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O artigo 116 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990)

2.2 A RESPONSABILIDADE CIVIL POR FATO DE TERCEIROS

2.2.4 O artigo 116 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990)

Além do previsto no Código Civil sobre a reparação civil do incapaz, há, ainda, uma hipótese de reparação de danos direta pelos adolescentes como medida socioeducativa. Deve- se também atentar ao interpretar as normas presentes neste Estatuto, devem ser empregadas, sempre, em obediência ao princípio do melhor interesse da criança.

Christiane Macarron Frascino (2008, p.134) estabelece que o princípio da operabilidade presente no Código Civil 2002 atribui função participativa “com comunicação constante com os microssistemas, permite verificar que a parte inicial do art. 928 não está voltada apenas para o tecido interno do próprio diploma, sendo ‘norma com recepção’ para relações de ordem especial, constante em microssistemas que se intercambiam com a codificação”. Deste modo, afirma a autora que o art. 11623 do Estatuto da Criança e do Adolescente determina que, na hipótese de o adolescente24 praticar ato infracional com reflexos patrimoniais, poderá a autoridade determinar que o adolescente promova o ressarcimento do dano ou, de outra forma, compense o prejuízo da vítima.

Conforme vimos no estudo da antinomia, lei geral não derroga lei especial, sendo assim, tal entendimento foi consolidado no Enunciado 40 da I Jornada de Direito Civil: “o incapaz responde pelos prejuízos que causar de maneira subsidiária ou excepcionalmente como devedor principal, na hipótese do ressarcimento devido pelos adolescentes que praticarem atos infracionais nos termos do art. 116 do Estatuto da Criança e do Adolescente, no âmbito das medidas socioeducativas ali previstas. ”

Na percepção de José Fernando Simão (2008, p.157-159) que tal enunciado demonstra o objetivo de ressocialização do infrator trazida pela norma, conquanto há a fixação de uma indenização equitativa, sem o intuito de reparação, próprio da responsabilidade civil (SIMÃO, 2008, p. 157-158).

Ocorre ainda, que muitas vezes o incapaz trabalha, sobretudo na condição de aprendiz, a partir de 14 anos, ou até mesmo informalmente, e receber mais que os próprios pais, razão que por si só demonstra a sua maturidade e maior condição econômica de reparar os danos que causar (FRANSCINO, 2008, p.135).

23 Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for

o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima.

24 Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e

Assim, temos como hipótese de reparação direta do incapaz a prática de um ato infracional prevista no art. 116 do ECA, além de quando não houver representante legal para responder pelos seus atos (p. ex., se o representante legal do incapaz falece e não há substituto nomeado ou indicado, o próprio incapaz responderá diretamente por esse dano-ocorrido na época dessa falta de representação, mas a fixação da indenização deve observar o critério estabelecido da equidade) (FRANSCINO, 2008, p.136).

Apesar de o Estatuto da Criança e do Adolescente trazer normas de conteúdo penal, estas devem ser vistas e aplicadas em benefício exclusivo do menor, com base no princípio basilar do melhor interesse da criança, considerada a punição somente como fase de sua conscientização e de sua reabilitação social. Assim, tal sistemática deve orientar, de acordo com a lei, a aplicação das medidas socioeducativas previstas no Estatuto, em detrimento dos demais, mesmo em se tratando de infratores habituais (SIMÕES FILHO, 2016, p. 16-19).

As crianças e adolescentes, principalmente a partir do século XXI estão permanentemente sujeitos a praticar atos ilícitos. Além dos acidentes possíveis, a delinquência infanto-juvenil constitui, atualmente, uma realidade social que atinge a todas as camadas, das mais pobres às mais abastadas, sendo inegável o papel potencializador do acesso cibernético nesse sentido (SIMÕES FILHO, 2016, p. 2-7).

Assim, caso o menor praticar um ilícito descrita pela lei como crime ou contravenção penal, a inimputabilidade natural do agente enseja a sua classificação jurídica como ato infracional, que sujeita o menor infrator às medidas socioeducativas previstas específica e taxativamente no Estatuto, sem prejuízo do enquadramento civil do ato. Deste modo, temos que a vítima pode, concomitantemente, buscar reparação perante o juízo cível, sem que a sorte de uma demanda, a rigor, interfira no resultado da outra; nos termos, aliás, do que dispõe o art. 93525 do CC, afirmando a diferença de esferas e ordenamentos (SIMÕES FILHO, 2016, p. 16-19).

A análise do dispositivo do Estatuto se faz necessária, tendo em vista que trata de penalidade facultativa no caso do adolescente infrator, da obrigação de reparar o dano patrimonial causado à vítima, como medida sócio-educativa integrante do seu processo de reeducação:

Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade

poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o

ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima.

25 Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a

Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a medida poderá ser substituída por outra adequada (grifou-se).

Ainda, é também possível afirmar que a condenação pecuniária do adolescente pode não equivaler ao prejuízo integral suportado pela vítima, tal medida socioeducativa não suspende, não substitui nem afasta a obrigação reparatória do responsável pela vigilância do menor; tampouco a do próprio menor, na hipótese do art. 928 do CC. (SIMÕES FILHO, 2016, p. 16-19).

Nesse sentido, a lição de Miguel Alves Lima (2008, p.379 apud SIMÕES FILHO, 2016, p. 16), para quem o Estatuto trata “de aproveitar os ‘reflexos patrimoniais’ do ato praticado pelo adolescente para nele desenvolver ou estimular o desenvolvimento de traços positivos de seu caráter”.

Por fim, o autor Celso Luiz Simões Filho (2016, p. 17) a condenação do menor infrator junto ao juízo especializado da infância e juventude pode apenas reduzir a obrigação civil, na exata medida da reparação ali determinada e efetivada, sem jamais inibir, nem mesmo postergar, o acesso do prejudicado à via da ação indenizatória contra o responsável legal ou, em caráter subsidiário, contra o próprio menor.