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As eleições são “um dos pilares fundamentais de legitimação das democracias”252

, assim como o são os referendos. Tratam-se de actos políticos, à disposição (em democracia) das populações (eleitorado) para expressarem a sua vontade.

E se há países, como a França e a Irlanda, que referendam os Tratados da UE253 e outros, como a Dinamarca, que sujeitam a referendo a adesão ao Euro254, em Portugal, a Constituição nacional não obriga à realização de referendos em matérias comunitárias, salvo raras excepções255, servindo as eleições legislativas como veículo, também, da intenção e opinião dos cidadãos quanto aos assuntos europeus. Ao se escolher os deputados para a AR e o futuro governo, com base em programas eleitorais específicos, que definem as linhas de orientação estratégica para o País, inclusive como Estado membro da UE, está-se a optar, em consciência, por um determinado rumo na Europa, está-se a defender uma maior ou menor integração do País na Europa. Assim o foi nas legislativas de 1976 quando a vitória coube ao PS de Mário Soares, com 34,89% dos votos e 107 deputados, e assim o foi nas legislativas de 1991 de onde saiu um governo PSD, com 50,60% dos votos e 135 deputados. Qualquer um destes partidos políticos revelou-se sempre a favor da integração europeia, facto evidente nos seus programas

251 - Ibidem.

252 - VIEGAS, José Manuel Leite e FARIA, Sérgio – “A abstenção nas eleições legislativas de 2002”. In

Conferência Intergovernamental Portugal a Votos I – Eleições Legislativas de 2002. ICS/UL, Fevereiro de 2003.

253

- Fizeram-no, por exemplo, com o Tratado de Lisboa. 254

- A Dinamarca referendou em 2000 a entrada no Euro e foi chumbada. No Reino Unido, os governos têm anunciado que a adesão ao Euro será referendada.

255 - A excepção está, como refere DUARTE, Maria Luísa – Estudos sobre o Tratado de Lisboa. Coimbra: Editora Almedina, 2011, p 13-14: “A consulta referendária estava prevista para o processo de aprovação da Constituição Europeia. Com esse propósito foi aditado à Constituição um novo artigo, o artigo 295º, com uma redacção que viabilizaria os referendos de tratados sobre “a construção e aprofundamento da união europeia”. Em Janeiro de 2008, o Governo Português anunciou que, afinal, o Tratado de Lisboa seria aprovado através de via parlamentar, com exclusão do referendo. Justificou-se o Executivo que o Tratado de Lisboa seria um novo tratado, diferente da Constituição Europeia, pelo que o compromisso do referendo (…) já não faria sentido”.

eleitorais, tendo o primeiro (PS, enquanto Governo) sido responsável pelo pedido de adesão formal de Portugal à então CEE a 28 de Março de 1977, e o segundo (PSD e chefiado por Cavaco Silva) respondido pela ratificação de Portugal do Tratado de Maastricht que veio criar a UEM e a Zona Euro. Mais tarde, em 1999, competiu de novo a um governo socialista, desta feita liderado por António Guterres, incluir Portugal nos países fundadores da moeda única256.

As adesões de Portugal, primeiro à UE (então CEE) e depois à Zona Euro foram, acima de tudo, actos políticos e exemplo disso são as razões que as motivaram.

Segundo as palavras proferidas pelo então Primeiro-Ministro, Mário Soares, na Assembleia da República, a 18 de Março de 1977, onde se deslocou para comunicar a decisão do Governo de pedir a adesão de Portugal à CEE: “o programa do Governo (…) anunciava a intenção do Governo solicitar, nos termos dos Tratados de Paris e de Roma, a adesão de Portugal às Comunidades Europeias. Esta intenção inseria-se não só na busca de uma nova identidade nacional, que a descolonização tornara urgente, mas também na necessidade de apresentar ao País um projecto verdadeiramente nacional, que simultaneamente permitisse situar Portugal no espaço político, geográfico, económico e social a que, por direito próprio, pertencia”. E “o povo português, através do voto, mostrou claramente que desejava a integração de Portugal na Europa. E as declarações públicas do CDS e do PSD que, conjuntamente com o PS, representam cerca de 75% dos eleitores portugueses, só podiam reforçar a convicção do Governo de que estava no caminho certo”257

. Assim, mais do que económicas, as razões que levaram Portugal a aderir à então CEE foram políticas, traduzidas na consolidação da democracia, na abertura do País ao exterior e no fim do seu isolamento. E de tal modo isso foi perceptível que, durante o mesmo debate parlamentar, o deputado do PSD, Francisco Sá Carneiro, interpelou o Primeiro-Ministro, lembrando que a adesão de Portugal à CEE traria outras vantagens: “as possibilidades de participação do nosso país nas estruturas comunitárias não se esgotam na participação política”258

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256 - In CNE.

257 - In Diário da AR, nº 88, de 19 de Março de 1977, 1ª legislatura, 1ª sessão legislativa.

Sublinhe-se ainda que, aquando das comemorações dos 20 anos de integração de Portugal na EU, a 12 de Junho de 2005, Mário Soares afirmou, no Mosteiro dos Jerónimos, que: “os motivos que me levaram a requerer a adesão à CEE foram essencialmente políticos e tiveram a ver com um grande desígnio para Portugal: a consolidação da democracia pluralista e civil, e também o reconhecimento de que o ciclo imperial tinha terminado com a descolonização”.

Também Vítor Martins e Paulo de Pitta e Cunha partilham a mesma opinião, referindo, o primeiro, que a adesão de Portugal à CEE “foi um acto profundamente político (…), talvez tenha sido a mais importante e impactante decisão política tomada pelo País no século XX. (…)”259

e o segundo que: “o programa do I Governo teve o mérito de haver introduzido o princípio da adesão, mas fazia-o só a propósito da matéria da política externa, como se não houvesse a consciência de que o ingresso na CEE teria implicações não só ao nível geral da política de desenvolvimento, como no domínio das acções económicas sectoriais e no próprio traçado das regras de funcionamento da economia”260

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Já o programa do XII Governo Constitucional (1991-1995) de Cavaco Silva dizia que: “Condição essencial para que as Comunidades Europeias se constituam como núcleo dinamizador da Europa é o sucesso das conferências intergovernamentais sobre a União Económica e Monetária (UEM) e União Política (UP) (…). Quanto à UEM, os seus objectivos são consistentes com os da política económica global do Governo”261

. Também o programa do XIII Governo Constitucional de António Guterres (1995-1999) era claro quanto ao objectivo de participação activa de Portugal na integração europeia: “No que se refere à União Económica e Monetária (UEM), é firme intenção do Governo empreender a adopção de políticas tendentes a assegurar que Portugal tenha acesso à respectiva terceira fase e à moeda única” e o “Governo está seguro de que a participação do País no projecto europeu merece apoio de um sector largamente maioritário e representativo da população portuguesa (…)”262

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E se as adesões à UE e ao Euro tiveram um carácter político263, também a saída o terá. Como enfatiza mesmo João César das Neves: “(…) o euro é mais do que uma

259 - In Adesão de Portugal às Comunidades – história e documentos. Lisboa: Editado por Assembleia da República, 2001. ISBN 972-556-300-X.

260 - Ibidem, p30.

261 - Disponível em: www.portugal.gov.pt. 262

- Ibidem.

263 - A afirmação reporta-se ao acto em si do pedido de adesão; ao que move os Estados a formularem o pedido. Trata-se, como se viu, de uma decisão política por parte do Estado candidato que, para formular esse pedido só tem, também, de cumprir condições, de natureza política, inscritas no Artigo 2º do TUE. Depois e aceite o pedido, segue-se o processo de negociação, que irá culminar com a assinatura do tratado de adesão entre o país candidato e a UE. Desde o pedido de adesão até à plena adesão, o país candidato tem, sim, de respeitar outros critérios, que não só políticos. São os chamados Critérios de Copenhaga: ter instituições estáveis que garantam a democracia, o Estado de Direito, os direitos do homem e o respeito pelos minorias (políticos), ter uma economia de mercado e concorrencial (económico), ter capacidade de assumir as obrigações de adesão. Como refere CE - Compreender o Alargamento - A política de alargamento da União Europeia. Luxemburgo: editado por Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias, 2007, ISBN : 978-92-79-06646-7 : “Um país só poderá tornar-se membro se

jogada económica, é uma jogada política (…)”264

. Já para Pedro Lains: “a integração de Portugal foi uma integração política, mas também económica”. Basta ver que “a data do pedido de adesão - 1977 - foi uma data com uma grande conotação política: Mário Soares e Medeiros Ferreira quando pediram a adesão estavam a pensar na consolidação da democracia, mas a data efectivamente da adesão, 1986, é uma data que tem muito a ver com a situação económica do país, que só então tornou possível a adesão”265

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Por sua vez, João Ferreira do Amaral é peremptório ao afirmar que: a saída é uma “decisão certamente política, sendo que um dos factores dessa decisão será a economia. Nenhum país sairá, se tiver a percepção que, se sair, a sua economia irá sofrer muito”266

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