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Novos Livros Brancos de Defesa e Segurança Nacional e de Política Externa

século XXI impactaram na política externa francesa para a África durante os governos de

Capítulo 3 “A política africana de Nicolas Sarkozy”

3.4. Novos Livros Brancos de Defesa e Segurança Nacional e de Política Externa

Defesa e Segurança Nacional (LBDSN) e Política Externa (LBPE) com o objetivo de adequar estas políticas francesas aos novos desafios do sistema internacional (ROWDYBUSH e CHAMOREL, 2011). A edição de 2008 do LBDSN trouxe uma nova discussão sobre as

ameaças à segurança nacional francesa com maior destaque para ameaças não tradicionais como meio-ambiente, terrorismo e interdependência econômica.

Esta lista não esgota a incerteza do mundo em que nós vivemos, um mundo que não necessariamente se tornou mais perigoso, mas certamente mais imprevisível, mais instável, mais contraditório do que aquele que existia em 1994, quando o Livro Branco anterior [foi elaborado]. Em tal ambiente, as novas vulnerabilidades afetam o território nacional e a população francesa. Elas se impõe como elementos determinantes para a adaptação de nossa defesa e de nossa segurança (FRANÇA, 2008a, p. 14, tradução nossa ). 115

A nova edição do LBSDN destacou a interdependência securitária internacional, ou seja, a vulnerabilidade francesa e europeia frente a conflitos em sua vizinhança. A ameaça terrorista e a necessidade de seu combate aparecem como um dos principais objetivos da política de segurança e defesa francesa. No contexto de combate ao terrorismo, a região do Sahel e o arco estratégico que se estende da Mauritânia à Somália e fronteiras do Mediterrâneo, do Oriente Médio, Golfo Pérsico, Afeganistão e Paquistão, tornaram-se espaços estratégicos para a segurança e defesa nacional francesa devido a proliferação do terrorismo jihadista na região.

Esta região não constitui um todo homogêneo. Cada país possui sua identidade e sua história, sua instância política, social, econômica e humana. Cada subconjunto regional tem sua lógica: o da zona do Sahel, da Mauritânia para a Somália, é distintamente diferente das fronteiras do Mediterrâneo, do Oriente Leste, Golfo Pérsico, Afeganistão e Paquistão. Mas nesta parte do mundo, na vizinhança da Europa, coração de interesses estratégicos para a segurança global, desenvolvimentos alterações essenciais aos dados de segurança da França e Europa. (FRANÇA, 2008a, p.43, tradução nossa ) 116

A porção norte do continente africano continua com uma política distinta da dispensada à porção subsaariana. Tradicionalmente, os países norte-africanos -Marrocos, Mauritânia, Líbia, Tunísia e Argélia- estão inseridos em uma política externa voltada para o mundo árabe (RIEKER, 2017). A porção subsaariana do continente também é citada no novo LBDSN. Enquanto a principal ameaça destacada na região norte é a proliferação do

115No original: “Cette liste n’épuise pas l’incertitude du monde dans lequel nous sommes entrés, un monde qui

n’est pas nécessairement devenu plus dangereux, mais certainement plus imprévisible, plus instable, plus contradictoire que celui qui se dessinait en 1994, lors de l’élaboration du précédent Livre blanc. Dans un tel environnement, des vulnérabilités nouvelles affectent le territoire national et la population française. Elles s’imposent comme des éléments déterminants pour l’adaptation de notre défense et de notre sécurité.”

116 No original: “Cette région ne constitue pas un ensemble homogène. Chaque pays y a son identité et son

histoire, ses ressorts politiques, sociaux, économiques et humains. Les sous-ensembles régionaux ont chacun sa logique: celle de la zone sahélienne, de la Mauritanie jusqu’à la Somalie, se distingue nettement des bordures de la Méditerranée, du Proche-Orient, du golfe Arabo-Persique, ou de l’Afghanistan et du Pakistan. Mais, dans cette partie du monde, au voisinage de l’Europe, au coeur d’intérêts stratégiques pour la sécurité mondiale, des évolutions essentielles modifient les données de la sécurité de la France et de l’Europe.”

terrorismo jihadista, na porção subsaariana destacam-se as ameaças provenientes do subdesenvolvimento. A migração por conta dos baixos padrões de vida, escassez de alimentos, falta de saneamento básico e movimento de urbanização desordenado na região, constituem ameaça para a Europa e para a França por facilitarem redes de tráfico de drogas, tráfico humano, epidemias e pandemias, além dos problemas causados pela migração. Assim, o LBDSN aponta a necessidade do comprometimento europeu e francês na luta contra a degradação das condições de vida na África subsaariana para diminuir os fluxos migratórios e os conflitos na região (FRANÇA, 2008a).

A potencialidade de desestabilização regional dos conflitos internos subsaarianos é apontada como a principal ameaça à segurança e estabilidade africana com potencialidade de afetar a paz e segurança europeia. Em consonância com a estratégia de segurança adotada, o LBDSN reforça o apoio às organizações regionais de segurança africanas.

A África aspira a ter a sua própria capacidade de resolução de conflitos, prevenção de crises e manutenção da paz. A França e a Europa têm um grande interesse em contribuir para o estabelecimento destes meios. Para este fim, eles devem continuar a apoiar os esforços da União Africana, das organizações regionais e dos próprios países africanos (FRANÇA, 2008a, p.44-45, tradução nossa ). 117

O tom geral do LBDSN e do LBPE demonstram a estratégia francesa de construir uma liderança na UE e principalmente de multilateralizar esta atuação por meio do discurso da segurança comum e dos riscos que a Europa corre em decorrência da instabilidade no continente africano.

A estabilidade do norte da África, e especialmente do Magreb, é de particular importância para a Europa e a França, devido à nossa proximidade e estreitos laços tecidos em ambos os lados do Mediterrâneo, histórico ou cultural, mas também político e econômico. No entanto, esta região vivencia uma evolução contrastada, com: uma transição demográfica em curso, mas forte pressão migratória da África Subsaariana; um dinamismo econômico, mas fortes desequilíbrios sociais

(especialmente em termos de emprego); um risco terrorista persistente e

provavelmente mais internacionalizado (ilustrado pelo papel da "Al Qaeda no Magreb Islâmico"). A longo prazo, a reforma política, a capacidade de antecipar a degradação ambiental, o desenvolvimento da educação, melhorando a gestão do desenvolvimento

117No original: “L’Afrique aspire à disposer de ses propres capacités de règlement des différends, de prévention

des crises et de maintien de la paix. La France et l’Europe ont un intérêt majeur à contribuer à l’établissement de ces moyens. À cette fin, elles doivent continuer d’accompagner les efforts de l’Union africaine, des organisations régionales et des pays africains eux-mêmes.”

serão fatores importantes na evolução desta sub-região (FRANÇA, 2008b, p.23, tradução nossa ). 118