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O ARTISTA: VENTO(S) E DES(DOBRAMENTO)S

No documento Marcelina 4 (páginas 83-95)

Andrés I. M. Hernández*

* Andrés I. M. Hernández é curador, coordenador executivo da curadoria do Museu de Arte Moderna de São Paulo e mestrando em artes visuais na Faculdade Santa Marcelina. Palavras-chave

Bienal de La Habana; Bienal de São Paulo; arte contemporânea; América Latina; Tania Bruguera.

Key words

Bienal de La Habana; Bienal de São Paulo; contemporary art, Latin America; Tania Bruguera.

Resumo: Eventos culturais de grande porte, que acontecem sistemati-

camente, como as bienais, contribuem para a inserção de artistas locais na cena global, incentivam a concretização de novas ações (decorren- tes destes ou com discussões à margem das propostas institucionais). As bienais de La Habana e de São Paulo criam condições de visibili- dade e projeção em Cuba e no Brasil, bem como em outros países da América Latina, e são exemplares no processo de internacionalização examinado neste texto.

Abstract: The biennials of La Habana and São Paulo have deemed possible the projection of artists and events in Cuba and Brazil, as well as in other Latin American countries, and are exemplary of the internationalization process discussed in this text

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TRADO EM REVIS

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Qualquer que seja o perfil de um grande evento e qualquer que seja o país em que é realizado, um acontecimento cultural acaba gerando grandes transformações no meio. Sediar um evento cultural de grande porte possibilita um acesso mais com- pleto à produção local e exige que a formação profissional na área se aperfeiçoe. Enquanto a participação de artistas em exposições internacionais, fora de seu país, permite que ele apresente uma parte pequena de sua produção, quando o evento acontece no país em que trabalha, sua pesquisa ganha uma dimensão pública com maior profundidade.

Outra consequência de sediar um evento importante é um maior aprovei- tamento dos equipamentos culturais, materiais ou não materiais. Esses recursos vão desde espaços expositivos, ateliês de artistas e a própria textura da cidade, até o desenvolvimento de know-how em áreas que requerem especialização como a montagem, a produção e o serviço educativo. Durante a organização e realização desses eventos, ocorre um intenso processo de circulação de conhecimento e de experiências. Ao concentrar profissionais da arte em uma única cidade, trabalhan- do de forma coletiva, cria-se uma rede de reciprocidades que se alimenta e ultra- passa o período circunscrito ao evento. São regras (próprias à competição, mas da troca também) que reproduzem o espírito e o esquema dos jogos olímpicos e campeonatos regionais. Para ficarmos na área do esporte, Cuba organizou os Jogos Pan-Americanos em 1991, quando conseguiu romper, pela primeira vez, a hege- monia dos Estados Unidos: terminou com 140 medalhas de ouro, contra as 130 conquistadas pelos norte-americanos. No universo da arte não é muito diferente. Um exemplo bastante próximo de nós tem sido as Bienais de São Paulo.

A mais antiga entre as bienais da América Latina, a Bienal de São Paulo foi criada em 1951, seguindo os fundamentos do mais tradicional desses eventos, a Bienal de Veneza, cuja primeira edição data de 1895. Yolanda Penteado e Fran- cisco Matarazzo Sobrinho foram os mentores dessa empreitada, lançada com o nome de Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo. O objetivo inicial era pôr

A mente e a terra encontram-se em um processo de erosão: rios men- tais derrubam encostas abstratas, ondas cerebrais desgastam rochedos de pensamento, ideias se decompõem em pedras de desconhecimento, e cristalizações conceituais desmoronam em resíduos arenosos de razão.

Robert Smithson**

** Cf. R. Smithson. In: Uma sedimentação da mente: projetos de terra. Escritos de artistas. Anos 60/70. Glória Ferreira e Cecília Cotrim (org.). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006.

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em vigor um confronto entre a arte brasileira e as correntes internacionais então vigentes. A primeira Bienal serviu de plataforma internacional ao movimento de arte concreta, em ascensão no Brasil desde finais da década de 1940, promovendo a apresentação de suas propostas artísticas e conceituais, bem como sua introdu- ção em contexto mundial. Na imprensa paulista, entretanto, o concretismo geraria polêmica raivosa. Um destrutivo jogo de poder e vaidade fica evidente quando, em 1963, Matarazzo — então presidente do museu que havia fundado em 1948 — decide extinguir o Museu de Arte Moderna de São Paulo. Uma assembleia termina com a sociedade que sustentava o Museu de Arte Moderna e determina a doação de todo seu patrimônio, incluindo o acervo, à Universidade de São Paulo:

[…] seu acervo [do Museu de Arte Moderna] sem precedentes no Bra- sil seria transferido para a Universidade de São Paulo, com a finalidade de erguer um Museu de Arte Contemporânea (MAC/USP). O gesto de Francisco Matarazzo Sobrinho — Ciccillo —, interpretado como “traição” e “generosidade” por uns e outros, resultou em dois museus, unidos umbilicalmente, irmãos ligados por uma saúde frágil1.

A decisão de Matarazzo certamente levou em conta o fato de que a Bienal lhe proporcionava maior visibilidade e projeção no cenário internacional. A despeito das dificuldades que enfrentaria sobretudo no regime militar, a Bienal de São Paulo levou o Brasil a uma posição privilegiada em relação aos países do (então) Terceiro Mundo, permitindo intensa avaliação dos trabalhos criados aqui.

Trata-se, portanto, de um caso excepcional, comparativamente com a inser- ção do resto da América Latina, já que no Brasil havia notícias e esclarecimentos “sobre o fenômeno artístico contemporâneo”2 mediante a apresentação de retrospectivas do

cubismo, futurismo e expressionismo, das obras de Alexander Calder e Piet Mondrian (na II Bienal), do informalismo, dos espanhóis na V Bienal, de Alberto Burri pela Itá- lia, sem contar Donald Judd, Barnett Newman e Frank Stella em 1965. Cabe registrar a opinião da crítica de arte Aracy Amaral, uma das figuras que mais se dedicaram a pensar a arte latino-americana a partir do Brasil:

[…] nós, os latino-americanos, ficávamos meio “de pingentes”, por assim dizer, […] não nos olhando muito e vendo-nos sempre como um reflexo nativo em versão subdesenvolvida das correntes europeias ou norte-ame- ricanas. Sempre foi assim. Observávamos sempre o que passava na Euro- pa, e depois nos Estados Unidos, e nunca a nós mesmos, como possíveis pontos de partida ou de revisão criativa das metrópoles3.

1 Lisette Lagnado, “Is this all so… so… so… contemporary?” In: A. Fabris, F. Chaimovich, L. Lagnado, L. C. Osorio (org.).

Colóquio Internacional História e(m) movimento. Museu de Arte Moderna de São Paulo, 7 e 8 de novembro de 2008, São

Paulo, p. 87.

2Cf. A. Amaral, “A Bienal Latino-Americana ou o desvirtuamento de uma iniciativa”. In: Arte e meio artístico: entre a

feijoada e o x-burguer (1961-1981). São Paulo: Nobel, 1983, p. 296.

3 A. Amaral, op. cit., p. 297.

Sem diminuir o impacto das participações internacionais sobre a cena brasi- leira, Amaral destaca também uma mudança no olhar apreciativo dos artistas brasilei- ros que “tinham estado um tanto desatentos a artistas norte-americanos presentes nas primeiras Bienais [de São Paulo], inclusive a [Jackson] Pollock, alvo de retrospectiva na IV Bienal de 1957, e [Robert] Rauschenberg, presente em 1959, [e que] começam a olhar com mais cuidado a produção dos Estados Unidos a partir dos inícios dos anos 60 (produção de que foi grande arauto entre nós, por sua extrema permeabilidade, o pintor Wesley Duke Lee)”4.

Bienal de La Habana

Trinta e três anos depois do surgimento da Bienal de São Paulo, é criada a Bienal de La Habana, em Cuba, ou seja, 25 anos depois do triunfo da Revolução sob o comando de Fidel Castro, cujo programa o professor de filosofia e ensaísta cubano Fernando Martínez assim descreve:

Mediante uma grande revolução, Cuba se liberou a partir de janeiro de 1959 das dominações que a aprisionavam, promoveu mudanças muito profundas na vida das pessoas, nas relações sociais e nas instituições, e criou ou reorganizou de maneira incessante seu próprio mundo revo- lucionário. A sociedade fazia então esforços extraordinários para pen- sar-se a si mesma, compreender suas mudanças e suas permanências, seus conflitos e seus projetos, seus modos de transformar-se, por meio de ações coletivas, lutas violentas, enfrentamentos ideológicos, mu- danças nas crenças, conflitos dilacerantes e tensões muito abrangentes. O próprio tempo se transformou. O presente se preencheu com acon- tecimentos, e as relações interpessoais e o cotidiano ficaram repletos de revolução; o futuro se fez muito mais dilatado no tempo pensável e foi convertido em projeto; e o passado foi reapropriado, descoberto ou reformulado, e posto em relação com o grande evento em curso5.

Um decreto oficial do governo revolucionário da República de Cuba cria o Centro Wifredo Lam, que teria como atribuições e funções, além de obviamente promover o estudo e difusão da obra de Wifredo Lam6, “promover internacionalmente as obras dos artistas plás-

ticos dos povos da Ásia, África e América Latina; assim como dos criadores que lutam pela

4 Id. ib.

5 Heredia Fernando Martínez, “Pensamiento social y político de la Revolución”. In: La política cultural del período revolucio-

nário: memória y reflexión (Ciclo de conferencias organizado por el Centro Teórico-Cultural). Havana: Palcograf, 2007.

6 Wifredo Lam (1902-1982), artista cubano, filho de pai chinês e mãe mestiça (índio e espanhol). A sua infância será marcada pela madrinha, ligada ao vodu e ao folclore africano. Um de seus trabalhos mais importantes, conhecido como Manifesto do Terceiro Mundo, La Jungla, pertence à coleção do MoMA. Segundo a curadora cubana e ex-diretora do Centro Wifredo Lam, Hilda María Rodríguez Enríquez, Lam ¨revolucionou os pressupostos do modernismo ao assumir uma autêntica posição de vanguarda, diluindo a disputa entre tradição e contemporaneidade, entre o local e o universal, e incorporando, como poucos, as essências das expressões culturais e religiosas que se mantêm vivas nos contextos caribenhos. Rapidamente, con- quistou reconhecimento de artistas como Picasso e Breton, e outros surrealistas e intelectuais¨. Ver: Departamento de Artes Plásticas del Círculo de Bellas Artes, ¨Wifredo Lam. Cartografía Ìntima¨. Madri: ABADA Editores, 2003.

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sua identidade cultural e cujas raízes se vinculam às desses povos”7. Surge, assim, a instituição

destinada a abrigar, além de outros eventos periódicos, a Bienal de La Habana, e que também teria a missão de “auspiciar o desenvolvimento das artes plásticas em nosso país; e promover as manifestações e artistas contemporâneos cubanos de maior significância”8.

O evento teve uma influência decisiva para sustentar a ideia de uma arte latino- americana. Esse é um dado tão admitido publicamente quanto a importância que teve, para o Brasil, o advento de uma Bienal (Internacional) de São Paulo e, décadas depois, em 1997, a Bienal do Mercosul9, em Porto Alegre, pois colocou os cubanos em diapasão

com a produção internacional da atualidade. Graças à Bienal de La Habana, a cena cuba- na tornou-se mais cosmopolita e aumentou o contato com o mercado internacional. Até hoje, a Bienal funciona como veículo de promoção de bolsas para projetos: artistas cubanos são convidados com mais frequência para participar de projetos fora de seu país. Muitos dos visitantes das bienais fazem parte do jet set internacional, viajando para conhecer o trabalho de artistas cubanos a fim de inseri-los em projetos futuros.

Interessante observar as organizações paralelas ao período da Bienal, toman- do todos os espaços expositivos da cidade não ocupados pelo projeto central do evento. Os artistas locais abrem seus ateliês aos visitantes e alguns organizam nesses locais, ou até mesmo em sua própria residência, exposições para mostrar o que têm produzido. Luis Camnitzer já observara na primeira edição de 1984, que “artistas como José Bedia, Flavio Garciandía, Ricardo Rodriguez Brey, Juan Francisco Elso Padilla, Leandro Soto, Arturo Cuenca, Gustavo Acosta, Tomás Sánchez, Rubén Torres Llorca, Gory (Rogelio López Marin) e Tonel (Antonio Eligio), todos internacionalmente conhecidos hoje em dia, deixaram sua marca nos visitantes estrangeiros10.

Tirando partido da presença de artistas estrangeiros, a Bienal de La Habana aposta na estratégia da convivência entre estes e os artistas locais, configurando-se como um laboratório de práticas artísticas. Essa meta tinha a mesma importância da exposição em si, quiçá maior, ao menos nas cinco primeiras edições, de 1984 a 1997. O Instituto Superior de Arte (ISA) foi, durante esse período, um dos espaços de discussão e exibição de obras que contribuíram para a concretização desse objetivo, além de ser a vitrine para o mais novo talento cubano personificado em seu corpo estudantil. Ali podia-se ver an- tecipadamente o que os artistas exibiriam na Bienal seguinte, e a exposição no ISA era sempre uma ampliação e contraponto refrescante da representação cubana da Bienal11.

Em função de seu caráter prospectivo, a Bienal possibilitou a projeção de artistas novos, como os mencionados acima, até então praticamente desconhecidos no contexto inter-

7 Gaceta Oficial de la República de Cuba, ano LXXXI, nº 24. La Habana, 30/03/1983, pp. 323-24. 8 Id. ib.

9 A Bienal do Mercosul deve seu nome ao bloco econômico constituído no início da década de 1990 e inicialmente com- posto por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.

10 Cf. L. Camnitzer, “La Bienal de las utopías”. In: Bienal de La Habana para leer. Valencia: Universitat de València, 2009, p. 493.

11 Id. ib., p. 500.

nacional. José Bedia foi convidado para a exposição Magiciens de la terre, realizada em Paris, no Centre Georges Pompidou e Grande Halle no Parc de la Villette, entre 18 de maio e 14 de agosto de 1989, com curadoria de Jean-Hubert Martin. Bedia, a partir de sua participação em Havana, adquirira visibilidade desde a primeira edição do evento, em 1984, e também com a 19ª Bienal de São Paulo, em 1987. Uma quantidade repre- sentativa de artistas cubanos que hoje goza de reconhecimento nacional e internacional participou de edições da Bienal de La Habana ainda como estudantes do ISA, ou recém- formados pela instituição, como por exemplo Carlos Garaicoa (estudou no ISA de 1989 a 1994). Durante a IV Bienal de La Habana, em 1991, ainda estudante, Garaicoa expôs na galeria do ISA. Em 1994, já participou como artista convidado da V Bienal de La Habana e, em 1995, foi convidado para a 1ª edição da Johannesburg Biennale. Em 1997, partici- pou novamente da VI Bienal de La Habana e, em 1998, da XXIV Bienal de São Paulo; em 2009, esteve na prestigiosa Biennale di Venezia, em sua 53ª edição.

Vale destacar que, desde a década de 1960, através da Casa de las Américas, Havana converteu-se em receptora da mais importante intelectualidade latino-ameri- cana e num espaço de experimentação artística para figuras como o argentino Julio Le Parc e o chileno Roberto Matta. A Bienal de La Habana deu continuidade à tradição de fomentar encontros de criadores e fazer circular suas ideias. Foi “latino-americana” desde a sua primeira edição como opção política, tendo o privilégio de contar com o suporte das informações da Casa de las Américas sobre a arte produzida na América Latina, e com notáveis programas educativos desenvolvidos em Cuba. O país manti- nha, há várias décadas, cursos que incluíam e sistematizavam o estudo da história da arte latino-americana, na Faculdade de História da Arte da Universidade de Havana e no ISA. A obra crítica e ensaística de personalidades como Frederico Morais (Brasil), Jorge Romero Brest (Argentina), Juan Acha (Peru/México), Nestor García Canclini (México) e Shifra Goldman (Estados Unidos)constituiu as bases desses programas de estudo, permitindo o acesso à história da arte aos diferentes países latino-americanos e a observação da América Latina como um todo, sem descartar sua diversidade

A criação, em 1983, do Centro Wifredo Lam, organizador da Bienal de La Haba- na, vem suprir uma defasagem na difusão e discussão das artes visuais. A criação da Casa de las Américas, em 1959, por Haydee Santamaría (guerrilheira e política cubana, uma das fundadoras do Partido Comunista de Cuba) também teve o mesmo propósito, mas as artes visuais eram abordadas em conjunto com outras expressões, como a literatura e o teatro. A Bienal assume o objetivo, também, de difundir a obra de Wifredo Lam como o maior expoente das artes visuais em Cuba, tendo como referência sua produção e suas origens (chinês, negro e branco), assim como inserir a arte cubana no contexto internacional. De suma importância foi o papel desempenhado pela Bienal de La Habana no que diz respeito à disseminação, projeção e discussão das produções artísticas dos países do chamado Ter- ceiro Mundo. A meu ver, esse objetivo concretizou-se na quinta edição do evento, e hoje a discussão da Bienal gira em torno de outros temas. Os benefícios para a cena artística cubana são evidentes. Não só para os artistas em atividade, mas também para os jovens

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estudantes e para a concretização de eventos paralelos aos oferecidos pela Bienal.

Até 1984, foi dada ênfase principalmente ao universo de relações en- tre os processos e contextos artísticos dos diversos países da América Latina. A partir de 1986, com a II Bienal de La Habana e a inclusão de outros países do Terceiro Mundo, surgiu a possibilidade, para os programas de ensino de história da arte em Cuba, de ver a América Latina inserida em um universo mais com- plexo de relações e contar com referências antes de difícil acesso. Os cursos se enriqueceram com perspectivas e experiências até então pouco conhecidas. Nas palavras de Mosquera,

os jovens artistas desenvolveram uma aproximação com a arte que era crítica, pós-moderna e aberta internacionalmente, crian- do um novo clima liberal que foi crucial para dar forma à Bienal e proporcionar um entorno favorável. Reciprocamente, o evento funcionou como uma plataforma de lançamento para os novos artistas cubanos12.

Bienais como plataformas pedagógicas

Esse patamar recém-alcançado teve impacto positivo também para o ISA, pois a habitual ortodoxia dos programas de formação profissional no Instituto foi modificada, mediante o contato direto com obras e artistas participantes das bienais, sem contar os inúmeros ateliês e palestras previstos em cada edição. Todo esse novo conhecimento converteu-se em referência de primeira mão para os estudantes do Instituto e influenciou profundamente os critérios pedagógicos desenvolvidos pelos professores. Artistas como Lázaro Saavedra, Tania Bruguera (estudou no ISA de 1987 a 1992), René Francisco Rodriguez e Eduardo Ponjuan, que durante muitos anos trabalharam como professores no ISA, reconhecem a importância da Bienal de La Habana para que pudessem propor determinados programas. Em entrevista realizada em 2006 pelo crítico e curador Eugenio Valdés Figueroa, Eduardo Ponjuan comenta que

historicamente, a Bienal de La Habana ajudou a desmistificar as referên- cias habituais encontradas pelos estudantes em publicações como Art

News ou Art in America, permitindo aos artistas cubanos confrontar-se

com as magníficas propostas artísticas procedentes do chamado “Tercei- ro Mundo”, bem como dos artistas dele provenientes e com residência no “Primeiro”. A Bienal sempre foi uma vívida referência da arte con- temporânea produzida em contextos mais próximos da nossa realidade, e desse privilégio também se beneficiaram os estudantes do ISA13.

Referindo-se às oficinas e à relação com os curadores da Bienal, declara Ponjuan:

12 Cf. G. Mosquera, “Havana utopia” (mimeografia). Texto a ser publicado este ano pela Bergen Kunsthalle em The Bien-

nial Reader, e gentilmente cedido pelo autor.

13 E. Valdés Figueroa, “Interactions horizontales: Pédagogie et art contemporain à Cuba”. Parachute, nº 125. Montreal, março de 2007, pp. 56-61.

Nas oficinas, nos encontros institucionalmente planejados e também nos contatos espontâneos nas casas dos artistas, realizados durante as Bienais, nasceram influências muito importantes para os alunos. Por exemplo, a oficina ministrada por Capelán no ISA teve importância transcendente na obra de Ibrahim Miranda. Recordo também os contatos com Luis Camnitzer, Miguel Ángel Rios e Julio Le Parc, entre tantos outros14.

Finalmente, como comentado acima, Ponjuan confirma a importância do contato com figuras do meio artístico nacional e internacional:

Também houve oficinas sobre técnicas da tradição popular: maché, te- cidos, batik, bogolán africano e até pipas chinesas. Importantes teóricos compareceram nesses eventos: Ticio Escobar, Geeta Kapur, Shrifra Gol- dman, Nelly Richards, Frederico Morais, Néstor García Canclini, Juan Acha, Pierre Restany, Jürgen Harten; críticos, teóricos e curadores cubanos como Tonel, Iván de la Nuez, Gerardo Mosquera, Dannys Montes de Oca, Eugenio Valdés Figueroa, Osvaldo Sánchez, Lupe Álvarez, Magalys Espi- nosa, entre tantos outros. Houve inclusive a participação de outros cujas preocupações locais permitiam estabelecer relações até então inusitadas com a cena internacional. É inestimável, nesse sentido, a contribuição dos próprios curadores: José M. Noceda, Margarita Sánchez, Juan A. Molina, Hilda M. Rodríguez, Íbis Hernández Abascal, Magda I. González Mora e, claro, Lillian Llanes, ex-presidente da Bienal, que estimulou nos curadores um tipo de reflexão muito mais cosmopolita a partir de suas investigações

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