• Nenhum resultado encontrado

O conceito de Jaime Covarrubias sobre Transformação Militar

3 A ARTILHARIA INTEGRADA À REDE

3.4 TRANSFORMAÇÃO E INOVAÇÃO DISRUPTIVA

3.4.3 O conceito de Jaime Covarrubias sobre Transformação Militar

As diretrizes constantes no documento Transformation Planning Guidance

exerceram forte influência sobre as forças armadas de vários países do mundo ocidental,

fazendo-as repensar o papel que desempenham suas forças armadas, bem como acerca dos processos de modernização, reestruturação ou reforma pelos quais deveriam passar, a fim de enfrentar os novos desafios.

A partir dessa tendência, vários países latino-americanos começaram a introduzir em suas forças armadas processos de mudanças com diferentes propósitos e denominações, sendo que, de uma maneira geral, estão sendo utilizados três conceitos: adaptação, modernização e transformação (figura 32).

54

Blindagem ativa, segundo Wright, trata-se de um sistema constituído de mísseis que, mediante

De acordo com Covarrubias, um processo de adaptação “consiste em adaptar as estruturas existentes para continuar cumprindo as tarefas previstas”; um processo de modernização busca a “otimização das capacidades para cumprir a missão de uma melhor forma”, enquanto que a transformação visa ao “desenvolvimento de novas capacidades para cumprir novas missões ou desempenhar novas funções em combate.”

Como se pode perceber, por transformação entende-se tratar de um processo muito mais amplo e profundo, que envolve mudanças na natureza da missão e na forma de como cumpri-la, além de ter um alcance não apenas técnico, mas também político. Envolve, portanto, “mudar a orientação e empreender um novo caminho” (COVARRUBIAS, 2007, p. 22).

Segundo o mesmo autor, estas modificações podem impactar um ou mais dos três pilares das forças armadas: natureza, a estrutura jurídica e capacidades.

Figura 32 – Adaptação, Modernização e Transformação

Fonte: Covarrubias (2007, p. 18).

De acordo com Covarrubias, alguns governos da América Latina estão realizando reformas no tocante à sua natureza. A natureza das forças militares tem suas raízes na história mais remota da humanidade, centradas na necessidade de subsistência das antigas civilizações. Outro aspecto essencial acerca da natureza das forças armadas é seu vínculo com o poder:

Desde que surgiram as primeiras organizações sociais, o poder estava estruturado sobre a base de três funções antropológicas que eram respectivamente: a

capacidade de se organizar e manter uma ordem social (função política, incluída a economia); a de lutar pela subsistência (função militar) e a crença na existência de um julgamento superior (função religiosa). Logo, desde os primórdios, quem desejar o poder terá que controlar estas três funções que vieram a ser conhecidas mais tarde como política, militar e religiosa. Desde o tempo dos faraós, estavam à frente monarcas que acumulavam estas funções em uma só autoridade, algo que a democracia busca separar. (COVARRUBIAS, 2007, p.19).

Nos dias atuais, as forças militares estão diretamente ligadas à sua natureza, porém devem contextualizá-la no cenário regional e mundial em que se encontram. A reformulação das forças quanto à natureza tem ocorrido com aqueles países que têm atribuído às suas forças papéis de policiamento interno, delegando a defesa externa a outras forças, como, por exemplo, o caso da Costa Rica, que confiou aos EUA sua segurança externa.

A partir da contextualização citada acima, dentro de um cenário democrático, os países tendem a especificar as tarefas, atribuições e missões específicas de suas forças armadas por intermédio de um arcabouço jurídico. Desta forma, se configura o segundo pilar, que é a estrutura jurídica das forças armadas. Isso ocorre, porque a natureza não pode ficar abstrata, sujeita a múltiplas interpretações e, para que isso não ocorra deve ficar verbalizada juridicamente. As normas jurídicas, portanto, derivam da natureza das forças militares de uma nação e, assim sendo, a traduzem especificando tarefas, missões, ambientes e formas de ação.

O terceiro componente diz respeito às capacidades ou meios que uma força deve dispor para bem cumprir sua missão. Países como Brasil e Chile, que já possuem tanto natureza quanto estrutura jurídica bem especificadas e consolidadas, esforçam-se por readequar as capacidades de suas forças, em especial no que concerne à aquisição e desenvolvimento de novos sistemas de armas e à reestruturação de suas unidades de combate.

No caso do Brasil, o Exército Brasileiro se propõe a realizar uma transformação, não apenas pela aquisição de novos equipamentos, como também reestruturando instalações e reformulando culturas e crenças, de modo a tornar seus elementos de combate aptos a enfrentar os desafios dos conflitos contemporâneos. Baseado nessas premissas, o Estado-Maior do Exército Brasileiro lançou em 2010 o documento “O Processo de Transformação do Exército” o qual traça as concepções e os vetores que devem nortear o processo de transformação no âmbito do EB.

O documento mencionado cita como exemplo o caso de dois países com características distintas que estão implantando seus respectivos processos de transformação: A Espanha e o Chile.

Em que pese a diferença quanto aos objetivos políticos e estratégicos, foi possível inferir, sobre pontos em comum entre ambos, os que seguem:

a) racionalização da estrutura operacional;

b) promoção da modernização da gestão e da racionalização administrativa;

c) fortalecimento do sistema de doutrina, considerado o “motor da transformação”;

d) ênfase na interoperabilidade;

e) diminuição do nível em que se processará a integração dos sistemas de armas (no Exército da Espanha passará de divisão para brigada e no do Chile, de brigada para regimento);

f) logística conjunta e integrada, devendo a estrutura de paz atender a situações de guerra sem necessidade de modificações;

g) investimento em modernos equipamentos e desenvolvimento científico e tecnológico como forma de compensar qualitativamente a diminuição dos efetivos;

h) investimento na formação e desenvolvimento dos recurso humanos; i) inclusão de missões de paz no escopo de atribuições principais.