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CAPÍTULO 6 A NÃO-CUMULATIVIDADE DA CONTRIBUIÇÃO AO PIS E DA

6.2 Análise dos elementos da regra-matriz de incidência

6.2.2 Exclusões da base de cálculo

6.2.2.4 Vendas canceladas

Como vimos nesta dissertação, todo ingresso de valores decorrente da venda de bens e serviços deve ser registrado na contabilidade da pessoa jurídica como uma receita na Demonstração do Resultado do Exercício, segundo o regime de competência 105,.

Assim, caso ocorra o cancelamento de uma venda, em que o negócio jurídico antes pactuado é desfeito, juridicamente, entre as partes contratantes, retornando a mercadoria para o estoque do vendedor, permitem as leis da não-cumulatividade que aquela receita de venda, antes computada por força do regime da competência, seja excluída da base de cálculo das contribuições ao PIS e da COFINS apurada ao final do mês. Nem poderia ser de outra forma, pois, se tal exclusão não fosse permitida, estar-se-ia tributando valor não recebido, ou uma não-receita, tornando ilegítima a incidência dessas contribuições.

Segundo entendemos, esse mesmo tratamento dado pela lei para as vendas canceladas também deve ser adotado em relação aos valores não recebidos dos respectivos devedores (inadimplência), por meio de uma interpretação sistemática da norma da não- cumulatividade. Tendo em vista que, no caso de inadimplência, o contribuinte deixa de receber a receita relativa à operação praticada, não deve ser ela alcançada pela incidência das contribuições, sob pena de se tributar uma não-receita, ferindo-se, assim, o princípio da legalidade (a lei prevê apenas a tributação da receita) e da capacidade contributiva, ao se tributar ao que não traduz expressão de riqueza do contribuinte. Assim, nessa ordem de idéias, é lícita a exclusão da base de cálculo das contribuições, dos valores não adimplidos pelos respectivos adquirentes de produtos e serviços, concedendo-se o mesmo tratamento descrito nas leis do novo regime para as vendas canceladas.

105

A União, por seu turno, rechaça tal pretensão sob a alegação de que as situações de inadimplência são completamente distintas das vendas canceladas. No primeiro caso, o contrato de compra e venda se aperfeiçoa de pleno direito, e que eventuais valores não recebidos devem ser objeto de ação de cobrança específica do contribuinte contra seus devedores; no segundo caso, o negócio jurídico se desfaz, havendo previsão específica na legislação das contribuições para a exclusão daqueles valores que antes haviam sido registrados como receita, em face do princípio contábil da competência106.

Sobre esse tema é interessante a solução proposta por Tercio Chiavassa107. Ele proclama, de início, que a obrigatoriedade de observância do regime contábil da competência, na apuração e no recolhimento das contribuições ao PIS e para a COFINS, não deveria trazer alterações na determinação da incidência tributária, fazendo tributar aquilo que não representou efetivamente uma receita. Depois conclui:

“Por esse motivo, a única forma de se admitir a aplicação do regime de competência, nesses casos, é atendê-la como mera estimativa de valores, verdadeira antecipação do contribuinte, denotadora de um indício de capacidade contributiva e que futuramente será confirmada, ou não, pelos fatos observados, o que permitirá a legitimação, ou não dessa antecipação.

Resta admitida, por essa óptica, a antecipação do recolhimento do PIS e da COFINS. No entanto, se os valores não ingressarem efetivamente no patrimônio da pessoa jurídica, diante da ausência de legislação específica, estabelecendo técnica diversa para o tratamento das perdas, o contribuinte deve adotar as regras previstas para a compensação ou restituição, nos casos de pagamento indevido ou, ao menos, a utilização das regras previstas pela Lei nº 9430/96 em relação às perdas no recebimento de créditos, lançando crédito equivalente à perda na apuração das referidas contribuições.”

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Vide Solução de Consulta nº 423/2003 – PIS / COFINS. EXCLUSÕES DA BASE DE CÁLCULO. “Não é cabível, por falta de base legal, a exclusão, na base de cálculo da contribuição para o PIS e da COFINS, de valores faturados, pelo regime de competência, mas que não foram efetivamente recebidos pela consulente de seus clientes, em virtude de inadimplência”. (DOU 25.02.2004). 7ª Região Fiscal: Rio de Janeiro, Campos de Goitacazes, Niterói, Nova Iguaçu, Volta Redonda, Vitória.

107

CHIAVASSA, Tercio.Valores faturados e não recebidos: a questão do PIS e da COFINS. In: _____.

Tributação nas Telecomunicações. São Paulo: Quartier Latin, p. 363-383, 2005.. Sobre esse tema vide, ainda,

MATTOS, Aroldo Gomes. Vendas canceladas: dedução das bases de cálculo das contribuições PIS/COFINS”.

Revista Dialética de Direito Tributário, São Paulo, n. 78, p. 7-14, mar. 2002, e TROIANELLI, Gabriel

Lacerda. Serviços de telecomunicação: PIS/COFINS sobre contas Faturadas e Não Recebidas. In: _____.

Realmente, essa alternativa proposta pelo autor citado anularia toda a distorção provocada pela implementação do regime de competência para a apuração das contribuições, fazendo com que os valores inadimplidos fossem excluídos da base de cálculo das contribuições em um momento futuro. Todavia, para que pudesse ser operacionalizado pelo contribuinte, esse mecanismo deveria ser reconhecido pelo legislador, por meio de sua positivação.

As duas Turmas do Superior Tribunal de Justiça já decidiram que incide o PIS e a COFINS sobre a receita bruta das pessoas jurídicas, ainda que ocorra a inadimplência, prestigiando, assim, o regime da competência. Veja-se o que entendeu a Segunda Turma, unanimemente, conforme ementa oficial a seguir:

“TRIBUTÁRIO. PIS E COFINS. BASE DE CÁLCULO. FATURAMENTO.VENDAS

INADIMPLIDAS". EXCLUSÃO. EQUIPARAÇÃO COM VENDAS CANCELADAS. EQÜIDADE. ART. 108, § 2º, DO CTN.

1. Incide o PIS e a COFINS sobre a receita bruta das pessoas jurídicas, ai incluídos os valores de "venda a prazo" que, embora faturados, não ingressaram efetivamente no caixa da empresa devido à inadimplência dos compradores.

2. O art. 3º, § 2º, da Lei 9.718/98 estabelece as deduções autorizadas da base de cálculo do PIS e da COFINS, nele não se incluindo o de “vendas inadimplidas”.

3. O Sistema Tributário Nacional fixou o regime de competência como regra geral para apuração dos resultados da empresa, e não o regime de caixa. Pelo primeiro regime, o registro dos fatos contábeis é realizado a partir de seu comprometimento, vale dizer, da concretização do negócio jurídico, e não do efetivo desembolso ou ingresso da receita correspondente àquela operação. 4. Se a lei não excluiu as "vendas inadimplidas" da base de cálculo das contribuições ao PIS e à COFINS, não cabe ao intérprete fazê-lo por equidade, equiparando-as às vendas canceladas. O art. 108, § 2º, do CTN é expresso ao dispor que "o emprego da eqüidade não poderá resultar na dispensa do pagamento de tributo devido".

5. No cancelamento da venda ocorre o desfazimento do negócio jurídico, o que implica ausência de receita e, conseqüente, intributabilidade da operação. O distrato caracteriza-se, de um lado, pela devolução da mercadoria vendida, e de outro, pela anulação dos valores registrados como receita. 6. Embora da inadimplência possa resultar o cancelamento da venda e conseqüente devolução da mercadoria, a chamada "venda inadimplida", caso não seja a operação efetivamente cancelada, importa em crédito para o vendedor, oponível ao comprador, subsistindo o fato imponível das contribuições ao PIS e à COFINS.

7. Recurso especial não provido108.