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CAPÍTULO 6 A NÃO-CUMULATIVIDADE DA CONTRIBUIÇÃO AO PIS E DA

6.2 Análise dos elementos da regra-matriz de incidência

6.2.1 O conceito de receita

6.2.1.7 Nosso entendimento

Considerando o amplo espectro de normas investigadas neste trabalho, somadas às considerações doutrinárias trazidas à colação, podem ser extraídos os seguintes juízos de significação da expressão “receita”, sujeita à incidência da contribuição ao PIS e da COFINS:

a) Os registros contábeis não têm o condão de criar fatos jurídicos tributários

O conceito de receita é puramente jurídico. Um registro contábil que, pela metodologia utilizada por essa ciência, seja denominado e classificado como receita,

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MINATEL, José Antonio. Conteúdo do Conceito de Receita e Regime Jurídico para sua Tributação. São Paulo: MP Editora, 2005, p. 124.

transitando pela Conta de Resultado de Exercício da pessoa jurídica, não constitui fato jurídico tributário hábil a ensejar a incidência das contribuições ao PIS e da COFINS, nem seu valor constitui base de cálculo dessas exações. Conforme afirmamos anteriormente, somente o evento social relatado em um fato descrito na hipótese de incidência da regra-matriz de incidência tributária poderá ser designado como fato jurídico tributário. Além disso, o próprio art. 1°, disposto nas Leis n°s 10833/2003 e 10637/2002, abandona a classificação contábil para a determinação do fato imponível dessas exações.

b) Integração permanente ao patrimônio da pessoa jurídica

A receita é uma entrada ou um ingresso no caixa da pessoa jurídica, todavia com esse ingresso não se confunde. Receita é algo novo que se incorpora ao patrimônio da pessoa jurídica. Observe-se que o próprio legislador ordinário confere essa noção quando dispõe no art. 1°, § 3°, V, “b”, das Leis n°s 10833/2003 e 10637/2002, sobre a exclusão da base de cálculo das contribuições, das reversões de provisões e recuperações de créditos baixados como perda que não representem ingresso de novas receitas.

A permanência é a marca distintiva que classifica as receitas como subclasse da classe dos ingressos, posto que estes podem ser injetados no patrimônio da pessoa jurídica, de forma transitória. No mais das vezes, representam valores de titularidade de terceiros, os quais, por alguma razão, são recebidos pela pessoa jurídica e, ato contínuo, são a eles repassados. Tal acontece, por exemplo, com a contratação de subempreiteiros, nas obras de construção civil. Nesse caso, o comitente da obra paga pela prestação de todos os serviços ao empreiteiro principal e este se encarrega de transferir as parcelas a que fazem jus os subcontratados da construção erigida. Ilustram, ainda, a presente afirmação, os consórcios

celebrados pelas pessoas jurídicas para o desenvolvimento de determinado empreendimento, na forma do art. 278, da Lei n◦ 6404/76, por meio do qual a empresa líder, eleita entre as consorciadas, fica encarregada de receber todas as importâncias pagas pelo contratante da obra e de posteriormente distribuí-las entre os membros do consórcio de acordo com o quinhão de participação de cada um deles.

As receitas, ao contrário, são caracterizadas pela sua permanência definitiva no patrimônio da pessoa jurídica, incrementando-o de forma positiva.

c) Receita como resultado do esforço empresarial para auferí-la

A receita deve ser originada de uma ação empresarial direcionada e relacionada a terceiros (mercado), decorrente de uma atividade exercida pela pessoa jurídica, seja no desenvolvimento de seu objeto social (venda de mercadoria ou serviços, cujo ingresso será incluído na categoria dos itens de faturamento), seja decorrente de outras atividades realizadas em prol da continuidade da empresa (venda de um bem constante do ativo imobilizado ou de rendimentos obtidos em aplicações no mercado financeiro e de capitais, efetivação de empréstimos, por exemplo).

Conforme expressa Helenilson Cunha, receita “é fruto direto de uma atividade com conteúdo econômico ou de negócios jurídicos com prestações avaliadas economicamente, fruto este que deve representar ingresso positivo, efetivo, definitivo e real no patrimônio”. Esse plus também diferencia as receitas sujeitas à incidência do PIS e da COFINS dos demais ingressos.

Além disso, é de se afirmar que a agregação positiva ao patrimônio é considerada existente mesmo na situação em que não ocorre aumento patrimonial. Como dito por Marco Aurélio Greco, a receita integra o conjunto de eventos positivos que interferem com o patrimônio da empresa, ainda que, em sua totalidade ou individualmente, não impliquem ganho. Há que se constatar a existência de receita mesmo no caso de venda de bens com prejuízo, por exemplo.

d) A receita é auferida segundo o regime de competência

O auferimento da receita, para determinação da materialização da hipótese de incidência das contribuições aqui tratadas, deve ser apurado segundo o regime de competência, ou seja, medido a cada disponibilidade econômica da mesma pela pessoa jurídica, independentemente do seu efetivo recebimento em dinheiro, este, sim, representado pelo regime de caixa99. Assinale-se que o regime de competência constitui um princípio fundamental da contabilidade que determina que as receitas e as despesas devem ser incluídas na apuração do resultado do período em que ocorrerem, sempre simultaneamente quando se correlacionarem, independentemente de recebimento ou pagamento100.

A Lei das Sociedades por Ações, em seu art. 187, ao descrever os elementos componentes da demonstração do resultado do exercício prevê que nesta conta se discriminarão e computarão as receitas e os rendimentos ganhos no período, independentemente da sua realização em moeda. Portanto, as companhias, bem como todas as

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Posição contrária, portanto, àquela esposada por José Antonio Minatel, para quem, como comentado nessa desta dissertação, as receitas somente podem ser tributadas pelas contribuições quando efetivamente recebidas – regime de caixa (vide NR 104).

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Vide Resolução n° 750/93, do Conselho Federal de Contabilidade. Disponível em: <http//www.cfc.org.br>. Acesso em 13 fev. 2008.

demais pessoas jurídicas, por força do art. 1188 do Código Civil101, devem reconhecer seus resultados, para efeitos de tributação do PIS e da COFINS pelo chamado “regime de competência”, que se contrapõe ao regime de caixa, que é aquele em que as receitas são reconhecidas apenas quando do respectivo ingresso na empresa do numerário correspondente.

No regime não cumulativo, as receitas são tributadas pelas contribuições ao PIS e da COFINS segundo o regime de competência, prestigiado pela legislação societária. As únicas exceções a essa regra estão dispostas no próprio ordenamento; com efeito, o art. 30, da MP n° 2158-35/2001, dispõe sobre a utilização do regime de caixa para a apuração das variações monetárias cambiais dos direitos de crédito e das obrigações do contribuinte e o art. 20, da mesma MP, permite a adoção do regime de caixa para apurar os resultados tributáveis das pessoas jurídicas que calculam o imposto de renda com base no sistema do lucro presumido (art. 20, MP n° 2158-35/2001).

e) Reduções de obrigações da pessoa jurídica configuram receitas

A receita também pode ser caracterizada pela eliminação ou redução, total ou parcial, de uma obrigação anteriormente registrada. Isso porque, conforme mencionou Ricardo Mariz, o resultado desse fator é um aumento dos valores positivos e negativos que constituem o patrimônio. De fato, (i) nos empréstimos reduzidos por negociações entre credor e devedor; (ii) na valorização da moeda nacional frente à moeda estrangeira pactuada nos empréstimos externos, com diminuição do valor destes quando da liquidação da operação; (iii) no perdão total da dívida pelo credor, além de outros exemplos correntes na prática negocial das pessoas jurídicas, representam uma diminuição da obrigação antes pactuada pela

101 “Art. 1188. O balancete patrimonial deverá exprimir com fidelidade e clareza a situação real da empresa e, atendidas às peculiaridades desta, bem como às disposições das leis especiais indicará, distintamente, o ativo e o passivo.”

empresa e um incremento – ganho - no patrimônio da pessoa jurídica, sujeitando-se, portanto, à incidência das contribuições.

Em síntese, receita é conceito puramente jurídico, representa um ingresso que se incorpora permanentemente ao patrimônio da pessoa jurídica e decorre de uma ação empresarial direcionada a terceiros a partir da execução do objeto social da sociedade. Pode também designar-se como receita o acréscimo experimentado por uma perdão de dívida dado por credores ou outros fatores que diminuam as obrigações da pessoa jurídica para valores abaixo daqueles originariamente contraídos.