• Nenhum resultado encontrado

O perigo do silêncio

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O perigo do silêncio"

Copied!
74
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PATRÍCIA SOARES MARTINS DE OLIVEIRA

O PERIGO DO SILÊNCIO:

O PERFIL CRIMINOLÓGICO DO PSICOPATA LABORAL

Palhoça 2013

(2)

PATRÍCIA SOARES MARTINS DE OLIVEIRA

O PERIGO DO SILÊNCIO:

O PERFIL CRIMINOLÓGICO DO PSICOPATA LABORAL

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientadora: Profª. Andréia Catine Cosme, MSc.

Palhoça 2013

(3)
(4)

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

O PERIGO DO SILÊNCIO:

O PERFIL CRIMINOLÓGICO DO PSICOPATA LABORAL

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Sul de Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo acerca desta monografia.

Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico.

Palhoça, 6 de novembro de 2013.

(5)

Dedico este trabalho às mulheres e homens vítimas da psicopatia laboral que atinge de forma vertente o íntimo do ser humano, no intuito único e exclusivo de desestabiliza-los, mergulhando-os num mar de angústias incessantes.

(6)

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Maria Venância de Faria Martins, a Dorvalina Maria Soares e João Pedro Martins, avós amorosos que conduziram à firmeza do meu caráter.

Agradeço a Dalva Soares Martins e Francisco de Assis Martins, pais presentes e confidentes, que proporcionaram a segurança de minhas convicções.

Agradeço ao Pedro Manoel de Oliveira, excelentíssimo marido, âncora em meus devaneios mantendo-me segura em seu porto.

Agradeço aos meus filhos, Mateus e Lucas, com quem desvendo dia a dia o mistério da maternidade.

Muito obrigada aos meus mestres, àqueles que me impulsionaram desde a mais tenra idade até este momento, sei que sem sua orientação e incentivo não teria chego até aqui.

Aos colegas, muitos dos quais sei que serão amigos eternos pelo muito que foi compartilhado, em especial Dr. Valmir Guimarães Bittencourt.

Enfim, agradeço a Deus, origem da minha essência, pela benção de ter me proporcionado um espírito desejoso de conhecimento e justiça; e colocado em minha vida um ponto de apoio primordial para concretização deste trabalho, minha orientadora Andréia.

(7)

RESUMO

Não é de hoje que a violência dissemina famílias inteiras sem que consigam alcançar a justiça que tanto almejam. No entanto, muito além da violência das ruas, vivemos a violência velada no cotidiano de nosso ambiente de trabalho. Cada vez mais, vítimas assediadas moralmente no ambiente em que passam a maior parte de seu tempo em detrimento do convívio familiar acabam por abarrotar os pedidos médico de afastamento por doenças ocasionadas pelo trabalho. Os números de vítimas acumulam-se também nos fóruns com pedidos de indenização por danos morais. É necessário que os sindicatos sejam atuantes. Objetivando identificar o assediador como um psicopata que age no ambiente corporativo, utiliza-se o método dedutivo, e a partir da conceituação da psicopatia verifica-se a identificação do perfil criminológico do psicopata laboral, pela comunicabilidade da ausência de empatia e o descaso com o sofrimento alheio, assim ocasionado pelos Psicopatas. Há necessidade de que seja verificada uma forma finalista de obstar a dor vivenciada diuturnamente e que não cessa quando estas pessoas se afastam, seja por curto período seja definitivamente, do ambiente laboral. O assediador segue imune a todo tormento que ocasiona e as vítimas, fragilizadas, se calam, por medo, por covardia, não testemunham, silenciam. Dessa forma faz-se necessário o presente trabalho no intuito de verificarmos a relação existente entre a conduta empregada no ambiente laboral pelo assediador e a forma desenvolvida pelo psicopata no emprego do crime cometido. Verificada a personalidade psicopática, os métodos empregados na prática do Assédio Moral, pode-se traçar um perfil criminológico, ao ponto de possibilitar a identificação do Psicopata laboral, evitando assim maiores danos às vítimas.

(8)

LISTA DE SIGLAS

PCL-R – Psychopathy Checklist Revised - Critérios para Pontuação de Psicopatia Revisados

(9)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 10

2 AS ESCOLAS PENAIS ... 12

2.1AESCOLACLÁSSICA ... 12

2.2AESCOLAPOSITIVA ... 14

2.2.1 Fase Antropológica de Lombroso ... 14

2.2.2 Fase Sociológica de Ferri ... 15

2.2.3 Fase Jurídica de Garofalo ... 17

2.3CRIMINOLOGIA ... 19 2.3.1 Conceito ... 19 2.3.1.1 O Crime ... 20 2.3.1.2 O Criminoso ... 22 2.3.1.3 A Vítima ... 23 2.3.1.4 O Controle social ... 25 3 PSICOLOGIA CRIMINAL ... 27 3.1CONCEITO ... 27 3.1.1 Psicanálise Criminal ... 27 3.1.2 Behaviorismo ... 30 3.1.3 Humanismo ... 31 3.2 PERSONALIDADE ... 35

3.2.1 Personalidade normal e patológica ... 37

3.2.2 Transtornos da Personalidade ... 41

4 PERFIL CRIMINOLÓGICO DO PSICOPATA LABORAL ... 47

4.1PSICOPATIA ... 47

4.1.1 História do conceito ... 47

4.1.2 Anatomia cerebral ... 51

4.1.3 Elementos Caracterizadores ... 59

4.2OASSÉDIOCOMOCARACTERÍSTICADOPSICOPATA ... 61

4.2.1 Assédio moral no trabalho ... 61

(10)

5 CONCLUSÃO ... 68 REFERÊNCIAS ... 70

(11)

1 INTRODUÇÃO

Nos dias atuais, não podemos mais corroborar com a afirmação de que o Assédio Moral seja pouco divulgado, pois infelizmente tornou-se parte integrante de nossas preocupações sociais. Embora ainda existam pessoas assediadas que sofram em silêncio, aos poucos novas vítimas adquirem esperança e ousadia na denúncia das práticas abusivas, caracterizadoras do Assédio Moral no ambiente de trabalho.

A justiça trabalhista, num esforço louvável, vem aprimorando seu mecanismo na seguridade ao trabalhador quanto à respeitabilidade de que tem direito, assegurando um fim real à jornada de humilhações. Dessa forma utilizando o método dedutivo, a partir da conceituação da psicopatia procura-se identificar as características do perfil criminológico do psicopata laboral.

Profissionais habilitados tornam possível a identificação das práticas abusivas, veladas, mas que acabam por incutir o medo e o terror psicológico transformando e degradando a vida de tantas pessoas, ao ponto de levá-las ao suicídio. Sendo assim, o despertar de várias Associações, ONGs, psicólogos, psiquiatras, parlamentares, nosso Ministério Público, o Judiciário, enfim, profissionais habilitados mobilizam-se no intuito de prestar auxílio às vítimas, seja para impedir a ocorrência, seja para instar sua progressão ou ainda para responsabilizar o assediador. Destacando assim o campo da criminologia nas diversas abordagens em sua multidisciplinaridade.

A composição do presente trabalho monográfico é realizada por meio de pesquisas bibliográficas, utilização de livros, periódicos, artigos científicos, sites oficiais como base ao desenvolvimento dos seus três capítulos teóricos. Iniciando pelas premissas históricas sobre as duas primeiras Escolas Penais, num estudo da Criminologia como ciência determinante para entendimento do processo crime, criminoso, vítima, controle social, com a verificação dos ícones da Escola Positiva, Lombroso, Ferri e Garofalo, sua conceituação, caracterização e métodos utilizados.

Posteriormente, apresenta-se a formulação da Psicologia Criminal, com a Psicanálise, no estudo do comportamento criminoso para entendimento da Personalidade normal e patológica e seus transtornos, que trabalham em conjunto com a Criminologia.

(12)

Por fim, no terceiro e último capítulo ocorre a verificação do Perfil Criminológico do Psicopata Laboral e seus métodos para o constrangimento reiterado caracterizador do Assédio Moral, corroborado com o silêncio da vítima e de seus pares, colegas de trabalho, ocasionando o suicídio como medida terminal para livrar-se da angústia vivenciada.

A presente pesquisa demonstra fundamental importância tanto para o meio acadêmico como para a sociedade em geral, em atenção à crescente demanda de casos apontados diuturnamente em diversos veículos de comunicação. Havendo nos dias atuais ferramentas para análise do nexo causal das enfermidades advindas do meio laboral, parece necessário começarmos a prevenir a enfermidade antes que elas ocorram.

Apesar da complexidade do tema abordado, o objetivo do trabalho foi uma reflexão a partir do campo da Criminologia, sobre a relevância da denúncia e conscientização do trabalhador como testemunha atuante no processo de prova da humilhação advinda do Assédio Moral. Condicionando-o à reflexão de que a falta de colaboração acaba por tornar seus espectadores coautores de, pelo menos, um induzimento ao suicídio. Utilizando-se dos estudos amparados pela Psicologia Criminal para entender o tipo de comportamento criminoso empregado pelo Psicopata no ambiente de trabalho.

Acreditamos, numa tentativa de assegurar às vítimas dessa prática abusiva, o direito a indenização e o amparo para restituição de sua auto estima, bem como buscar possibilidades, além da repressão, de prevenção para obstar a continuidade dessa prática delituosa por meio da conscientização na seguridade da dignidade do trabalhador.

(13)

2 AS ESCOLAS PENAIS

O Direito Penal nasce com a sociedade. Originalmente a pena é extremamente cruel, sacrificante, desumana. Diante de tanta barbárie, estudiosos dão origem a uma nova perspectiva do crime e das penas com as duas primeiras escolas de Direito Penal. Posteriormente com o nascimento da Criminologia, os estudos do Crime e do Criminoso tomam novo enfoque, alargando-se para o estudo da vítima e o controle social como condicionantes para o fato delituoso. Serão estes os temas abordados neste capítulo.

2.1 A ESCOLA CLÁSSICA

Remonta sua origem na vingança e na retribuição do mal pelo mal, a Lei de Talião, na vingança divina, pública, coletiva; nas penas impostas aos Cristãos, no livre arbitrísmo, em que o delito se confundia com o pecado; no despotismo do Santo Ofício da Inquisição, “onde aqueles que não confessassem a fé católica eram colocados em prisões subterrâneas chamadas Penitenciários; no Ciclo do Terror; na revolução Francesa e na Pena de Prisão.” (FARIAS JÚNIOR, 2006, p. 25).

Inicialmente, “Platão e Aristóteles aventaram as primeiras idéias a respeito da ação do meio sobre o caráter do homem. Em sua ‘Retórica’ escreveu Aristóteles: ‘O julgamento e o castigo são remédios.’” (VIEIRA, 1997, p.21).

A Escola Clássica contou com pensadores como: Diderot, Rousseau, Voltaire, Liquet, John Howard, que se dedicaram aos estudos do crime e das penas, mas foi Cesare Bonesana - o marques de Beccaria, com seu livro: Dos Delitos e das Penas, símbolo de um apelo favorável à justiça e contra os métodos cruéis de punição existentes à época, o grande precursor das pesquisas criminológicas. (VIEIRA, 1997, p.21).

Como reação ao absolutismo do Estado, nasce a Escola Clássica. (GOMES; MOLINA; BIANCHINI, 2007).

Com seu surgimento, a concepção de criminoso reside no entendimento de que é necessário que o indivíduo “tenha responsabilidade moral e livre arbítrio” para que seja considerado criminoso; o fundamento do direito de punir é colocado nos limites da necessidade da defesa. (VIEIRA, 1997, p. 26):

(14)

Só se pode imputar delito a alguém, quando dotado de livre-arbítrio, quando possua a liberdade de optar entre os motivos. Para isso deve ser psiquicamente desenvolvido e mentalmente são. Assim, a Escola Clássica admite graus de responsabilidade, que é proporcionada à intensidade do livre-arbítrio. Quanto mais perfeito o livre-arbítrio, mais completa é a responsabilidade do agente, o qual, em consequência, deve sofrer maior pena. (VIEIRA, 1997, p. 29).

São expoentes desta Escola vários estudiosos como: Pellegrino Rossi ( 1768-1847), Giovanni Carmignani (1768-1847), o alemão Paulo Anselm Ritter Von Feuerbach (1775-1833) e a maior representação é Francesco Carrara (1805–1888), o qual declarava que, “no livre arbítrio está o fundamento da imputabilidade moral, que é, por sua vez, o fundamento da responsabilidade penal.” (VIEIRA, 1997, p. 29).

Entendiam que, sendo o indivíduo detentor do livre arbítrio, ao optar deliberadamente pelo mal, era um pecador e ao desrespeitar a lei quebrava o pacto e se tornava um criminoso que, deveria ser punido na mesma proporção do mal causado. (SHECAIRA, 2004):

Querem os Clássicos que a explicação dos delitos esteja na vontade livre e inteligente dos homens, porque eles têm liberdade moral. [...] são todos sensivelmente iguais. Não admitia que um homem pudesse nascer voltado para o crime, [...] sua preocupação com o criminoso é acidental, secundária. (VIEIRA, 1997, p. 26-27).

Dessa forma, o delito só poderia ser imputado a alguém mentalmente são; capaz de exercer o livre arbítrio optando entre o bem e o mal, “o enfermo mental era tão irresponsável pelo delito como quem não o tivesse praticado. Poderia ser comparado a uma pedra, que, caindo, ocasionasse a morte de alguém.” (VIEIRA, 1997, p. 29):

Os clássicos não emprestam importância aos fatores biológicos, físicos,[...]e sociais, como, por exemplo, o ambiente, as estações, a temperatura, as condições atmosféricas, o clima, a topografia do solo, a produção agrícola – e, já no âmbito social -, ainda, a família, a religião, a densidade da população, a educação, o alcoolismo, as drogas, a organização político-econômica, a legislação vigorante, a pobreza, a miséria, o meio em que vive o delinquente. Do ponto de vista filosófico, a Escola Clássica defende a primazia do livre-arbítrio [...]. (VIEIRA, 1997, p. 27).

Contrapondo as idéias defendidas pela Escola Clássica, que tem seu foco no Crime, surge a Escola Positiva, preocupada e voltada ao estudo do Criminoso,

(15)

caracteriza-se por obras de imponentes pensadores como: Lombroso, Ferri e Garofalo.

2.2 A ESCOLA POSITIVA

Primordial e determinista com relação ao criminoso, a Escola Positiva tem correspondência na França, pela Escola de Lyon e na Alemanha, pela Escola Moderna, e recusa-se a aceitar a “liberdade das ações humanas.” (VIEIRA, 1997, p. 29).

Os estudos científicos realizados anteriormente, corroborados com a divulgação das idéias de Charles Darwin sobre a teoria da seleção natural, enfraquecem a tese do livre arbítrio defendida pela Escola Clássica e acabam fortalecendo o início da transição para a Escola Positiva, que defendia a conduta do criminoso relacionada a sua carga genética.

Dessa forma a Escola Positiva assevera que:

Para os pensadores da Escola Positiva, a vontade humana não é a causa dos nossos atos: não significa mais que a consciência deles, coincide com a sua percepção, antes de se realizarem, como consequência do processo natural de transformação das forças físicas e físico-psicológicas. Sua tese baseia-se em duas leis científicas: a da transformação das forças e a da causalidade natural. (VIEIRA, 1997, p. 28).

Poderíamos destacar três Fases neste período:

2.2.1 Fase Antropológica de Lombroso

Introduzida pela obra, O Homem Delinquente, do médico legista César Lombroso, que formula a teoria do criminoso nato após proceder à análise de 4.222 crânios, em que define os traços violentos, “referindo-se aos nascidos para matar”, teoria explicável pelo atavinismo, em que o criminoso seria atavicamente delinquente, por hereditariedade. (POSTERLI, 2001, p. 13).

Detêm-se o entendimento que:

CESARE LOMBROSO não recorreu apenas ao atavinismo. Ao prosseguir em suas investigações, concluiu, ao examinar outro criminoso, o conhecido Salvador Misdea, que apresentava a particularidade de uma epilepsia caracterizada. Isso fez com que CESARE LOMBROSO, médico de Turim,

(16)

colocasse ao lado da teoria atávica um novo componente de atividade criminal, não apenas morfológico, mas funcional e mental, que seria a epilepsia. Bem anteriormente, criou-se, como substrato da gênese criminosa ou criminogênese, a expressão loucura moral, ou seja, a moral insanity. Essa denominação mais que antiga, antiquada, foi dada pelo psiquiatra inglês JAMES PRICHARD (1786-1848), ao que passou a chamar personalidades psicopáticas muito posteriormente. (POSTERLI, 2001, p. 11, grifo do autor).

O fato é que independentemente do querer, não se pode negar a existência de indivíduos com tendência inata para a prática de delitos e outros com disposições para a convivência pacífica em sociedade. (FERREIRA, 1986):

De CESARE LOMBROSO (1836-1909) aos tempos mais modernos passamos para as personalidades psicopáticas, conceito este estabelecido em 1923 pelo psiquiatra alemão KURT SCHNEIDER (1888-1967), que são os psicopatas os quais tem fundamental destaque na violência urbana. (POSTERLI, 2001, p. 169). O nome e a escola de Lombroso não se distanciam muito das variantes terminológicas de hoje, em que se acrescentaram até mesmo a influência dos hormônios no determinismo criminológico, com implicações endocrinopáticas. Já se presume que o homem está bem próximo de poder controlar, por meios fisiológicos, o comportamento humano, manipulando-o a seu bel prazer, no sentido de dirigir determinados instintos agressivos[...] O mal de Lombroso foi ter focalizado de maneira excessiva e exclusiva os aspectos naturalistas da criminalidade, com seu criminoso nato e o tipo antropológico do homem delinquente.(FERREIRA, 1986, p.53).

Em seu trabalho como psiquiatra e médico legista Lombroso visualizou uma relação entre o delito e as características físicas do criminoso; considerado o fundador da Criminologia, embora ainda não tivesse empregado esse nome em suas pesquisas, teve suas idéias amparadas por seu genro Enrico Ferri, mas voltada às influências sociológicas surgindo assim a segunda Fase da Escola Positiva.

2.2.2 Fase Sociológica de Ferri

Nesta segunda fase da Escola Positiva temos a Fase Sociológica, representada por Enrico Ferri, discípulo de Lombroso que, “levantou a hipótese de que o criminoso nato ressentir-se-ia da influência de determinados fatores físico-ambientais para desenvolver sua potencialidade criminal.” Não sendo, portanto, um indivíduo igual aos demais, como afirmava a Escola Clássica, deveria ser analisado individualmente para adequação da pena a ser aplicada. (VIEIRA, 1997, p. 25):

(17)

A Sociologia Criminal nasceu com a sua obra “Nuovi orizzonti Del diritto e della procedura penale”, editada em 1884. Na 3ª edição (1891), teve o título “Sociologia Criminale”. Propôs a sua “Lei de saturação Criminal”, em que tentava uma conexão entre a Escola Clássica e a Escola Positiva, afirmando: “Da mesma forma que num determinado liquido, a uma determinada temperatura, ocorre a diluição de certa quantidade de substância, sem uma molécula a mais ou a menos, assim também em determinadas condições sociais, serão produzidos certos delitos, nem um a mais, nem um a menos.” (VIEIRA, 1997, p. 25).

Ferri defendia a teoria jurídica da responsabilidade social, não aceitando a liberdade da vontade psíquica do homem e afirmava:

[...] todos os criminosos, doentes mentais ou não, deveriam ser afastados da convivência social, não como castigo, expiação ou pena, mas com base na segurança geral da sociedade; ao invés do Código Penal, deveria haver apenas um código de defesa social, com fundamento na periculosidade do infrator. (FERNANDES, FERNANDES, 2002, p. 87).

Portanto, acreditava que “a razão e o fundamento da reação punitiva é a defesa social, que se promove mais eficazmente pela prevenção do que pela repressão aos fatos criminosos”; onde a complexidade da criminalidade decorreria de fatores antropológicos, físicos e sociais, nomeando assim uma nova classificação dos criminosos em que predominam os fatores sociais. Refuta o livre arbítrio da Escola Clássica, como base para a imputabilidade, assevera que a responsabilidade moral deve se sobrepor a responsabilidade social, por que o “livre arbítrio é uma mera ficção.” (SHECAIRA, 2004, p. 99).

Dessa forma classifica os criminosos em cinco categorias:

O nato, conforme classificação original de Lombroso, que por impulsividade ínsita fazia com que o agente passasse à ação por motivos absoltamente desproporcionados à gravidade do delito. Eram precoces e incorrigíveis, com grande tendência á recidiva.

O louco, é levado ao crime não somente pela enfermidade mental, mas também pela atrofia do senso moral, que é sempre decisiva na gênese da delinquência.

O habitual preenche um perfil urbano. É a descrição daquele nascido e crescido num ambiente de miséria moral e material começa de rapaz, com leves faltas (mendicância, furtos pequenos, etc.) até uma escala obstinada no crime. Pessoa de grave periculosidade e fraca readaptabilidade, preenche um perfil que se amolda, em grande parte, ao perfil dos criminoso mais perigosos.

O ocasional, condicionado por uma forte influencia de circunstâncias ambientais: injusta provocação, necessidades familiares ou pessoais, facilidade de execução comoção publica etc.; sem tais circunstancias não haveria atividade delituosa que impelisse o agente ao crime. ‘No delinquente ocasional é menor a periculosidade e maior a readaptabilidade social; e, porque ele, na massa dos autores de verdadeiros e próprios

(18)

crimes, representa a grande maioria, que se pode computar aproximadamente na metade do total de criminosos.’

E o passional, categoria que inclui os criminosos que praticam crimes impelidos por paixões pessoais, como também políticas e sociais. (SHECAIRA, 2004, p. 99).

O homem criminoso estaria caracterizado por uma particular insensibilidade, não só física como psíquica sendo desenvolvida na tese defendida por Rafael Garofalo na terceira Fase da Escola Positiva.

2.2.3 Fase Jurídica de Garofalo

Esta terceira Fase, a Jurídica, é então introduzida por Rafael Garofalo, também continuador das obras de Lombroso, “em razão de sua orientação naturalista e evolucionista, o ponto de partida de sua doutrina é a conceituação do que chamou de delito natural.” (FERNANDES; FERNANDES, 2002, p. 93).

Sob a teoria do delito natural, Garofalo assinala a preocupação com a exposição psicológica da ausência ou inoperância dos sentimentos como justificativa para os delitos, diferenciando os delitos legais, não relacionados a anomalias, dos delitos naturais, relacionados ao desvio de caráter. (MOLINA; GOMES, 2006).

Essa definição do delito como fenômeno natural ainda não havia sido analisada nem mesmo por Ferri ou Lombroso até então; sua definição legal era examinada mas sem conceituação adequada, assim é que Garofalo definiu esse fenômeno “natural” como: “uma lesão daquela parte do sentido moral, que consiste nos sentimentos altruístas fundamentais (piedade e probidade) [...]” conforme o padrão médio de determinado grupo social. (MOLINA; GOMES, 2006, p. 61).

Existem, portanto diferenças entre as Escolas na maneira de encarar o delinquente e quanto a sua responsabilidade:

Enquanto a Escola Clássica vê o indivíduo como sensivelmente igual aos demais, a Escola Positiva vê o “indivíduo provido de componentes pessoais peculiares que necessitam ser estudados e que constituem, às vezes, anomalias denunciadoras de forte propensão ao crime.” Já quanto a responsabilidade, enquanto a Escola Clássica baseia-se no “livre-arbítrio como uma dogma indiscutível (responsabilidade moral)”, a Escola Positiva “entende que a responsabilidade decorre da existência do homem em sociedade (responsabilidade social ou legal).” (VIEIRA, 1997 p. 29-30).

(19)

Garofalo foi o terceiro grande nome do positivismo, afirmava que o crime reside no indivíduo e, quaisquer que sejam as causas, é a revelação de uma natureza degenerada. Ao introduzir o conceito de “temibilidade” como a “perversidade constante e ativa do delinquente e a quantidade do mal previsto que se deve temer por parte do mesmo delinquente”, promove a relação temibilidade-medida de segurança, em que o tratamento do delinquente seria determinado de maneira eficaz a proteger a sociedade. A temibilidade seria então a justificativa para a imposição do tratamento. “Unificava os fins de proteção social e tratamento, alcançando a eficácia com a obstrução de novos delitos.” (SHECAIRA, 2004, p. 101):

Ainda hoje, os defensores da tese da existência e predominância do livre-arbítrio asseguram que nós temos consciência plena da liberdade dos nossos atos e tal conhecimento comprova a liberdade moral. Objetam os deterministas que o enunciado dessa afirmação é falso, por não ser certo que tenhamos sempre a consciência da nossa liberdade.[...] exemplificam afirmando que, os sonâmbulos e os hipnotizados também podem ter a enganosa “consciência”da sua liberdade. (VIEIRA, 1997, p. 27).

Garofalo asseverava que o mérito e o demérito das ações humanas continuavam a existir conforme o grau em que essas ações dependam do caráter do homem. Portanto não estão condicionadas à noção do livre arbítrio, como querem crer os clássicos, tampouco causaria dano à repressão da criminalidade, pois há qualidades e defeitos que produzem mérito ou demérito, sem que provenham da vontade. E exemplificava: “a coragem e a covardia, não dependem da vontade, entretanto uma produz mérito e a outra, demérito.” (VIEIRA, 1997).

Sendo assim, enquanto o Direito Penal se preocupa em defender a sociedade dos comportamentos típicos e desviantes, objetivando a “culpabilidade latu sensu”, a Criminologia busca o delito, “objetivando o estudo da periculosidade, tendo por meta a pesquisa teórica da etiologia do crime.” (FERNANDES; FERNANDES, 2002, p. 32).

Sob o prisma histórico foi Cesare Lombroso (1835 – 1909), iniciador do estudo da Antropologia Criminal, o fundador da Criminologia, a partir de 1875, embora ainda não tivesse empregado esse nome em suas pesquisas, cabendo a Garofalo a criação do termo em sua obra Criminologia, de 1884.

(20)

2.3 CRIMINOLOGIA

Visando estudar a razão do ato criminoso, as causas para o seu cometimento, estudiosos se preocupam em verificar no perfil criminal do delinquente as características para a sua efetividade. Neste sentido verificaremos o conceito, objeto e método da ciência criminológica como matéria interdisciplinar.

2.3.1 Conceito

Criminologia é etimologicamente derivada do latim Crimen, que significa crime e do grego Logos, que significa estudo; sendo assim, a ciência criminológica busca estudar seu agente como causador do delito, a vítima, as influências internas, fatores endógenos, e as influencias do meio, fatores exógenos, além de suas causas e consequências para o cometimento do delito, tratando o crime em sua diversidade investigativa e de forma individualizada. (POSTERLI, 2001):

Criminologia é um nome genérico designado a um grupo de temas estreitamente ligados: o estudo e a explicação da infração legal; os meios formais e informais de que a sociedade se utiliza para lidar com o crime e com atos desviantes; a natureza das posturas com que as vítimas desses crimes serão atendidas pela sociedade; e, por derradeiro, o enfoque sobre o autor desses fatos desviantes. (SHECAIRA, 2004, p.31).

Há quem afirme ter sido essa denominação, empregada primeiramente pelo antropólogo francês Topinard (1830-1911), no entanto “não há um conceito pacífico do que consiste a Criminologia. Isto se deve, em primeiro lugar, à imprecisão de seu objeto, o delito e, em segundo lugar, aos distintos enfoques com que este objeto pode ser abordado.” (MUNÕZ, 2001).1

Interessa à Criminologia [...] a imagem global do fato e de seu autor: a etiologia do fato real, sua estrutura interna e dinâmica, formas de manifestação, técnicas de prevenção e programas de intervenção junto ao infrator, a Criminologia reclama do investigador uma análise totalizadora do delito, sem mediações formais ou valorativas que relativizem ou obstaculizem seu diagnóstico. (SHECAIRA, 2004, p. 39).

Como postulação provisória, poder-se-ia dizer que é uma ciência empírica e causal-explicativa. Empírica por basear-se na experiência de observação dos

(21)

fatos, nas peculiaridades inerentes a cada indivíduo, seus fatores endógenos e exógenos e na complexidade do crime praticado; é interdisciplinar por contar com o auxílio de outras disciplinas como a Medicina legal, a Psicologia, a Sociologia, a Psiquiatria, a Psicanálise, a Ética, a Biologia, a Antropologia etc. (FARIAS JÚNIOR, 2006; SHECAIRA, 2004):

Não importa que se relacione ou se comunique com outras ciências que se preocupam também com o ser humano, o seu comportamento, o seu relacionamento no meio social, mas com relação ao comportamento criminoso, o homem criminoso em si, o seu relacionamento no meio social, a criminalidade, a insegurança que esta gera no meio social, é preocupação exclusiva da Criminologia. (FARIAS JÚNIOR, 2006, p. 23).

Importa-nos saber qual o seu objeto de estudo e suas especificações para abordagem no conhecimento do perfil criminológico do indivíduo nas relações com a sociedade e no ambiente em que vive; o necessário conhecimento dos fatores endógenos e exógenos influentes em sua conduta. Como primeiro objeto de Estudo da Criminologia trataremos sobre o crime.

2.3.1.1 O Crime

A base do pensamento criminológico possui como objeto “o delito, o delinquente, a vítima e o controle social, e se utiliza do método empírico, indutivo e interdisciplinar.” (FARIAS JÚNIOR, 2006).

Em seus fatores exógenos, o Crime é um problema social, político e econômico, pois afeta a qualidade e expectativa de vida das pessoas, demanda iniciativa política para o seu controle, além de afetar a base econômica das famílias; razões suficientes para que haja o envolvimento de toda a sociedade no seu combate:

O conjunto de crimes produzidos em um tempo e lugar determinados, chamamos de Criminalidade e, “matematizando essa ocorrência, teremos o índice de criminalidade” Fazem parte da macrocriminalidade os crimes como o terrorismo, a sabotagem, a discriminação racial, o abuso de poder, o crime de colarinho branco. O crime de colarinho branco é uma “violação da lei penal por pessoas de elevado status socioeconômico, no exercicio abusivo de uma profissão lícita” onde seu tipo fundamental é a delinquência econômica, sendo portanto um crime de improbidade administrativa. (POSTERLI, 2001, p. 25).

(22)

Conforme depreende-se dos ensinamentos de Shecaria, dentre os critérios adotados para que seja determinado o fato como delituoso, é necessário que haja a reiteração, que tenha uma incidência massiva e gere um tormento de grande persistência e relevância social, com um consenso inquestionável a respeito de sua causa. (SHECAIRA, 2004):

Não há que atribuir a condição de crime a fato isolado, ocorrido em distante local do país, ainda que tenha causado certa abjeção da comunidade. Se o fato não reitera desnecessário tê-lo como delituoso.[...] É natural que o crime produza dor, quer à vítima, quer à comunidade como um todo. [...] desarrazoado que um fato, sem qualquer relevância social, seja punido na esfera criminal.[...] Não há que ter como delituoso um fato, ainda que seja massivo e aflitivo, se ele não se distribui por nosso território, ao longo de um certo tempo.[...] que se tenha um inequívoco consenso a respeito de sua etiologia e de quais técnicas de intervenção seriam mais eficazes para o seu combate.[...] não são todos os fatos que, aflitivos e massivos, com persistência espaço-temporal, devem ser considerados crimes. (SHECAIRA, 2004, p. 44 - 46).

Cesare Bonesana, o marquês de Beccaria, autor do livro Dos delitos e das penas, empenhava-se na busca da prevenção dos delitos, por entender “[...] que o crime tem raízes profundas na natureza humana, as quais não podem ser arrancadas pelos textos da lei, já que não há providências que abstraiam do homem o seu pendor para o mal” (BECCARIA apud VIEIRA 1997) e que “pela educação, é preciso moralizar os homens.” (VIEIRA, 1997, p.21):

Beccaria sustentava que o mais relevante não é, em si, a gravidade ou o peso das penas e sim a rapidez (imediatidade) com que são aplicadas; não são tão importantes o rigor ou a severidade do castigo quanto a sua certeza ou infalibilidade: todos saibam e comprovem, inclusive o infrator potencial, que o cometimento do crime implica inevitável e pronta imposição do castigo; que a pena não é um risco futuro e incerto, mas um mal próximo e certo, inexorável, porquanto a que realmente intimida é a que se executa - e se executa prontamente, de maneira certa e implacável. A sanção em si (e não o rigor excessivo), é, pois, preventiva, útil e eficaz, mas imediata e sem os excessos em voga. (VIEIRA, 1997, p. 22).

Nesse diapasão, Beccaria ressalta que o objetivo da pena consiste em impedir que haja reincidência ou a incidência de indivíduos nas condutas delituosas. Sendo assim faz-se necessário um estudo do criminoso.

(23)

2.3.1.2 O Criminoso

Aristóteles afirmava que ‘o homem age segundo a razão e o faz finalisticamente’, Beccaria disse ao homem: ‘Conhece a justiça’ e Lombroso à Justiça: ‘Conhece o homem.’ (VIEIRA, 1997, p. 49).

O estudo do criminoso tem sua primeira perspectiva influenciada pelas idéias de Jean Jacques Rousseau no momento em que ocorre a quebra do primeiro pacto firmado entre a sociedade e o Estado. Pode-se concluir que, o criminoso na maioria das vezes é absolutamente normal, sujeito às influências externas, mas capaz de transcender, com capacidade de ter opinião e vontade própria [...] “um ser histórico, real, complexo e enigmático.” (SHECAIRA, 2004, p. 59).

Numa segunda perspectiva, em contraposição aos clássicos, os positivistas viam o livre-arbítrio como uma ilusão, por acreditar que o infrator era um prisioneiro de sua própria patologia (determinismo biológico), ou de processos causais alheios (determinismo social), um escravo de sua carga hereditária: tinha uma regressão atávica e que, em muitas oportunidades, havia nascido criminoso. Portanto, enquanto persistisse a patologia a medida de segurança deveria continuar. (SHECAIRA, 2004).

E no dizer da visão correcionalista:

[...] o criminoso é um ser inferior, deficiente, incapaz de dirigir por si mesmo – livremente – sua vida, cuja débil vontade requer uma eficaz e desinteressada intervenção tutelar do Estado [...] que deve adotar em face do crime uma postura pedagógica de piedade. (SHECAIRA, 2004, p. 48).

Os fatores endógenos compõe a própria patologia do criminoso, sendo ele “um escravo de sua carga hereditária.” (SHECAIRA, 2004, p. 48):

Não há, como se supõe, uma Criminologia genética, psiquiátrica, endocrinológica ou psicanalítica, mas apenas contribuições desses setores aos estudos de criminologia. [...] os cientistas procuram provar que o fatalismo não é mera doutrina religiosa ou filosófica, ao afirmarem que os seres humanos do sexo masculino possuem, em regra, 46 cromossomos, cuja anormalidade nas suas combinações podem provocar sérios distúrbios. Assim, a combinação normal seria XY e a anormal XYY, que para eles parece representar uma ‘semente ruim.’ Estudos realizados em várias instituições, inclusive em hospícios para psicopatas, levaram a suspeita de que os homens com XYY cromossomos se caracterizam por conduta anti-social, baixa inteligência, mau gênio, tendência para violência e marcada propensão para o crime. (FERREIRA, 1986, p. 51).

(24)

Os portadores da carga cromossômica XYY seriam eles, segundo os estudiosos, homicidas e violentadores em potencial, quanto as características físicas, são mais altos que o normal, geralmente taciturnos e anti-sociais, sabe-se que os cromossomos podem intervir nas transmissões de traços hereditários e nas deficiências genéticas tais como hemofilia e daltonismo. (FERREIRA, 1986, p. 51).

[...] existe um componente genético no comportamento criminal, contudo, há de se admitir, também, como verdade, que esse ingrediente genético ocorre em todas as formas de conduta humana e não propriamente para a prática criminosa. O talento artístico, o musical, o poético e até o esportivo, exemplificativamente, são muitas vezes herdados da família (cantores cujos filhos são cantores, músicos filhos de músicos, etc...) a esse componente genético ou predisposição, nós preferimos chamar de tendência, que nada tem de hereditarismo. (FERNANDES, 1998).

Poderia o criminoso ser concomitantemente vítima em decorrência de alguns fatores, no entanto esta é uma análise a ser verificada pela vitimologia.

2.3.1.3 A Vítima

A vitimologia é a parte da Criminologia que estuda as “manifestações e comportamentos das vítimas em relação aos delinquentes” e desses “em relação às suas vítimas, visando a análise do ponto de vista biopsicossocial, na gênese do delito” (FARIAS JÚNIOR, 2006, p. 320) “busca indicar o posicionamento biopscicossocial da vítima diante do drama criminal, fazendo-o inclusive sob os ângulos do Direito Penal, da Psicologia e da Psiquiatria.” (FERNANDES; FERNANDES, 2002, p. 544).

É certo que, com os estudos criminológicos, a vítima obteve maior relevância, podendo ser conceituada em diversos sentidos, dentre eles: o originário, em que pessoas e animais eram sacrificados às divindades; o geral, como aquele em que a pessoa sofre os resultados dos maus atos, sejam próprios, alheios ou do acaso; o jurídico-geral, quando o indivíduo sofre diretamente a ofensa ou ameaça ao bem tutelado; o jurídico-penal restrito, como aquele que sofre as consequências da ofensa a norma penal; e o juridico-penal-amplo, em que a vítima é o indivíduo e a sociedade, que sofrem as consequências do crime. (SHECAIRA, 2004, p.50):

(25)

No entanto, muitas vezes, por vários fatores que influenciam o silêncio das vítimas, os crimes não são denunciados. Diante deste contexto Shecaria destaca que:

Os estudos criminológicos permitem ainda, estudar a criminalidade real, mediante informes, facilitados pelas vítimas, de delitos não averiguados [...] mais que duas vezes maiores que as estimativas produzidas pelas estatísticas oficiais conforme primeira pesquisa de vitimização norte americana, realizada em 1966. A existência maior ou menor de comunicação dos delitos depende da percepção social da eficiência do sistema policial; da seriedade ou do montante envolvido no crime; do crime implicar ou não uma situação socialmente vexatória para a vítima; [...] do grau de relacionamento da vítima com o agressor; da coisa furtada estar ou não segurada contra furto; da experiência pretérita da vítima com a polícia etc. (SHECAIRA, 2004, p. 54).

Observa-se ainda que, por vezes, o mesmo executivo que receia ser a próxima vítima de um ato criminoso e violento, reclamando de maneira inflamada contra a invasão de criminosos em nossas cidades, é por vezes, o responsável pelo aumento da criminalidade quando, ao consumir drogas, financia o tráfico, ou envolve-se em crimes do colarinho branco. (FERNANDES, 1998).

Corroborando com tal assertiva:

O exame do papel desempenhado pelas vítimas do ato criminal, principalmente nos casos em que há violência ou grave ameaça à pessoa, como nos crimes que deixam marcas e causam traumas, revelam a importância dos estudos vitimológicos. Ocasionalmente, diante das dificuldades assistenciais, estes estudos, tornam possíveis medidas para que haja a indenização das vítimas por programas estatais. (SHECAIRA, 2004, p.53).

Poder-se-ia ainda considerar a vítima primária, aquela diretamente atingida pela prática delituosa; a vítima secundária como “um derivativo das relações existentes entre as vítimas primárias e o Estado” e a vítima terciária como aquela que, mesmo possuindo um envolvimento com o fato delituoso, tem um sofrimento excessivo além daquele determinado pela lei do País. “É o caso do acusado do delito que sofre sevícias, torturas ou outros tipos de violência ou que responde a processos que evidentemente não lhe deveriam ser imputados[...].” (SHECAIRA, 2004, p.55).

Dessa forma:

[...] evidenciando que a relação delinquente-vítima pode revelar e fornecer, como tem sido alcançado pelos adeptos da doutrina, uma espécie de chave

(26)

quanto à gênese do delito, que muito poderá auxiliar o juiz a resolver, de forma humana e justa, a questão da culpabilidade. (FERREIRA, 1986).

Tanto as denúncias não relatadas como os crimes cometidos decorrem também do fator social para averiguação dos motivos que influenciam tais atitudes. 2.3.1.4 O Controle social

Sendo o crime um dos fenômenos sociais e a criminalidade dependente de como estão sendo processados esses fenômenos, verifica-se que quanto mais bem organizada a sociedade menor o índice de criminalidade. Nas palavras de Edwin Sutherland, “é inútil tirar os indivíduos, um após outro, das situações que produzem criminosos e permitir que essas situações continuem.” (FERNANDES; FERNANDES, 2002, p. 340).

Dessa forma, pode-se verificar que:

[...] o comportamento ou a conduta de uma pessoa é governado, muitas vezes, pelo momentâneo estímulo exterior, mas também pelos atributos internos estáveis que comporta em si essa pessoa.[...] atributos esses entendidos por personalidade. (FERNANDES; FERNANDES, 2002, p.41).

Por meio de mecanismos disciplinares são pautadas as condutas humanas, as posturas pessoais e sociais necessárias à pacífica convivência; poder-se-ia definir o controle social como o conjunto de mecanismos e sanções sociais que pretendem submeter o indivíduo aos modelos e normas comunitários, lançando mão, pelas organizações sociais, de dois sistemas articulados entre si, o sistema formal e o sistema informal. (SHECAIRA, 2004):

O sistema informal, opera educando, socializando o indivíduo, é composto pela sociedade civil: família, escola, profissão, opinião pública, grupos de pressão, clubes de serviço, etc , fazendo assimilar nesses destinatários, valores e normas de uma dada sociedade e possuindo força em ambientes reduzidos e, o controle social formal, com a atuação do aparelho político do Estado. (SHECAIRA, 2004, p. 56).

Durkheim, criador das Regras do Método Sociológico, enfatizava que: “os fenômenos sociais são fatos naturais e devem ser estudados pelo método natural, isto é, principalmente pela observação e, quando for possível, pela experimentação.” (FERNANDES, 1998, p.29).

(27)

Por conseguinte:

Mais leis, mais penas, mais policiais, mais juízes, mais prisões, significam mais presos, porém não necessariamente menos delitos. A eficaz prevenção do crime não depende tanto da maior efetividade do controle social formal, senão da melhor integração ou sincronização do controle social formal e informal. (MOLINA; GOMES apud FARIAS JUNIOR, 2006, p. 123).

Ao analisar os aspectos citados, a Criminologia fornece ao legislador elementos para elaboração de leis utilitárias, pela análise do fator social e criminológico, pois está ligada tanto ao direito penal quanto a sociologia, podendo ser verificado na aplicação da dosimetria da pena:

Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: (Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940).

Estudando o crime como um fenômeno individual e social, a Criminologia segue esclarecendo os fatos sobre o autor do crime, sua natureza sob aspectos biopscicossociológico em seus atos desviantes, a infração legal, o grau de nocividade social gerada pela insegurança causada; as formas utilizadas pela sociedade para conviver com o crime, a forma de atendimento às vítimas desses crimes e, por conseguinte, a solução para obstar a incidência e a reincidência através da recuperação e readaptação do criminoso à sociedade.

Ao término deste capítulo, podemos afirmar que a Criminologia é o alvo receptor dos subsídios da Sociologia Criminal, da Biologia Criminal e da Psicologia Criminal, e que o homem delinquente sofre a incidência dos fatores sociológicos, biológicos e psicológicos. (FARIAS JÚNIOR, 2006, p. 68).

Dessa forma segue a verificação da Psicologia Criminal como marco inicial para a verificação do perfil criminológico do Psicopata Laboral.

(28)

3 PSICOLOGIA CRIMINAL

Por dedicar-se ao estudo do comportamento criminoso, veremos a seguir que a Psicologia criminal está entre a Psicologia, estudando a partir da Criminologia, o comportamento humano e o direito, que interessa-se na disciplina desse comportamento; estabelecendo dessa forma um elo entre as teorias psicológicas e neuropsicológicas, entre o ato criminoso e o controle penal da justiça. O estudo da personalidade, com seus transtornos tornam-se necessários para a análise do perfil criminoso do psicopata em seu local de trabalho, o ambiente laboral.

3.1 CONCEITO

Primeiramente impende destacar a terminologia da palavra Psicologia como originária da Grécia, onde Psiquê era o nome da Deusa mitológica esposa de Eros: “Ψυχολογία = Psyche, alma ou mente; Logia vem de logos, significa discurso, conhecimento, ciência”. (SOUZA, 2011).

A Psicologia em si é “ciência, que estuda a mente e o comportamento”, havendo três grandes abordagens: a psicanálise, o behaviorismo (comportamentalismo) e o humanismo que serão abordados a seguir.

3.1.1 Psicanálise Criminal

A Psicanálise tem Freud como pai; para ele a idéia central era a análise da psique, a exploração do inconsciente como parte da mente que a ciência não controla, através da qual explicaria os sonhos, sintomas, atos falhos, doenças psíquicas. Teóricos como Alfred Adler, C.J. Jung e Reich, embora adotassem suas próprias teorias em discordância com as de Freud, não abandonaram a idéia de inconsciente. (VIEIRA, 1997):

Durante a evolução individual, uns e outros sofrem impulsões e eclipses, que caracterizam certas épocas de nossa vida instintiva, e o jogo destas tendências elementares provoca e até mesmo dirige as manifestações mais elevadas da vida psíquica. A passagem de uma para outra fase da evolução causa inevitáveis crises de adaptação, quando se trata de se desprender de uma situação habitual, para enfrentar uma nova situação. Se tais crises de adaptação ocorrem de maneira defeituosa, elas podem resultar em verdadeiros traumatismos psíquicos; e dai têm como consequência

(29)

perturbar a evolução das tendências, parar a progressão e determinar uma regressão [...]. (VIEIRA, 1997, p. 75).

O tratamento de pessoas afetadas por anomalias comportamentais de fundo nervoso, que podem também incidir em crimes, são objeto de estudo da psicanálise. Freud em suas obras, assim como seus seguidores, procura interpretar o comportamento criminoso fixando preceitos quanto ao seu tratamento. (FARIAS JÚNIOR, 2006).

Os traumatismos, destacados por Freud e seus adeptos no estudo do crime, têm em seus mecanismos: a renúncia ao esforço, as associações viciosas e os conflitos do instinto, possuindo as reações de defesa os mecanismos do esquecimento, compensação, deslocamento, projeção, introspecção, transferência, sublimação, racionalização etc. (VIEIRA, 1997).

A psicanálise, segundo Moniz Sodré, consiste em:

Conseguir-se a revelação do que há de mais íntimo, obscuro, oculto, nas profundezas do ser inconsciente, pelo emprego contínuo, persistente, sistemático e paciente da análise psíquica, que busca índices reveladores da natureza dos sonhos, nas obras de arte, nas produções da inteligência, nos assuntos de estudo, e em múltiplas manifestações por fatos, palavras e atos diários, gestos, lapsos de linguagem escrita ou falada, erros, distrações, delírios, falsas leituras, esquecimentos. (FARIAS JÚNIOR, 2006, p. 66).

Para a psicanálise, deve-se rejeitar a idéia lombrosiana do delinquente nato, por entender que a partir do nascimento todos seriam delinquentes até o desaparecimento do complexo de Édipo e, após, assumiriam alguns uma tendência moral ou permaneceriam delinquentes, como produto de uma educação ineficaz. (VIEIRA, 1997).

Os dados para análise estão sujeitos às mais diversas interpretações, pois conduzem o psicanalista a raciocínios e conclusões surpreendentes. “A característica da psicanálise está, portanto, em desvendar o mundo oculto do psiquismo inconsciente e subconsciente, [...] de dentro para fora, pela significação que se atribuiu aos próprios dados fornecidos pelo paciente.” (FARIAS JÚNIOR, 2006, p. 66).

Dessa forma Freud remete às instâncias psíquicas anteriores ao nascimento do indivíduo, “quando o Id (inconsciente) surge como núcleo do seu psiquismo” [...] conservando-se por toda a vida, “isolado e independente do

(30)

consciente que é o Ego”. A partir do nascimento o ambiente começa a operacionalização dos sentidos, na formação de imagens, na percepção das “noções de espaço e tempo, impulsos de defesa”, enfim, é a partir do ambiente que o “Id fabrica o Ego, através do qual o indivíduo sente, age e se personaliza.” A personalidade completa-se, no entanto com o Superego, que ligado às questões morais, do meio em que vivemos, impõe-se aos impulsos inconscientes do Id. (FARIAS JÚNIOR, 2006, p. 65).

Nos dizeres de Moniz Sodré:

[...] é o Superego que exerce a função fiscalizadora e coatora, advertindo o Ego, repreendendo-o, castigando-o, censurando-o. Se isso funcionasse realmente, se o Superego exercesse a sua função de controlador da conduta moral do homem, não permitindo que a ira, a emoção, a paixão, os sentimentos de amor próprio, o medo e outros atributos próprios do ser humano arrebatassem a razão a ponto de o homem praticar atos desatinados; se o Superego fosse capaz de produzir, gerar a formação moral, ou impedir que o homem se degradasse moralmente a ponto de se tornar um farrapo humano; se o Superego fosse capaz de impedir que o homem enveredasse para o vicio do álcool ou das drogas, a ponto de se tornar delas dependente e perdido, como um escombro humano, nós teríamos uma sociedade pura e só de bons costumes. É uma teoria bem montada, bem engendrada, que além dessas três instâncias da mente do homem, assenta os seus impulsos na libido, força que traduz a energia vital humana, fazendo com que o homem adquira aspectos biopsicológicos especiais e se torne um escravo dessa força. Por um lado, vai haver o complexo (um deles é o complexo de Édipo), o recalcamento, por outro, a censura, um verdadeiro conflito, sobrevindo daí as neuroses, as perversões, os crimes. (FARIAS JÚNIOR, 2006, p. 67).

Sob a ótica psicanalítica Moniz Sodré traz ainda os ensinamentos de Alexander e Straub sobre a impulsividade criminal, onde “dizem que o ser humano entra no mundo como um criminoso, isto é, socialmente inadaptado.” (FARIAS JÚNIOR, 2006, p. 67).

Ou seja:

Durante os primeiros anos, o indivíduo mantém sua criminalidade no mais alto grau. Sua verdadeira adaptação social começa somente quando o complexo de Édipo é vencido (período da puberdade). É nesse período que o desenvolvimento do criminoso começa a se diferenciar do indivíduo normal, que consegue reprimir, em parte, seus impulsos instintivos, tipicamente criminosos, impedindo assim sua exteriorização e transformando-os num esforço socialmente aceitável. (FARIAS JÚNIOR, 2006, p. 67).

(31)

1) o neurótico, cuja atividade hostil contra a sociedade é o resultado de um conflito intrapsíquico entre os componentes sociais e anti-sociais de sua personalidade, nos casos de psiconeuroses que tem origem nas impressões remotas da infância e em circunstâncias de vida posterior (etiologia psicológica);

2) o normal, cuja organização psíquica é semelhante á do indivíduo normal, com a diferença que a identifica como protótipo de criminoso (etiologia sociológica);

3) o criminoso, cuja criminalidade é devida a condições oriundas de algum processo patológico de natureza orgânica (etiologia biológica). Além desses criminosos, dizem os psicanalistas que há ainda um certo número de indivíduos normais que sob determinadas condições especiais tornam-se criminosos agudos. (FARIAS JÚNIOR, 2006, p. 68).

Diante das abordagens estudadas pela Psicologia, o Behaviorismo define a Psicologia como a ciência que estuda o comportamento, dessa forma traz-se sua conceituação no intuito de amparo ao posterior estudo da Psicologia Criminal.

3.1.2 Behaviorismo

O Behaviorismo, originário do inglês behavior, define a Psicologia como a ciência que estuda o comportamento; contribuições foram dadas por autores como Pavlov, Watson e B.F. Skinner. Pavlov estudou o comportamento pelo condicionamento, o que explica a causa de certas fobias. Skinner aprofundou as pesquisas inaugurando o behaviorismo radical, desenvolvendo o conceito de condicionamento operante. O comportamento tem probabilidade de acontecer dada sua relação com fenômenos anteriores e posteriores, ou seja, vai ser controlado pelo aconteceu e pelo que pode acontecer. (SOUZA, 2011).

Processo muito diverso é o condicionamento operante, por via do qual uma pessoa chega a haver-se eficazmente com um novo ambiente. [...] diz-se que o comportamento é fortalecido por suas consequências epor tal razão as próprias consequências são chamadas de “reforços”. O comportamento operante é encarado como estando sob o controle da pessoa que age e tem sido tradicionalmente atribuído a um ato de vontade. (SKINNER, 2006, p. 38).

Esses comportamentos ocorrem em dependência de valores e expectativas, portanto são variáveis:

Kienen e Wolff (2002, p.17-19) assinalam que o comportamento varia conforme a situação na qual ocorre, bem como de acordo com propriedades da ação e que é possível considerar que os seres humanos atuam a partir de uma determinada história pessoal, bem como a partir de um contexto,

(32)

composto por inúmeras variáveis, como o ambiente social, econômico, cultural, político. (FIORELLI; MANGINI, 2012).

A convivência em sociedade não nos permite ter um comportamento instintivo fundado em resposta instintiva para justificá-lo, as pessoas modificam seus comportamentos, involuntariamente, ao se perceberem observadas ou sabendo que isso acorre ou possa acontecer. (LAPLANCHE; PONTALIS, 1995, p.241 apud FIORELLI; MANGINI, 2012, p.12).

Delinquentes, vítimas, testemunhas, profissionais do direito não fazem exceção:

Os comportamentos acontecem em um esquema de referência de valores e expectativas. Modificam-se com o tempo e, em geral, são contingenciais. Questão sempre presente no estudo e na observação dos comportamentos, e muitas vezes lembrada para tentar justificar delitos, é o papel representado pelo instinto, o “esquema de comportamento herdado, próprio de uma espécie animal, que pouco varia de um indivíduo para outro, que se desenrola segundo uma sequência temporal pouco susceptível de alterações e que parece corresponder a uma finalidade.” (FIORELLI; MANGINI, 2012, p.12).

A personalidade “só se manifesta quando a pessoa está se comportando em relação a um ou mais indivíduos, presentes ou não, reais ou ilusórios”. Trata-se de uma “entidade hipotética que não pode ser isolada de situações interpessoais, e o comportamento interpessoal é tudo o que podemos observar da personalidade.” (FIORELLI; MANGINI 2012, p.11).

Por fim, tem-se a seguir uma abordagem sobre a Psicologia humanista.

3.1.3 Humanismo

O humanismo iniciou-se pela forte reação contra estas duas abordagens, psicanalítica e behaviorista ou comportamental, na década de 1950, e ficou conhecida como Psicologia humanista tendo dois importantes teóricos: Carl Rogers e Abraham Maslow, o qual desenvolveu o conceito conhecido como hierarquia das necessidades ao desenhar uma pirâmide sobre a ordem de prioridades de satisfação do homem. Necessidades fisiológicas, como a fome e o sono; segurança, como emprego, família e saúde; amizade, relacionamentos amorosos, necessidade de estima e realização pessoal. (SOUZA, 2011). A cada conquista realizada nova necessidade se apresentava, fazendo com que o individuo buscasse sua

(33)

autorrealização sucessivamente na medida em que suas necessidades fossem satisfeitas.

Carl Rogers tomou como base para seu trabalho o indivíduo, a partir do tratamento de pessoas perturbadas emocionalmente, trabalhou com conceito semelhante ao de Maslow, ao qual nominou: Tendência Atualizante, sendo a capacidade inata de cada indivíduo atualizar suas capacidades e potencialidades. Tinha como idéia de autoconceito a característica que cada um possui desde a infância de, racionalmente e conscientemente, substituir ou reforçar conceitos a partir de novas experiências, o que acreditava prover a base para a formação da personalidade. (MACHADO, 2013).

Acreditava que autoconceitos realistas advinham de indivíduos psicologicamente bem ajustados e a desarmonia entre o autoconceito real (o que se é de fato) e o ideal para si (o que se deseja ser) provinham de indivíduos com angústia psicológica. Dessa forma acreditava que o tratamento psicológico deveria ser direcionado pelo indivíduo por possuir maiores informações de autoentendimento para mudar seus conceitos. Nascendo assim a terapia focada no indivíduo e não em teorias. (MACHADO, 2013).

No entanto, há criticas referentes a esta abordagem referindo-se ao indivíduo com distúrbios mais graves e, portanto sem condições emocionais suficientes para um autoconhecimento para modificação de conceitos. (MACHADO, 2013).

Diante das abordagens apontadas, conclui-se que a Psicologia criminal dedica-se ao estudo do comportamento e da mente do criminoso, tentando descobrir os processos psicológicos que levam o indivíduo à criminalidade, no intuito de tentar solucionar a motivação, determinando assim uma pena justa.

Impossível conhecer-se por completo o delinquente sem que haja o estudo de sua vida psíquica, como bem observado por Ferri, “a vida psíquica do criminoso tem mais importância que a puramente orgânica, uma vez que suas ações têm seu comando no psiquismo. Tudo o que ocorre na vida do homem reflete nas suas faculdades mentais.” (FARIAS JÚNIOR, 2006, p. 63).

É, portanto, a partir dos conteúdos armazenados na mente, que a Psicologia trabalha com a realidade psíquica elaborada pelo indivíduo; sintetizando a complexidade da investigação psicológica; poder-se-ia afirmar que , p.49 apud FIORELLI; MANGINI, 2012,p. 7).

(34)

Por essa razão, a Psicologia criminal busca conhecer a história de vida do indivíduo recolhendo essas informações para a aferição do fato desencadeador do ato delituoso, objetivando a adequação da terapia ideal para intervir em suas causas e efeitos. “As técnicas de Psicologia contribuem para que pessoas identifiquem elementos desconhecidos por elas que as impulsionavam em direção a comportamentos indesejados, a incertezas e a angustias.” (FIORELLI; MANGINI, 2012, p. 7).

A mente comanda o que está armazenado no cérebro no limite de funcionamento e funções dessa estrutura cerebral:

O cérebro é o palco das funções mentais superiores [...] constituem uma espécie de programação por meio da qual os indivíduos desenvolvem imagens mentais de si mesmos e do mundo que os rodeia, interpretam os estímulos que recebem, elaboram a realidade psíquica e emitem comportamentos. (FIORELLI; MANGINI, 2012, p. 11).

Diante desta estrutura cerebral, denota-se a importância da abordagem sobre o que se deve ter como marco para a concepção de delinquência, de antissociabilidade, o que é oportunamente analisado por João Farias Junior na visão de autores como: Filipo Gramatica, Calon e Basileu Garcia, os quais nesta ordem defendiam que:

[...] a aferição do delinquente se fizesse por seu grau de anti-sociabilidade, e não pela responsabilidade moral, e que o exame psicológico, segundo critérios científicos, seria idôneo para se chegar à anti-sociabilidade. [...] quando a Psicologia estuda o estado mental geral, gerador de atos criminosos, ela está integrada também pela Psicopatologia (ou Psiquiatria Criminal). [...] a Psicologia Criminal pretende desvendar o caráter e as tendências do criminoso. (FARIAS JÚNIOR, 2006, p. 63).

Verifica-se o estudo da “Psicologia do homem criminoso a partir de sua consciência, de sua vontade, de seu caráter, enfim, de sua personalidade total, pondo em debate as duas correntes: a livre-arbitrista”[...] que entende ser o homem criminoso por determinação própria, lhe conferindo a culpabilidade, e a corrente determinista, “afirma que o homem criminoso não tem o pleno domínio de controle de sua vontade e de sua consciência; que a sua disposição para o ato depende da contextura moral ou idiossincrasia” depende, portanto das influências pessoais internas ou adquiridas pelo meio. (MONTEIRO apud FARIAS JUNIOR, 2006, p. 64).

(35)

Para a corrente determinista o indivíduo é influenciado por fatores externos e internos alheios a sua vontade:

O homem, principalmente na sua infância e juventude, vai contraindo os influxos exógenos deletérios, sem se precatar, sem se aperceber, sem a necessária intervenção da consciência e da vontade, sem o necessário conhecimento prévio das consequências que esses influxos que o envolvem possam trazer-lhe. Ele não tem a predisposição inata para a opção do lugar onde nasce, de quem nasce, do lugar onde mora, das pessoas com as quais vai conviver e não tendo essa predisposição, tudo isso lhe toca por sorte. Todos os influxos, tanto os externos como os internos, tocam-lhe por sorte. Se ele tivesse essa predisposição, se tivesse o dom de se aperceber dos males, se tivesse a iluminação intelectiva e cognitiva que o capacitasse a eleger os distintos caminhos que a seu espontâneo arbítrio pudesse escolher e a neles marchar, obviamente que ele escolheria o caminho do bem, pois ele teria a capacidade suficiente para saber que o caminho do mal o levaria a sofrimentos, a dores, a torturas cruéis, a fugas, a conflitos com a policia e à morte. Como é possível conceber-se que um homem em sua sã e iluminada consciência e vontade seria capaz de eleger e construir um caminho que já sabia de antemão que o levaria para um tenebroso abismo? A vontade é livre no homem que teve boa formação moral, que não contraiu os influxos maléficos do meio em que viveu, que não sofreu nenhum distúrbio endócrino, nervoso, genético, e desajustes internos e psicológicos capazes de influir no seu comportamento, que não sofreu nenhuma ação capaz de fazê-lo sair de sua normalidade. (FARIAS JÚNIOR, 2006, p. 65).

A normalidade é, por conseguinte, a barreira do gênio. Um “superespirito, ou uma supermente”, não se coadunam com ela, tal a distância enorme existente entre o gênio e o comum dos mortais. Com isso não se quer dizer que a psicopatia produza a genialidade. (FERREIRA, 1986, p. 57).

Feitas as considerações, tem-se que a Psicologia criminal como parte integrante da Psicologia analítica e da Criminologia clínica, objetiva analisar o estado mental do criminoso, possíveis reincidências, término da periculosidade, além dos fatores criminógenos; endógenos e exógenos, determinantes dos atos e motivos da criminalidade, abrangendo muitos campos da fenomenologia psíquica da criminalidade. Determina, portanto, os passos necessários para avaliação da periculosidade e como por vezes residem em transtornos mentais às causas da criminalidade. (FARIAS JÚNIOR, 2006).

No entanto, os transtornos da personalidade objetos de estudo da psicanálise, precisam ser verificados a partir da conceituação de personalidade, feita a seguir.

(36)

3.2 PERSONALIDADE

Primeiramente faz-se necessária destacar que traços da personalidade, são características duradouras da personalidade, são inferidos a partir do comportamento. O que chamamos de temperamento é a alusão aos aspectos da hereditariedade que interferem no ritmo individual, no grau de vitalidade ou emotividade, e caráter é o que designa os aspectos morais; Wilhelm Reich, psicanalista, usa o termo caráter como substituto da personalidade. “Na medida em que oferecem a base do modo individual de se portar ante os valores e de dirigir a vontade, os termos personalidade e caráter (caracterologia) usam-se frequentemente quase como sinônimos.” (FERNANDES, 1998, p. 37):

O estudo dos múltiplos traços de caráter arrasta-nos para um domínio que não mais se apóia unicamente, como o caráter propriamente dito, na estrutura de base do sujeito, mas faz interferirem, no mesmo sujeito, mecanismos bem diversos, destinados quer a manter uma estrutura em estado de adaptação “normal”, apesar de suas falhas ou deficiências, quer a ajudar uma estrutura em estado de falha patológica através de mecanismos defensivos acessórios. (BERGERET, 1998, p. 195).

Dadas as primeiras impressões, Kaplan e Sadock conceituam personalidade como a “totalidade relativamente estável e previsível dos traços emocionais e comportamentais que caracterizam a pessoa na vida cotidiana, sob condições normais.” (KAPLAN; SADOCK, 1993, p.556 apud FIORELLI; MANGINI, 2012, p. 97).

Dentre as diversas conceituações poderíamos dizer que “a grosso modo, a Personalidade é a hegemonia mental e emocional da pessoa moral, hegemonia determinante de sua individualidade. É a maneira estável de ser, de uma pessoa, que a distingue de outra.” (FERNANDES, 1998, p. 32).

Nos termos estudados por Gordon Allport: “a personalidade é a organização dinâmica, dentro do indivíduo, daqueles sistemas psicofísicos que determinam seus ajustamentos únicos ao ambiente.” (CAMPBELL et al 2000, p. 228 apud FIORELLI; MANGINI, 2012, p.97).

A personalidade manifestar-se quando em relacionamento com outras pessoas, portanto o comportamento sofre variações dependendo do ambiente.

Referências

Documentos relacionados

As técnicas de interação mediatizada criadas pelas redes telemáticas (e- mail, listas e grupos de discussão, [...]) apresentam grandes vantagens pois permitem combinar

A fim de que se possa compreender o que é a heteronormatividade, quem é a mulher e como está normatizada a sua expressão a partir dessa heteronorma, essencial iniciar este

Este desafio nos exige uma nova postura frente às questões ambientais, significa tomar o meio ambiente como problema pedagógico, como práxis unificadora que favoreça

The Avida software is composed of three main modules: The first is the Avida core, which maintains all of the key components needed for an experiment to run without user

•   O  material  a  seguir  consiste  de  adaptações  e  extensões  dos  originais  gentilmente  cedidos  pelo 

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação

GRUPO I (MC,SB) – sistema adesivo Single Bond (SB) (3M Dental Products, St Paul, MN, USA) e resina composta Filtek Supreme, na cor B3D, (3M Dental Products, St Paul, MN, USA)