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Notícias da imprensa: semelhanças e diferenças da repressão religiosa em Cuba e no Brasil

As expressões religiosas de origem africana sofreram, ao longo da História, todo tipo de desvalorização. As notícias eram divulgadas tanto pela imprensa quanto pelo rádio. No entanto, o afirmado como fato irrefutável e até surpreendente na ótica elitista, cristã-centrista e racista não teve sucesso em sua empreitada de acabar com os costumes dos negros.

As pesquisas demonstraram que os elementos das culturas africanas presentes na Santería e no Candomblé, que serão objeto de análise dos próximos capítulos, proporcionaram valores sociais que permitiram aos iniciados inserir-se no meio social e participar de eventos culturais, políticos, econômicos, esportivos, religiosos que, apesar da posição periférica em que foram colocadas estas culturas negras, influíram na cultura e na consciência nacional de seus respectivos países. Essas posições lógicas de convivência, transmitidas pelos seus antecessores na arte da sobrevivência, permitiram-lhes adaptar-se a cada período e situação histórica concretos, desenvolvendo dispositivos de identificação e coesão; em suma, um agir que serviu como mecanismo de resistência.

Como já foi assinalado, o governo republicano cubano instaurado em 1902 foi filho da frustração de tantos anos de luta pela independência. A vertente revolucionária do processo independentista tinha, para além de propósitos políticos, econômicos e sociais, o objetivo de inclusão das camadas mais empobrecidas da população num novo projeto de vida chamado República, em especial a raça negra, que tão ativamente participara nas gestas bélicas. Negros de destaque obtiveram altos cargos militares no campo de batalha, como Quintín Banderas, Periquito Pérez, Guillermo Moncada, entre outros. Porém, não só foram excluídos do poder político e da nova ordem sócio-econômica pró-americana, como também da historiografia cubana, que foi escrita pelos historiadores oficiais desse período. Dívida que a História Social cubana tem com o período republicano e, aliás, vazio histórico que se mantém até hoje.

Durante esse período, seguiram-se o padrão racista introduzido pelos peninsulares espanhóis e os costumes segregacionistas implantados pelos norte-americanos. As divisões sociais foram acentuadas pelo fator econômico e pela questão racial, o que acarretou o aumento da marginalização do negro. O tema da marginalidade vinculou-se diretamente à raça e aos elementos culturais próprios a essa população. Tal situação adquiriu sua máxima expressão na religiosidade, elemento qualificado não só como atrasado, mas também como

prova da necessidade de orientação e conscientização de seus praticantes, a única via para a assimilação dos verdadeiros valores culturais que a cultura européia oferecia.

A discriminação racial e a exploração dessas camadas negras empobrecidas da população se recrudesceram de tal forma que foi divulgada ampla campanha contra toda manifestação de origem africana no País, o que incluía, naturalmente, a sujeição das crenças e práticas religiosas a sanções jurídicas. Por trás desse rechaço se escondiam interesses classistas bem definidos, e se chegou ao extremo até de ignorá-las na pouca História de Cuba que, nesse momento, se ministrava nas escolas, de tal forma que fatos relevantes dos quais participaram negros africanos e seus descendentes foram adulterados, minimizados e muitas vezes omitidos. (ARGUELLES; HODGE, 1991, p.51)

Em 1904, houve uma notícia sensacionalista que comoveu o País e fez estremecer os sentimentos daqueles “habituados aos bons costumes, ordem e moral cristã”, que sentiram perigar a paz no seu lar e a tranqüilidade de suas famílias. Divulgou-se o “desaparecimento” de uma criança. Delito que, segundo os jornais de Havana, os negros tinham cometido motivados por assuntos religiosos. O Diário La Prensa, de 11 de novembro de 1904, escreveu: ˝Foi notificado o desaparecimento da menina Zoila Díaz (22 meses), no povoado de Guira de Melena. No dito povoado houve rumores de que os responsáveis de sua perda foram os “negros bruxos do cabildo Congo Real”. A imagem estava anexada acompanhando a notícia ilustra uma paisagem campestre e as roupas típicas do homem de campo cubano.

Figura 2 – Ilustração que simula o roubo de uma menina. In:

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Os meios jornalísticos afirmaram, sem ter confirmação pericial, que o crime tinha sido cometido por negros chamados de bruxos. A campanha foi conhecida como “El caso de la niña Zoila” e fez parte da difamação recorrente contra os negros e sua religiosidade. A função da imprensa era a de chamar a atenção deste setor populacional para acusá-los publicamente de qualquer tipo de “barbárie”, seqüestro ou assassinato de uma criança. Mas, não era um tipo qualquer de barbárie, tratava-se de um infanticídio. O argumento não era dirigido só às classes altas, mas também àqueles negros que não professavam religiões de origem africana. De fato, conhecer esses crimes gerava repúdio, rechaço e medo desse setor religioso, o que significava que os efeitos psicológicos dos jornais foram planejados. Nesse sentido, a guerra possuía duas frentes: a repressiva policial e a psicológica.

Por isso, os meios jornalísticos seguiam atentamente os acontecimentos, divulgavam cada detalhe do suposto assassinato, as detenções, os traços dos prisioneiros, destacando a cor da pele e a origem étnica – no caso, africanos nativos –, a composição do tribunal e as acusações às quais os réus responderam.

Segundo notícias divulgadas pelo jornal El País, de 11 e 22 de novembro, entre os acusados achavam-se negros de nação, ou seja, africanos. O primeiro a ser preso foi Domingo Betancourt; dias depois, a listas dos suspeitos aumentou, com Ruperto Ponce, Adela Luís, Pilar Hernández Padrón, Jacobo Arenal e Modesta Chile. Os outros, Julián Amaro e Jorge Cárdenas, detido junto com Julián, eram negros crioulos. A estes se somaram outras detenções de negros crioulos, como Víctor Molina, Pablo Tabares, Laureano Díaz Martínez e Francisca Pedroso. No total, foram doze os acusados.

O resultado do julgamento de “tão bárbaro infanticídio”, como foi qualificado pelo diário El País em 22 de novembro de 1904, foi a acusação de Victor Molina como principal autor do crime, e este foi condenado à morte. Os outros acusados foram condenados a trabalhos forçados por toda a vida. Alguns foram sentenciados a penas de cerca de quatorze anos de prisão e quatro dos acusados foram absolvidos. Em agosto de 1905, o tribunal ratificou a sentença: dispôs que Victor e Domingo seriam condenados à pena capital, Pablo a trabalhos forçados por toda a vida, Juana à prisão perpétua e Ruperto, Julian e Jorge a penas de seis a quatorze anos de prisão.

Todos foram declarados culpados e sentenciados com severas penas. A curiosidade que o caso apresenta, como em outros que ainda mostraremos, é a impossibilidade de provar a culpa dos acusados, apesar de terem sido julgados por “delitos culposos” e alguns deles terem

“confessado o crime” sob torturas. Nesse sentido, os condenaram mais por sua condição de negros e suas crenças religiosas. Sentenciou-os uma sociedade “moderna” republicana, que agia segundo uma ideologia racista norte-americana, de matriz cristã protestante.

A imprensa também cumpriu seu papel racista. As publicações sensacionalistas dos “fatos vandálicos cometidos pelos negros” eram formas de mostrar “a irracionalidade” desse tipo de pensamento que, segundo eles, caracterizava os negros e justificava o seu “agir cultural bárbaro” (El País, 11 de nov. 1904). Mesmo a Carta Magna, referendada em 1901, que consignava a igualdade de todos os cubanos perante a Lei, afirmando a ausência de privilégios pessoais, condições de jure, mas não de fato, num contexto em que a realidade era outra, traduziu o ocultamento das diferenças sociais e raciais. A pergunta que se colocaria, nesse caso, seria: em presença de quais leis todos os homens seriam iguais perante Deus? Um Deus cristão, branco e racista? O espírito capitalista norte-americano, herdado da racionalidade calvinista, parecia propagar um tipo de sacerdócio e tribunal etnocêntrico entre os brancos e a classe dominante que se erigiam juízes supremos das crenças dos negros.

Na realidade era uma questão de poder, liderança, economia e cultura brancas e, para os negros, em sentido geral, ficavam os subempregos e os trabalhos subalternos. Os poucos negros que lograram situar-se entre as elites no poder sentiram o peso da humilhação e discriminação, como tem demonstrado o historiador cubano Luis Angel Carreras (1985).

Uma das formas que caracterizaram a provocação da imprensa contra a população negra pode ser resumida pela seguinte notícia:

Nosso companheiro, Eduardo Varela Zequeira, chefe de informação de El

Mundo, acaba de ser vítima de uma bruxaria, sem dúvida para se vingar de

quem tomou parte tão direta no esclarecimento do assassinato da menina Zoila.

Consiste num embó [sic.], um pacote de papel de cor fino, atado com fita vermelha, que continha um colar com vinte grãos de milho e um botão de porcelana, com bordas púrpuras; uma fita com cinco contas pequenas de cor baça, dois pregos pequenos, um dente de alho, um molar com chapa e argola de metal dourado; nove grãos de milho e três pregos pequenos soltos, atados a uma fita dourada, e tudo isso entre um pó de cor amarelo queimado. (El

Mundo, janeiro de 1905)

Descrições como estas somente revelavam desprezo e desconhecimento da chamada “magia negra” e “bruxaria”, decorrentes dos preconceitos contra a “raça de cor”, em sua condição de cidadãos de segunda categoria: analfabetos e “irracionais”, que realizavam “atos primitivos” de intimidação aos meios jornalísticos, como geralmente descreveram os canais de imprensa. Se considerarmos reais os atos religiosos antes descritos pela imprensa,

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observamos que não houve agressividade física, nem corporal para com alguém que promoveu e divulgou, com toda a carga de ódio, medo, rancor e desprestígio, um processo injusto que terminou com a morte de inocentes e a prisão de outros religiosos.

A polícia, da mesma forma que a imprensa, achou-se encarregada de limpar a sociedade deste “mal” que vários séculos de escravidão tinham deixado, isto é, das crenças e práticas religiosas de ascendência africana. No seu entender, esses costumes resultavam da tolerância das autoridades coloniais espanholas e usaram o modus operandi norte-americano para eliminá-las, com repressão e segregação. Não esqueçamos que nesse momento o governo republicano cubano constituía representação caricaturesca, porque não representava os interesses internos do País, ainda que o seu presidente fosse cubano. Quem realmente governava eram os norte-americanos, que tinham forte consciência racista e segregacionista, oriundos das relações sociais vigentes nos Estados Unidos.

Os escândalos jornalísticos sobre as mortes eram publicados com assiduidade na imprensa de Havana, a qual, além disso, oferecia todo um repertório de novidades nacionais sobre as práticas religiosas na Ilha, mecanismo utilizado para chamar a atenção da população. A isto se acrescenta a divulgação de informações policiais sobre apreensões, inspeções, assaltos e suspeitas de atividades religiosas praticadas por negros, que eram salientados como fatos bárbaros, como se fossem crimes de lesa humanidade. O objetivo era supervalorizar os fatos, qualificando-os como delitos, a fim de puni-los publicamente.

O lado mais infame do que sucedia aos iniciados santeros era a falta de respeito à sua religiosidade, o que se tornava efetivo quando a polícia invadia um local religioso no momento exato em que se estavam celebrando cerimônias rituais. Faziam dele o momento apropriado para interrompê-las, confiscar os objetos religiosos e prender todo o pessoal presente, tentando, por esse meio, desacreditar a autoridade religiosa – pai ou mãe-de-santo – ante sua comunidade.

Tais fatos também ocorreram no Brasil com a mesma violência e assiduidade e constituíram manchetes sensacionalistas das notícias dos jornais, o que analisaremos mais adiante. Os iniciados, culpados por atos de bruxaria, eram tratados como criminosos; suas reuniões eram qualificadas como subversivas; seus bens religiosos confiscados e eles próprios colocados à disposição da lei. O historiador Silvio Castro Fernández, em seu livro El Partido

Independiente de Color, referindo-se à repressão racial que aconteceu em Cuba em 1912,

conhecida como “Guerrita de los Negros” ou “Masacre del Partido Independiente de Color”, assinalou como o jornal El Triunfo, órgão de colisão liberal, qualificava aos negros. Segundo

Silvio Castro, a partir da proposta de se criar um Partido para os negros terem o direito de se candidatar à presidência do País, o jornal, em crítica feroz, assegurou que os negros não tinham capacidade para tal empresa porque eram pessoas perigosas para assegurar a integridade da nação cubana.

E isso se deve ao fato de que Evaristo Estenoz, que alcançara a patente militar de General durante as Guerras de Independência dos finais do século XIX, tentava criar um partido integrado por negros e mulatos porque, depois de instaurada a República, as pessoas da raça negra, veteranos de guerra que integravam os diferentes partidos políticos, não tinham participação na gestão política governamental. Entre esses indivíduos com clareza política e com capacidades intelectuais se encontravam figuras como Juan Gualberto Gómez, homem inteligente, jornalista e político extraordinário, que foi o Delegado do Partido Revolucionário em Havana. Ressaltemos um dado importante, apontado no capítulo anterior: este patriota foi filho de pais escravos que compraram sua liberdade, tendo cursado os estudos superiores na França.

Para aqueles que lutaram pela independência a realidade confrontada depois de instaurada a República foi mais violenta do que as batalhas durante as guerras de 1868 e 1895. Entre eles crescia o desemprego, a miséria e a insalubridade devido ao esquecimento das autoridades governamentais representadas na figura do presidente da Ilha. As difamações contra a religião eram somente um dos aspectos do cruel racismo que se arraigava entre cubanos.

Ainda assim não se pode confundir o racismo como política de Estado e condição para gerar segregação social e racial disseminada entre elite e burguesia branca cubana para com os setores e camadas populares. Entre estes setores se desenvolveu um sistema de solidariedade inter-racial e uma assimilação da religiosidade de ascendência africana que os unia como segmento populacional marginalizado e excluído.

Em janeiro de 1910, prenderam um grupo de negros e mulatos que se achava numa festa dançando ao ritmo de tambores religiosos ou atabaques, como são conhecidos no Brasil estes instrumentos de percussão. Consistia numa cerimônia de iniciação da Santería, possivelmente a denominada Apresentação ante o tambor, momento em que a pessoa que se encontra realizando os cerimoniais de iniciação é apresentada diante dos tambores sacramentados e deve dançar ao compasso dos diferentes ritmos e cânticos rituais dedicados a cada um dos orixás. Essas danças e cânticos são acompanhados por todos os que assistem à atividade religiosa. No meio da celebração, a polícia invadiu a casa e deu voz de prisão aos

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presentes, levando todos os objetos de culto encontrados. Segundo o informe jornalístico, “graças à habilidade do seu advogado, foram liberados todos os apreendidos” (Diário de la

Marina, 10 de jan. 1905).

Na realidade, era preciso muita habilidade para demonstrar ante os letrados do júri que os detentos eram pessoas decentes, as quais se reuniam à volta de suas crenças religiosas e que, mesmo se comportando distintamente dos cristãos, realizavam cerimônias rituais sem nenhum atraso civilizatório ou irracionalidade, apesar de a polícia e a imprensa manterem a população ameaçada em virtude dessas crenças. Ter ou praticar crenças religiosas diferentes não poderia constituir delito porque era um assunto privado de cada cidadão, com respeito aos interesses do Estado. A constituição amparava legalmente aos cidadãos em suas escolhas religiosas e atividades litúrgicas, havia liberdade de culto e o Estado era leigo, ou seja, existia a separação entre as instituições religiosas e o Estado. Declaração que tinha sido inclusa na Constituição de Guaimaro em 1870 e referendada em 1901. No entanto, as religiosidades de ascendência africana originadas em Cuba continuavam consideradas como aberração ou bruxaria. O direito de exercê-las era negado pela elite branca, que mantinha a colonialidade do poder; por isso, toda reunião e agrupamento que entre os negros se realizavam constituíam uma ameaça potencial.

Como afirma Montejo, citando palavras de Ortíz:

Durante essa primeira fase, apesar de que a situação que o negro enfrentava “tivesse como conseqüência o preconceito da inferioridade social mesclada com injustiça e dor”, segundo afirmara Don Fernando Ortiz, eles puseram-se a exigir seus direitos. (2004, p.175)

Em 1912, produziu-se o massacre dos membros do Partido Independente de Cor, organização político-social isenta de qualquer imbricação religiosa. Essa organização demonstrou capacidade para se organizar e vontade para defender os interesses e direitos de negros e mestiços como membros das classes média e populares, no sentido de aspirar à ascensão social. Isso provocou outra intervenção das tropas norte-americanas.37

Nosso objetivo não é fazer a análise deste movimento político, liderado e formado exclusivamente por negros e mulatos comprometidos com seus pares, muitos deles veteranos das Guerras de Independência. Como fato de conotação racial e como movimento político,

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A primeira intervenção militar das tropas norte-americanas foi ao fim da guerra em 1898. A segunda foi em 1906, quando a guerra civil, provocada pelo desentendimento político entre os partidos liberais e moderados, trouxe como resultado o horrendo assassinato de Quintín Banderas, tendo provocado a terceira intervenção em 1912, depois do massacre dos membros do Partido Independiente de Color, na zona oriental do País.

seu objetivo não foi, de modo algum, separatista, oportunista e muito menos racista, como justificou o governo desse período o massacre cometido contra mais de três mil homens negros, membros ou simpatizantes do Partido Independiente de Color.

Se o movimento teve um caráter racial pelos indivíduos que o formaram, isto foi devido às circunstancias sócio-políticas da época. Não obstante, os temas básicos da plataforma política programática defenderam direitos de cidadãos, empregatícios e educacionais, garantidos para todos os cidadãos em igualdade de condições, independentemente da cor da pele, ou seja, propuseram garantias jurídicas e constitucionais sem racismo (FERNANDÉZ, 1994).

No entanto, em virtude de ser uma plataforma gerada por aqueles que se tinham destacado historicamente por sua capacidade de luta e resistência armada, tal movimento foi considerado uma ameaça para o projeto de uma “nova nação”, cimentada numa sociedade capitalista e de privilégios fraudulentos. Por isso, a organização foi extirpada da sociedade. Seu fim chegou com o massacre de seus afiliados, o que, mais que simples medida coercitiva, consistiu numa ação repressiva exemplar para futuros movimentos políticos e sociais que tentassem propor transformações radicais na ordem republicana neo-colonial existente em Cuba.

Ao realizar-se um balanço crítico do fracasso forçado deste movimento político, existem vários aspectos que devem ser ressaltados. Um coincide com a incompreensão dos objetivos básicos propostos pelo partido por algumas figuras célebres. O Partido tentava demonstrar que os negros estavam capacitados para se organizar, formar grupos políticos que reivindicassem e defendessem, a partir do poder governamental, os interesses dos pobres, o que não significava uma postura separatista, mas sim a superação das desigualdades. Outro problema que conduziu ao fracasso do partido foi a excessiva prudência daqueles que queriam evitar o confronto armado e, finalmente, o pouco ou inexistente apoio dado pelas forças sociais existentes que formavam a base social.

O massacre dos Independentes de Cor incrementou os preconceitos raciais e o medo do negro, alimentado desde a fase colonial. A imprensa continuou incitando ao ódio e descrédito para com os negros. Se, até aquele momento, as expressões religiosas formadas das tradições culturais dos povos africanos tinham sido repudiadas, depois do massacre tornou-se mais grave.

Não está encerrado este capítulo sobre a intenção de exterminar o orgulho e o espírito de luta dos negros como indivíduos sociais à procura de igualdade racial. Com efeito, em

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1913, começaram a entrar na Ilha os primeiros trabalhadores negros, provenientes de outras Ilhas do Caribe, haitianos, jamaicanos, dominicanos, martiniquenses, entre outros, que constituíam uma força de trabalho barata, que laborava em regime de semi-escravidão, produto do déficit de trabalhadores na produção da indústria açucareira norte-americana, que começava a desenvolver-se na zona oriental do País. Essa imigração foi duramente criticada pela imprensa nacional, no clima segregacionista imposto pela República neocolonial.

Por outro lado, a classe média integrada por negros e mulatos, que tinha começado a