• Nenhum resultado encontrado

Os precedentes de direito processual sob a ótica da reparação do incapaz

3.1 AS QUESTÕES DE DIREITO MATERIAL E QUESTÕES PROCESSUAIS NA APLICAÇÃO

3.1.2 Os precedentes de direito processual sob a ótica da reparação do incapaz

A primeira questão relevante que muitas vezes é encontrada na jurisprudência brasileira é o litisconsórcio no caso da Responsabilidade Civil do Incapaz, analisado conjuntamente com a Responsabilidade dos Representantes (pais pelos filhos, tutor pelo tutelado, curador pelo curatelado).

Primeiramente, é necessário fazer uma breve conceituação sobre o litisconsórcio, na qual podemos dizer que o litisconsórcio29, previsto no Código de Processo Civil de 2015, é a reunião de vários sujeitos, no próprio processo, na condição de autores ou réus.

No processo civil, em algum dos polos da relação processual, pode-se encontrar mais de uma pessoa, todas elas que assumem igual função processual, coligadas pelo mesmo interesse, quer porque todas formulam idêntico pedido, ou pedidos semelhantes em face do réu, quer porque duas ou mais pessoas se acham na condição de réus. Pode ainda ocorrer, simultaneamente, uma pluralidade de autores e de réus. Uma ação judicial pode, por exemplo, começar com apenas um autor e um réu e, em momento posterior, outras pessoas virem a ingressar no processo. (MEDEIROS, 2008, p.29).

A doutrina processualista classifica de várias formas o litisconsórcio. Quando a pluralidade de pessoas se encontra para formar o polo ativo da relação processual, ter-se-á o litisconsórcio ativo; no que lhe concerne, se houver pluralidade de réus, ter-se-á o litisconsórcio passivo; por fim, caso haja, simultaneamente, pluralidade de autores e de réus, ter-se-á o litisconsórcio misto ou recíproco. Além disso, quanto à natureza do laço entre os litisconsortes, este poderá ser necessário ou facultativo. Ainda, o litisconsórcio facultativo é dividido em recusável ou irrecusável. (MEDEIROS, 2008, p. 29 – 30).

29 Art. 113. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente,

quando: I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide; II - entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir; III - ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito. (BRASIL, 2015).

Para a análise dos casos a seguir, deve-se ter em mente a necessidade de prova feita pela vítima com o intuito de imputar o dano causado ao incapaz. Ademais, deve-se observar as nuances da responsabilidade dos representantes do incapaz, com a hipótese especial da reparação dos danos pelo incapaz. Percebe-se, ainda, que as vítimas e seus procuradores, muitas vezes, ingressam judicialmente somente em relação ao incapaz, embora esse não tenha capacidade processual, gerando a improcedência do pedido por ausência de citação do responsável legal, em todos os casos que chegaram ao julgamento da apelação.

Outra questão se faz relevante, caso não haja litisconsórcio facultativo (pais e filhos, tutores e tutelados, curadores e curatelados) no polo passivo da ação, os que não tem capacidade processual para responderem unitariamente a lide, podem exercer o direito de recorrer das decisões que lhe prejudicam indiretamente? Esta é outra questão será analisada em um dos acórdãos estudados a seguir.

O Superior Tribunal de Justiça tem dois informativos jurisprudenciais sobre os temas: o REsp 1436401-MG, de relatoria do Ministro Luis Felipe Salomão, com julgamento em 2017, tratando sobre o litisconsórcio na questão da responsabilidade civil do incapaz; o REsp 1.319.626 - MG de relatoria da Ministra Nancy Andrighi, com julgamento em 2013, tratando sobre a legitimidade para recorrer do filho, quando proferida em ação proposta unicamente em face de seu genitor, com fundamento na responsabilidade dos pais pelos atos ilícitos cometidos pelos filhos menores.

Para o melhor entendimento, analisaremos primeiramente o tema do litisconsórcio, com a seguinte ementa:

DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL POR FATO DE OUTREM - PAIS PELOS ATOS PRATICADOS PELOS FILHOS MENORES. ATO ILÍCITO COMETIDO POR MENOR. RESPONSABILIDADE CIVIL MITIGADA E SUBSIDIÁRIA DO INCAPAZ PELOS SEUS ATOS (CC, ART. 928). LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO. INOCORRÊNCIA. 1. A responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos é subsidiária e mitigada (CC, art. 928). 2. É subsidiária porque apenas ocorrerá quando os seus genitores não tiverem meios para ressarcir a vítima; é condicional e mitigada porque não poderá ultrapassar o limite humanitário do patrimônio mínimo do infante (CC, art. 928, par. único e En. 39/CJF); e deve ser equitativa, tendo em vista que a indenização deverá ser equânime, sem a privação do mínimo necessário para a sobrevivência digna do incapaz (CC, art. 928, par. único e En. 449/CJF). 3. Não há litisconsórcio passivo necessário, pois não há obrigação - nem legal, nem por força da relação jurídica (unitária) - da vítima lesada em litigar contra o responsável e o incapaz. É possível, no entanto, que o autor, por sua opção e liberalidade, tendo em conta que os direitos ou obrigações derivem do mesmo fundamento de fato ou de direito (CPC,73, art. 46, II) intente ação contra ambos - pai e filho -, formando-se um litisconsórcio facultativo e simples. 4. O art. 932, I do CC ao se referir a autoridade e companhia dos pais em relação aos filhos, quis explicitar o poder familiar (a autoridade parental não se esgota na guarda), compreendendo um plexo de deveres como, proteção, cuidado, educação, informação, afeto, dentre outros, independentemente da vigilância investigativa e

diária, sendo irrelevante a proximidade física no momento em que os menores venham a causar danos. 5. Recurso especial não provido30 (BRASIL, 2017, grifo

nosso).

O tema principal nesse julgado é o litisconsórcio nos casos de responsabilidade em que o pai é o responsável pela reparação do dano causado pelo seu filho, menor de idade na época dos fatos, nos termos do artigo 932, inciso I do Código Civil de 2002, em contraposição a reparação civil dos incapazes, prevista no artigo 928 do diploma civil.

Para dirimir a questão, o relator utilizou dos preceitos legais e de análise hermenêutica dos dispositivos de forma a concluir pela subsidiariedade da reparação civil do incapaz (art. 928 do CC/2002), ou seja, somente quando os pais, tutores e curadores, não tiverem meios suficientes ou não forem obrigados legalmente a reparar o dano que tal instituto poderá ser utilizado para salvaguardar o direito de reparação da vítima.

Assim, primariamente, deve-se pleitear a reparação em face dos responsáveis e subsidiariamente aos agentes menores que causaram o dano. A conclusão do relator, in

verbis:

Portanto, para correta interpretação do dispositivo, penso que a responsabilidade do incapaz será subsidiária - apenas quando os responsáveis não tiverem meios para ressarcir -, condicional e mitigada - não poderá ultrapassar o limite humanitário do patrimônio mínimo do infante (CC, art. 928, par. único e En. 39/CJF) - e equitativa -, pois a indenização deverá ser equânime, sem a privação do mínimo necessário para a sobrevivência digna do incapaz (CC, art. 928, par. único e En. 449/CJF).31 (BRASIL, 2017, grifo nosso).

Na análise quanto ao litisconsórcio, o eminente relator asseverou a questão no sentindo em que não há imposição legal ou jurídica da vítima lesada em litigar em face do responsável e do incapaz, não sendo necessário a presença dos dois agentes para eventual condenação, não se podendo falar, portanto, de litisconsórcio passivo necessário.

Ademais, ressalta o Ministro que é possível que o autor, por sua opção e liberalidade, tendo como fundamento o fato de “os direitos ou obrigações derivarem do idêntico fundamento de fato ou de direito” proponha ação em face do representante e do representado ao mesmo tempo, formando-se um litisconsórcio facultativo propondo demandas distintas

30BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1436401-MG, (2013/0351714-7). Recorrente:

José Augusto Rodrigues. Recorrido: L N de S (menor). Relator: Ministro Luis Felipe Salomão. Brasília, DF, 13 de dezembro de 2016. Diário de Justiça Eletrônico. Brasília, 16 mar. 2017.

31BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1436401-MG, (2013/0351714-7). Recorrente:

José Augusto Rodrigues. Recorrido: L N de S (menor). Relator: Ministro Luis Felipe Salomão. Brasília, DF, 13 de dezembro de 2016. Diário de Justiça Eletrônico. Brasília, 16 mar. 2017.

contra o incapaz ou seu representante, não necessitando, para a condenação, a presença do outro - e simples - a decisão não será necessariamente idêntica quanto ao incapaz e ao representante. Nessa conjuntura, o autor estará ciente que o patrimônio do menor só será atingido subsidiariamente e de forma mitigada; por outro lado, em caso de improcedência da primeira demanda contra o representante, terá afastado o inconveniente de ter que propor nova ação em face do incapaz (BRASIL, 2017, p.12).

Sobre a questão, ensina José Fernando Simão (2008, p. 230) que tal ponto é relevante para o estudo do direito, tendo em vista que nada adianta a resolução do problema no direito material se não for atingido tal reparação no direito processual. Contudo, assevera o autor que a responsabilidade pessoal e direta do incapaz só surge após verificada a responsabilidade indireta do representante, deste modo, o demandante só poderá litigar em face do incapaz e de seu representante, ou somente em face do último, uma vez que se trata de hipótese subsidiária de reparação.

Quanto a questão do litisconsórcio, destaca José Fernando Simão:

Em relação à responsabilidade dos representantes e do incapaz, haverá na demanda um litisconsórcio facultativo, pois pode a vítima do dano propor demandas distintas contra o incapaz ou seu representante, não sendo necessário, para a condenação de um dos réus, a presença do outro no polo passivo.

No caso concreto, se a vítima demandar apenas o representante, provando que este tem a obrigação de indenizar e que dispõe de meios suficientes para tanto, a ação será julgada procedente, sem a necessidade da presença do incapaz no polo passivo da demanda. Por outro lado, se a vítima demanda apenas o incapaz, provando que o representante não tem a obrigação de indenizar ou que não dispõe de meios suficientes para tanto, a ação será julgada procedente, sem a necessidade da presença do representante no polo passivo da demanda. Daí concluir-se que o litisconsórcio não é necessário.

Em relação ao plano do direito material, o litisconsórcio será simples e não unitário. Em determinadas situações, admite-se que a decisão seja idêntica para o representante e para o incapaz. Dessa maneira, se restar provada alguma das excludentes de responsabilidade civil que farão desaparecer o nexo causal entre o ato praticado pelo incapaz e o dano experimentado pela vítima, não haverá dever de indenizar nem dos representantes (indireta e primariamente) nem do incapaz (direta e subsidiariamente). Em outras situações, todavia, a decisão será necessariamente diversa para os litisconsortes. Caso o representante seja condenado a indenizar (procedência da ação), não será o incapaz, que só responde subsidiariamente (improcedência da ação). Já se não houver responsabilidade do representante (improcedência da ação), responderá o incapaz (procedência da ação). Caracterizado o litisconsórcio simples. ” (SIMÃO, 2008, p. 238-239, grifo nosso).

A relevância do acórdão para a análise do polo passivo da ação reparatória é de crucial importância, tendo em vista, como já mencionado, o grande número de ações

propostas diretamente em face dos incapazes, ás vezes sem a citação de representante legal e sem a inclusão dos responsáveis no polo passivo da ação32.

Por fim, percebe-se que o referido acórdão foi paradigmático e colocou fim a questão quanto ao litisconsórcio, que será passivo facultativo e simples, além da categorização da responsabilidade civil do incapaz como subsidiária, condicional, mitigada e equitativa. O julgado foi utilizado como base para vários outros acórdãos33 quanto a esses temas (litisconsórcio e subsidiariedade da responsabilidade dos incapazes), como, por exemplo o 0019279-91.2014.8.07.0007 do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, com relatoria do E. Desembargador Fábio Eduardo Marques, que acertadamente

32 De igual modo, temos como exemplos as ações: (1) 0034875-52.2004.8.19.0001 -Tribunal de Justiça do

Rio de Janeiro (RIO DE JANEIRO. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Apelação Cível nº 0034875-

52.2004.8.19.0001, Quinta Câmara Cível. Apelante: Igor Palma Pereira Rabello e Cassiano Pereira. Apelado: José Marcelo Fernandes de Macedo.) ;(2) 9071934-50.2009.8.26.0000 - Tribunal de Justiça de São Paulo (SÃO PAULO. Tribunal de Justiça de São Paulo. Apelação Cível nº 9071934-50.2009.8.26.0000, 13º Câmara de Direito Público. Apelante: Prefeitura Municipal De São José Do Rio Preto. Apelados (as): Renata Etecheber, Matheus Lafolga Galvão, Gerson Rodrigo Do Nascimento, Gerson Martins Do Nascimento E Neuci Alves. Relator: Relator (a): Ferraz De Arruda. São Paulo, SP, 09 de junho de 2010. Diário de Justiça Eletrônico. São Paulo, 17 set. 2010.); (3) 001119-81.2010.8.26.0268 - Tribunal de Justiça de São Paulo (SÃO PAULO. Tribunal de Justiça de São Paulo. Apelação Cível nº 0011119-81.2010.8.26.0268, 10ª Câmara de Direito Privado. Apelante: Carolina Amorim de Almeida. Apelados (as): Google Brasil Internet Ltda. Relator: Des. CESAR CIAMPOLINI. São Paulo, SP, 19 de dezembro de 2014. Diário de Justiça Eletrônico. São Paulo, 19 jan. 2015) e (4) 0019279-91.2014.8.07.0007 - Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (DISTRITO FEDERAL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Apelação Cível nº 0019279- 91.2014.8.07.0007. Apelante: Colégio Santa Terezinha LTDA - EPP e outros. Apelados: Maria Luiza Ramos Estevam representado por Ilma Aparecida Ramos estevam. Relator: Desembargador FÁBIO EDUARDO MARQUES. Brasília, DF, 23 de maio de 2018. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 25 maio 2018).

33 Também, nesse sentido, usaram como base o acórdão para justificar a subsidiariedade os processos: (1)

0001577-98.2015.8.26.0515 do Tribunal de Justiça de São Paulo (SÃO PAULO. Tribunal de Justiça de São

Paulo. Apelação Cível nº 0001577-98.2015.8.26.0515, 10ª Câmara de Direito Público. Apelante: Madalena Arantes. Apelados (as): Ministério Público do Estado de São Paulo. Relator: Des. PAULO GALIZIA. São Paulo, SP, 07 de março de 2018. Diário de Justiça Eletrônico. São Paulo, 09 mar. 2018.); (2) 0005712-

38.2009.8.24.0025 do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de

Santa Catarina. Apelação Cível nº n. 0005712-38.2009.8.24.0025, Sétima Câmara de Direito Civil. Apelante: Lilian Deschamps e outro. Apelada: Grazielle Contesini Fonseca. Relator: Álvaro Luiz Pereira de Andrade. Florianópolis, SC, 06 de junho de 2019. Diário de Justiça Eletrônico. Florianópolis, 05 jul. 2019.); (3) 0041548-

10.2011.8.24.0023 do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de

Santa Catarina. Apelação Cível nº 0041548-10.2011.8.24.0023, Segunda Câmara de Direito Civil. Apelante: M. L. N. S.. Apelados: A. C. O. S., L. M., M. C. M. e S. S.:. Relator: Desembargador João Batista Góes Ulysséa. Florianópolis, SC, 15 de setembro de 2017. Diário de Justiça Eletrônico. Florianópolis, 15 out. 2017.); (4)

0252540-41.2017.8.21.7000 do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (RIO GRANDE DO SUL.

Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Apelação Cível nº 0252540-41.2017.8.21.7000, Décima Câmara Cível. Apelante: Giovani Ivanir Buboltz; Janine Alice Buboltz E Lizandra Hoesel Buboltz. Apelado: Maira Voese. Relator: Des. Jorge Alberto Schreiner Pestana. Rio Grande do Sul, RS, 01 de março de 2018. Diário de Justiça Eletrônico. Porto Alegre, 21 mar. 2018.); (5) 0036560-69.2015.8.19.0014 do Tribunal de Justiça do

Rio de Janeiro (RIO DE JANEIRO. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Apelação Cível nº 0036560-

69.2015.8.19.0014, Vigésima Sétima Câmara Cível. Apelante: Nathalia Dias Rangel dos Reis. Apelados: Weslei Cardoso Gomes e outros. Relatora: Des. Maria Luiza de Freitas Carvalho. Rio de Janeiro, RJ, 15 de agosto de 2018. Diário de Justiça Eletrônico. Rio de Janeiro, 20 ago. 2018.); (6) 0002212-07.2011.8.22.0006

do Tribunal de Justiça de Rondônia (RONDÔNIA. Tribunal de Justiça de Rondônia. Apelação Cível nº

0002212-07.2011.8.22.0006, 2º Câmara Cível. Apelantes: José Marcos Santos Santana e outra. Apelado: Homero Franco. Relator: Desembargador Marcos Alaor Diniz Grangeia. Porto Velho, RO, 07 de junho de 2017. Diário de Justiça Eletrônico. Porto Velho, 08 jun. 2017.)

utilizou do precedente do STJ para fundamentar o litisconsórcio e as características da responsabilidade civil do incapaz em um caso em que a vítima processou a escola e diretamente a autora do dano (menor), nos seguintes moldes:

Logo, impõe-se concluir pela ilegitimidade passiva da aluna apelante, visto que a ação foi ajuizada somente em desfavor da menor, sem inclusão dos seus responsáveis no polo passivo. Sem isso, não há como se estabelecer a responsabilidade subsidiária, isto é, secundária. Por fim, no que concerne ao pedido em sede de contrarrazões para a condenação da apelante por litigância de má-fé, não assiste razão à apelada, dado que apenas o legítimo exercício do direito de recorrer, como na espécie, não pode resultar condenação, sobretudo quando acolhido o apelo.

[…]

Ainda, de acordo com a jurisprudência do eg. Superior Tribunal de Justiça, a responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos causados a terceiros é subsidiária, condicional, mitigada e equitativa.”34 (BRASIL, 2018, grifo nosso).

Os julgados 0005735-83.2009.8.26.0071; 9071934-50.2009.8.26.0000; ;0003576- 07.2010.8.26.0404; 0011119-81.2010.8.26.0268; 4019987-49.2013.8.26.0405; 4003600- 47.2013.8.26.0602 todos do Tribunal de Justiça de São Paulo não mencionaram diretamente a decisão do STJ, mas conferiram a decisão sobre a legitimidade do polo passivo da ação e da subsidiariedade nos moldes equivalentes da decisão do STJ.

Em sentido contrário, antes da decisão do STJ, o acórdão 2011011216602535 do TJDF, em 2014, de relatoria do Desembargador Esdras Neves asseverou pela solidariedade e não pela subsidiariedade dos incapazes com seus responsáveis, com base no parágrafo único do artigo 942 do Código Civil, interpretando a legitimidade passiva dos réus (incapazes) como possível, ainda que sem a representação e litisconsórcio passivo de seus responsáveis.

Quanto a questão da legitimidade do incapaz para recorrer da decisão proferida em desfavor de seu responsável, o Superior Tribunal de Justiça estabeleceu no acórdão REsp. 1.319.626 - MG, com a seguinte ementa:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. RESPONSABILIDADE DOS PAIS PELOS DANOS CAUSADOS POR FILHOS MENORES. LEGITIMIDADE PARA RECORRER DO FILHO. AUSÊNCIA.

34 BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Apelação Cível nº 0019279-

91.2014.8.07.0007. Apelante: Colégio Santa Terezinha LTDA - EPP e outros. Apelados: Maria Luiza Ramos Estevam representado por Ilma Aprecida Ramos estevam. Relator: Desembargador Fábio Eduardo Marques. Brasília, DF, 23 de maio de 2018.

35 BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. Apelação Cível nº 0053475-

13.2011.8.07. 0001.Relator: Desembargador Esdras Neves. Brasília, DF, 28 de maio de 2014. Diário de Justiça Eletrônico. Brasília, 10 jun. 2014.

1. Discussão acerca da legitimidade do filho menor para recorrer de sentença proferida em ação proposta unicamente em face de seu genitor, com fundamento na responsabilidade dos pais pelos atos ilícitos cometidos pelos filhos menores. 2. Inviável o reconhecimento de violação ao art. 535 do CPC quando não verificada no acórdão recorrido omissão, contradição ou obscuridade apontadas pelo recorrente.

3. A ausência de decisão sobre os dispositivos legais supostamente violados, não obstante, a interposição de embargos de declaração, impede o conhecimento do recurso especial. Incidência da Súmula 211/STJ.

4. Em regra, é a parte sucumbente quem tem legitimidade para recorrer. O art. 499, §1o, do CPC, contudo, assegura ao terceiro prejudicado a possibilidade de interpor recurso de determinada decisão, desde que ela afete, direta ou indiretamente, uma relação jurídica de que seja titular.

5. A norma do art. 942 do Código Civil deve ser interpretada em conjunto com aquela dos arts. 928 e 934, que tratam, respectivamente, (i) da responsabilidade subsidiária e mitigada do incapaz e (ii) da inexistência de direito de regresso em face do descendente absoluta ou relativamente incapaz.

6. Na hipótese, conclui-se pela carência de interesse e legitimidade recursal do recorrente porque a ação foi proposta unicamente em face do seu genitor, não tendo sido demonstrado o nexo de interdependência entre seu interesse de intervir e a relação jurídica originalmente submetida à apreciação judicial.

7. Negado provimento ao recurso especial.36 (BRASIL, 2013, grifo nosso).

Observando-se o deslinde processual, verificou-se que a discussão gira em torno da legitimidade e interesse processual tanto em primeiro, quanto em segundo grau, devido o pai do incapaz não ter contestado a petição inicial da ação, somente o incapaz (que não estava no polo passivo da ação), gerando revelia sobre o corréu (responsável pelo incapaz) na lide. Por conseguinte, o menor interpôs apelação com os argumentos de que a sua condição seria de terceiro prejudicado e que a inserção do seu nome à frente do nome do seu pai daria-lhe legitimidade para impetração do recurso, na petição de contestação e da interposição da apelação não afasta o propósito recursal deste último, então requereu reforma perante ao tribunal por violação ao artigo 535, II, do Código de Processo Civil de 1973, onde tal condenação lhe traria prejuízo.

Acertadamente, a relatora considerou a Responsabilidade dos pais pelos filhos, prevista art. 932, I do Código Civil de 2002, decorrente do exercício do poder familiar. A Ministra destacou que o recorrente procura justificar seu interesse recursal argumentando que essa responsabilidade é solidária com seu genitor, nos termos do art. 942, parágrafo único, do Código Civil, embora notadamente, que se trata de caso do artigo 932, inciso I cumulado com o artigo 928 do Código Civil. Afirma a Ministra que essa norma deve ser interpretada em conjunto com aquela dos arts. 928 e 934 do Código Civil, que tratam, respectivamente, da responsabilidade subsidiária e mitigada do incapaz e da inexistência de direito de regresso

36 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.319.626 - MG, (2011/0220737-5).

Recorrente: C A DO N (MENOR). Recorrido: M H DE Q N (MENOR). Relator: Ministra Nancy Andrighi. Brasília, DF, 26 de fevereiro de 2013.

em face do descendente absoluta ou relativamente incapaz. Destarte, o patrimônio dos filhos menores pode responder pelos prejuízos causados a outrem desde que as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. E, apesar disso, nos termos do parágrafo único do art. 928, se for o caso de atingimento do patrimônio do menor, a indenização será equitativa e não terá lugar se privar do necessário o