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Os resultados das últimas sondagens (relativamente à elaboração deste estudo) feitas pela Comissão Europeia e publicados nos Eurobarómetros acerca da actual crise económica na UE e da sua governação apontam, também, na direcção de um descontentamento ou descrença por parte dos cidadãos europeus quanto ao rumo da União. E os portugueses não fogem à regra.

No Outono de 2010246, o principal problema dos europeus era manifestamente com a crise económica (para 46% dos inquiridos nos 27 Estados membros), nomeadamente com as suas repercussões ao nível do emprego, mas apenas 20% consideravam „os seus governos eficazes para resolver a crise. Este valor desce mesmo

245 - Por exemplo, para Hans-Jurgen Hoffmann, director da empresa alemã de sondagens eleitorais, “a chanceler tem sido criticada por estar a ceder demasiado terreno aos outros países na questão da crise do euro”, in “Vitória Histórica dos Verdes pressiona governo de Merkel”, in Diário Económico de 28 de Março de 2011. P 20.

Vide, ainda o Open Europe de 4 de Janeiro de 2011, que citando o jornal alemão Bild dizia que 49% dos alemães queriam voltar ao marco alemão e que 51% diziam-se insatisfeitos com o euro.

Vide, ainda, “Coligação de Merkel sofre mais uma humilhante derrota” in Jornal de Noticias de 28 de Março de 2011, p 39: o conflito na Líbia e a crise da divida na Zona Euro são também apontados como argumentos” para a derrota de Merkel nas eleições.

246 - EUROPEIA, Comissão - Eurobarómetros 74 (EB Standard) - Outono de 2010, sobre: A governança

econonómica na UE (publicado em Janeiro de 2011), A opinião pública na UE (publicado em Fevereiro de 2011) e Os europeus, a UE e a crise (publicado em Fevereiro de 2011). [Consultado em: Fevereiro de 2011]. Disponível em: http://ec.europa.eu/public_opinion/index_fr.htm.

Vide ainda EB Standard 72 – Outono 2009, publicado em Dezembro de 2009; EB Standard 73 – Primavera de 2010, publicado em Agosto de 2010.

para 15% no caso específico de Portugal, onde 29% da população confia nas instituições comunitárias para melhor gerirem a crise (23% em média na UE no último inquérito, contra 26% no anterior). E é sobretudo numa maior aposta na coordenação de políticas económicas entre os Estados membros que reside uma das soluções para combater a crise: 77% dos europeus consideram, agora, esta medida eficaz, traduzindo aumentos de dois pontos e de quatro pontos, respectivamente, face aos resultados obtidos seis meses e um ano antes (72%, 62% e 64% em Portugal). Como refere o Eurobarómetro, “uma maior coordenação entre os Estados e um maior papel da UE são considerados como as medidas eficazes para combater a crise” 247.

Portugal recolhe também uma percentagem razoável de respostas favoráveis à questão sobre a acção da UE desde o início da crise: 47% dos cidadãos acham que a UE tem agido de maneira eficaz contra a crise (45% na UE), o que contrasta com os 67% que consideram a reacção do governo (de José Sócrates, na altura) ineficaz desde o início da crise (em média na União Europeia esta percentagem é de 55%, contra os 39% que consideram que os respectivos governos têm tido uma atitude eficaz)248.

Todos os europeus têm uma opinião má sobre a actual situação económica, tanto nos seus países, como na Europa (respectivamente, para 70% e 64%), com destaque para os portugueses (93% apontam-na como negativa no país e 88% também na UE), irlandeses (respectivamente para 98% e 75% da população), gregos (98% e 84%) e espanhóis (97% e 82%)249. Pior é ainda a descrença quanto ao futuro, pelo menos no próximo ano. Os portugueses, irlandeses, gregos e espanhóis voltam a ser os povos mais pessimistas nesta questão, o que se coaduna com o facto de serem também estes países que enfrentam as crises mais graves e de resolução mais difícil. Assim, enquanto em média 24% e 21% dos europeus acreditam que a situação económica, respectivamente, nos seus países e na Europa vai melhorar, em Portugal estas percentagens descem para 5,0% e 8,0%, na Irlanda para 12% e 14% e na Grécia para 6,0% e 9,0%. E é ao nível do desemprego que as preocupações são mais evidentes, com 73% dos portugueses, 72% dos irlandeses e 75% dos gregos a acharem que o pior ainda está para vir no mercado de trabalho, contra 48% da média da Europa. Inclusive, cada vez são mais os portugueses que defendem um aumento do défice público em benefício da criação de mais emprego: 48%, contra 44% há seis meses atrás (a média da UE é de 42%).

247 - Ibidem. 248 - Ibidem. 249 - Ibidem.

Facilmente se compreende, assim, que a maioria dos portugueses (55%) avalie negativamente a sua vida em geral, sendo até o país da UE menos satisfeito, fixando-se a média europeia em 22%. Até na Grécia e Irlanda, o nível de satisfação é mais elevado. Do mesmo modo, apenas 8,0% dos portugueses acredita agora que a sua vida pode melhorar no próximo ano (15% nos dois inquéritos anteriores), tratando-se do valor mais baixo da UE, cuja média é de 26% (antes de 28% e 26%, respectivamente).

A contrariar esta tendência negativa, estão os resultados à questão sobre os benefícios ou não que um país retira da UE. Embora venha a diminuir a percentagem dos europeus que toma como positiva a sua pertença à UE, ela ainda está hoje nos 50% (57% há um ano atrás). Esta opinião é generalizada tanto a Portugal, como à Grécia, Irlanda e Espanha, países (com excepção da Grécia) para quem a União ainda transmite uma boa imagem, apesar de se vir atenuando ao longo do tempo. Como refere o Eurobarómetro: “De uma maneira geral, 40% dos portugueses tem uma imagem muito positiva ou positiva da UE, contra 19% que tem uma imagem muito negativa ou negativa, valores estes que se aproximam da média europeia (38% e 20% respectivamente)”, mas “há que destacar uma tendência negativa na confiança que os portugueses depositam na UE. Em comparação com os dados do Eurobarómetro 72 (EB 72) do Outono de 2009, regista-se um declínio de 12 pontos na proporção dos portugueses que afirmam confiar na UE”, traduzindo assim “a terceira maior queda dos 27 Estados membros” 250

. E isto porque, explica o Eurobarómetro, os portugueses associam cada vez mais o aumento do desemprego à UE. Aliás, hoje, os portugueses fazem uma avaliação menos positiva da UE, na sua generalidade, do que a média dos europeus, sendo ainda exemplificativo a sua opinião sobre a UEM e o euro, questão onde “o apoio de Portugal é não só inferior à média europeia (56% em Portugal, contra 58% na UE), como é também o mais baixo dos países da Zona Euro, situando-se 12 pontos abaixo da média destes”, refere o Eurobarómetro, que indica para a Irlanda, nesta questão, uma maioria favorável de 80% e para a Grécia de 64%.

Porém, ainda são muitos os portugueses (49%) que consideram que o euro permitiu atenuar os efeitos negativos da crise, embora, há um ano atrás, esta percentagem fosse de 55%. A mesma evolução verificou-se no conjunto dos Estados membros da UE (41% no final de 2009 e 39% um ano depois).

250

- In EB (Eurobarómetro) Standard 74 – A opinião pública na UE – relatório nacional – Portugal – Outono de 2010, publicado em Fevereiro de 2011. P 4.

“Globalmente, os dados sugerem um declínio das avaliações instrumentais que os portugueses fazem da UE”, que é generalizada a todos os europeus, “embora ainda longe de se situarem no campo mais eurocéptico da opinião pública europeia”251

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