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Personalidade normal e patológica

No documento O perigo do silêncio (páginas 38-42)

2.3 CRIMINOLOGIA

3.2.1 Personalidade normal e patológica

Antes de adentrarmos em transtornos da personalidade, é necessário verificarmos o que é normal e o que é patológico, e nos dizeres de J.Alves Garcia:

“para os filósofos, normal é o que é como deve ser, é o bom, o justo”; Lecrére assevera o normal como “o homem ideal possível. É normal tudo o que esteja conforme a uma regra”. Regra esta a do viver em harmonia, em paz com os seus e obedecendo a essas regras “o homem que respeita as normas e padrões sociais é normal.” (GARCIA; LECRÉRE apud FARIAS JÚNIOR, 2006, p. 65):

Dessa forma, verifica-se ainda que:

Se a “normalidade” se refere a uma percentagem majoritária de comportamentos ou pontos e de vista, azar daqueles que ficam na minoria. Se, por outro lado, a “normalidade” torna-se função de um ideal coletivo, muito se conhecem os riscos corridos, mesmo pelas maiorias, desde que se encontrem reduzidas ao silêncio por aqueles que se crêem ou se adjudicam a vocação de defender o dito ideal pela força; entendem limitar o desenvolvimento afetivo dos outros depois de se haverem também visto, eles mesmos, acidentalmente bloqueados e depois elaborado secundariamente sutis justificações defensivas. De fato a normalidade é mais comumente encarada em relação aos outros, ao ideal ou à regra. (BERGERET, 1998, p. 23)

A maioria dos estudiosos prefere a pesquisa da conduta patológica à normalidade, por serem as ações do indivíduo condicionadas pelas hostilidades e desafios, determinando assim suas predisposições de maneira mais ou menos profunda dependendo da intensidade dos atos vivenciados, o que não significa a indicação de qualquer anomalia psicótica ou neurótica. (VIEIRA, 1997, p. 132):

O verdadeiro “sadio” não é simplesmente alguém que se declare como tal, nem sobretudo um doente que se ignora, mas um sujeito que conserve em si tantas fixações conflituais como tantas outras pessoas, que não tenha encontrado em seu caminho dificuldades internas ou externas superiores a seu equipamento afetivo hereditário ou adquirido, às suas faculdade pessoais defensivas ou adaptativas e que se permita um jogo suficientemente flexível de suas necessidades pulsionais, de seus processos primário e secundário nos planos tanto pessoal quanto social, tendo em justa conta a realidade e reservando-se o direito de comportar-se de modo aparentemente aberrante em circunstancias excepcionais “anormais”. (BERGERET, 1998, p. 25).

A Psicologia criminal procura demonstrar que a grande maioria dos criminosos é portador de um problema, que poderá ser testado em eletroencefalogramas. São indivíduos virtualmente irritados e violentos, aplacáveis com simples tranquilizantes. Além do mais, há os problemas glandulares, dos mais variados efeitos sobre o comportamento humano. (FERREIRA, 1986, p. 58):

A patologia existiria desde que o indivíduo saísse do contexto de submissão ao meio correspondente à “inserção” reservada unicamente a este círculo. J. Boutonier (1945) mostrou a passagem da angustia à liberdade no indivíduo que se tornou “normal”, ao passo que a maturação afetiva, fundamento de toda “normalidade” autentica, é definida por D. Anzieu (1959) como uma atitude sem ansiedade diante do inconsciente, tanto no trabalho quanto no lazer, uma aptidão à enfrentar as inevitáveis manifestações desde inconsciente em todas as circunstancias nas quais a vida pode colocar o indivíduo. R. Diatkine (1967) propôs um marco de anormalidade no fato de o paciente “ não se sentir bem” ou “não ser feliz” e insiste, de outra parte, na importância dos fatores dinâmicos e econômicos internos no decorrer do desenvolvimento da criança nas possibilidades de adaptação e recuperação, na tendência à limitação ou extensão da atividade mental e nas dificuldades encontradas na elaboração dos fantasmas edipianos. R. Diatkine alerta-nos contra a tão frequente confusão entre os diagnósticos de estrutura mental e de normalidade psicopatológica. (BERGERET, 1998, p. 28).

A normalidade foi definida por Freud a partir do modo pelo qual se estabelecem os aspectos dinâmicos e tópicos da personalidade e a maneira como são resolvidos os “conflitos pulsionais”. Reportando-se às obras de Carl Spitteler e de W. Goethe, C.G.Jung que apresentadas as “faces complementares dos personagens míticos Prometeu (aquele que pensa antes) e Epimeteu (aquele que pensa depois), ou seja, introvertido e extrovertido”, em que dizia que a “normalidade” estaria ligada à união destas duas atitudes, comparando “à concepção bramânica do símbolo de união”; o autor ainda “compara as noções de adaptação (submeter-se ao meio), inserção (ligada unicamente à noção de meio) e ‘normalidade’, que corresponderia a uma inserção sem fricções[...]”. (BERGERET, 1998, p. 28):

Consoante verificamos pela Psicologia profunda, o normal penetra no anormal e o anormal pode ser entendido, e indivíduos que poderão ser quase que por acidente e encontram-se em estado intermediário e há outros potencialmente criminosos grade escala, em termos do que é normal. Entre o normal e o patológico há apenas diferença de grau. Não se pode confundir, entretanto o acidental com o intencional. Há doentes em potencia e doentes em ato, ou seja, há indivíduos potencialmente criminosos e indivíduos que poderão ser quase que por acidente e se acham no estado intermediário.e outros já em ato, ou seja, patologicamente criminosos. (VIEIRA, 1997, p. 77)

Comportamentos raros nem por isso são anormais. Anteriormente a Freud, os indivíduos eram divididos em duas categorias, quais sejam: normais e doentes mentais, que eram subdivididos em neuróticos e psicóticos; no entanto Freud revela através de seus trabalhos “que não existia qualquer solução de continuidade entre certos funcionamentos mentais tidos como normais e o funcionamento mental tido como neurótico [declarando ainda que] o que distingue o

normal ou o patológico situa-se no desaparecimento ou não do complexo de Édipo” revelando a impossibilidade de se estabelecer cientificamente uma “demarcação entre os estados normais e anormais.” (BERGERET, 1998, p. 31):

A noção de “normalidade” estaria assim, reservada a um estado de adequação funcional feliz, unicamente no seio de uma estrutura fixa, seja esta neurótica ou psicótica, sendo que a patológica corresponderia a uma ruptura do equilíbrio dentro de uma mesma linhagem estrutural. (BERGERET, 1998, p. 31). A “normalidade” não é, em suma, inquietar-se acima de tudo com o “como fazem os outros?”, mas simplesmente buscar, ao longo de toda a existência, sem demasiada angustia ou vergonha, o modo melhor de arranjar-se com os conflitos dos outros e os próprios conflitos pessoais, sem contudo alienar seu potencial criador ou suas necessidades íntimas. (BERGERET, 1998, p. 37).

O indivíduo por vezes pode parecer mais como seguidor de um padrão do que realmente normal, sendo assim “as personalidades pseudonormais não se encontram tão bem estruturadas no sentido neurótico ou psicótico”; embora se apresentem de forma durável são precárias e “ segundo arranjos diversos nem tão originais que forçam esses sujeitos a fazerem-se de gente normal, muitas vezes até mais hipernormal do que original, para não descompensar na depressão.” (BERGERET, 1998, p. 33):

Anormalidade é então o desvio dos padrões de comportamento socialmente aceitáveis. Ela é caracterizada pela ineficiência do desempenho das funções biopsicológicas e da interação social, mas é preciso que essa ineficiência seja persistente e o comportamento seja inerente a todas as pessoas. Devendo ser avaliada, pela frequência das ocorrências anormais, pelas características dos indivíduos e pela aferição das características através de teste e exames psicológicos. (FARIAS JÚNIOR, 2006, p. 291).

O transtorno mental impossibilita o indivíduo a atuar dentro de padrões de normalidade, aceitos como tais em seu ambiente isso se torna perceptível para os demais. Destaque-se que “normalidade e anormalidade existem em um continuum [...]. A primeira vista, pessoas com distúrbios psicológicos são geralmente indistintas daquelas que não os têm.” (FIORELLI; MANGINI, 2012, p. 93-94).

Entende-se como indivíduo mentalmente saudável aquele que compreende sua imperfeição, que não pode ser essencial para todos, vivencia muitas emoções; enfrenta desafios e oscilações na vida cotidiana, procura ajuda para superar seus traumas e transições importantes. (FIORELLI; MANGINI, 2012, p. 104):

Efetivamente, “delimitar os conceitos de saúde e doença mental não é tarefa fácil, como também definir a noção de saúde e de normalidade mental [...] as fronteiras são, em boa medida, relativas, circunstanciais e mutantes”, assinalam Gomes e Molina (1997, p.226). Por isso, o diagnóstico por profissionais especializados é indispensável. As características dos transtornos, orgânicos ou mentais, transformam-se com o passar do tempo. Novos são identificados, alguns acentuam-se, enquanto outros apresentam redução. Por exemplo, registra-se perceptível aumento de transtornos associados a estresse. O mesmo acontece com os resultados dos diagnósticos, explica Thomas Szasz (1996, p.12), professor emérito de Psiquiatria na State University of New York: pelo fato de serem “interpretações sociais, eles variam de tempo em tempo e de cultura a cultura”. (FIORELLI; MANGINI, 2012, p. 95).

Nos dizeres de Basileu Garcia “a Psicologia Criminal marca os necessários rumos à avaliação da periculosidade e como as causas criminais residem, grande número de vezes, em transtornos mentais, transitórios ou permanentes[...].” (GARCIA apud FARIAS JÚNIOR, 2006, p. 68).

Desta forma verifica-se que a psicologia criminal é de suma importância para definir as características dos transtornos da personalidade auxiliando na identificação dos psicopatas como sujeitos ativos da criminalidade.

No documento O perigo do silêncio (páginas 38-42)

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