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4. A Responsabilidade civil pela devolução de crianças adotadas ou em processo

4.2. A Responsabilidade civil dos adotantes e candidatos à adoção pela

4.2.4. Do nexo de causalidade

Como pressuposto necessário da responsabilidade civil surge o nexo de causalidade, enquanto relação entre a violação ilícita e culposa de um direito subjetivo ou de uma norma de proteção e o dano efetivamente ocorrido290. Porque nem todos os danos ao facto ilícito sucedidos são da responsabilidade do lesante, torna-se fundamental determinar e responsabilizá-lo apenas pelos factos que o direito considera por ele causados, como enseja o art. 483.º do C.C (“pelos danos resultantes da violação”)291.

Almejando a determinação de critérios atinentes a este nexo, várias teorias emergiram, algumas das quais, de forma sintética passaremos a enunciar.

Para a teoria da equivalência das condições (teoria da conditio sine qua non), o facto lesivo teria de se apresentar como condição necessária do(s) dano(s), mesmo que outros eventos tenham concorrido para a sua verificação. Visto de outro prisma, o facto lesivo será quele cuja não verificação comportasse a inexistência do(s) dano(s). No entanto,

289 Cfr. FRANZOLIN, Cláudio José, Danos existenciais à criança e adolescente decorrentes de sua

devolução à justiça pelos guardiões ou pelos pais adotivos, in Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI

realizado em Fortaleza, junho 2010, p. 8271; disponível em:

http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/anais/fortaleza/3955.pdf ; consultado a 12-04-2019;

290 Cfr. CORDEIRO, António Menezes, Tratado de Direito Civil VIII, op. cit., p. 531;

291 Como MAFALDA MIRANDA BARBOSA ensina, quanto ao nexo de causalidade importa, acima de tudo saber, se a lesão do direito pode ou não ser reconduzida ao comportamento do putativo lesante, sendo posteriormente averiguado se os danos consequenciais podem ou não ser reconduzidos à violação constada. Cfr. BARBOSA, Ana Mafalda Castanheira Neves de Miranda, Responsabilidade Civil

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como ANTUNES VARELA e MENEZES CORDEIRO através dos exemplos práticos que oferecem sublinham, esta teoria conduz a efeitos práticos que “nenhum autor hesita em repudiar” não se coadunando, em geral, com as finalidades específicas do direito e, especificamente, com a responsabilidade civil, repugnando ao sentimento comum de justiça, conduzindo-se assim a uma atribuição do dano a factos que “só por incontrolável sucessão se constituiriam conditiones sine qua non”292.

Para a teoria da última condição – criada com o intuito de suprir as carências da teoria antecessora - apenas é considerada como causa do evento a última condição verificada antes da sua ocorrência, a que diretamente o precede. No entanto, não será aceitável o seu acolhimento na medida em que a última condição verificada poderá ter surgido de uma conduta que em nada ou praticamente nada tenha a ver com o dano293.

A teoria da condição eficiente, defende que, para a determinação da causa do dano, deverá ser levada a cabo uma “avaliação quantitativa da eficiência das diversas condições do processo causal”, achando-se a que se assuma de maior relevância em termos causais. No entanto, também esta teoria é criticada e afastada pelos autores devido à falta de precisão que comporta uma vez que, “não fornece um verdadeiro critério para o estabelecimento do nexo causal”, na medida em que acaba por “redundar num subjetivismo integral, totalmente inadequado para a construção jurídica” 294.

A doutrina da causalidade adequada, nutrindo a simpatia da generalidade dos autores, lança mão, num primeiro momento, da teoria conditio sine qua non, na medida em que o nexo causal de um dano estabelece-se em relação a um facto cuja não verificação levaria à inexistência de dano, determinando-se, no caso de concurso de eventos, qual deles é considerado como apto o causar “segundo o curso normal das coisas”. Não basta, portanto, que o facto seja condição do dano para que se assuma como causa deste último, este terá que se assumir como causa adequada.

No que à adequação concerne, qual a melhor formulação?

Seguindo os ensinamentos de ANTUNES VARELA, quanto à obrigação de indemnizar proveniente de facto ilícito e culposo, “desde que o lesante praticou um facto ilícito, e

292 Cfr. VARELA, Antunes, Das obrigações em geral, op. cit., p. 881 a 884; CORDEIRO, António Menezes, Tratado de Direito Civil VIII, op. cit., p. 532;

293 Cfr. Ibidem;

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este actuou como condição de certo dano”, justifica-se que “o prejuízo (embora devido a caso fortuito ou, em certos termos, à conduta de terceiro) recaia, em princípio, não sobre o titular do interesse atingido, mas sobre quem, ilicitamente, criou a condição do dano”, exceto nos casos em que tenham concorrido circunstâncias “extraordinárias, fortuitas ou excecionais”, de forma decisiva para a verificação do dano. Complementarmente, quanto à formulação do juízo de adequação, deverão ser consideradas “as circunstâncias reconhecíveis à data do facto por um observador experiente e aquelas efetivamente conhecidas do lesado na mesma data, posto que ignoradas das outras pessoas”295.

Efetivamente, é esta a doutrina que subjaz ao artigo 563.º do nosso C.C.: embora sugerindo, à primeira vista, estar em causa a doutrina da conditio sine qua non, a expressão “provavelmente” sugere que não está apenas em causa a imprescindibilidade da condição para despoletar o processo causal, exigindo-se que esta seja idónea, partindo de um juízo de probabilidade, a produzir o dano, correspondendo assim aos desenvolvimentos da teoria da causalidade adequada296.

Aplicando a acolhida teoria à nossa problemática, não bastando que a devolução seja em concreto causa do dano, é necessário que esta seja adequada, facto idóneo a produzi-lo, segundo o curso normal das coisas. Neste sentido, assume-se de enorme importância a prova pericial como meio fulcral para o estabelecimento do nexo de causalidade, sendo levadas a cabo avaliações psicológicas e psíquicas que comprovem a tanto a existência de danos como o nexo de causalidade existente entre estes e o facto ilícito pelo(s) agente(s) cometido.