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2.2 A RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA

2.3.1 O ambiente da contabilidade: órgãos e regulamentos

Este subtema do trabalho, a respeito do ambiente da contabilidade, será dividido em subseções, as quais serão descritas a seguir.

2.3.1.1 IASB – International Accounting Standards Board

A história das normas contábeis internacionais tem sua origem em 1973, mediante a formação do IASC - International Accounting Standards Committee com a motivação de harmonizar as normas contábeis e diminuir as diferenças nas práticas contábeis entre os países (ZEFF, 2014, p. 302).

O IASC foi a primeira iniciativa aceita por países signatários de um convênio41 para buscar a normatização contábil internacional, em um momento em que poucos países possuíam órgãos que atuassem na formação das diretrizes e práticas contábeis.

Após dois anos de sua fundação, o IASC emitiu os primeiros padrões contábeis internacionais, fruto dos primeiros estudos para harmonizar o tema de políticas contábeis e avaliação de estoques. Em toda trajetória do IASC, ocorreram alguns marcos relevantes como, por exemplo, a aceitação das normas emitidas pelo IASC em 1995 pela IOSCO (International Organization of Securities Commissions) e seu apoio para conclusão das normas-base, que trouxeram como consequência uma maior movimentação dos países para se adequar aos princípios contidos nas normas emitidas.

O legado técnico da existência do IASC são 41 pronunciamentos emitidos pelo IASC sob a denominação de IAS42, sendo que o de número 39 (IAS 39) foi elaborado com base nos requerimentos das normas contábeis dos Estados Unidos emitidas pelo FASB43.

A etapa seguinte foi a criação em 2001 do IASB - International Accounting Standards Board para suceder o IASC na continuidade do esforço para harmonização das normas, que ganhou maior relevância em sua gestão por meio da sinalização do apoio da SEC 44 em 1999 (ZEFF, 2014, p. 309).

Assim, o IASB passou a ter responsabilidade pelos 41 pronunciamentos emanados anteriormente pelo IASC, mantendo-os válidos e atualizados. As normas emitidas, após esta mudança, foram intituladas IFRS - International Financial Reporting Standards, e até 2017 compõem 19 normas sob esta denominação, em adição aos 41 IAS (IFRS, 2017).

Sua missão consiste em “desenvolver, com base em princípios claramente articulados, um conjunto único de pronunciamentos contábeis de alta qualidade, compreensíveis, exequíveis e aceitáveis globalmente” (IASB, 2013, p.1).

A importância do IASB reveste-se na proposta de ser um ente independente para a emissão de pronunciamentos contábeis, sob supervisão de uma junta de 22 curadores formada com diversidade profissional e geográfica, que por sua vez prestam contas a um Conselho de

41 O convênio foi celebrado entre representantes dos órgãos de classe de contabilidade da Austrália, Canadá,

França, Alemanha, Japão, México, Holanda, Reino Unido / Irlanda e Estados Unidos.

42

IAS - International Accounting Standard: descrevem as normas internacionais de contabilidade

43 FASB - Financial Accounting Standards Board: organização estadunidense sem fins lucrativos, criada em

1973 para padronizar os procedimentos da contabilidade financeira de empresas cotadas em bolsa e não governamentais. Órgão autorizado e reconhecido pela SEC (Securities and Exchange Commission).

44

SEC - Securities and Exchange Commission: agência federal dos EUA que detém a responsabilidade primária pela aplicação das leis de títulos federais e a regulação do setor de valores mobiliários.

monitoramento composto por autoridades representativas do mercado de valores mobiliários ao redor do mundo.

O corpo executivo é formado por um grupo de 16 conselheiros com dedicação integral, oriundos de diferentes países e com experiência prática na área contábil, auditoria e ensino. O órgão possui estreita colaboração com conselhos consultivos que contam com especialistas em práticas contábeis do mundo todo, incluindo investidores, analistas, órgãos reguladores, líderes empresariais, normatizadores e profissionais de contabilidade, reforçando a atuação para o tratamento de exceções e divergências quanto à interpretação dos pronunciamentos contábeis emitidos.

A adoção de um padrão contábil internacional baseado em princípios ganhou um novo impulso em 2002 com a decisão da União Europeia45 de exigir que empresas listadas em bolsas Europeias adotassem a partir de 2005 o IFRS para elaboração de suas demonstrações contábeis (OLIVEIRA; LEMES, 2011, p. 156).

A nova exigência acabou por estimular que outros países avançassem em seus esforços para a convergência, assim como ocorreu com África do Sul, Nova Zelândia, Israel, Hong Kong, Chile, Canadá, Coreia e Brasil, além de muitas economias emergentes e países em desenvolvimento. O capítulo 2.4.1.2 tratará da adesão do Brasil aos padrões internacionais de contabilidade.

2.3.1.2 CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis (Brasil)

Para convergência das normas brasileiras de contabilidade às normas internacionais, no mesmo ano em que a União Europeia demandou às empresas a preparação de demonstrações contábeis seguindo as práticas do IFRS, o Conselho Federal de Contabilidade no Brasil editou a resolução CFC nº 1.055/05, criando o CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis, uma entidade sem fins lucrativos formada por representantes de diferentes públicos de interesse com atuação independente para o:

[...] estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais (CPC, 2017, p. 1).

A criação desta nova entidade cumpre um papel similar à função do IASB, que embora seja o órgão internacional responsável pela emissão de normas contábeis internacionais, não possui alçada para determinar a adoção deste conjunto de normas no Brasil.

Assim sendo, o CPC viabilizou-se a partir do entendimento entre ABRASCA – Associação Brasileira das Companhias Abertas, APIMEC - Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais, BM&FBOVESPA, Conselho Federal de Contabilidade, FIPECAFI - Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras e IBRACON – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil, em atuar em prol da preparação de informações contábeis seguindo os mesmos atributos definidos pelo IASB, de forma a garantir (i) a convergência das normas brasileiras de contabilidade às normas internacionais e (ii) a centralização da emissão de normas no Brasil por um único órgão (CPC, 2016).

Até 2007 o CPC caracterizou-se pela pesquisa e estudo das normas emitidas pelo IASB, e aproximação dos diferentes grupos de interesse para discussão do processo de convergência. Em dezembro de 2007 promulga-se no Brasil a lei 11.638/07, que complementou a lei 6.385/76 com o artigo 10-A:

A Comissão de Valores Mobiliários, o Banco Central do Brasil e demais órgãos e agências reguladoras poderão celebrar convênio com entidade que tenha por objeto o estudo e a divulgação de princípios, normas e padrões de contabilidade e de auditoria, podendo, no exercício de suas atribuições regulamentares, adotar, no todo ou em parte, os pronunciamentos e demais orientações técnicas emitidas (PLANALTO.GOV.BR, 2017, LEI 11.638/07).

A publicação desta legislação abriu o espaço de forma institucional para caracterizar a CVM e o Banco Central do Brasil como órgãos responsáveis por homologar a aplicação destas normas produzidas pelo CPC, estabelecendo o efeito legal a partir da data de início de cada nova regra.

O primeiro esforço para adotar os padrões globais propostos pelo IASB resultou na emissão de 14 pronunciamentos, 1 norma sobre a estrutura conceitual básica e 1 orientação técnica ao longo de 2008. No ano seguinte foram emitidos mais 27 pronunciamentos, 2 orientações técnicas e 12 interpretações técnicas.

Em 2010 o Brasil passa a exigir que as DFs das companhias participantes do mercado de valores mobiliários sigam os padrões internacionais constantes no IFRS (DELOITTE, 2014).