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O abolicionismo de Fracione e o problema da representação

Nesse ponto, apresentaremos outro autor importante na fundamentação teórica do movimento de defesa dos direitos dos animais, Gary Fracione, que dialoga com os autores tratados até aqui, por exemplo, utilizando o conceito de senciência de Singer e a questão da igual consideração de interesses, entre outros. Contudo, Fracione focaliza seu debate em torno da mudança de status jurídico dos animais e da consideração moral desses seres como sujeitos.

Gary Fracione vem produzindo, desde a década de 1990, um conjunto de textos que tem servido de base para a Teoria dos direitos dos animais: Animals as persons: essays on the abolition of animal exploitation (2008); Introduction to animal rights: your child or the dog? (2000); Animals, property, and the law (1995); Rain without thunder: the ideology of the animal rights movement (1996); e, junto com Anna E. Charlton, Vivisection and dissection in the classroom: a guide to conscientious objection (1992). Influenciado pelas ideias de Singer, no que diz respeito à concessão de direitos aos animais não humanos com base unicamente no critério da senciência, Fracione é conhecido por rejeitar qualquer proposta que tenha como perspectiva a regulamentação do uso de animais em benefício humano, concebendo a abolição animal como objetivo maior a ser alcançado pelo movimento de defesa animal, e o veganismo como o único posicionamento moral individual em anuência com esse objetivo.

Sua defesa é a de uma mudança radical em relação ao paradigma da consideração moral dos animais não humanos e do direito desses de não serem tratados como propriedade de alguém, ou um sujeito de direitos, propriamente. A senciência, defendida por Fracione como critério único e suficiente à inclusão dos animais na comunidade moral, significa, de fato, uma consciência subjetiva, que indica a posse de interesses, desejos e vontades, mas não necessariamente nos moldes dos interesses humanos, ou na forma como se expressam. É especista, para ele, a ideia de posse de uma mente humanóide como condição para que um ser seja moralmente considerado. Ou seja, é especista afirmar que um ser precisa ter um sentido reflexivo de autoconsciência, ou pensamento conceitual, ou a capacidade geral de experimentar a vida da maneira que os seres humanos fazem, para ter o direito moral de não ser usado como recurso (FRACIONE, 2012).

A proposta de Fracione da mudança de status jurídico dos animais não humanos, em especial, os grandes primatas, implica que para algumas categorias de animais deve ser atribuído o conceito de personalidade jurídica. É com base na filosofia utilitarista de Singer, que Fracione defende a alteração do status legal dos grandes primatas, de objetos para sujeitos de direitos, conferindo-lhes uma personalidade jurídica. O que, nesse caso, possibilita a defesa de seus direitos pessoais. Só com essa mudança de status jurídico, acredita, torna-se possível defender os interesses desses seres, com base em direitos legais constituídos, e não apenas nos direitos morais propostos por Singer. Fracione afirma, com isso, a necessidade de que a concessão de direitos morais, ou seja, a inclusão dos animais não humanos na comunidade moral, seja acompanhada de direitos legais correspondentes. Como considera Wise (2000, s/n), jurista americano especialista em direito dos animais:

For four thousand years, a thick and impenetrable legal wall has separated all human from all nonhuman animals. On one side, even the most trivial interests of a single species — ours — are jealously guarded. We have assigned ourselves, alone among the million animal species, the status of "legal persons." On the other side of that wall lies the legal refuse of an entire kingdom, not just chimpanzees and bonobos but also gorillas, orangutans, and monkeys, dogs, elephants, and dolphins. They are "legal things." Their most basic and fundamental interests — their pains, their lives, their freedoms — are intentionally ignored, often maliciously trampled, and routinely abused. Ancient philosophers claimed that all nonhuman animals had been designed and placed on this earth just for human beings. Ancient jurists declared that law had been created just for human beings. Although philosophy and science have long since recanted, the law has not.

Para citar um exemplo da interpretação jurídica proposta por Fracione em relação aos grandes primatas, em abril de 2011 saiu o resultado da ação judicial proposta por 30 entidades protetora dos animais, encabeçada pelo Grupo de Apoio aos Primatas – GAP, que tratava do

pedido de Habeas Corpus do chimpanzé Jimmy, com objetivo de transferí-lo do zoológico de Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, para um santuário de primatas, em São Paulo. Ao indeferir esta ação, inédita na justiça do Rio de Janeiro, o desembargador José Munõs Pinéiro Filho argumentou que a instituição do Habeas Corpus “é cabível apenas a seres humanos, não tendo validade para os animais”. Apesar de reconhecer a proximidade entre essa espécie e a humana, “que possui 99,4% do DNA idênticos ao do ser humano”, baseou sua decisão no fato deste não poder ser considerado como pessoa. Contrariando essa noção, a diretora do Zoológico de Niterói afirmou que Jimmy dificilmente se adaptaria à vida com outros animais, já que “ele é um animal humanizado, que não vai se adaptar a viver em um grupo de chimpanzés”. Mas, nesse caso, sua humanização ao nível comportamental, tida como obstáculo ao convívio com “outros” animais, não é acompanhada de uma (re)classificação no status jurídico de pessoa, o que, curiosamente, também inviabiliza sua “libertação”.

Em outra ação também considerada pioneira no campo da justiça no Brasil, o Ministério Público da Bahia impetrou ação de Habeas Corpus para libertar a chimpanzé Suíça, com base no ato abusivo desta ser mantida aprisionada no Jardim Zoológico de Salvador, em jaula cujas dimensões lhe privavam do direito de locomoção.

Em ambos os casos, as decisões judiciais partiram do conceito de pessoa para excluir esses animais da esfera de consideração moral e jurídica de seus interesses, ainda que se reconheça, no campo das opiniões, que eles possam apresentar características aproximadas em relação aoshumanos, no caso do DNA, ou que os humanizam na esfera do comportamento.

O status de personalidade jurídica, para Fracione, é independente do conceito de pessoa, seja qual for seu critério definidor. Lembra, para isso, da posição relativa à personalidade jurídica de empresas, cuja definição comum de pessoa jurídica não tem como prerrogativa a condição de pessoa, no sentido tradicionalmente conferido a esse termo. O argumento de Fracione é que;

seja na Common Law seja no Direito Romano, do qual deriva o nosso, quando há interesse econômico, admite-se a flexibilização, ou por que não dizer o descarte do conceito moral de pessoa, para, ficcionalmente, criar a figura da “pessoa jurídica”, classificação das empresas em nosso ordenamento jurídico, detentoras de personalidade jurídica, ou seja, sujeito de direitos. (SOUZA, 2004: 278).

O instrumento para a defesa dos interesses desses animais residiria, assim, num tipo de artifício utilizado na defesa dos interesses de pessoas consideradas juridicamente incapazes, como os menores de idade, os doentes mentais, entre outros. Nesse caso, os animais poderiam

ser representados por sujeitos de direitos, incluindo pessoa física ou jurídica, que defendessem seus interesses, e não de seus proprietários, como está estabelecido e vigora atualmente.

Nesse tipo de interpretação, sendo incapazes juridicamente, os animais não humanos também são inimputáveis juridicamente. Não podem ser responsabilizados por seus atos, e seu encarceramento apenas deve vigorar na medida em que este represente uma ameaça para si mesmo ou para outrem.

Em fevereiro de 2012, a organização de defesa dos direitos dos animais PETA (People for the Ethical Treatment of Animals) moveu uma ação contra o Parque Aquático SeaWorld, com sede na Califórnia e na Florida, baseando-se na 13ª emenda à Constituição americana, que versa sobre a abolição dos regimes de escravidão e servidão involuntária no país. Além de ser a primeira ação judicial com base na requisição de extensão dos direitos protetivos constitucionais de humanos a animais não humanos, esta foi a primeira vez que animais foram nomeados como autores de um processo na justiça americana. O argumento foi que as cinco orcas Tilikum, Katina, Kasatka, Ulises e Corky estavam em condições de escravidão, aprisionadas em tanques e forçadas a uma rotina de treinamento e apresentações diárias nos dois Parques aquáticos. Para o advogado Jeffrey Kerr, representante das baleias na ação judicial, o fato delas serem submetidas à coerção, degradação e submissão é característica do regime de escravidão, independente da espécie escravizada, da mesma forma que é independente da raça, gênero ou etnia do escravo.

Em conferência realizada também em 2012, na Universidade Federal de Pernambuco, Wise (2012) afirmou que esse tipo de ação deve se tornar cada vez mais comum, mesmo que a partir de espécies determinadas, principalmente, aquelas consideradas, por ele, as melhores demandantes: orcas, golfinhos, primatas, lobos, cujas pesquisas apontam para capacidades cognitivas significativas, uma cognição complexa e semelhante à humana, no intuito de produzir reações de empatia por parte dos juízes.

Uma conferência realizada em Milão, em novembro de 2011, questionava em seu título “se é possível nos opormos aos direitos dos animais sem nos opormos também aos direitos humanos?”, propondo a discussão sobre a relação existente entre a defesa dos direitos dos animais e a defesa dos direitos humanos. Tom Regan, palestrante convidado dessa conferência, defendeu que, com base nos próprios fundamentos do movimento de defesa dos direitos dos animais, baseado nas comparações estabelecidas entre o racismo, o sexismo e o especismo, deveria haver um posicionamento ideológico relativo às lutas desses grupos expostos também a relações de desigualdade e subtração de direitos. Nesse sentido, defende que

o engajamento do movimento deve ser: interromper a repressão em todos os lugares; quer ela ocorra contra as mulheres, os Negros, os Índios ou os Chicanos – e são com essas pessoas que você partilha um sentimento de injustiça, de revolta. Eles são nossos aliados potenciais. (REGAN, 2011).

A noção de justiça a que se refere o movimento de defesa dos animais tem na igualdade seu princípio fundamental. Frequentemente, esse movimento associa o desrespeito e violência impetrada contra os animais não humanos e a violência que vitima seres humanos.

Assim como no Banner com a conhecida frase da atriz e ativista pelos direitos dos animais, Brigite Bardot, as imagens abaixo de protestos recentes realizados em diversas capitais do país, defende a ideia de que há, por parte dos animais, uma requisição de justiça que deveria ser garantida pelos seres humanos:

A relação entre a justiça praticada para com humanos e não humanos faz parte da argumentação usada no incentivo da adoção do vegetarianismo como dieta alimentar. O ideal da prática da não violência estendida a todos os seres prevê uma postura ética, por parte do animal humano, de preservação e respeito à vida, independentemente da espécie. Cabe a ele, ao humano, o dever de ser cuidador do planeta e de todos que habitam nele. Uma das campanhas da SVB abordajustamente a incapacidade dos animais em pedir ajuda ou requerer seus direitos e do consequente dever moral dos humanos em “tomar partido” em favor de seus interesses. Cita, para isso, algumas ações promovidas pela organização e seus resultados efetivos:

Os animais não sabem pedir socorro. E você, sabe como pode ajudá-los?

1. Em 2007 a pressão da União Vegetariana da Inglaterra e de seus 100 mil membros conseguiu que uma poderosa indústria de alimentos – a Masterfoods – voltasse atrás na decisão de incluir ingredientes animais na fabricação de chocolates. Em 2002, influentes organizações vegetarianas dos EUA entram na justiça e receberam uma indenização milionária do Mc Donalds, ao denunciarem que as batatas fritas “boas para vegetarianos” eram condimentadas com extratos de carne. 2. Em 2005, a ainda incipiente Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) ajudou a tirar do ar uma agressiva propaganda da Mastercard, que ofendia o público vegetariano. 3. Nada disso teria sido possível sem a união organizada de pessoas que se sensibilizam pela causa animal e que se interessam pela saúde do planeta e de seus habitantes.

Com a sua ajuda, é possível fazer muito mais! Tome partido: conheça a SVB, associe-se, participe e apoie eventos que lutam pela causa vegetariana.

“Tome partido. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio encoraja o algoz, nunca o oprimido”.

Ainda que o movimento se caracterize pela busca por igualdade em termos de direitos básicos, como o direito à vida, na prática, isso se dá através da responsabilização dos humanos para com as demais espécies, uma forma de tutela em relação à defesa de seus interesses.

Nós somos apenas uma espécie neste planeta maravilhoso, mas somos aquela que tem o conhecimento que poderia protegê-lo contra desastres – incluindo aqueles pelos quais nós, humanos, seríamos responsáveis...temos efetivamente uma versão imperfeita do poder, análogo ao divino, de providência e boa vontade, sendo, portanto, responsáveis pela segurança de todas as espécies. (DENNETT, 2009).

Mesmo com o posicionamento pela inclusão na esfera do direito moral e legal dos animais não humanos, tendo vista uma relação igualitária em termos da proteção de seus interesses, entende-se que o mecanismo pelo qual essa proteção pode ser efetivada passa pela noção de superioridade da espécie humana, ao menos em termos de sua capacidade de representação dentro de um sistema social e jurídico, bem como de sua capacidade relativa à aplicação desses princípios, garantindo a satisfação das necessidades e dos interesses dos animais não humanos.

A Constituição Brasileira de 1988 coloca sob a tutela do Estado todas as espécies nativas, a fauna silvestre, os animais em rota migratória, que estão temporariamente em território brasileiro para fins de reprodução, os exóticos, os domésticos e domesticados. Da seguinte forma:

O Artigo 225, parágrafo 1º, VII - Incumbe ao Poder Público proteger a fauna e a flora, vedadas na forma de lei as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, que provoquem a extinção de espécie ou submetam os animais à crueldade.

A Lei N° 5.197 de 03 de janeiro de 1967, que versa sobre a proteção à fauna estabelece:

Art.1º - Os animais de quaisquer espécies em qualquer fase do seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro, constituindo a fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e criadouros naturais são propriedades do Estado, sendo proibida a sua utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha.

O artigo 1º caracterizou a fauna como sendo os animais que vivem naturalmente fora do cativeiro. Assim, a indicação legal para diferenciar a fauna selvagem da doméstica é a vida em liberdade ou fora de cativeiro.

Decreto Nº. 24.645/34.

Artigo 1º - Todos os animais existentes no país são tutelados pelo Estado.

Artigo 2º - parágrafo 3º - “Os animais serão assistidos em juízo pelos representantes do Ministério Público, seus substitutos legais e pelos membros das Sociedades Protetoras dos Animais.

Artigo. 16. As autoridades federais, estaduais e municipais prestarão aos membros das Sociedades Protetoras dos Animais, a cooperação necessária para se fazer cumprir a lei (Revista Âmbito Jurídico: Da Tutela Legal dos Animais).

A postura do movimento de defesa dos animais os posiciona para além do âmbito protetivo do Estado, principalmente, quando requer uma mudança paradigmática da sua consideração como coisa, ou objeto de propriedade, para o de sujeito de direitos. Propostas como as de Fracione, Singer e Regan, por mais que expressem diferenças significativas, pautam-se pela aplicação do princípio de igualdade, desafiando a barreira entre as espécies. A maior parte dessas argumentações está fundada em critérios como a capacidade desses animais de sentirem dor, medo, alegria, etc., designada de sensciência, ou em níveis de consciência ou autoconsciência considerados significativos, ou, ainda, pelo fato de partilharem de uma mesma condição animal que os seres humanos, assim também de algumas características que nos aproximam, como ocorre em relação aos mamíferos ou primatas. E, no caso de Regan, de um valor inerente à vida de qualquer ser. Mas todas essas propostas também precisam reconhecer a peculiaridade, ou melhor, limitação, comparativamente aos humanos, dos demais seres quanto à capacidade de expressar sentimentos ou de comunicar níveis de consciência e interesses individuais.

Podemos entender que essas propostas se aproximam de uma abordagem pós-humanista a partir de uma ética que ultrapassa as fronteiras específicas. Contudo, observa-se os limites desse esforço no recurso à associação com características humanas utilizadas na legitimação desse modelo, bem como nas ideias de responsabilidade e tutela dos humanos em relação aos animais não humanos. A categoria humano continua sendo o esteio das formulações acionadas na defesa dos direitos dos animais.

Outra questão importante é o fato de que a consideração dos interesses individuais se mostra ineficaz quando existe um conflito inerente entre os interesses de animais não humanos e humanos. Nesse caso, a qualidade desses interesses torna-se irrelevante, e o que orienta o tipo de consideração que será dispensado a um e a outro é a qualidade dos sujeitos envolvidos. Nem mesmo a soma de todos os dispositivos legais contra a crueldade praticada contra animais em vigor pode atuar eficazmente no combate ao sofrimento infligido a esses seres, justamente, porque tomam os interesses e necessidades dos humanos como o ponto de partida para a avaliação do sofrimento das demais espécies. Ou seja, a noção que rege todos esses dispositivos legais é a de coibir o que se considera sofrimento desnecessário. Mas esse grau de necessidade é medido de acordo com interesses de apenas uma espécie, a humana. E como mostra a análise de Francione, o limite para encontrar essa necessidade é extremamente baixo. Além disso, Francione observa que “os tribunais não abordam a questão de saber se é necessário o uso de

animais, eles tratam apenas da necessidade de atos particulares em relação ao presumível direito dos seres humanos usarem os animais” (BRYANT, 2006: 249). É o que ocorre em relação ao consumo de carne, já que o que está em questão nunca é a necessidade presumida desse consumo, mas a necessidade ou não de determinadas práticas ligadas à produção de carne e de outros produtos de origem animal, como prevê as medidas regulatórias bem-estaristas.

Quanto à relação entre o comportamento violento direcionado aos animais e aos humanos, alguns dados de pesquisa apontam um aumento significativo da criminalidade em lugares em que se instalam abatedouros de animais. Em 1906, na publicação de The Jungle, essa hipótese é levantada por Upton Sinclair, que apontou um aumento significativo dos estupros e agressões, relacionando o aumento desses crimes à presença dos trabalhadores nesses locais (abatedouros), que os tornariam insensíveis à violência. Em pesquisa recente, a criminologista Amy Fitzgerald, da Universidade de Windsor, Canadá, verificou, com base em dados estatísticos, a relação entre a instalação de matadouros e o aumento da prática de crimes violentos nas cidades. Ela afirma ter montado um gráfico que mostra que quando o número de trabalhadores num matadouro de uma comunidade aumenta, a taxa de criminalidade também aumenta. O que se afirma, nesses e em outros estudos, é que a brutalização a que são expostos esses trabalhadores transforma a violência em um recurso aceitável e mesmo naturalizado no cotidiano dos indivíduos. Baseado nesse critério, é comum, no meio vegetariano/vegan, a afirmação de que pessoas que trabalhem ou tenham trabalhado nesses lugares e que estejam envolvidas diretamente com a morte desses animais não podem fazer parte de um júri por, supostamente, apresentarem níveis elevados de tolerância para com a violência praticada pelos criminosos aos quais irão emitirum julgamento.

Uma das histórias contadas no livro Gosto superior - guia prático da alimentação vegetariana afirma que:

O filósofo francês Jean Jacques Rousseau observou que os animais carnívoros são mais cruéis do que os herbívoros. Ele concluiu, portanto, que uma dieta vegetariana produziria uma pessoa mais compassiva. Chegou mesmo a aconselhar que não se permitisse que os açougueiros testemunhassem num tribunal ou sentassem no júri.4

O historiador Keith Thomas, em sua história da relação entre o homem e o mundo natural, descreve a ideia corrente no século XVIII a respeito do caráter suspeito do açougueiro e a associação feita entre o ato de matar “friamente” os animais e a propensão à naturalização da violência:

4 Retirado de www.sociedadevegana.org

Os açougueiros, logicamente, despertavam suspeita, não apenas pelo ruído, cheiro,