• Nenhum resultado encontrado

6. ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.2 O comportamento dos usuários com problemas de mobilidade

6.2.2 O Caso 2: A menina que usava cadeira de rodas no Bosque

Da visita realizada em um sábado, 29 de setembro de 2012 das 09:00h às 13:45h.

A chegada ao parque foi realizada pela portaria 1, muitas pessoas estavam no parque nesse dia e havia uma concentração atípica de crianças na área do Bosque devido à excursão de uma escola.

Ao adentrar o Bosque e em meio a todo o movimento, avistei uma menina que usava cadeira de rodas e que estava acompanhada de um homem e uma mulher, possivelmente seus pais. A observação foi então iniciada no local representado pelo quadrado azul no mapa de deslocamento, figura 56.

FIGURA 56 – Mapa deslocamento da menina usando cadeira de rodas e seus acompanhantes Fonte: Arquivo da autora, 2012.

No início da observação, a família parecia caminhar atraída pelo movimento de pessoas próximo ao coreto. Vale notar que o homem sempre esteve empurrando a cadeira de rodas, sem revezar com a mulher e sem que a pessoa em cadeira de rodas assumisse o controle do equipamento. Eles fizeram o trajeto pelo gramado, paralelamente a uma trilha de areia e seixos, e quando se aproximaram mais do coreto passaram à trilha de piso intertravado. Os trajetos estão representados pelas linhas em verde e laranja na figura 56.

111 As figuras 57 e 58 mostram o momento dessa transição do gramado para a trilha em volta do coreto. Este comportamento pode sugerir uma preferência por andarem no gramado ao invés de seguirem pela trilha com pedras. E, na sequencia, uma preferência da trilha em piso intertravado em relação à grama, que pode se dever à maior facilidade de impulsionarem a cadeira de rodas num piso mais uniforme.

FIGURA 57 – Deslocamento pela grama FIGURA 58 – Passando para o piso intertravado Fonte: Arquivo da autora, 2012. Fonte: Arquivo da autora, 2012.

A família então dá uma volta em torno do coreto e em seguida o homem, sempre acompanhado pela mulher, guia a menina na cadeira de rodas até o anexo dos sanitários (FIGURA 59). Esse é o primeiro ponto de paradas deles, representado pelo círculo vermelho número 1 no mapa de deslocamento.

FIGURA 59 – Se aproximando dos sanitários FIGURA 60 – Mulher acompanha a menina Fonte: Arquivo da autora, 2012. Fonte: Arquivo da autora, 2012

É interessante notar que, na figura 59, a menina parece se interessar pelo movimento que havia naquela área observando as outras crianças que estavam próximas. Então a mulher acompanha a garota ao banheiro adaptado (FIGURA 60) enquanto o homem aguarda próximo ao local.

112 Quando elas saem, o homem assume novamente a função de guiar a cadeira e, nesse momento, não se sabe se por decisão da menina ou do pai, eles passam a caminhar novamente pela grama.

Ao analisar o trajeto feito no mapa, parece que a intenção era “cortar caminho”, pois não havia uma trilha que conectasse os sanitários à trilha central em linha reta. Nesse caso, eles teriam que voltar e passar em frente ao bicicletário novamente e seguir em torno do coreto, mas optam pela grama.

O homem empurrava a cadeira demonstrando dificuldade e um aumento da força para fazê-lo, pois esticava bem os braços e inclinava o corpo para frente, nesse trecho a grama parecia estar mais fofa o que dificultava a passagem da cadeira. De repente, as rodas dianteiras travaram na grama e a garota caiu no chão, círculo representado pela parada número 2 no mapa de deslocamento.

A menina leva as mãos à frente do corpo e consegue amortecer a queda, mas os pais ficaram visivelmente preocupados e constrangidos. Prontamente ajudam-na a voltar para na cadeira (FIGURA 61) e retomam a trilha em piso intertravado (FIGURA 62).

FIGURA 61 – Mulher auxilia a garota após queda FIGURA 62 – Retorno para a trilha Fonte: Arquivo da autora, 2012. Fonte: Arquivo da autora, 2012

A família segue então em direção ao Centro de Apoio, onde fica a lanchonete. Eles compram algo para beber e se sentam na grama, em frente ao espelho d’água, como mostrado na figura 63.

113

FIGURA 63 – Família contempla espelho d’água Fonte: Arquivo da autora, 2012.

Apesar de haver mesas e assentos disponíveis sob a marquise da lanchonete que tem vista para o espelho d’água, a família opta por se sentar na grama, inclusive a menina. Eles permanecem ali, sob o sol, de 11:40h às 12:00h quando se levantam e se dirigem à saída pela portaria 1.

O desfecho dessa visita leva a questionamentos sobre a intenção que a família poderia ter de caminhar mais tempo pelo bosque, observando as pessoas, ou se já tinham intenção de ir para o Centro de Apoio.

Será que a escolha por sentar na grama se deve à vontade do contato com ela ou tal comportamento pode ter sido motivado por certo constrangimento dos pais em relação à queda da filha?

Afinal, como o sol estava muito forte, contemplar o espelho d’água sentados à sombra poderia ser mais confortável. Outro fator que se destaca é o tempo de permanência das pessoas sentadas no chão, pois após se passarem 20 minutos eles decidiram ir embora.

Ressalta-se ainda a qualidade da interação da criança com outras pessoas que estavam no parque e com os próprios pais. Ela pôde observar outras crianças e

114 parecia se interessar pelo movimento no Bosque mas não interagiu com nenhuma delas, e durante o momento de contemplação em frente ao espelho d’água isso também não ocorreu.

De fato, nesse caso, a permanência no local pode ter sido condicionada à conveniência da pessoa que empurrava a cadeira de rodas em exercer tal esforço de modo prolongado após a experiência de dificuldades ao andarem sobre pisos irregulares. A distância percorrida e o evento acidental podem ter influenciado a família na decisão de permanecerem no parque na região restrita ao coreto e sanitário, considerando-se que a partir daí a distancia até a saída era menor. Esse caso exemplifica influências das condições do piso e das distâncias sobre o comportamento de visitantes, incluindo-se uma pessoa em cadeira de rodas.

115