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Existem muitos estudos em torno da literatura de Italo Calvino também no Brasil. Particularmente, foram selecionadas algumas pesquisas que, de algum modo, apontam para os centros de interesse deste estudo, ou seja, que indicam traços comuns de apreciação da literatura de Calvino pela via do imaginário, da visibilidade e dos aspectos existenciais.

45 GIOANOLA. Modalità del fantástico nell’opera di Italo Calvino, p. 22: “In Calvino il fantastico è una

vocazione originaria ma è anche una lunga conquista perché lo scrittore ha dovuto fare i conti con il neorealismo e con le ideologie che lo avevano ispirato. In questo assomiglia a Pirandello, la cui vocazione al fantastico, esplosa completamente solo coi Sei Personaggi, si è sviluppata tutta all’interno delle procedure narrative predisposte dal realismo naturalismo e veristico”.

46 GIOANOLA. Modalità del fantástico nell’opera di Italo Calvino, p. 21: “Il fantastico novecentesco è

dunque astratto, logicizzante, intellectualistico, unendo assieme libertà infinita di codice e qualità finitissima di messagi”.

Deve ser considerada a multiplicidade das construções acadêmicas e literárias, dado o caráter enciclopédico da obra calviniana, o que faz multiplicar os sentidos diversos da crítica, tornando difícil a tarefa do recorte. Alguns exemplos são citados, sem a pretensão de atingir a totalidade das pesquisas, reforçando o trabalho de continuidade e de inovação do pensamento aberto pelo escritor.

A pesquisadora Diana Santos, em sua dissertação de mestrado, intitulada Olhar

impossível: a visibilidade literária em O cavaleiro inexistente e As cosmicômicas, de Italo Calvino, analisa as duas obras do escritor ao abordar o olhar enquanto estrutura narrativa, a partir das Lições americanas:

As relações entre Visibilidade e as outras propostas apresentadas pelo autor – Leveza, Rapidez, Exatidão e Multiplicidade – apontam para a questão do olhar como recurso narrativo, contrapondo ou aproximando temas como imagem e texto, fantasia e realidade, linguagem e silêncio, o objeto-livro e o não-lugar da literatura.47

A autora, semelhantemente à crítica italiana, demonstra a importância do olhar nas diversas obras do autor e cruza conceitos muito significativos, tais como: palavra e imagem, escrita, ficção e real. Até mesmo a acepção de teoria é lembrada em sua etimologia, estando ligada à ação de contemplar ou de examinar e, desse modo, associada à imagem. Muitos autores são trazidos para o debate, sobretudo aqueles que concedem mérito específico à dimensão da palavra na recriação de universos, tais como, Bachelard, Blanchot, Foucault, Barthes, Otavio Paz, Costa Lima, entre outros. Uma das suas premissas é o próprio tratamento que Calvino concede à literatura, o que se pode entender como a sua poética: “o mundo é o caos e a linguagem é a maneira de por ordem nesse vazio obscuro e ilimitado”.48 De algum modo, Diana Santos define o binômio palavra e imagem, enquanto processos recíprocos nas obras analisadas, mostrando que o escritor culmina por “construir imagens que acabam por se incrustar no vazio absoluto da língua, esse não-lugar onde a escrita pode erguer construções no desejo de fabricar o inusitado e imaginar trilhas visíveis para o espaço textual”.49

47 SANTOS. Olhar impossível: a visibilidade literária em O cavaleiro inexistente e As cosmicômicas, de

Italo Calvino, p. 87.

48 SANTOS. Olhar impossível: a visibilidade literária em O cavaleiro inexistente e As cosmicômicas, de

Italo Calvino, p. 90.

49 SANTOS. Olhar impossível: a visibilidade literária em O cavaleiro inexistente e As cosmicômicas, de

Outra pesquisadora que trabalhou cuidadosa e criativamente com a obra de Calvino é Maria Lúcia de Resende Chaves, com duas pesquisas: As faces vazias do

discurso: ciência, arte e ficção na estética contemporânea precisada na obra de Italo Calvino, cujo resumo indica “uma leitura/escritura de um não-todo da obra de Italo Calvino. Envolvendo uma reflexão acerca da estética contemporânea, ressalta o estilo fluido, ético e contíguo com que esse autor faz laços e nós entre ciências e artes”.50 É a dimensão da incompletude da estética contemporânea, a intersecção dos nós dos saberes que interessam particularmente em seu estudo de doutoramento.

Anteriormente, no mestrado, Chaves já havia se acercado da obra de Calvino: “Que história aguarda, lá embaixo, seu fim? Ensaio sobre fragmento de leitura de Se um

viajante numa noite de inverno”,51 proporcionando um aprofundamento ensaístico acerca da literatura de Calvino. Entre inúmeros aspectos trabalhados, em meio a um tecido de muitas vozes teóricas, a autora afirma, mais de uma vez, que “Calvino desenhou”,52 dimensionado o aspecto do traço e do olhar em sua escrita. Nesse estudo, a afirmativa do ato de desenhar corrobora as aproximações com a teatralidade, bem como para a demonstração da perspectiva do sujeito. Para a autora, as criações literárias desse escritor geram uma nova ordem: “o pensamento de Calvino cria uma ética/estética, uma estética que se diria um novo modo de olhar, un nuovo modo di guardare, cioè di essere al mondo, um modo de ser e estar no mundo”.53

Maria Elisa Rodrigues Moreira também trabalha em dois tempos com a obra de Calvino, dissertação e tese de doutorado. Inicialmente, com a obra Saber narrativo – proposta para uma leitura de Italo Calvino,54 em que a autora elabora o pensamento em torno do hipertexto, que se conecta ao conceito de multiplicidade, entre outros. Utilizando o hipertexto como referencial téorico-metodológico, “percorre-se a obra do escritor em

50 CHAVES. A face vazia dos discursos: ciência, arte, filosofia e ficção na estética contemporânea precisada

na obra de Italo Calvino. p. 37.

51 CHAVES. “Que história aguarda, lá embaixo, seu fim?” Uma leitura de Se um viajante numa noite de

inverno, de Italo Calvino, 2001.

52 CHAVES [1996]. “Que história aguarda, lá embaixo, seu fim?” Uma leitura de Se um viajante numa

noite de inverno, de Italo Calvino, p. 22; 32.

53 CHAVES [1996]. “Que história aguarda, lá embaixo, seu fim?” Uma leitura de Se um viajante numa

noite de inverno, de Italo Calvino, p. 37.

54 MOREIRA, Maria Elisa Rodrigues. “Saber narrativo: proposta para uma leitura de Italo Calvino”.

Orientador Wander Melo Miranda. Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Letras, 1996.

trajetos temáticos relativos a conceitos relevantes ao campo da literatura, como escrita, leitura, texto, intertextualidade, relação entre mundo escrito e mundo não-escrito, metaficção”.55

E, mais recentemente, com a pesquisa Literatura e biblioteca em Jorge Luis

Borges e Italo Calvino, a autora pesquisou, entre outros aspectos, o caráter de enciclopédia da obra calviniana, em um estudo comparativo com os textos de Borges, a partir do signo “biblioteca”, entre outros conceitos importantes. No resumo da tese, Moreira adianta que buscou o referencial teórico-metodológico da complexidade e as teorias de rede para traçar “um percurso reticular pelas produções dos dois escritores, sejam elas ficcionais, ensaísticas ou autobiográficas”, traçando um pensamento que tem na biblioteca tanto um emblema literário quanto uma metáfora para o tipo de escrita por eles efetivada. “A literatura de ambos é percebida, desse modo, como um conjunto de textos ancorado na tradição, mas voltado para o futuro e para a mobilidade do conhecimento”.56

Outra pesquisa preciosa, pelas reflexões sobre a linguagem literária que se conectam às questões levantadas neste estudo, é aquela de Stefania Chiarelli que, em sua dissertação de mestrado acerca de O cavaleiro inexistente, relaciona essa criação à de Ludovico Ariosto, Orlando Furioso. Entre suas conclusões, a autora afirma:

O cruzamento das linguagens de dois autores viabilizou o estabelecimento de uma releitura de um texto antigo, como o de Ariosto, relacionando-o com aspectos da modernidade. A reelaboração de Calvino é sempre crítica: o autor lança um olhar irônico sobre questões contemporâneas, mas nunca perde de vista a proposta de fazer uso da fábula para nomear esse mundo que está à procura de sentido.57

Observa-se, assim, com esses recortes demonstrativos do vasto acervo de pesquisas, em contextos diversos, a riqueza da investigação em sua variabilidade de interesses, na própria multiplicidade dos saberes históricos, literários, artísticos, filosóficos, o que reafirma a dimensão inesgotável de leituras possíveis do legado literário calviniano, e que, enfim, abre espaço para esta pesquisa. Se, nos estudos artísticos e teóricos brasileiros, sua

55 MOREIRA. Saber narrativo – proposta para uma leitura de Italo Calvino, Cf.:

<http://hdl.handle.net/1843/ECAP-746JEN>. Consultado em 22/04/2013.

56 MOREIRA. Literatura e biblioteca em Jorge Luis Borges e Italo Calvino. <http://www.bibliotecadigital.

ufmg.br/dspace/handle/1843/ECAP-8RWLF3>. Consultado em 22/04/2013.

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obra é eloquente e vivaz, nos estudos italianos, também a imagem da obra do escritor corrobora para esse pensamento em torno da coerência/consistência de sua escritura.