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Uma proposta de tipologia para os produtores de coco do Curu-Paraipaba

Reestruturação produtiva do setor

O CONTEXTO DAS RELAÇÕES SOCIAIS DE PRODUÇÃO

4.1 A DIVERSIDADE DE PRODUTORES DE COCO

4.1.2 Uma proposta de tipologia para os produtores de coco do Curu-Paraipaba

Com o intuito de representar a diversidade de agentes que atuam produzindo coco no Ceará, traçamos uma proposta de tipologia agregando os produtores entrevistados no perímetro irrigado Curu-Paraipaba, que além de ser o espaço mais especializado na sua produção, é também o que agrega a maior quantidade de pessoas que cultivam o fruto143. Segundo informações repassadas pela associação que gerencia o Curu-Paraipaba, existem atualmente cerca de 600 produtores cultivando coco em todo o perímetro. Tais produtores, diferentemente de outros, já nasceram inseridos no atual contexto produtivo do coco – que ao passar a ser cultivado no perímetro modificou por completo a estrutura produtiva e as relações sociais historicamente lá estabelecidas – e produzem coco verde para atender diretamente as necessidades do mercado, seja de coco in natura seja de água de coco processada.

Como já abordado no capítulo anterior, a junção de alguns fatores passou a modificar o perfil dos produtores inseridos no perímetro, anteriormente caracterizados por uma considerável homogeneidade. Atualmente o que se nota é a coexistência de vários “grupos” de diferentes produtores no Curu-Paraipaba, que apresenta uma diversidade jamais observada em toda a sua história. A esse respeito, Wolfer (2010, p. 12) considera que a agricultura, não importa onde, sempre apresentou uma grande diversidade de formas de exploração e de diferentes tipos de produtores, que possuem uma coerência interna, técnica, econômica e social e que demonstram certas capacidades de resistir ou se adaptar à evolução das circunstâncias.

O estudo realizado por Alves (2013) revela que o perímetro irrigado Curu-Paraipaba é marcado por produtores que apresentam distintas características, já que eles são “mais eficientes técnica e economicamente que outros” (p. 16)144. Essa foi a principal conclusão do trabalho desse autor, que constatou que “os resultados decorrentes da análise fatorial e de clusters possibilitaram rejeitar a hipótese básica de que as pequenas propriedades rurais irrigadas de produção de coco entrevistadas no Curu-Paraipaba demonstram perfil técnico e econômico semelhantes” (ALVES, 2013, p. 84)145. E para chegar a esse resultado o pesquisador se baseou apenas em variáveis relacionadas aos aspectos técnicos e produtivos associados ao cultivo de coco; caso tivesse considerado outras variáveis ficaria comprovado que esses produtores se distinguem a partir de muitos outros aspectos.

143 Escolhemos privilegiar os produtores desse perímetro para melhor caracterizá-los em virtude da grande

quantidade de entrevistas realizadas com os mesmos e em razão deles estarem inseridos em um contexto muito específico, estando todos localizados em um mesmo espaço.

144 O autor também retrata isso em Alves et al. (2014).

Durante os trabalhos de campo constatamos essa grande diversidade de produtores do fruto, que se diferenciam a partir de uma série de variáveis que podem ser agrupadas no intuito de ajudar a traçar uma proposta de tipologia desses produtores, facilitando a compreensão da diferenciação existente entre eles, conforme pontua Wanderley (2003). Desse modo, de acordo com Jouve (1986, p. 49), é possível a construção de tipologias tanto de produtores quanto de estabelecimentos agrícolas em função de preocupações e objetivos particulares, bastando apenas conhecer os mecanismos responsáveis por suas diferenciações.

Nesse sentido, a partir da análise de todas as informações obtidas durante a realização de 34 entrevistas com diferentes produtores de coco do Curu-Paraipaba146 e com base na metodologia apresenta por Bühler (2008) no que diz respeito à construção de tipologias de produtores rurais147, buscamos realizar um primeiro ensaio sobre uma tipologia desses agentes no intuito de melhor compreender a sua diversidade e atentar para aspectos que os diferenciem. Há de se reiterar que esse exercício foi pensado a partir dos produtores encontrados e entrevistados apenas no perímetro irrigado Curu-Paraipaba, havendo a possibilidade do traçado de outras tipologias caso a área de abrangência da pesquisa tivesse sido ampliada; nesse sentido, não temos a pretensão de apresentar uma tipologia que seja representativa de um universo maior de produtores de coco148.

Assim, o principal objetivo dessa proposta de tipologia aqui apresentada é fugir, de certa maneira, da visão meramente dual privilegiada para distinguir os produtores rurais, já que leva em conta uma série de variáveis utilizadas não para homogeneizar esses produtores, mas sobretudo para indicar as principais diferenças existentes entre eles. Mas, destacamos, trata-se ainda de uma aproximação do real, o qual se mostra muito mais complexo e que demanda a realização de outros estudos. No entanto, pareceu-nos válida a inserção de tal proposta de tipologia, visando, inclusive, colocar o tema para debate e futuras pesquisas.

As variáveis que escolhemos para agrupar esses diferentes tipos de produtores de acordo com suas características em comum foram: i) quantidade de lotes agrícolas e local de moradia; ii) produtos cultivados no lote e no quintal; iii) área cultivada com coco, quantidade produzida e de coqueiros; iv) sistemas técnicos utilizados na produção e formas de acesso à água; v)

146 Essa quantidade de 34 produtores representa aproximadamente 6% do total de produtores de coco encontrados

no perímetro, o que nos possibilita a elaboração de uma primeira tentativa de aproximação de uma tipologia que agregue tais agentes, que não estão sendo abarcados aqui em sua totalidade.

147 A metodologia utilizada por Bühler (2008), para traçar uma tipologia dos produtores de arroz do sul do Brasil,

consistiu no levantamento de seis variáveis, através das quais foi possível analisar especialmente as conjunturas socais e produtivas desses produtores, apreendendo a diversidade existente entre eles.

principais fontes de renda e atividades exercidas pelo responsável pelo lote; vi) organização do trabalho no cultivo do coco; vii) comercialização dos frutos e acesso ao mercado.

A quantidade de lotes agrícolas e o local de moradia (i) mostram como esses produtores acederam os lotes, demonstrando o papel que eles têm na configuração produtiva e social do perímetro a partir do conhecimento da quantidade de lotes que eles exploram e onde eles moram. Já os produtos cultivados no lote e no quintal (ii) e a área cultivada com coco, a quantidade produzida e a quantidade de coqueiros (iii) indicam qual a participação de cada produtor no contexto produtivo do perímetro, revelando se são pequenos ou grandes.

Os sistemas técnicos utilizados na produção e as formas de acesso à água (iv), por sua vez, mostram de que maneira cada produtor tem acesso aos recursos e meios técnico-científicos recomendados para a produção intensiva de coco, indicando as formas de inserção desses produtores na modernização do processo produtivo do fruto, e demonstrando ainda o quanto eles são dependentes de tais insumos e das formas de distribuição de água pelo DNOCS, órgão responsável por gerenciar essa distribuição.

As principais fontes de renda e as atividades exercidas pelo responsável pelo lote (v) permitem analisar de que maneira o produtor garante a sobrevivência de sua família e investigar qual a participação dela no rendimento total familiar. A partir dessa variável percebe-se qual o papel da produção de coco na composição da renda da família, quais outras atividades que porventura são realizadas pelo produtor no sentido de complementar essa renda, qual a rentabilidade do cultivo de coco e sobretudo qual os rumos dessa atividade.

A organização do trabalho no cultivo do coco (vi) é importante por revelar a participação do responsável pelo lote no processo de produção agrícola em si, na gestão desse lote e do coqueiral e na comercialização dos frutos, indicando possíveis divisões sociais e técnicas do trabalho e a participação da família na produção do coco. Por fim, a comercialização dos frutos e o acesso ao mercado (vii) indicam de que maneira os produtores são inseridos no mercado do coco, como eles comercializam os frutos produzidos e como se dá a participação dos outros agentes responsáveis por essa comercialização, notadamente os atravessadores.

Analisando essas variáveis foi possível reunir os produtores de coco do Curu-Paraipaba em quatro grupos distintos, a saber: a) produtores cuja renda advinda do coco é insuficiente; b) produtores cuja maior parte da renda advém do coco; c) produtores cuja renda advém do coco e de outras atividades igualmente rentáveis; d) produtores cuja renda excepcional advém do coco. Essa denominação foi pensada a partir do percentual da renda obtida com o coco e com

as demais atividades realizadas por seus produtores149. Evidenciamos também a presença de uma outra categoria de produtor, o agroindustrial, com funcionamento distinto dos demais. No quadro abaixo vemos a distribuição da tipologia de produtores observada, demonstrando a predominância dos produtores cuja maior parte a renda advém do coco.

Quadro 04 – Distribuição dos produtores de coco do perímetro irrigado Curu-Paraipaba.

Na sequência descrevemos algumas das principais características que se referem a cada um dos cinco grupos de produtores de coco (incluindo o produtor agroindustrial) encontrados no Curu-Paraipaba, resumidas no quadro apresentado ao final da descrição das tipologias (quadro 05). Esse conjunto de informações permite evidenciar o quão diferentes são esses produtores, embora compartilhem características semelhantes de acordo com a variável analisada. Assim, apesar da diversidade de produtores, é possível agrupá-los a partir de elementos em comum, sem, no entanto, homogeneizar por completo as diferentes práticas que os caracterizam. É importante atentar também para as formas de inserção desses produtores no contexto da reestruturação produtiva, evidenciadas em certos momentos.

a) Grupo de produtores cuja renda advinda do coco é insuficiente

Se enquadram nessa categoria os produtores que possuem principalmente um baixo rendimento advindo do cultivo do coco, ou então um rendimento que não é suficiente para a manutenção da família. A forma de obtenção do lote onde atuam se deu especialmente a partir do falecimento do colono progenitor da família, após a divisão do lote e dos coqueiros entre todos os filhos herdeiros, cabendo-lhes a manutenção conjunta da área e das árvores. A partir

149 Mantivemos essa denominação, apesar de a renda não ser a principal variável considerada, sobretudo com o

intuito de evitar a utilização de nomes aleatórios e que não fossem representativos do grupo em questão, evitando chamá-los de Produtor 1 e Produtor 2, por exemplo.

Tipologia Quantidade

Grupo de produtores cuja renda advinda

do coco é insuficiente 6 Grupo de produtores cuja maior parte da

renda advém do coco 14 Grupo de produtores cuja renda advém do

coco e de outras atividades igualmente rentáveis

9 Grupo de produtores cuja renda

excepcional advém do coco 4 Produtor agroindustrial 1

TOTAL 34

dessa divisão, o lote passou a ser explorado apenas por alguns filhos, onde cada um deles é responsável pelo trabalho e pela venda dos frutos colhidos dos coqueiros que lhes pertencem.

O principal produto cultivado no lote é o coco. Esses produtores realizam sempre um plantio consorciado de feijão e mandioca nas entrelinhas do coqueiro durante a estação chuvosa (de janeiro a junho), visando o consumo da família e a venda do excedente; por vezes cultivam ainda capim, mamão, abóbora, melancia e/ou hortaliças entre as árvores. No quintal, cultivam coqueiros e uma série de árvores frutíferas e hortaliças, e às vezes possuem uma pequena criação de galinha e até duas cabeças de vaca. Como o único lote da família é divido entre os irmãos, exploram apenas uma área média de 0,5 a 2 hectares, onde cultivam entre 75 a 250 coqueiros, que dão uma produção mensal de coco verde que varia entre 1.200 e 3.500 mil frutos. Esses produtores fazem a aplicação dos adubos químicos e agrotóxicos nos coqueiros a cada dois meses, já que exploram uma área pequena, e anualmente aplicam adubo orgânico, quase sempre esterco de vaca. Alugam as máquinas agrícolas (trator, grade e roçadeira) com outros produtores no perímetro de uma a duas vezes ao ano e/ou fazem todo o trabalho com o auxílio de uma enxada. Como não dispõem de recursos financeiros suficientes para trocar o sistema de irrigação utilizado, os coqueiros continuam sendo irrigados por aspersão convencional e/ou parte deles por microaspersão, mas nunca todos os coqueiros são irrigados individualmente pelos microaspersores. Além disso, dependem exclusivamente do fornecimento da água distribuída pelos canais do DNOCS, enfrentando sérios problemas quando esse fornecimento é suspenso.

Em virtude do número reduzido de coqueiros que possuem, os rendimentos da família não advêm exclusivamente da venda do coco, levando esses produtores a exercerem diversas atividades, como diaristas nos lotes dos outros produtores, ou ainda como pedreiros, eletricistas, motoristas, mecânicos, vendedores, entre outras. Para complementar a renda, vendem também os produtos cultivados entre os coqueiros e nos quintais. As esposas desses produtores são donas de casa e responsáveis pelo cultivo dos produtos nos quintais, e os filhos adolescentes trabalham como diaristas ou na colheita do coco. A família pode contar ainda com a participação do Bolsa Família e do aposento dos pais já idosos na composição da renda.

Os produtores desse grupo são os próprios responsáveis por todo o trabalho realizado nos lotes, normalmente contando com a ajuda de algum membro da família, seja um irmão ou filho. Dificilmente recrutam os serviços de diaristas, seja porque a área explorada é pequena seja porque os custos para o pagamento de tais profissionais são altos; somente recrutam um diarista quando é necessária a aplicação dos agrotóxicos. No que tange à comercialização do

coco produzido, são inteiramente dependentes dos atravessadores, somente acedendo ao mercado por intermédio desses agentes.

b) Grupo de produtores cuja maior parte da renda advém do coco

É o maior grupo de produtores encontrados no Curu-Paraipaba, aqueles cuja maior parte da renda comumente advém do cultivo de coco. Esses produtores podem ser tanto os filhos de colonos que chegaram no perímetro na década de 1970, como os pequenos produtores que compraram um lote a partir de meados dos anos 2000, apresentando portando duas origens completamente distintas. Nesse grupo de produtores estão inseridos também aqueles colonos que foram assentados pelo DNOCS e que atualmente já estão aposentados, com tendência a repassar o lote para os filhos ou então revende-lo para outros produtores, abandonando por completo a atividade produtiva do coco.

O principal produto cultivado no lote é o coco, responsável por proporcionar o maior rendimento da família. Esses produtores sempre fazem um plantio consorciado com feijão e mandioca, visando o consumo próprio e a venda do excedente. No quintal comumente plantam coco e uma série de árvores frutíferas e hortaliças, além de possuir uma pequena criação de galinha e vacas, também destinada ao consumo familiar e à comercialização. Exploram de 3,6 a 4 hectares, que corresponde à área de apenas um lote. Possuem aproximadamente de 400 a 600 coqueiros, plantados no lote e no quintal, que dão uma produção média que varia entre 4 e 10 mil frutos por mês.

Aplicam os adubos químicos e agrotóxicos mensalmente e o adubo orgânico anualmente. Todos os meses, após a colheita dos frutos, adquirem os insumos indispensáveis para manter a produtividade dos coqueiros em lojas na própria cidade de Paraipaba. Sempre que necessitam, alugam máquinas agrícolas com um produtor que as possui, utilizadas para roçar e gradear o lote. Todos os coqueiros são irrigados por microaspersão, e os produtores dependem exclusivamente do fornecimento da água via canais do DNOCS, não dispondo de fontes próprias para o abastecimento hídrico dos coqueirais.

O produtor atua essencialmente como agricultor, trabalhando no lote e dificilmente se responsabilizando por outras atividades. Apesar de a família viver basicamente da renda do coco, a participação da esposa na renda familiar também é fundamental, já que além de atuar como dona de casa e se encarregar do cultivo dos produtos do quintal, pode exercer ainda outras funções, atuando como professora ou vendedora, por exemplo. A família pode também contar com o aposento dos pais, que por ventura possam estar morando na mesma casa, e com o Bolsa Família, dependendo do rendimento familiar.

Nesse grupo, os produtores são os principais responsáveis pela manutenção dos lotes, mas contam sempre com a ajuda de diaristas e/ou de algum familiar. Esses produtores costumam recrutar diaristas de uma a três vezes por semana, dependendo dos serviços a ser realizados no lote, tais como a capina, a adubação, a poda das árvores, a pulverização, a colheita do feijão e da mandioca etc. Já a comercialização dos frutos é realizada exclusivamente via atravessadores, responsáveis pela colheita, com o auxílio de seus próprios trabalhadores, e pelo transporte dos frutos destinados aos consumidores finais.

c) Grupo de produtores cuja renda advém do coco e de outras atividades

Se trata de um grupo diversificado de produtores, cuja característica principal consiste no acúmulo de outras atividades mais rentáveis associadas ao cultivo do coco. Esses produtores podem ser tanto os colonos assentados pelo DNOCS, como os seus filhos e os demais que chegaram no perímetro somente nestas últimas duas décadas. Uma característica comum aos produtores desse grupo é sempre a posse de mais de um lote, indo de dois a seis lotes, e também de quintais e áreas mortas. Esses produtores podem morar no quintal da família ou em quintal próprio não destinado ao plantio de coco.

O principal produto cultivado nos lotes é o coco. Exploram por volta de 8 a 30 hectares distribuídos nos vários lotes, quintais e áreas mortas de propriedade dos produtores. Possuem em média 1.000 a 3.200 coqueiros, que dão uma produção mensal de 15 a 40 mil frutos verdes por mês, dependendo do período do ano e da quantidade de insumos utilizados. Comumente fazem um plantio consorciado com feijão e mandioca, para consumo próprio, venda do excedente e/ou fixação de nutrientes no solo. No quintal, esses produtores normalmente cultivam coco e criam várias cabeças de gado bovino (por volta de 20) e ovino (em torno de 30), visando a venda da carne e especialmente do leite, e em alguns desses quintais há um pequeno cultivo de árvores frutíferas e hortaliças.

Esses produtores têm um amplo acesso ao pacote técnico-científico disponibilizado para o cultivo de coco, e a cada mês renovam o estoque de insumos, usufruindo sem muita dificuldade das benesses advindas com a modernização da produção do fruto. Fazem a aplicação dos adubos químicos e agrotóxicos mensalmente, e sempre após a colheita dos frutos adquirem novos insumos. A cada dois meses alugam as máquinas agrícolas com outro produtor que as possua, não dispondo de maquinário próprio. Esporadicamente recorrem aos serviços de técnicos agrícolas, que trabalham principalmente nas lojas de insumos de Paraipaba. Um diferencial desses produtores está relacionado ao acesso à água, uma vez que todos eles possuem poços profundos e/ou próprios reservatórios que acumulam a água visando suprir a

carência durante a suspensão do seu fornecimento; além disso, todos os coqueiros plantados são servidos por um microaspersor.

Devido a uma considerável produção mensal, a mais importante fonte de renda desses produtores advém do cultivo de coco, vista como a atividade principal da família. Entretanto, apesar de proporcionar os maiores rendimentos, a produção do fruto não é a única atividade igualmente rentável desempenhada pelos produtores, que atuam ainda como pecuaristas, atravessadores (vendendo a própria produção e a de outros produtores) e/ou comerciantes, ampliando a renda mensal familiar. Há ainda alguns produtores que complementam a renda a partir do aposento do casal, situação observada quando o produtor já é aposentado.

Nesse grupo, os responsáveis pela exploração direta dos lotes não são os produtores, e sim os diaristas e algum funcionário de confiança, cabendo aos produtores se responsabilizarem somente pela gestão do lote e pela comercialização dos frutos. Devido ao grande número de lotes, esses produtores recrutam semanalmente ou diariamente de dois a oito diaristas para realizarem as atividades nos lotes. Os produtores possuem ainda em seu quadro de funcionários um trabalhador fixo responsável por gerir a produção agrícola na sua ausência, cabendo a ele também recrutar os diaristas e comprar os insumos.

A comercialização dos frutos produzidos é também outro diferencial dessa tipologia de produtores, já que eles podem vender a produção via atravessadores e/ou encaminhá-la diretamente para o mercado. Alguns desses produtores dependem exclusivamente da atuação dos atravessadores, não possuindo outros meios de revender os frutos; por vezes o atravessador pode ser até mesmo o filho do produtor. Já outros produtores inseridos nesse grupo atuam também como atravessadores, encaminhando a produção diretamente para as fábricas, para os mercados atacadistas do país e/ou para os consumidores finais. Esses produtores possuem, portanto, uma autonomia maior no momento da comercialização.