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O ARMADOR MOR D D UARTE DA C OSTA (1504-1579)

P RODUÇÃO DOCUMENTAL

3. O ARMADOR MOR D D UARTE DA C OSTA (1504-1579)

“D. Duarte da Costa filho segundo de D. Álvaro da Costa (...), foi nomeado por seu pai no ofício de Armeiro mor que hoje continua nos seus descendentes. Foi Comendador de São Vicente da Beira e de outras da Ordem de Cristo, que também seu pai lhe nomeou com autoridade régia, e lhe deixou uma grande parte da sua

Fazenda. Foi Governador do Brasil e Presidente do Senado de Lisboa.”515

Segundo filho varão de Álvaro da Costa e de Beatriz de Paiva, Duarte da Costa terá nascido em 1504516. Nada sabemos da sua infância, mas tal como seu irmão Gil Eanes, podemos pensar que se terá criado na Corte junto com o futuro rei D. João III e os infantes seus irmãos. Teria uns 14 anos quando acompanhou o pai na sua missão à Corte espanhola, por ocasião da negociação do casamento de D. Leonor irmã de Carlos I de Castela e Aragão (futuro imperador Carlos V), com o rei D. Manuel. Por lá terá andado até final de 1518, quando, no regresso a Portugal, se realizou no Crato o terceiro casamento de D. Manuel com D. Leonor517. Esta, anos mais tarde, já casada pela segunda vez com Francisco I de França, não se esquecerá de pai e filho aos quais deixará em vida de ambos uma tença de 100.000 rs, saída do seu assentamento de rainha viúva518.

Em Agosto de 1521 o jovem Duarte fez parte da comitiva que acompanhou a infanta D. Beatriz a Saboia, para se juntar a seu marido o duque Carlos III519. D.

514 Sobre D. Duarte da Costa, v. MADUREIRA, Pedro – “D. Duarte da Costa, 2º governador do Brasil:

elementos para uma biografia”. In: ROSA, Maria de Lurdes (dir.) - D. Álvaro da Costa e a sua descendência, sécs. XVXVII: poder, arte e devoção. Lisboa, IEM/CHAM/Caminhos Romanos, 2013, pp. 101-118.

515 APVF – Título da família e apelidos dos Costas. Ms.

516 Em carta dirigida a D. João III, datada de 20 de Maio de 1555, diz D. Duarte da Costa: “em 51 anos

que tenho vividos nas abas de Vossa Alteza”. Cf. “Carta de Dom Duarte da Costa” em ALBUQUERQUE, Luís de (dir.) - Alguns documentos sobre a colonização do Brasil (século XVI). Lisboa: Alfa, d.l. 1989, p. 219.

517 Cf. Sumários de Lousada, f. 235-250v (Costas). BNP - COD. 1105 (F. 4870).

518 ANTT – Chanc. D. João III, lv. 40, ff. 228-230 (Carta de padrão de 100.000 rs de tença de 1 de

Outubro de 1540).

519 Cf. CORREIA, Gaspar - Crónicas de D. Manuel e de D. João III (até 1533). Lisboa: Academia das

Ciências, 1992, pp. 145-146: “hyam com a Yfamte chamarelas e trombetas atabales e frautas e todo outro estromento de musyca / hyam com o Comde de Vyla Nova / o craueyro / dom Jorge Anrryqez dom Pero Almeyda / Joam Rodriguez de Saa / Afonso da Cunha / Joam Lopez de Sequeyra que hya por mordomo mor da Yfamte / Yoam da Sylueira / dom Fernamdo de Monrroyo / Esteuam de Tauora o Bispo de Targa que hya por capelam mor da Jfamte e Symão Correa que hya por seu viador e hũ seu filho que comsygo leuaua sua molher / Duarte da Costa filho dAluaro da Costa / e Pero Afonso dAguyar / Amtonyo de Moura filho dAluaro Gonçalvez / e com ela na mesma nao hya o embayxador de Saboya que veo com poder do Duque pera receber como recebeo per palauras de presemte segumdo custume // os quaes fydalgos todos hymdo polo mar sempre comyam com o Comde Vyla Nova na mesa

165 Beatriz, nascida em 1504, teria a mesma idade que Duarte e com ele teria certamente convivido na Corte. Além do mais, Álvaro da Costa tinha sido, como vimos, um dos negociadores deste casamento, cujas capitulações assinara em 26 de Março desse ano, pelo que se justificava plenamente que, entre os diversos fidalgos que acompanharam a infanta a Saboia, se encontrasse Duarte da Costa, moço fidalgo então com 17 anos e nas vésperas de suceder ao pai no prestigioso ofício de armador-mor do futuro rei D. João III.

Entretanto, em Dezembro, morre D. Manuel e em Janeiro de 1522, D. Álvaro da Costa renuncia no filho Duarte o ofício de armador-mor, o que lhe foi confirmado por D. João III por carta de 27 de Janeiro520. Tem, com o ofício, uma tença anual de 15.000 rs e o mantimento de dois homens.

Por inerência deste ofício, D. Duarte acompanhava a Corte sempre que esta se deslocava, pelo que nos anos de 1523 até Maio de 1528 estanciou quase sempre em Évora, o mesmo acontecendo de Outubro de 1530 a Agosto de 1537. São dessa época uma série de mandados e provisões régias para se pagarem as tenças que a D. Duarte eram devidas, bem como procurações e conhecimentos dele em como tinham sido recebidas.

Está porém em Lisboa em 1529 (onde permanece a Corte entre Maio de 1528 e Outubro de 1530), quando, com 25 anos, casa com D. Maria da Silva, filha de Francisco de Mendonça, alcaide-mor de Mourão, e de D. Leonor de Almeida, neta materna de D. Francisco de Almeida, 1º vice-rei da Índia e sobrinha por afinidade do duque de Bragança, o qual casara em segundas núpcias com D. Joana de Mendonça, irmã de seu pai. Deste casamento irão nascer dez filhos521:

A mais velha, Leonor, nascida cerca de 1530, entrará com 7 anos no convento de Nossa Senhora do Paraíso de Évora, onde virá professar com o nome de Maria de Jesus.

Segue-se Álvaro (da Costa), nascido cerca de 1531, que acompanhará o pai ao Brasil, casando no seu regresso (c. 1559) com D. Leonor de Sousa, de quem terá geração.

que estaua feyta na tollda dypois de a Jfamte comer e se recolher a sua camara / e dypois todo o mais do dya se gastava em tamger e dançar e jugar com mujtas festas e prazeres.”

520

ANTT, Chanc. D. João III, lv. 51, f. 11v.

521 “Carta de Dom Duarte da Costa” em ALBUQUERQUE, Luís de (dir.) - Alguns documentos sobre a

166 O segundo varão, Francisco (da Costa), nasce em 1533. Depois de uma importante carreira no Oriente, virá a morrer em Marrocos em 1521; casado com D. Joana Henriques, será na sua geração que vai continuar a Casa dos Armadores-mores.

Cerca de 1534 nasce João (da Costa), que foi capitão de Diu e virá a morrer na Índia, sem geração de sua mulher D. Guiomar de Noronha.

Seguem-se duas raparigas, Margarida (de Mendonça) e Ana (de Mendonça) que casarão, a primeira em 1559 com António Moniz Barreto, que foi Governador da Índia, e a segunda em 1563 com Duarte de Melo, senhor de Povolide, ambas com geração.

Em 1541 terá nascido Maria da Anunciação, como um documento a designa522, que foi freira no convento de Nossa Senhora do Paraíso, tal como a sua irmã mais velha.

De Joana (de Mendonça), que foi abadessa no mosteiro de São Dinis de Odivelas, não se sabe a data do nascimento, nem de Isabel (da Silva), que tudo indica morreu solteira em 1588, com testamento conhecido523.

Por fim, Lourenço (da Costa), nascido cerca de 1547, que “foi clérigo e dizem tivera espírito profético”524.

Em 1540, por morte do pai, sucedeu-lhe no cargo de provedor da Misericórdia de Lisboa, cargo em que se manteve no biénio de 1541-1542525. Encontrava-se em Lisboa em 1542 quando, numa carta escrita ao prior do mosteiro jerónimo da Penha Longa, acerca da capela instituída no mosteiro por D. Álvaro da Costa, escreve que “ao presente tenho assentado de viver nesta cidade”526

. Efectivamente, passado o período da grande frequência da peste, a Corte estanciava em Lisboa desde 1537.

A partir de 1550 começa a sua “carreira” na Câmara Municipal desta cidade,

522

ANTT – Chanc. D. Sebastião e D. Henrique, Priv. lv. 1, ff. 262v-263 (Alvará para a filha Maria da Anunciação poder renunciar as suas legítimas).

523 Cf. ANTT – Casa de Abrantes, lv. 10V, doc. 3886.

524 APVF – Título da familia e apelido dos Costas. Ms. § nº 213.

525

SERRÃO, Joaquim Veríssimo – A Misericórdia de Lisboa: Quinhentos anos de história. Lisboa: Livros Horizonte, 1998, p. 66.

167 como vereador (1550-1552)527, até que em 1553, com quase cinquenta anos, depois de ter sido nomeado para o Conselho do Rei528, parte para o Brasil como governador- geral, ou melhor, “Governador Geral em todas as Capitanias e terras da costa do Brasil e Capitão da Capitania da Bahia de Todolos Santos529”.

Partiu a 8 de Maio, acompanhado do seu primogénito D. Álvaro, numa pequena armada composta por uma nau e três caravelas530, desembarcando na recém fundada cidade do Salvador da Baía em 13 de Julho de 1553, a fim de suceder a Tomé de Sousa. Ocupou o cargo durante mais de 4 anos, até Janeiro de 1558, quando foi substituído por Mem de Sá.

Na carta que o nomeia, datada de 1 de Março de 1553, diz o rei que “vendo eu como para os cargos de capitão da cidade do Salvador da capitania da Baía de Todos os Santos da costa do Brasil e de governador geral da dita capitania e das outras capitanias e terras da dita costa, é necessário uma pessoa tal e de tanto recado e confiança que nisso me possa e saiba bem servir, e pela muita confiança que tenho em Dom Duarte da Costa do meu conselho, que nas coisas de que o encarregar me saberá bem servir e lho fará com o cuidado e diligência que se dele espera e como até aqui tem feito nas coisas de meu serviço de que foi encarregado hei por bem e me praz de lhe fazer mercê dos ditos cargos (…)”.

Não terá sido fácil para D. Duarte da Costa aceitar tal cargo, independentemente das vantagens pecuniárias obtidas – duas tenças anuais no valor de 400.000 rs e de 200.000 rs - não só por já não ser novo - tinha quase 50 anos - como por deixar no Reino mulher e oito filhos menores (consigo levou D. Álvaro, e D. Francisco andava pela Índia desde 1550). Como refere numa carta autobiográfica escrita do Brasil a D. João III, não aceitou o cargo por “cobiça nem por vaidade de

527

AML-AH - Chancelaria Régia, Livro 3º de D. João III, doc. 47 (antigo 50), f. 99 a 100v (Carta régia de 3 de Janeiro de 1550, nomeando os vereadores e procuradores da cidade). Sobre D. Duarte da Costa e a Câmara de Lisboa ver ANDRADE, Ferreira de – “O Senado da Câmara e os seus presidente: D. Duarte da Costa, 1574 a ?”. Revista Municipal, Lisboa, (5) 1974, p. 13. V. tb. LISBOA, Arquivo Municipal - A evolução municipal de Lisboa: pelouros e vereações. Lisboa: Câmara Municipal, d.l. 1996, pp. 68-71.

528 ANTT – Chanc. D. João III, Priv. lv. 1, f. 222 (Carta de conselheiro, de 10 de Fevereiro de 1553).

529 ANTT – Chanc. D. João III, lv. 56,ff. 191v-192v (Carta de governador-geral do Brasil, de 1 de

Março de 1553).

530 “Armada em que foi D. Duarte: Na armada em que foi D. Duarte foram quatro velas, scilicet: uma

náu e três caravelas em que foram 260 pessoas e são mais no Brasil dois navios armados, um em que foi o Bispo e outro em que foi Manuel da Fonseca e levaram ambos 100 pessoas”. Cf. ANCHIETA, José de - Cartas, informações, fragmentos historicos e sermões. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 1933, p. 337 (nota 364).

168 honra, nem em idade para folgar de ver mundos novos, só o amor de vosso serviço me trouxe, sem conselho de parente nem de ninguém (…)”531

.

O seu governo foi marcado pela oposição que lhe fez o bispo do Salvador, D. Pedro Fernandes Sardinha e por todas as questões que advieram da existência de facções contra ou a favor de ambos. O seu primogénito, D. Álvaro da Costa, que acompanhou o pai ao Brasil, terá sido a razão das muitas questões que houve entre D. Duarte e o bispo, que só terminaram com a morte deste às mãos dos índios caetés, na sequência do naufrágio da nau Nossa Senhora da Ajuda, quando em 1556 se dirigia a Portugal para se queixar ao rei do governador.

Conhecem-se algumas cartas deste período, tanto de D. Duarte da Costa para o rei como de D. João III para o governador-geral. Por elas, sobretudo pelas cinco datadas de 1555 (entre Março e Junho) escritas por D. Duarte, se percebe que, desde início, o choque entre o novo governador-geral e as forças vivas da terra foi uma realidade, incluindo o funcionalismo régio (casos do tesoureiro, Luís Garcês e do provedor-mor, António Cardoso de Barros), e local (oficiais da Câmara), acrescido pela incompatibilidade que se gerou com o bispo, e que nem os esforços dos jesuítas, com quem D. Duarte sempre se relacionou bem, conseguiram atenuar.

Foi também durante o governo de D. Duarte que os franceses se instalaram na baía de Guanabara (Rio de Janeiro), porém, na correspondência de D. Duarte para o rei, nada perpassa quanto a essa questão. Pelo contrário, na última carta que dele conhecemos, datada de 10 de Junho de 1555, descreve longamente a guerra contra os indígenas tupinambás que se tinham rebelado, episódio conhecido por “guerra de Itapuã”, e o papel importante que o filho teve na sua “pacificação”. Esta correspondência parece ser uma pálida imagem da que terá sido trocada entre D. João III e D. Duarte, pois que ele próprio se refere a outra em que “largamente tenho escrito a Vossa Alteza”532

.

Não se conhece na íntegra o Regimento que D. Duarte levou para o Brasil, podendo nós supor que não fosse muito diferente do que tinha sido dado a Tomé de Sousa. De algumas provisões do governador e da carta de sesmaria que em Janeiro de

531 ANTT – Corpo Cronológico, pt. 1, mç. 95, nº 70 (Carta de D. Duarte da Costa para o rei D. João III,

de 20 de Maio de 1555). Publicada em ALBUQUERQUE, Luís de (dir.) - Alguns documentos sobre a colonização do Brasil (século XVI). Lisboa: Alfa, d.l. 1989, pp. 214- 219.

532 ANTT – Gavetas, gav. 18, mç. 5, doc. 13 (Carta de D. Duarte da Costa para o rei D. João III, de 10

169 1557 passou ao filho533, conhecem-se extractos, nomeadamente os que se referem à doação de sesmarias e nomeação de oficiais administrativos.

D. Duarte da Costa acabou por ficar no Brasil mais do que os três anos que a sua carta de nomeação determinava, uma vez que o seu substituto, Mem de Sá, apesar de nomeado em Junho de 1556, só chegou a Salvador no final de Dezembro, tendo tomado posse no dia 3 de Janeiro de 1558.

Se bem que as diferenças com o bispo tenham ensombrado o seu governo, não deixou apenas más recordações. Frei Vicente do Salvador, por exemplo, deixa dele a seguinte memória: “Teve D. Duarte da Costa, além de ser grande servidor del-rei, uma virtude singular, que por ser muito importante aos que governam não é bem que se cale, e é que sofria com paciência as murmurações que de si ouvia, tratando mais de emendar-se, que de vingar-se dos murmuradores, como lhe aconteceu uma noite, que andando rondando a cidade ouviu que em casa de um cidadão se estava murmurando dele altissimamente, e depois que ouviu muito lhes disse de fora: Senhores, falem baixo, que os ouve o governador. Conheceram-no eles na fala, e ficaram mui medrosos que os castigaria, mas nunca mais lhes falou nisso, nem lhes mostrou ruim vontade ou

semblante.”534

De regresso a Lisboa, no início de 1558, D. Duarte encontra já D. Catarina como regente em nome do neto D. Sebastião, pois que D. João III morrera em Junho de 1557. Recebe em 1559 uma tença de 67.600 rs pela alcaidaria-mor do Crato535 que havia sido do pai e de novo é eleito provedor da Misericórdia de Lisboa para o biénio 1559-1560536.

Entre 1562 e 1565537 e depois em 1572538, será novamente vereador da Câmara

533

Sesmaria de Peroaçu e Jaguaripe, limitada por estes rios, cerca de 4 léguas de costa e 10 léguas para o interior do recôncavo da Baía. A carta de sesmaria tem data de 16 de Janeiro de 1557 e D. Álvaro tomou posse das suas terras em 28 de Janeiro seguinte. Em 1565 a sesmaria é transformada em capitania, por carta de D. Sebastião de 27 de Novembro. Cf. ANTT – Chanc. D. Sebastião e D. Henrique, lv. 16, f. 61v.

534 SALVADOR, Vicente do – História do Brasil. Livro primeiro em que se trata do descobrimento do

Brasil, costumes dos naturais, aves, peixes, animais e do mesmo Brasil. Escrita na Bahia a 20 de

Dezembro de 1627, p.45. Consulta online em 1 de Novembro de 2017 em

http://livros01.livrosgratis.com.br/bn000138.pdf.

535 Cf. ANTT – Chanc. D. Sebastião e D. Henrique, lv. 1, f. 414v (Alvará de 4 de Dezembro de 1559, de

lembrança de tença de 67.600 rs para um filho).

536 SERRÃO, Joaquim Veríssimo – A Misericórdia de Lisboa: Quinhentos anos de história. Lisboa:

Livros Horizonte, 1998, p. 80.

537 Carta régia de 9 de Março de 1562, nomeando os vereadores e procuradores da cidade. Cf. AML-AH

170 Municipal de Lisboa até que, em Junho de 1574539, foi nomeado por D. Sebastião presidente da mesma Câmara, cargo que ocupará, pelo menos, até Março de 1577.

Do seu desempenho como Presidente da Câmara de Lisboa pouco se sabe540. Era um cargo que deveria ser ocupado por “fidalgo principall […] de limpo sangue e que tenha renda com que viva abastadamente e seja de idade conveniente e tenha as mais partes que pera o tal cargo se requerem”541. Todos estes requisitos se reuniam em D. Duarte da Costa. Tinha então 70 anos de idade e uma longa experiência em governação. Foi durante a sua presidência do município que D. Sebastião passou pela primeira vez a África, deixando a cidade entregue, como refere Ferreira de Andrade, “a um dos seus mais íntimos e experientes fidalgos”542

.

D. Duarte da Costa virá a morrer em 24 de Julho de 1579. Antes dele tinham morrido a sua mulher D. Maria da Silva (cerca de 1572) e o seu primogénito D. Álvaro (antes de Outubro de 1575).

Ainda nos anos 40 do século XVI, D. Duarte da Costa, a exemplo do pai, tinha

1565 ainda é D. Duarte da Costa que rubrica como vereador as folhas do Livro de lançamentos. Cf. Livro do lançamento e serviço que a cidade de Lisboa fez a El Rei Nosso Senhor no ano de 1565 : documentos para a história da cidade de Lisboa. Lisboa : Câmara Municipal, 1947-1948. 4 vols.

538 AML-AH – Livro dos regimentos dos vereadores e oficiais da câmara [Livro Carmesim], f. 50v.

539 “Eu el Rey faço saber a vos vereadores e procuradores desta cidade de Lisboa e procuradores dos

mesteres della que pola muita Comfiança que tenho de dom duarte da costa do meu conselho e por nelle concorrerem as partes que se requerem pera poder servir o cargo de presidente do governo da dita cidade como Cumpre a meu serviço e bem della e do povo Ey por bem e me praz que elle tenha e syrva o dito cargo de presidente emquanto eu o ouver por bem e não mandar o Contrário, o qual cargo servirá comforme ao Regimento que mandey fazer quando delle encarreguey afomso dalbuquerque do meu conselho. E Ey por bem que se assente no topo da mesa da camara em asento conforme ao dos vereadores pollo que vos mando que façais logo dar recado a dom duarte pera que vá a camara e nella lhe dareis juramento dos santos evangelhos e syrva o dito cargo bem e verdadeyramente guardando em tudo a mym meu serviço e ás partes seu direito do qual juramente se fará asento no lyvro da camara pelo escryvão della asinado por vos e por elle, e este alvara ma praz que valha e tenha força e vigor posto que o feito delle aja de durar mais de hum anno e que não seja posado pola chanscelaria sem embargo das ordenaçoens em contrario. jorge da costa o fez em Lisboa a XVII de Junho de 1574”. Cf. AML-AH – Chancelaria régia, Livro 1º de consultas e decretos de D. Sebastião, ff. 124-125v (Alvará de D. Sebastião, de 17 de Junho de 1574, nomeando D. Duarte da Costa para o cargo de presidente da Câmara).

540 Sobre a actuação de D. Duarte da Costa como presidente da Câmara de Lisboa há um artigo de

Ferreira de Andrade publicado em Revista Municipal. Lisboa. Nº 75 (1957), pp. 11-15, mas cheio de imprecisões no que se refere aos dados biográficos de D. Duarte da Costa.

541 Novo regimento dado à Câmara de Lisboa em 12 de Dezembro de 1572. Cf. AML-AH – Livro 1º de

consultas e decretos de D. Sebastião, ff. 96-97v. Em 3 de Março de 1577 D. Duarte da Costa ainda era Presidente (cf. Carta de D. Sebastião à Câmara de Lisboa ordenando uma devassa sobre os carniceiros que estipulam o preço da carne, em AML-AH - Livro 1º de consultas e decretos de D. Sebastião, f. 166-166v), mas em 21 de Agosto de 1577, quando D. Sebastião escreve de novo à Câmara, a carta é endereçada apenas aos “vereadores e procuradores da cidade”. Cf. AML-AH – Livro 1º de consultas e decretos de D. Sebastião, f. 167-167v.

542

ANDRADE, Ferreira de – “O Senado da Câmara e os seus presidente: D. Duarte da Costa, 1574 a ?”. Revista Municipal. Lisboa. Nº 75 (1957), p. 13. Curiosamente, pelas mesmas razões de confiança do monarca, foi D. Francisco da Costa, filho de D. Duarte, noeado em 1574 governador do Algarve.

171 instituído no convento de Nossa Senhora do Paraíso de Évora uma capela de missa