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O crédito do PIS e da COFINS caracterizado como subvenção

CAPÍTULO 5 A TÉCNICA NÃO CUMULATIVA DO PIS E DA COFINS

5.6 A natureza jurídica do crédito: subvenção

5.6.3 O crédito do PIS e da COFINS caracterizado como subvenção

À luz de todas as considerações tecidas no tópico anterior, pode-se concluir que os créditos de PIS e da COFINS, no sistema não cumulativo, constituem subvenção para custeio, concedida por lei, e têm por objetivo a transferência de renda do ente público para o particular a fim de auxiliar na otimização de seu fluxo de caixa e redução do capital de giro de suas atividades, sem vinculação a um investimento específico.

O interesse público que fundamenta a concessão legal dessa subvenção pode ser verificado na vantagem que o regime de créditos pode trazer para o sistema de preços ao

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consumidor. Ora, é livre de dúvidas que a diminuição da carga tributária sobre a cadeia produtiva dos produtos e serviços, verificada pela outorga de créditos utilizados como moeda de pagamento, certamente acarreta uma precificação menor desses itens quando chegam às mãos do consumidor final. Para que isso ocorra, o Poder Público abre mão do dinheiro que ingressaria em seus cofres, como forma de pagamento das contribuições ao PIS e da COFINS, aceitando receber créditos como moeda de liquidação do valor a pagar. Pode-se afirmar que o Poder Público abriu mão de parte da receita derivada atinente ao sistema não cumulativo das contribuições sob foco, em prol de assegurar a neutralidade tributária.

Desta opinião não diverge Pedro Anceles76, para quem a concessão do crédito fiscal decorre da transferência efetuada pelo Poder Público às pessoas jurídicas de direito privado, reunindo características e elementos que podem identificá-lo como subvenção. E continua:

“ O crédito concedido, a título de garantir a neutralidade da incidência das contribuições sociais do Pis e da COFINS não cumulativos, é um incentivo que pode ajustar-se perfeitamente ao conceito de subvenções econômicas, por trata-se de transferências destinadas a cobrir despesas de custeio das empresas beneficiadas, no exatos termos do art. 12 da Lei 4320/64”

Nesse sentido cabe perguntar: os valores de crédito registrados pelo contribuinte a título de subvenção estão sujeitos à incidência do PIS e da COFINS no regime não cumulativo?

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ANCELES, Pedro. Contribuições Sociais do PIS/PASEP e da COFINS não cumulativos: Incidências e Apuração. In: SANTI, Eurico Marcos Diniz de; ZILVETI, Fernando Aurélio; MOSQUERA, Roberto Quiroga (Coord.). Tributação do Setor Comercial. São Paulo: Quartier Latin, p. 361-416, 2005.

A resposta é negativa. Esse plus jurídico recebido pelo contribuinte do Estado não é tributado pelas contribuições em tela por expressa disposição contida no § 10º do art. 3º da Lei nº 10833/2003, o qual determina que o valor dos créditos de PIS e da COFINS não constitui receita bruta da pessoa jurídica, servindo somente para dedução do valor devido da contribuição77 .

Por outro lado, tal previsão legal trouxe outro tipo de discussão. Considerando-se que a própria norma aludida dispõe que o valor dos créditos das contribuições em tela não constitui receita bruta, alguns contribuintes colhem dela a interpretação extensiva de que referido crédito também não deveria compor a base de cálculo do IRPJ e da CSLL, cuja sistemática de incidência também parte da receita bruta para se chegar ao lucro tributável. Sustentam que, como o crédito do PIS e da COFINS possui a natureza de uma subvenção, ela não poderia ser tributada por nenhum tipo de tributo.

Entretanto, entendemos que a norma prevista no §10 não pode ser interpretada de tal forma a abranger também outros tributos federais. Deve ela ser analisada à luz do caput do art. 3º a que pertence, eis que, conforme orientação que se extrai do art. 11, inciso III, da Lei Complementar nº 95/98, os parágrafos, dentro da composição, articulação e redação de um artigo de lei, têm apenas a função de complementar ou excepcionar as normas ali enunciadas. No caso, o art. 3, que trata apenas de apuração do crédito do PIS e da COFINS nada dispõe sobre outros tributos federais. Além disso, conforme Carlos Maximiniano, em regra, é estrita a interpretação das leis excepcionais, das fiscais e das punitivas78. Essa regra de hermenêutica foi incorporada ao art. 111 do CTN, que preconiza a interpretação literal da legislação que

77 Essa mesma norma se aplica extensivamente aos créditos apurados a título de PIS, por força do art. 15 da Lei nº 10833/2003.

disponha sobre suspensão ou exclusão do crédito tributário, que é exatamente o que faz o art. 3º, § 10, da Lei nº 10833/2003.

Não obstante, quanto ao argumento de que as subvenções – transferências de renda e de capital – não podem ser tributadas pelo imposto sobre a renda, é importante frisar o que se afirmou anteriormente no sentido de que somente as subvenções para investimento são, à luz da legislação do imposto de renda, desoneradas. As de custeio, dentro das quais se enquadram os créditos de PIS e da COFINS, são normalmente oneradas pelo tributo ora citado, a não ser que novo tratamento tributário venha a ser determinado por lei que estabeleça os reflexo fiscal decorrentes das novas normas societárias trazidas pela Lei nº 11638/2007.79

Analisada a técnica da não-cumulatividade e examinada a natureza jurídica dos créditos de PIS e da COFINS nesse novo regime, podemos detalhar sua sistemática, na forma posta na legislação, e as possíveis inferências que dela se pode extrair.

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Questão interessante também é a contabilização dos créditos de PIS/COFINS. Ela foi tratada pelo Instituto dos Auditores Independentes do Brasil – IBRACON, órgão que estabelece os procedimentos contábeis que devem ser adotados nas companhias abertas sujeitas à auditoria por força da Lei nº 6404/76. A Interpretação Técnica nº 01/2004, em 22 de junho de 2004, orienta as companhias abertas sobre a melhor forma de registrar

contabilmente os créditos do PIS e da COFINS apurados no sistema não cumulativo. Disponível em: <http://www.ibracon.com.br>. Acesso em 13 fev. 2008.

CAPÍTULO 6 A NÃO-CUMULATIVIDADE DA CONTRIBUIÇÃO