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Popularização e internacionalização do consumo de água de coco

Reestruturação produtiva do setor

Fotos 05 e 06 – Coqueiros irrigados por microaspersores, em destaque.

2.3 CONSUMO DE ÁGUA DE COCO E SETOR AGROINDUSTRIAL

2.3.1 Popularização e internacionalização do consumo de água de coco

Desenha-se um novo padrão alimentar no Brasil neste início de século, acompanhando uma tendência observada em praticamente todo o mundo, sendo notável uma busca cada vez maior por produtos naturais, frescos, orgânicos, in natura, com poucas calorias, expandindo consideravelmente o consumo de frutas, sucos e isotônicos naturais, por exemplo. De acordo com Bezerra (2012, p. 132), as mudanças nos hábitos alimentares e o maior estímulo ao consumo de frutas pela população mundial fizeram com que a demanda por esse tipo de produto aumentasse vertiginosamente. Ainda segundo o autor, esse aumento é nítido, já que nunca se comercializaram tantas frutas em feiras, supermercados e hipermercados como nas últimas décadas, especialmente após os anos 2000.

Dentre os produtos que contribuíram para esse aumento do consumo e da comercialização de frutas no país está o coco, mais precisamente o coco verde. Esse fruto é apontado por Mota (2003) como o “produto da moda”, e isso se deve ao extraordinário aumento no consumo da água de coco, um isotônico natural78. Em cima desse produto foi criado todo um ideário mercadológico vinculado à busca por uma melhor estética corporal, sobretudo através do consumo de produtos ditos saudáveis, que não engordam e auxiliam no emagrecimento. Além disso, a associação feita da água de coco ao bom preparo físico e à prática de esportes, por ser um isotônico natural, por exemplo, representa um forte potencial para a expansão do seu mercado consumidor79, conforme ressaltam Martins e Jesus Júnior (2011).

Nesse sentido, Cavalcanti, Mota e Silva (2006) apontam que até mesmo ao coco, um produto tradicional do litoral nordestino, foram agregados novos atributos para dotá-lo de características adequadas à sua distribuição e ao seu consumo in natura, em atendimento às

78 Que são aquelas bebidas à base de água, sais minerais e carboidratos, ideais para reposição de líquidos perdidos

durante a realização de uma atividade física.

exigências de alguns setores de seu agora importante mercado consumidor. Analisando um contexto muito mais amplo, os autores relatam ainda que “a introdução de novas culturas e a transformação de produtos tradicionais têm contribuído para a reelaboração e ressignificação de símbolos da agricultura nordestina, desta vez com frutos tropicais, saudáveis e naturais, associados ao clima e à beleza da região” (CAVALCANTI, MOTA, SILVA; 2006, p. 121).

Em virtude das investidas do mercado explorando as qualidades nutricionais da água de coco, seu consumo in natura está em larga expansão por todo o país desde meados dos anos 1990, e seu consumo em caixinhas Tetra Pak notadamente após 2010. De acordo com uma reportagem publicada no Portal SESC80, foi entre o final dos anos 1980 e começo da década de 1990 que o brasileiro passou a consumir um produto até então típico do verão e associado somente à ideia de praia, o coco verde, amplamente já consumido no litoral nordestino, tendo conquistado as praias do Rio de Janeiro e em seguida os principais centros urbanos do restante do país, sobretudo São Paulo. Ainda de acordo com essa reportagem: “o avanço da bebida sobre o paladar nacional foi impulsionado por fatores como a facilidade da oferta e a crescente valorização dos alimentos naturais”.

Já o pesquisador do Setor de Processos Agroindustriais da Embrapa, por nós entrevistado, dá outra explicação para essa significativa expansão do consumo de água de coco no Brasil. Segundo ele, tudo começou por volta dos anos 1990, quando

[...] abriu-se o mercado para as indústrias alimentícias importarem coco de fora do país, mudando toda a característica da indústria local e diminuindo a demanda interna pelo produto. E os produtores não sabiam mais o que fazer com o coco seco, daí começaram a vender o coco verde mesmo. Vendiam esse coco verde na praia e viu-se que esse mercado tinha um grande potencial. Depois disso o coco verde ganhou todo o Brasil, sendo consumido na forma in natura em todas as regiões e não mais somente no Nordeste, favorecendo um aumento incrível do consumo de água de coco, motivando cada vez mais novos produtores a cultivarem coco verde para o mercado. Mas é nesses últimos anos que definitivamente a água de coco ganhou o mundo, com a expansão do seu consumo em caixinhas, muito mais prático para a exportação, uma vez que elimina o ônus de levar o coco verde junto.

Por todo o país, esse crescente consumo de água de coco é realizado sobretudo in natura, quando se adquire o coco ainda verde, seja em barracas de praia, quiosques, bares, restaurantes, supermercados, centrais de distribuição e armazenamento etc. Entretanto, quando não é consumida in natura, a água de coco é adquirida armazenada em garrafinhas de plástico, em latinhas de alumínio e em caixinhas de papelão tipo Tetra Pak (imagem 05), ampliando as possibilidades nas quais pode vir a ser consumida, representando um importante potencial de

80 Fonte: http://goo.gl/bYvZmk, Portal SESC – “Verão movido a água de coco”, matéria do dia 28/04/08 e acessada

crescimento para um setor em ascendente expansão e abrindo novos canais de comercialização para esse produto81. O consumo de água de coco envasada, isto é, armazenada em outros recipientes, cresce de acordo com o aumento da procura e, especialmente, com o desenvolvimento de novos equipamentos para o envase82 da água nas fábricas e de novas tecnologias para ampliar o tempo de consumo do produto, conforme assegurou o pesquisador do Setor de Processos Agroindustriais da Embrapa.

Dentre essas novas tecnologias, descritas pelo pesquisador da Embrapa, destacamos o desenvolvimento de um extrator mecânico de água de coco de alta resistência e que processa até 2 mil frutos por hora, desenvolvido pela Embrapa Agroindústria Tropical no início dos anos 2000 com o intuito de agilizar a operação de extração da água (imagem 06). Tal extrator e outros equipamentos que vieram em seguida foram responsáveis por aumentar o número de empresas especializadas na extração e no envase de água de coco, difundindo-se também a produção armazenada em caixinhas de papelão. Além disso, merece destaque ainda o desenvolvimento de novas tecnologias visando ampliar a conservação da água de coco por um tempo muito maior, aumentando seu tempo de prateleira de 8 para até 60 dias, podendo ser estendido por até um ano, favorecendo a expansão de sua comercialização, inclusive para fora do país, e inserindo a água de coco brasileira diretamente no mercado internacional.

Imagem 05 – Embalagens de água de coco Imagem 06 – Primeiro extrator mecânico de água envasada da marca Kero Coco. de coco desenvolvido pela Embrapa.

Fonte: Divulgação Kero Coco, 2014. Fonte: Embrapa Agroindústria Tropical, 2000.

Analisando esse atual momento do coco no Brasil, representado pela popularização e consolidação do consumo de coco in natura e pela expansão do consumo de água de coco envasada, o gerente de Mercados e Projetos da Diretoria de Agronegócios da ADECE, por nós

81 Segundo assegura Carolino (2005).

82 A título de informação, o “envase de água de coco” é definido como todo aquele processo de extração da água

de dentro do coco e um posterior armazenamento dessa água em algum tipo de vasilhame ou qualquer outro recipiente, exceto garrafas. Caso seja armazenado em garrafas, o processo se chama “engarrafamento”.

entrevistado, faz um depoimento que ilustra bem essa relação entre demanda, mercado e novas tecnologias para o setor do coco, como podemos observar abaixo.

O que é que mudou nesses poucos anos que fez o coco passar a ser um bom negócio e que não era antes? Simplesmente a industrialização da água de coco! A retirada da água de dentro do coco pela indústria era inviável, e isso por questões químicas e físicas do próprio produto. O papel da Embrapa foi fundamental, uma vez que ela desenvolveu uma tecnologia relativamente simples de extração da água de coco, criando uma máquina para a extração dessa água evitando o contato com o oxigênio, que levava a oxidação do produto, mudando a cor e o gosto da água. Isso aí foi a diferença básica que existe no setor do coco. Uma das outras razões é o aumento do consumo, a demanda aumentou bastante!

Uma das únicas maneiras de mensurar a expansão do consumo de água de coco envasada é analisando os dados divulgados pela Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e Bebidas Não Alcoólicas (ABIR), que lançou entre os anos de 2003 e 2010 um importante levantamento do consumo de bebidas não alcoólicas no país. Conforme indicam os dados83 (tabelas 08 e 09), o consumo de água de coco envasada no Brasil passou dos 18 milhões de litros em 2003 e chegou aos 61 milhões em 2010, um significativo crescimento de quase 235% em apenas sete anos. Enquanto a previsão para 2012 lançada pela ABIR é que esse consumo tenha chegado aos 92 milhões de litros, representando um crescimento de mais de 50% se compararmos com o ano de 2010, indicando que esse consumo continua em expansão.

Tabela 08 – Brasil. Consumo de água de coco envasada (em milhões de litros). 2003 – 2010.

2003 2007 2010

18,49 35,67 61,92 Fonte: ABIR. Elaboração: Cavalcante, 2014.

Tabela 09 – Brasil. Consumo de água de coco envasada (em milhões de litros).

Variações absoluta e relativa (em %). 2003 – 2010.

Variação Absoluta Variação Relativa

2003-2007 2007-2010 2003-2010 2003-2007 2007-2010 2003-2010

17,18 26,25 43,43 92,92 73,59 234,88 Fonte: ABIR. Elaboração: Cavalcante, 2014.

Essa expansão do consumo de água de coco envasada é mais considerável ainda quando observamos os índices obtidos por outras bebidas no período de 2003 a 2010, divulgados também pela ABIR. Nota-se que apenas o consumo de energéticos (553%), de bebidas à base de soja (473%) e de guaraná (247%) obteve taxas de crescimento superiores ao consumo da água de coco (234%), ao passo que campeões de vendas como refrigerantes (34%), suco concentrado (10%) e água engarrafada (70%) apresentaram taxas de crescimento pouco

83 Salienta-se que os dados divulgados se referem ao consumo de água de coco não in natura, isto é, armazenada

expressivas se compararmos a essas quatro outras bebidas. Com isso, pode-se concluir que o consumo de água de coco envasada é um dos que mais crescem no país, crescimento superior até mesmo ao do consumo de refrigerantes.

E a maior participação desse consumo se dá no Sudeste do país. Em 2010, conforme indicam os dados da ABIR (tabela 10), de toda a água de coco envasada consumida no país 68% foi somente na região Sudeste, sendo mais de 38% apenas do Estado de São Paulo, de longe o maior mercado consumidor do produto no Brasil. Segundo um ex-diretor de produção da empresa Ducoco84, isso pode ser explicado pelo fato de que o mercado nordestino ainda é bastante resistente em começar a consumir a água de coco envasada, dando preferência pelo seu consumo in natura, diferentemente do observado no Sudeste, que apresenta um importante potencial de crescimento do consumo desse produto, sobretudo a cidade de São Paulo. Isso comprova a eficiência das ações de marketing empreendidas pelas empresas do setor, capazes de incluir a água de coco envasada no cardápio dos brasileiros, até então habituados somente com o seu consumo in natura.

Tabela 10 – Regiões do Brasil. Consumo de água de coco envasada

(em milhões de litros) e proporção (em %). 2010.

Região Consumo Proporção

Nordeste 2,17 3,5 Sudeste 42,6 68,8 Sul 11,27 18,2 Centro-Oeste 4,71 7,6 Norte 1,18 1,9 BRASIL 61,92 100

Fonte: ABIR. Elaboração: Cavalcante, 2014.

Diretamente associado à expansão do consumo de água de coco envasada está o surgimento de dezenas de empresas especializadas na produção e/ou comercialização desse produto, que inclusive passaram a investir fortemente no setor. A Sococo e a Ducoco, por exemplo, entraram no mercado de água de coco envasada somente no início dos anos 2000, e atualmente controlam uma importante fatia desse mercado. Além dessas duas grandes empresas, destaca-se a paraense Amacoco, fundada em 1995 e adquirida pela multinacional PepsiCo em 2009, sendo atualmente a líder de vendas de água de coco no mercado nacional, revendedora da marca Kero Coco (imagem 05, já apresentada), a mais consumida do país.

As principais empresas do setor, Sococo e Ducoco, que tradicionalmente trabalhavam com leite de coco e coco ralado, passaram a apostar também no mercado da água, inclusive para

exportação, o que colocou o Brasil na posição de maior produtor mundial da bebida85. Na Ducoco, por exemplo, segundo seus diretores entrevistados, a água de coco envasada já superou a produção e as vendas de leite e coco ralado. Já de acordo com o diretor-comercial da Sococo, “a água de coco agora vale ouro”, e é sem dúvida a grande aposta de expansão do setor, conforme vemos no depoimento abaixo, veiculado pela Revista Dinheiro Rural86.

Graças à fama de estimulante natural, a água de coco é a nova queridinha do consumo saudável, disputando a preferência entre os naturebas de todos os calibres com as bebidas energéticas. Antes descartada como resíduo pela indústria de alimentos, ela se transformou num produto em ascensão no mercado, e já faz parte do portfólio de multinacionais como a PepsiCo. Do coco, a indústria queria apenas a polpa da fruta, para a fabricação de doces, biscoitos e sorvetes. Quem quisesse beber água de coco tinha de recorrer aos ambulantes espalhados pelas praias e ruas das cidades. “Essa história ficou no passado”, diz o diretor-comercial da Sococo, a maior produtora brasileira de água de coco industrializada. “Agora, a água vale ouro”.

É importante destacar que esse crescente consumo de água de coco envasada não se dá apenas em terras brasileiras, mas também nos Estados Unidos e em diversos países da Europa, basicamente nesta última década. Em um levantamento sobre o setor do coco realizado por Gerbaud (2011, p. 42), o pesquisador, que trabalha no CIRAD, já destacava esse boom no consumo de água de coco pelo mundo. Segundo ele,

O setor de bebidas à base de coco constitui um mercado que cresce fortemente nestes últimos anos em todo o mundo. No Brasil, por exemplo, ele representa um negócio que movimenta anualmente cerca de 300 milhões de dólares. Além disso, a água de coco em Tetra Pak conhece um grande sucesso nos Estados Unidos e nos países anglo-saxões da Europa. Esse setor conhece um desenvolvimento muito mais importante do que o próprio fruto, especialmente após eliminados os problemas da sua dificuldade de consumo.

Conforme uma matéria publicada em 2012 noThe Wall Street Journal87, de Nova York, “as vendas de refrigerantes andam mornas nos Estados Unidos e a indústria de bebidas, de olho no próximo filão, tem aumentado suas apostas numa velha conhecida das praias brasileiras: a água de coco”. A matéria destaca ainda que “promovida como uma bebida esportiva, natural e que ajuda a reidratar corpos cansados, a água de coco está chegando a um número cada vez maior de prateleiras nos EUA, em caixas, latas ou garrafas”. Já segundo o The New York Times88, em matéria publicada em 2014, “a água de coco parece ter saído da invisibilidade para

85 Fonte: http://goo.gl/AF4RMv, Revista Globo Rural – “Água de coco faz carreira de sucesso no exterior”, matéria

do dia 28/12/11 e acessada em 30/12/11.

86 Fonte: http://goo.gl/U48XUZ, Revista Dinheiro Rural – “Bebida de gente grande”, matéria do dia 20/10/12 e

acessada em 23/11/14.

87 Fonte: http://goo.gl/xoLtAc, The Wall Street Journal – “Refrigerantes perdem o gás e água de coco ganha

espaço”, matéria do dia 12/02/12 e acessada em 14/02/12.

88 Fonte: http://goo.gl/9lWAwW, The New York Times – “Avaliado em US$ 400 milhões, mercado de água de

os refletores em um piscar de olhos. Agora é possível encontrar a bebida em todo o canto – não apenas em supermercados e lojas de conveniência, mas também nas propagandas de ônibus (‘Abra um coco, abra a vida’) e em placas de bares (‘Desintoxique enquanto se intoxica’, dizia uma placa em Manhattan)”.

A considerável expansão do consumo de água de coco envasada nos Estados Unidos, além de favorecer as exportações brasileiras do produto, leva ao surgimento de dezenas de empresas especializadas na sua comercialização e distribuição. Apenas nesse país, por exemplo, podemos citar quatro dessas empresas, que estão entre as maiores revendedoras de água de coco do mundo, que são: a Vita Coco, fundada em 2004, a O.N.E. e a Naked, adquiridas entre 2009 e 2010 pela PepsiCo, e a Zico Beverages, adquirida em 2009 pela Coca-Cola Company. A entrada da PepsiCo e da Coca-Cola no mercado de água de coco já é um importante indicador para demonstrar o peso que o setor adquire pelo mundo, fazendo com que as duas maiores companhias de refrigerantes do planeta se voltem também para o mercado de água de coco.

A Vita Coco, maior empresa de revenda de água de coco em caixinha nos Estados Unidos, assume hoje também o posto de maior empresa do setor no mundo, atuando ainda em outros 13 países, como França, Inglaterra, Alemanha, Espanha, Dinamarca, Holanda, para citar alguns, conforme indicado no site da empresa89. Nos Estados Unidos, a Vita Coco gere um negócio que movimenta cada vez mais valores milionários, contando com investidores de peso, como a cantora Madonna e vários outros astros de Hollywood. Até o começo de 2014, o Brasil era o principal fornecedor de água de coco para a Vita Coco, notadamente duas empresas cearenses, a Ducoco e a Paragro, e o produto já saía dos portos do Ceará em direção ao porto de Nova York com a água dentro das caixinhas com a marca da empresa estadunidense.

De acordo com o The Wall Street Journal, esse mercado altamente concorrido e em forte expansão no Estados Unidos é majoritariamente controlado pela Vita Coco, seguido pela Coca- Cola (Zico) e pela PespiCo (ONE e Naked). Já segundo um levantamento realizado pelo The New York Times, atualmente mais de 200 marcas vendem o produto em todo o mundo. As empresas que detêm essas marcas usam o marketing como maior aliado na busca por mais consumidores, sempre atrelando seus produtos ao cuidado com a saúde e os associando a imagens de praias paradisíacas de algum país dos trópicos, que na maioria das vezes é o Brasil. Vale destacar que essas empresas não possuem nenhum coqueiro plantado, e seus fornecedores são oriundos especialmente de países como Indonésia, Tailândia, Brasil, Filipinas e Vietnã. Somente no Brasil, a Ducoco e a Paragro são as maiores fornecedoras mundiais da

Vita Coco, que inclusive possui um funcionário que reside e trabalha no litoral cearense visando acompanhar de perto a atuação das duas empresas brasileiras; enquanto a Sococo é fornecedora da Naked, empresa da PepsiCo. Algumas dessas empresas estrangeiras, além de comercializar água de coco, também vendem o produto saborizado (misturado) com suco de frutas, chás, leite de soja e até mesmo café, visando ampliar seu leque de consumidores.

Com o boom do consumo de água de coco envasada em todo o mundo, as exportações brasileiras do produto cresceram significativamente. De acordo com os dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX)90, entre 2000 e 2012 as exportações de água de coco pelo Brasil obtiveram um importante aumento de 278%, isso em apenas dez anos, passando das 8,8 mil para as 33,4 mil toneladas (tabela 11), com uma tendência de continuidade desse crescimento. Ainda segundo esses dados, dentre todos os países para os quais o Brasil exporta destacam-se os Estados Unidos, responsável por adquirir em 2012 aproximadamente 72% do total exportado, quantidade essa obtida majoritariamente pela Vita Coco.

Tabela 11 – Brasil. Quantidade exportada de água de coco envasada (em quilogramas). 2000 – 2010.

2000 2002 2004 2006 2008 2010

8.830.126 16.483.040 25.967.346 35.122.745 35.644.154 33.422.522 Fonte: MDIC/SECEX. Elaboração: Cavalcante, 2013.

Percebe-se, assim, que houve uma internacionalização do mercado e do consumo da água de coco, que deixou de ser um produto cultivado e adquirido exclusivamente por comunidades locais para se tornar um produto global e amplamente consumido em diversas partes do planeta, passando inclusive a despertar a atenção de grandes empresas multinacionais. Um outro fato que pode provar a internacionalização do consumo desse produto, por exemplo, é a incorporação da opção da compra de água de coco em grandes redes de fast-food, como Subway, McDonald’s e Burger King, atingindo um mercado ainda maior e inserindo também o coco em um sistema alimentar cada vez mais mundializado, nos termos utilizados por Fumey (2007). Desse modo, e de acordo com Elias (2002a, p. 15), o que podemos perceber ao visualizar a internacionalização do consumo de água de coco é que

cada vez mais, a produção para o autoconsumo é substituída pela economia de mercado, em decorrência das demandas urbanas e industriais, com vistas à produção de mercadorias padronizadas para o consumo de massa globalizado, aumentando a taxa de internacionalização da agropecuária brasileira, em cujo processo as multinacionais são os agentes mais poderosos.

90 Ressalta-se que a partir de 2012 a SECEX mudou a metodologia para o levantamento e divulgação dos dados

referentes às exportações de água de coco, motivo pelo qual não tivemos como fazer a compilação dos dados