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O ASSÉDIO COMO CARACTERÍSTICA DO PSICOPATA

No documento O perigo do silêncio (páginas 62-65)

Após sua instalação no ambiente laboral, o psicopata passa a reiteradas condutas caracterizadoras de uma nova forma de violência, a psicológica, na qual prioriza a estigmatização da vítima visando desestabilizar seu ambiente de trabalho exercendo o assédio moral.

4.2.1 Assédio moral no trabalho

As primeiras pesquisas sobre o assédio moral no trabalho iniciaram no campo da Medicina e da Psicologia do Trabalho, e o estudo científico afeto ao tema apresenta precursores como Heiz Leymann, Marie-France Hirigoyen, e o italiano Harald Hege. (FIORELLI; MALHADAS JUNIOR, 2008).

Dentre os conceitos fomentados destaca-se que, o assédio moral consiste em "manobras hostis, frequentes e repetidas no local de trabalho, visando sistematicamente à mesma pessoa. [...] provém de um conflito que degenera. [...] é uma forma particularmente grave de estresse psicossocial." (HIRIGOYEN, 2002, p.77 apud LEYMANN, 1996).

Essas manobras consistem basicamente em:

[...] retirar a autonomia da vítima, deixando de transmitir-lhe as informações úteis para a realização de suas tarefas diárias, contestando todas as suas decisões com críticas exageradas e injustas, impedindo seu acesso aos instrumentos necessários para conclusão e seus afazeres, induzindo-a deliberadamente ao erro, etc. Com isso retira-lhe o trabalho que normalmente lhe compete, atribuindo-lhe sistematicamente novas tarefas inferiores ou superiores às suas competências e contra sua vontade, com instruções impossíveis de serem executadas, impondo-lhe trabalhos perigosos ou incompatíveis com sua saúde. Não levando em conta as recomendações de ordem médica, causando-lhe danos. Pressiona a vítima para que não faça valer seus direitos trabalhistas como férias, horários,

prêmios, agindo ainda de modo que a impeça a obter promoções. (HIRIGOYEN, 2002, p. 108).

O Assédio moral dá-se pela degradação deliberada das condições de trabalho em que prevalecem atitudes e condutas negativas dos chefes em relação a seus subordinados, constituindo uma experiência subjetiva que acarreta prejuízos práticos e emocionais para o trabalhador e a organização (BARRETO, 2003).

Marie-France Hirigoyen destaca a definição de assédio moral:

[...] é definido como qualquer conduta abusiva [...] que atente, por sua repetição, ou sistematização, contra a dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho [...] são poucas as agressões que causam distúrbios psicológicos tão graves a curto prazo e consequências tão desestruturantes a longo prazo. (HIRIGOYEN, 2002, p. 17).

Na conceituação de Margarida Barreto, o assédio moral no trabalho depreende-se da “exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções” tendo como um dos objetivos fazer com que a vítima desista do emprego. (BARRETO, 2003, p. 57).

As empresas, cada vez mais empenhadas na busca de resultados maiores, elevam o capital “moeda” em detrimento do capital “humano” mantém em seus quadros indivíduos que humilham, perseguem, assediam seus pares, numa atitude típica dos covardes (MARTINS, 2009):

O assédio moral do tipo vertical quando a violência psicológica é perpetrada por um superior hierárquico. Neste caso, a ação necessariamente não precisa ser deflagrada e realizada pelo superior, mas pode este contar com a cumplicidade dos colegas de trabalho da vítima e através destes a violência pode ser desencadeada. (GUEDES, 2003, p.36).

O assédio moral vertical descendente ocorre quando perpetrado pelo superior hierárquico contra o empregado, “[...] tem consequências muito mais graves sobre a saúde do que o assédio horizontal, pois a vítima se sente desamparada, isolada e tem maiores dificuldade para achar a solução do problema.” (HIRIGOYEN, 2002, p.112):

O assédio horizontal caracteriza-se pelo “empregado que assedia outro empregado. Este tipo de assédio é frequente quando dois empregados disputam a

obtenção de um mesmo cargo ou uma promoção.” Comumente se transforma em assédio vertical descendente quando a chefia é omissa. (HIRIGOYEN, 2002, p.113).

Estas agressões podem variar entre seis meses a três anos, não sendo vislumbrados motivos que possam elevar ou até diminuir o lapso temporal da agressão, o que se sabe é que quanto mais cedo sua identificação, menores serão os danos causados (HIRIGOYEN, 2002):

Há 69 milhões de psicopatas no mundo, o que dá 1% da população em geral. Eles são 20% da população carcerária e 86,5% dos serial killers. Até 3,9% dos executivos de empresas podem ser psicopatas, [...]. Uma taxa de psicopatia 4 vezes maior do que na população em geral. Eles não matam os colegas, mas usam o cargo para barbarizar. (HORTA, 2011).

Seja de forma regular e sistemática, de longa duração, ou pontual, o dano psicológico sofrido pela vítima, principalmente quando jovens em busca de um estágio ou de seu primeiro emprego, são arrasadores. (GUEDES, 2003).

Por serem ótimos manipuladores, os psicopatas laborais conseguem conquistar a confiança dos colegas de trabalho traindo-os sem qualquer remorso, dessa forma, apesar da sua violência não chegar a ser física causa enorme dano psicológico e emocional às suas vitimas, “além de poder prejudicar muito o trabalho e a carreira de seus rivais.” (BABIAK, 2011).

Conforme Paul Babiak, os psicopatas costumam agir quando seus interesses então em jogo, dessa forma, “os mais talentosos parecem pessoas normais [...] tentam sempre manipular os outros e são capazes de esconder suas verdadeiras motivações por trás de uma atraente fachada.” (BABIAK, 2011).

Os psicopatas corporativos não são muito bons em criar e liderar equipes, eles nunca se preocupam com os interesses e objetivos da empresa, dos colegas de trabalho ou dos acionistas. Eles só pensam nos próprios interesses. E são desonestos. Por conta da falta de compaixão por suas vítimas, eles são capazes de grandes mentiras, traições e roubos. São pessoas que gostam de emoção e, por isso, estão sempre jogando. Tudo é um jogo em suas vidas, inclusive os negócios. (BABIAK, 2011).

A contratação de um psicopata pode ser temerária:

Eles podem colocar os negócios da empresa em risco. Os psicopatas mentem sobre muitas coisas, inclusive sua formação e experiência profissional. São capazes de convencer os chefes de que são talentosos e que terão uma atitude positiva em relação aos companheiros de trabalho e aos objetivos da empresa, quando na verdade eles agem contra isso. Essa

fachada é usada pelos psicopatas para conseguirem se posicionar cada vez melhor na empresa, conquistar poder e autoridade, e depois abusar disso. (BABIAK, 2011).

Como consequência a mobilização coletiva é neutralizada, o comportamento torna-se individualizado, o trabalho é intensificado, o coletivo fragilizado e o silêncio generalizado. Dessa forma abordaremos no próximo tópico o perigo do silêncio.

No documento O perigo do silêncio (páginas 62-65)

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