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que su nombre es inútil Nadie se declara nominalista porque no hay quien sea

No documento Jorge Luis Borges: um crítico da linguagem (páginas 146-149)

otra cosa” (BORGES, 2002b, p.124).

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Para Imbert (1999, p.23), resulta curioso o fato de que a “teoria da linguagem” borgeana seja idealista, pois no escritor argentino as palavras se definem como arbitrários usos individuais em um sistema em permanente mudança, mesmo que seus contos estejam regulados por uma gramática impecável.

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O filósofo alemão possui um papel preponderante nas letras borgeanas, desde sua juventude. Basta observar, só em Inquisiciones, as referências a Schopenhauer em “El ‘Ulises’ de Joyce”, “Interpretación de Silva Valdez”, “La naderia de la personalidad”, “Acerca de Unamuno, Poeta” ou “La encrucijada de Berkeley”. Sobre este ponto, Bulacio (2003, p.37) afirma que: “La adhesión y, al mismo tiempo, la crítica al pensamiento idealista de Schopenhauer, de Berkeley y de Hume ponen en evidencia la seducción que ejercen sobre él las hipótesis sobre la realidad del mundo como producto de la representación y, por consiguiente, una realidad aparente y fuera del alcance de la razón y de todo procedimiento intelectual”. O próprio Borges (1999a, p.46) assinala na sua autobiografia que quando vivia “en Suiza empecé a leer a Schopenhauer. Hoy, si tuviera que elegir a un filósofo, lo elegiría a él. Si el enigma del universo puede formularse en palabras creo que esas palabras están en su obra. Lo he leído muchas veces en alemán y también traducido, en compañía de mi padre y su íntimo amigo Macedonio Fernández.”.

postura ao momento de entender um meio linguístico arbitrário como a capacidade de dizer o mundo.

Em Inquisiciones, El tamaño de mi esperanza e El idioma de los

argentinos se observam ideias borgeanas que pressupõem uma

concepção de linguagem como meio restrito ou insuficiente para comunicar a realidade. Ideias que permanecem nas décadas posteriores e que aprofundam suas conjecturas sobre o entendimento da linguagem como confim ou limite da experiência ou como meio linguístico incompleto ou insuficiente.

O ceticismo borgeano pode ser notado através das décadas, em sua escrita, em seus personagens dos contos de maturidade ou em seus raciocínios nos ensaios de juventude. A aproximação entre coisas e palavras, a semelhança entre linguagem e realidade e a possibilidade de dizer esta última conformam extremos sempre discutidos, repensados, questionados em Borges. Nesses questionamentos, os empiristas da época moderna aparecem frequentemente na textualidade do escritor argentino.

E quiçá seja Thomas Hobbes um dos pensadores do empirismo inglês que Borges menos cite em seus escritos. Algumas ideias pertinentes ao estudo da linguagem do filósofo inglês podem ser observadas em sua obra Leviatã, tratado que aborda os pensamentos de Hobbes sobre a natureza humana e sobre o caráter necessário de governos e de sociedades. Assim, na obra aludida, sob o título “Da linguagem”, percebe-se que para Hobbes (1974, p.25) o uso geral da linguagem se dá mediante a passagem de um discurso mental para um discurso verbal, ou mediante a transferência da cadeia de pensamentos para a cadeia de palavras. A linguagem é entendida pelo pensador inglês como a mais digna e útil das “invenções” humanas que consiste na utilização de nomes e apelações (e suas conexões) para registrar pensamentos, lembrá-los e usá-los em conversas recíprocas, atividade essencial humana que permite a existência do Estado, da sociedade e da paz (HOBBES,1974, p.24). Também em “Da linguagem”, Hobbes (1974, p.24) diz que, segundo as escrituras, Deus criou a linguagem e ensinou a Adão a designar as criaturas, e que este último continuou nomeando segundo sua experiência e com o objetivo de ligar os nomes para serem compreendidos. Assim se configurou toda uma linguagem útil, mas não suficiente para um orador ou filósofo, fato que coloca algumas dúvidas sobre, por exemplo, a designação de todas as figuras, os números, as medidas, os discursos (afirmativo, negativo,

interrogativo), etc. Já sobre a diversidade das línguas Hobbes (1974, p.24) acrescenta que:

[...] toda esta linguagem adquirida e aumentada por Adão e sua posteridade, foi novamente perdida na torre de Babel, quando pela mão de Deus todos os homens foram punidos, devido a sua rebelião, com o esquecimento de sua primitiva linguagem. E sendo depois disso forçados a dispersarem-se pelas várias partes do mundo, resultou necessariamente que a diversidade de línguas que hoje existe proveio gradualmente dessa separação, à medida que a necessidade (a mãe de todas as invenções) os foi ensinando, e com o passar dos tempos tornaram-se por toda a parte mais abundantes.

Dos escritos borgeanos sobre Hobbes, só pode ser assinalada uma referência em “Avatares de la tortuga”, em Discusión, na qual o filósofo se encontra junto a outros pensadores conformando um seleto grupo de intelectuais que refletiram sobre o paradoxo da tartaruga: “Descartes, Hobbes, Leibniz, Mill, Renouvier, Georg Cantor, Gomperz, Russell y Bergson han formulado explicaciones -no siempre inexplicables y vanas- de la paradoja de la tortuga.” (BORGES, 2004, p.258).

Outro dos pensadores da Idade Moderna que Borges cita em seus textos é Francis Bacon, o barão inglês que em Novum Organum, por exemplo, revela alguns pensamentos sobre o estudo da linguagem que muito se aproximam das ideias vertidas nos textos do escritor argentino. Em Novum Organum Bacon reflete sobre as imagens tomadas como realidades e sobre os pensamentos que por engano são tidos como coisas e que o filósofo inglês denomina como “ídolos”92

. Destas figuras, classificadas em ídolos da tribo, da caverna, do mercado e do teatro93, importa o terceiro grupo, os “idola

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Sobre a linguagem e os “ídolos” no pensamento de Bacon, Palma, (2010, p.26) assinala que “al menos desde el siglo XVII, empieza a germinar la idea de que buena parte de los problemas filosóficos obedecen a las ambigüedades del lenguaje. […] En el caso de Bacon nos encontramos con la necesidad de eliminar las falsas ideas, los “idola”, y proporcionar una suerte de listado de nociones fundamentales del lenguaje que, aun siendo de carácter convencional, no impedirán un acercamiento más preciso a lo real”.

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Sobre os ídolos de Bacon, observa-se no “Prólogo” do livro La cifra (1981) que: “El ejercicio de la literatura puede enseñarnos a eludir equivocaciones, no

fori”, pois estes se vinculam intimamente à reflexão sobre a linguagem. Will Durant (1966, p.139), referenciando Bacon, afirma que os ídolos do mercado provêm do comércio e da associação de homens, âmbitos onde, para conversar, utiliza-se uma linguagem que está composta de palavras impostas pela inteligência da multidão, imposição que resulta na criação de termos inadequados que “obstruem consideravelmente o espírito”. Estes ídolos, estes erros ou enganos, são os que não deixam o homem avançar na busca das verdades e por tal motivo, para evitá-los devem ser procurados novos métodos de raciocinar ou novos instrumentos para a inteligência. Neste novo raciocinar não se toma como verdade indiscutível uma proposição duvidosa que deve ser vista só como uma presunção a ser submetida à prova da observação ou da experiência: “se um homem começar com certezas, acabará em dúvidas; mas se no começo se contentar com dúvidas, acabará com certezas” (BACON apud DURANT, 1966, p.140-141).

Bacon aparece em vários textos borgeanos como, por exemplo, “Una vindicación de la cábala”, “Notas” e “El tiempo circular” em

Discusión, “La esfera de Pascal” em Otras inquisiciones, “La poesía”,

em Siete Noches ou “La noche de los dones”, em El libro de arena. Estes textos aludem, entre outros temas, à metáfora, à poesia e até às ideias de Fritz Mauthner. Assim, em “Del culto de los libros”, em Otras

inquisiciones, lê-se que segundo o pensador inglês, Deus oferecia dois

livros aos homens, as escrituras, onde era revelada a vontade divina, e o volume das criaturas, onde era revelado seu poder, sendo o último a chave do primeiro, acrescentando o escritor argentino que Bacon tentou com estas afirmações realizar muito mais que uma metáfora, pois o inglês “opinaba que el mundo era reducible a formas esenciales (temperaturas, densidades, pesos, colores), que integraban, en número

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