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Textos teatrais, musicais ou para espetáculos

As traduções para o português, no Brasil, concentram-se em grande parte de sua obra literária, que é majoritária no conjunto, além de uma significativa parte ensaística. No entanto, algumas palavras devem ser ditas sobre a existência de textos endereçados ao teatro, de maneira mais direta, intencional ou explicitada em obra. Sim, existem textos teatrais, musicais que integram à sua criação, que está reunida em italiano nos chamados

Meridianos,37 a destacar:

“Prose di teatro, trattamenti e sceneggiature” (1943, 1956-62, 1977-81)

Un dramma giovanile I Fratelli di Capo Nero I fratelli di Capo Nero

Trattamenti e sceneggiature

37 I Meridiani – Romanzi e Racconti edizione diretta da Claudio Milanini a cura di Mario Barenghi e Bruno

Falcetto, prefazione do Jean Staroninsky (3 volumi); Fiabe Italiane raccolte dalla tradizione popolare durante gli ultimi cento anni e trascrire in língua daí vari dialetti. Prefazione di Mario Lavagetto; Saggi (1945-1985) a cura di Mario Barenghi (2 tomi indivisibili); Lettere (1940-1945) a cura di Luca Baranelli, introduzione di Claudio Milanini; Album Calvino a cura di Luca Baranelli e di Ernesto Ferreto.

Viagio in camion Marco Polo Tikò e il pescecane

Il teatro dei ventagli (azioni seniche per i bozzeti di Toti Scialoja)

L’ussaro e la luna La città abbandonata Le porte di Bagdad Il naufrago Valdemaro38

Além de outros textos para músicas, há os textos que foram feitos para Azioni

musicali, sendo que vários foram colocados em cena, como, por exemplo, Un re in

ascolto,39 entre outras encenações propriamente ditas. Segue um levantamento desses textos cênico-musicais.

Azioni musicali

La Panchina (Sergio Liberovici)

Arie pel l’opera buffa Il visconte dimezzatto (Bruno Gillet)

Allez-hop (Luciano Berio)

Lo spaventapassari e il poeta (Sergio Liberovici)

La vera storia, parte I (Luciano Berio)

Zaide: trame per il Singspiel di Mozart

Per un re in ascolto di Berio: libretto originale 1979

Per un re in ascolto di Berio: trattameno 1980

Per un re in ascolto di Berio: cori di congiurati

Per un re in ascolto di Berio: arie di Prospero40

De todo modo, prevalece a ideia central do estudo que se realiza em Os nossos

antepassados, isto é, a da existência de imagens que são criadas a partir do vazio, e que finalizam o primeiro Calvino, ou inauguram um período de sua escrita em que o sujeito aparece nos signos da palavra-imagem. A esse respeito, há o posicionamento de Franco Ricci: “Estou convencido de que o projeto narrativo de Calvino seja nosso por uma

38 Esses textos teatrais se encontram em I Meridiani Romanzi e Racconti, volume terzo, Racconti sparsi e

altri scriti d’invenzione, p. 443-634.

39 Festival di Salisburgo (1984) e Teatro Scala di Milano (1986), com a música de Luciano Berio.

40 Esses textos teatrais se encontram em I Meridiani Romanzi e Racconti, volume terzo, Racconti sparsi e

concepção imagocêntrica, e de que palavras e imagens sejam dois aspectos divergentes que disputam a alma do autor”.41 Na visão desse pesquisador, há uma trajetória ascendente do conflito entre palavra e imagem ao longo da carreira de Calvino, e indica especialmente o “olho errante”42 de Palomar, além de outras obras, em especial aquelas que compõem Os

nossos antepassados.

Em caráter de contextualização, inúmeros estudiosos constatam, assim, a importância do visível, do olhar, da visibilidade e da imagem em Calvino. A síntese de Ricci auxilia no contexto dessa introdução, interligando-a ao título proposto e auxiliando na passagem da concepção literária em questão à concepção de sujeito, importante nesta visada, como se pode ler:

Na minha opinião, a passagem de Calvino à leveza e a uma narrativa caracterizada pelo aspecto visivo não é fruto da circunstância ou do acaso, mas de uma estratégia narrativa precisa, voltada a preencher esse vazio. É uma passagem desejada em direção à plenitude icônica e aos modelos de representação que unem as técnicas do romance a temas tradicionais. As palavras não podem mais fixar e condicionar de forma arbitrária as imagens, mas, de preferência, transmitir-lhe uma existência múltipla, permeada por um visionarismo sem limites.43

Parece assim que Os nossos antepassados nasce desse movimento novo, em virtude da mudança de olhar que se dá nas circunstâncias do pós-guerra, de forma que a “leveza”,44 enquanto estratégia, se une ao poder da imagem. De outro modo, o caráter fantástico está associado a essa especial presença de imagens na obra calviniana, como se pode perceber na perspectiva de Elio Gioanola, quando define a modalidade do fantástico associando-a ao conceito de inconsciente em Freud, como sendo da ordem do sonho, bem como apontando essa dimensão na obra de Calvino como um todo, demonstrando como esse seria o modo de escrita do autor:

41 RICCI. Il visivo in Calvino, p. 283. “Sono convinto che il progetto narrativo di Calvino sia nostro da una

concezione imagocentrica e che parole e immagini siano due aspetti divergenti che si contendono l’anima dell’autore”.

42 Cf.: RICCI. Il visivo in Calvino, p. 286.

43 RICCI. Il visivo in Calvino, p. 286. “A mio parere, il passaggio di Calvino alla leggerezza e a una

narrativa caratterizzata dall’aspetto visivo non è frutto della circostanza o del caso, ma di una precisa strategia narrativa tesa a riempire questo vuoto. È un passaggio voluto verso la pienezza iconica e i modelli di rappresentazione che uniscono le tecniche del romanzo a soggetti tradizionali. Le parole non possono più fissare e condizionare in modo arbitrario le immagini ma piuttosto trasmettergli un’esistenza pluriprobabile permeata da una visionarità senza limiti”.

44 A leveza é tomada no sentido do termo em que Italo Calvino o apresenta em Seis propostas para o

Em Calvino, o fantástico é uma tendência natural, mas é, também, uma longa conquista, porque o escritor teve que acertar as contas com o neorrealismo e com as ideologias que o tinham inspirado. Nisso se assemelha a Pirandello, pra quem a tendência ao fantástico, explodida completamente só com Seis personagens [à procura de um autor], se desenvolveu toda no interno dos procedimentos narrativos predispostos do realismo naturalismo e do verismo.45

As colocações de Gioanola auxiliam no entendimento do estilo fantástico no contexto do Novencentos, e da passagem do primeiro ao segundo Calvino, por assim dizer, observando-se, no entanto, que a obra se mantém enquanto uma continuidade, exatamente pela presença do fantástico. Vale ressaltar a comparação com o estilo fantástico de Pirandello, como mais um sinal de aproximação com a abordagem da teatralidade. Outro aspecto muito importante é a abertura da dimensão imaginária, em seu aporte psicanalítico, como sendo da ordem da pulsão, e sua associação com o fantástico em Calvino; assim o crítico define e contextualiza o gênero: “O fantástico do século XIX é, portanto, abstrato, logicizante, intelectualístico, unindo a liberdade infinita de código e a qualidade finíssima de mensagens”.46

Com esses apontamentos contextuais, somados aos imprescindíveis estudos realizados no Brasil, é possível um entendimento inicial que abre as perspectivas de visão da pesquisa. Não se pode esquecer a inserção da literatura de Calvino em âmbito mundial, traduzido em diversas línguas e de sua consciência, enquanto escritor, dessa circunstância possível, posteriormente realizada.