• Nenhum resultado encontrado

Transtornos da Personalidade

No documento O perigo do silêncio (páginas 42-48)

2.3 CRIMINOLOGIA

3.2.2 Transtornos da Personalidade

Desde Philippi Pinel, fundador da psiquiatria, e de seu discípulo Jean- Étienne Esquirol vem-se tentando classificar as diversas formas de abordagem aos Transtornos mentais. (ALMEIDA, 2008).

Os Transtornos de personalidade “são padrões de comportamento profundamente arraigados e permanentes, manifestando-se como respostas inflexíveis”, visivelmente excessivas que comprometem situações pessoais e sociais, podendo vir acompanhadas de sofrimento subjetivo, sem estarem associadas a qualquer tipo de transtorno mental. “A palavra chave é o comprometimento.” (KAPLAN; SADOCK, 1993, p. 196 apud FIORELLI; MANGINI, 2002, p.105).

Na situação de transtorno, uma ou mais características de personalidade predominam ostensivamente; a pessoa perde a capacidade de adaptação exigida pelas circunstancias do trabalho e da vida social, independentemente da situação vivenciada. Em outras palavras ocorre perda da flexibilidade situacional. (FIORELLI; MANGINI, 2012, p. 105).

Existem duas entidades responsáveis pela classificação dos distúrbios da personalidade: o Manual de Diagnóstico e Estatística das Doenças Mentais2 da Associação Norte Americana de Psiquiatria, DSM V, que está em sua 5ª (quinta) versão, e a Organização Mundial da Saúde (OMS) com o Código Internacional de Doenças – CID, mais usado no Brasil. O CID 10, está em sua 10ª (décima) edição, e é utilizado para padronizar e catalogar as doenças e problemas relacionados à saúde, tendo como referência a Nomenclatura Internacional de Doenças, estabelecida pela Organização Mundial de Saúde. (SAÚDE, 2008).

De acordo com a Classificação Internacional de Doenças apresentam-se os seguintes transtornos de personalidade:

1) paranóide: o indivíduo desconfiado, que sempre interpreta de maneira errônea ou distorcida as ações das outras pessoas, seu comportamento é generalizado, rancoroso, não perdoa injúrias ou ofensas, busca reparações e toma medidas de segurança inoportunas e ofensivas;

2) dependente: incapaz de decidir sozinho, alvo fácil de pessoas inescrupulosas. “É o apostolo preferencial do fanático; o liderado de eleição do antissocial.”

3) esquizóide: isola-se em atividades solitárias e introspectivas; não se manifesta afetivamente tampouco retribui cumprimentos. “Terá dificuldade para encontrar quem se disponha a testemunhar em seu favor, e também, não terá disposição para fazê-lo. Seu comportamento apresentará tendência a um contato frio e distante com os demais”;

4) de evitação: seu isolamento não é proposital, portanto, sofre, por não saber como obter contato afetivo, esse retraimento “vem acompanhado pelo medo de críticas, rejeição ou desaprovação”;

5) emocionalmente instável: [...]“oscila entre o melhor e o pior do mundo; sede a impulsos e prejudica-se; seus relacionamentos podem ser intensos, porém instáveis.” Envolve-se em agressões é violentamente impulsivo; 6) histriônica: “manifesta-se no uso da sedução, na busca de atenção excessiva, na expressão das emoções de modo exagerado e inadequado.” Sente-se desconfortável quando não é o centro das atenções, tem acessos de raiva, comumente tem transtornos de ansiedade, quadros de depressão e inclinação ao suicídio [...]“além de alcoolismo e abuso de outras substâncias psicoativas.” (FIORELLI; MANGINI, 2012, p. 105).

Dessa forma observa-se que:

Os transtornos da personalidade e do comportamento adulto, F60-F69, compreende diversos estados e tipos de comportamento clinicamente significativos que tendem a persistir e são a expressão característica da maneira de viver do indivíduo e de seu modo de estabelecer relações consigo próprio e com os outros. Alguns destes estados e tipos de comportamento aparecem precocemente durante o desenvolvimento individual sob a influência conjunta de fatores constitucionais e sociais, enquanto outros são adquiridos mais tardiamente durante a vida. Os transtornos específicos da personalidade (F60.-), os transtornos mistos e

outros transtornos da personalidade (F61.-), e as modificações duradouras da personalidade (F62.-), representam modalidades de comportamento profundamente enraizadas e duradouras, que se manifestam sob a forma de reações inflexíveis a situações pessoais e sociais de natureza muito variada. Eles representam desvios extremos ou significativos das percepções, dos pensamentos, das sensações e particularmente das relações com os outros em relação àquelas de um indivíduo médio de uma dada cultura. Tais tipos de comportamento são geralmente estáveis e englobam múltiplos domínios do comportamento e do funcionamento psicológico. Frequentemente estão associados a sofrimento subjetivo e a comprometimento de intensidade variável do desempenho social. (SAÚDE, 2008).

Os transtornos da personalidade ficam assim especificados na literatura clínica conforme o Código Internacional de Doenças. (SAÚDE, 2008):

F60 Transtornos específicos da personalidade F60.0 Personalidade paranóica

F60.1 Personalidade esquizóide F60.2 Personalidade dissocial

F60.3 Transtorno de personalidade com instabilidade emocional F60.4 Personalidade histriônica

F60.5 Personalidade anancástica F60.6 Personalidade ansiosa (esquiva) F60.7 Personalidade dependente

F60.8 Outros transtornos específicos da personalidade F60.9 Transtorno não especificado da personalidade

Na abordagem realizada por Flamínio Fávero, os distúrbios psíquicos classificam-se em: “a) doenças mentais ou psicoses; b) insuficiências mentais ou oligofrenias; c) personalidades psicopáticas e neuroses.” As psicoses são “tradicionalmente classificadas em dois grupos: a psicose orgânica e a psicose funcional.” (FERNANDES, 1998, p. 119):

Clinard entende que a psicose orgânica é doença originária de algum germe patógeno, de alguma lesão no cérebro ou, então, de desordem fisiológica, tudo sem conotação hereditária [...]. A psicose. funcional é distúrbio total da personalidade, é desordem mental, quando o psiquismo em sua estrutura global, no seu todo, fica temporariamente ou permanentemente danificado. (FERNANDES, 1998, p. 119).

Como exemplo de psicose orgânica tem-se a demência, a psicose alcoólica, a arteriosclerose cerebral etc., e são exemplos de psicose funcional a esquizofrenia, em que ocorre a cisão da mente, o autismo, a ambivalência afetiva etc. No entanto José Antonio de Mello classifica as psicoses em: “esquizofrenias; parafrenias ou paranóias; psicoses maníaco-depressivas; epilepsias; oligofrenias; personalidades psicopáticas; sífilis cerebral e paralisia geral progressiva; psicoses

senis; psicoses alcoólicas e por psicotrópicos.” (MELLO apud FERNANDES, 1998, p.132).

Há singulares diferenças entre as neuroses e as psicoses em que “As neuroses são distúrbios psicológicos menos severos do que as psicoses, mas suficientemente graves” ao ponto de comprometer a sociabilidade e a capacidade laboral, corriqueiramente atribuem-se “a conflitos emocionais inconscientes” constituindo o início para análise psíquica freudiana (FERNANDES, 1998, p. 54).

Na abordagem realizada por Hélio Gomes:

as neuroses são estados mórbidos caracterizados por perturbações psíquicas e somáticas, que causam grande sofrimento íntimo, determinadas por fatores psicológicos, embora em algumas intervenham fatores orgânicos.[...] levam o indivíduo a falhar no ajustamento ao ambiente, não tendo entretanto feitio anti-social. Na realidade, as neuroses são doenças mentais da personalidade, que se destacam por conflitos intrapsíquicos que inibem os comportamentos sociais. São desacertos incompletos da personalidade que incomodam muito mais o equilíbrio interior da pessoa do que o seu relacionamento com o mundo exterior. (FERNANDES, 1998, p. 116).

Os “insanos constitucionais” são as personalidades psicopáticas ou neuróticas que cometem crimes; chamados mesoendógenos, incluindo os criminosos por tendência, assim definidos no artigo 64, § 3º do Código Penal de 1969, “como sendo aquele que por sua periculosidade, motivos determinantes e meios ou modos de execução, revelam extraordinária torpeza, perversão ou maldade.” (FARIAS JÚNIOR, 2006, p.295).

Mario Pereira da Silva revela em seu livro Medicina Legal que:

As personalidades psicopáticas não constituem uma entidade uniforme, mas delimitam-se como um grupo mórbido, algo semelhante aos das esquizofrenias. [...] o portador de personalidade psicopática não é um doente mental, mas um ser com deficiência nativa e permanente para viver e comportar-se de modo satisfatório como o comum das pessoas. (SILVA apud FARIAS JÚNIOR, 2006, p. 297).

Aqueles que são levados à prática delituosa em consequência de doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado são chamados Patoendógenos. (FARIAS JÚNIOR, 2006):

Incluem-se nesse tipo os criminosos portadores de demência senil ou pré- senil; psicoses associadas com infecção intracraniana ou com afecções cerebrais; psicoses associadas com afecções somáticas; esquizofrenias em

qualquer de suas formas; simples, hebefrênica, catatônica e paranóide; psicoses afetivas, ciclotímicas, circulares ou outras do tipo maníaco, do tipo depressivo ou do tipo maníaco-depressivo; epilepsia, paranoia, parafrenia; psicoses tóxicas; oligofrenias em todos os seus estágios alem das psicoses tóxicas. Alguns autores chamam de síndromes orgânico-cerebrais a todas essas doenças ou perturbações mentais. (FARIAS JÚNIOR, 2006, p. 304).

Frank Costin em seu livro Psicologia do Anormal definiu essas síndromes como “desordens causadas por, ou associadas à diminuição das funções cerebrais”. Classificando-as em dois grandes grupos: Psicóticas e não Psicóticas, de acordo com a patologia física dominante com a qual estão associadas, onde a diferença entre ambas reside “na gravidade dos sintomas incluindo a extensão de perda de contato com a realidade que os pacientes revelam.”.(COSTIN apud FARIAS JUNIOR, 2006, p. 304-305):

Essas condições patológicas incluem doenças de sensibilidade cerebral, que envolve uma atrofia do tecido cerebral; arteriosclerose cerebral (endurecimento das artérias do cérebro); intoxicação alcoólica e outras drogas, ou intoxicação com veneno, neoplasma intercraniano (um novo crescimento, ou tumor no cérebro); infecção intercraniana; trauma físico, como por exemplo, ferimento na cabeça ou cirurgia cerebral; e doenças sistêmica gerais que podem afetar as funções cerebrais, tais como desordens endócrinas ou nutritivas, e graves infecções sistêmicas (por exemplo: pneumonia, febre tifoide, malaria e febre reumática).” (FARIAS JÚNIOR, 2006, p. 305).

Transtorno de personalidade antissocial, também denominado psicopatia, sociopatia, transtorno de caráter, sociopático, dissocial; a ciência não chegou a conclusões definitivas a respeito de suas origens, desenvolvimento e tratamento (FIORELLI; MANGINI, 2012, p. 106).

Dentre os transtornos abordados, a verificação do presente trabalho utilizará como conceito para análise o F 60.2, Personalidade dissocial, como transtorno de personalidade que caracteriza-se por total desprezo e desvio às obrigações sociais e completa falta de empatia. Tal comportamento não modifica-se com punições ou experiências adquiridas, tem tendência a culpar os outros por seus próprios erros, intolerância a frustrações e alguma descarga de agressividade, entrando em conflito com a sociedade. É amoral, antissocial, associal, psicopática, sociopática, excluindo transtorno de conduta e personalidade do tipo instabilidade emocional (SAÚDE, 2008).

Dessa forma, faz-se necessária uma maior explanação à personalidade psicopática com ênfase ao ambiente laboral, objeto do presente estudo, que será realizada no próximo capítulo.

4 PERFIL CRIMINOLÓGICO DO PSICOPATA LABORAL

Neste capítulo serão abordadas as formas utilizadas pelo psicopata em seu local trabalho para empreender seus objetivos e as consequências experimentadas por suas vítimas, assim verificaremos as características da psicopatia em consonância às atitudes empregadas pelo assediador moral em seu local de trabalho.

Embora sejam encontrados mais comumente nas prisões e manicômios judiciários, na verdade eles estão por toda parte; as empresas públicas ou privadas são locais férteis para exercerem sua perversão no papel de liderança em cargos de diretoria, gerência, supervisão, pois além do excelente salário, proporcionam status social e poder de atuação e influência (SILVA, 2010).

No documento O perigo do silêncio (páginas 42-48)

Documentos relacionados