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Reestruturação produtiva do setor

A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA DO SETOR DO COCO

2.1 O COCO NO BRASIL E SUA ORGANIZAÇÃO PRODUTIVA

2.1.3 O atual contexto produtivo do coco no Brasil

Antes de apresentarmos os principais processos que marcam o atual período de produção de coco no Brasil, em decorrência da reestruturação produtiva, é importante indicar as principais variáveis que caracterizam atualmente o contexto produtivo do fruto no país. A partir da análise de alguns indicadores quantitativos, divulgados pelo IBGE, é possível vislumbrar um pequeno perfil desse setor, considerando a evolução da produção, da área plantada e da produtividade, além da conjuntura acerca da estrutura fundiária, do perfil dos produtores e da comercialização dos frutos, conforme destacamos na sequência.

Analisando os dados da Produção Agrícola Municipal (tabelas 03 e 04), nota-se que de 1990 a 2010 a produção de coco no Brasil obteve um aumento considerável, por volta de 158%, como já apontavam os dados da FAO50. A área plantada com coqueiros também acompanhou o aumento da produção do fruto, porém mais modestamente, tendo um crescimento de aproximadamente 28%, o que demonstra que há uma expansão do cultivo de coqueiros em território brasileiro. Associada ao aumento da área plantada e da quantidade produzida, a produtividade também obteve um crescimento importante, duplicando em apenas 20 anos, indicando uma significativa modernização do processo produtivo do fruto.

Tabela 03 – Brasil. Área plantada com coqueiros (em hectares), quantidade produzida de coco (em

mil frutos) e produtividade (mil frutos/ha). 1990 – 2010.

1990 2000 2010

Área plantada 215.652 266.577 276.934 Quant. produzida 734.418 1.301.411 1.895.635

Produtividade 3,41 4,88 6,85

Fonte: IBGE/PAM. Elaboração: Cavalcante, 2013.

Tabela 04 – Brasil. Área plantada com coqueiros (em hectares), quantidade produzida de coco (em

mil frutos) e produtividade (mil frutos/ha). Variações absoluta e relativa (em %). 1990 – 2010.

Fonte: IBGE/PAM. Elaboração: Cavalcante, 2013.

Essa produção de coco no Brasil é realizada nos mais diversos estabelecimentos. De acordo com o último Censo Agropecuário, divulgado pelo IBGE em 2006 (tabelas 05 e 06), havia no Brasil aproximadamente 43 mil estabelecimentos que produziam coco, destacando-se a significativa participação de pequenas propriedades nesse total. Mais de 74% deles possuíam

50 Como a FAO e o IBGE adotam metodologias diferentes, os dados por eles indicados não são os mesmos.

Variação Absoluta Variação Relativa

1990 -

2000 2000 - 2010 1990 - 2010 1990 - 2000 2000 - 2010 1990 - 2010

Área plantada 50.925 10.357 61.282 23,61 3,89 28,42 Quant. produzida 566.993 594.224 1.161.217 77,20 43,57 158,11 Produtividade 1,48 1,96 3,44 43,35 40,21 101,00

até 10 hectares, indicando que a produção do fruto no país se dava principalmente em pequenas propriedades. Além disso, verifica-se que são esses pequenos estabelecimentos que ocupavam mais da metade da área total cultivada com coqueiros.

A análise dos dados relativos à estrutura fundiária também revela quão desigual é a distribuição de terras entre os produtores de coco no Brasil. Em 2006, 74% dos estabelecimentos ocupavam apenas 53% da área total cultivada com o fruto, produzindo 39% do coco do país. Enquanto isso, outros 2,27% dos estabelecimentos somavam 35% da área total, demonstrando a concentração de uma parte importante das terras nas mãos de poucos produtores51. Supõe-se que essa concentração esteja sendo acirrada, particularmente em virtude dos crescentes interesse e aquisição de terras por novos (e grandes) produtores.

Tabela 05 – Brasil. Estrutura fundiária dos estabelecimentos que cultivam coco: total dos estabelecimentos (em unidades), área total (em hectares) e quantidade produzida (em mil frutos). 2006.

Total Menos de 10 ha De 10 a 100 ha Mais de 100 ha declaração Sem

Estabelecimentos 43.673 32.500 924 64 10.185 Área total 125.571 66.680 24.157 20.563 14.171 Quantidade produzida 867.763 339.036 341.054 187.674 -

Fonte: IBGE/Censo Agropecuário. Elaboração: Cavalcante, 2013.

Tabela 06 – Brasil. Estrutura fundiária dos estabelecimentos que cultivam coco: total dos estabelecimentos, área total e quantidade produzida. Proporção (em %). 2006.

Menos de 10 ha De 10 a 100 ha Mais de 100 ha

Estabelecimentos 74,42 2,12 0,15

Área total 53,10 19,24 16,38

Quantidade produzida 39,07 39,30 21,63 Fonte: IBGE/Censo Agropecuário. Elaboração: Cavalcante, 2013.

Obs: A soma total do número de estabelecimentos e da área total não chegará aos 100%, uma vez que foram desconsiderados os estabelecimentos sem declaração.

Desse modo, percebe-se que a produção de coco no país é realizada, sobretudo, por pequenos produtores, que ocupam grande parte dos estabelecimentos e da área cultivada com coqueiros, além de responder por uma produção significativa. Uma tipologia importante desses produtores de coco é a subdivisão apresentada pelo IBGE, no Censo Agropecuário de 2006, que os divide entre agricultores familiares e não familiares, tomando como base a força de trabalho empregada e a área cultivada. De todos os produtores de coco no Brasil, 73% deles estavam inseridos em estabelecimentos de agricultura familiar – o que corresponde a 32 mil propriedades –, comprovando, dessa forma, que a produção de coco no país era realizada

51 Ressaltamos que em Censos anteriores a 2006 o IBGE não trabalhava com essa variável de estrutura fundiária

especialmente por pequenos produtores, característica que ainda prevalece apesar das recentes transformações observadas no setor.

E depois de produzidos, os frutos passam por uma primeira comercialização. Ao analisar os dados que indicam esse primeiro destino do coco depois de colhido, divulgados pelo Censo Agropecuário, nota-se o importante papel exercido pelas agroindústrias e pelos intermediários nesse processo, tanto em 1985 como em 200652 (tabela 07). Em 1985, cerca de 80% do coco produzido era comercializado pelos intermediários, e essa porcentagem passa dos 90% se acrescentarmos as indústrias, enquanto somente por volta de 8% era destinado às cooperativas e diretamente aos consumidores. Em 2006 vemos uma ligeira redução da participação dos intermediários e um consequente aumento do papel das indústrias, que passaram a controlar cada vez mais a comercialização dos frutos. Apesar disso, em 2006 os capitais comercial e industrial controlaram juntos 94% de todo o coco comercializado no país.

Tabela 07 – Brasil. Primeiro destino da produção de coco, por quantidade vendida (em mil frutos) e proporção (%). 1985 – 2006.

Mil frutos Proporção

1985 2006 1985 2006

Total comercializado 419.175 826.704 100 100 Vendida/entregue à cooperativa 1.665 4.245 0,40 0,51 Vendida à indústria 41.991 160.458 10,02 19,41 Vendida ao intermediário 342.255 617.863 81,65 74,74 Venda direta ao consumidor 33.264 44.138 7,94 5,34

Fonte: IBGE/Censo Agropecuário. Elaboração: Cavalcante, 2013.

Nesse sentido, e resumindo as informações aqui destacadas, percebe-se que a produção brasileira de coco apresenta as seguintes características: quantidade produzida, área plantada e produtividade crescentes; cultivo realizado principalmente em pequenas propriedades e predominantemente por agricultores familiares; produção e comercialização dos frutos controladas pelo capital comercial e industrial. Destaca-se, ademais, que o foco da produção nacional é abastecer o aquecido mercado interno, grande consumidor tanto de coco seco quanto verde, não existindo um importante dinamismo do setor de exportações53, dado o consumo interno da grande maioria da produção. Esses são apenas alguns dos elementos de fundo que contribuem para a caracterização da nova geografia do coco no Brasil.

52 Por divergências de metodologias adotadas pelo IBGE para a obtenção dos dados desses Censos Agropecuários,

não é possível realizarmos uma comparação entre os dois períodos considerados para análise.

53 Ao analisar os dados divulgados pela SECEX/MDIC podemos confirmar essa informação, uma vez que as