitavelmente, repercussões de diversa natureza e ordem de grandeza - mais ou menos positivas, mais ou menos negativas - e tanto para Portugal como para a própria União, embora, como salienta Pedro Lains, “é muito difícil fazer um balanço de custos e vantagens do Euro (…) e ainda é mais difícil fazer um balanço de custos e benefícios de uma hipótese [a saída de Portugal] que, concerteza, não se vai verificar”274

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Porém e logo à partida, o abandono de Portugal (ou de qualquer outro Estado- membro) da Zona Euro obrigaria a introduzir alterações nos Tratados da UE, mais concretamente nos capítulos respeitantes à UEM e para incluir os desígnios do acordo de saída firmado275, e nos Protocolos Anexos aos Tratados, como o relativo aos Estatutos do Sistema Europeu de Bancos Centrais (SEBC) e do BCE, que define os membros e funções destes organismos que comandam a política monetária e cambial na Zona Euro e a comparticipação financeira de cada Estado membro no capital social do BCE276. É que, Portugal (ou outro Estado membro), ao abandonar o Euro, perderia, inevitavelmente, os lugares que tem nestes dois organismos, bem como no Comité

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- In entrevista a Ana Isabel Travassos a 21-06-2011. Vide Anexos. 272 - In entrevista a Ana Isabel Travassos a 02-06-2011. Vide Anexos

273 - Note-se que, como ficou patente no capítulo anterior e a História o revela, nada é irreversível e de um momento para o outro tudo pode suceder. Assim o comprovam, por exemplo, a queda do muro de Berlim ou o fim do regime da URSS. E, embora os governos portugueses sejam, por tradição pró-Europa, alternando entre o PS e o PSD, em qualquer altura e sobretudo em épocas de crise, pode ocorrer uma forte contestação social ou um golpe de Estado que provoque um „volte face‟.

274 - In entrevista a Ana Isabel Travassos a 21-06-2011. Vide Anexos. 275

- A adesão de cada novo Estado membro implica sempre alterações aos Tratados, para incluir o respectivo Tratado de Adesão, e o mesmo se verificou aquando da separação da Gronelândia da Dinamarca e da UE e o estabelecimento de um acordo de cooperação com a UE que deu origem a um Protocolo específico anexo aos Tratados.

Económico e Financeiro277. Cruz Vilaça sublinha que: quando um Estado “decidir sair da Zona Euro, sai da Zona Euro, embora isso possa levar à necessidade de alterações dos Tratados”278

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