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CAPÍTULO 2. ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS DE INTEGRAÇÃO E

2.5. O conceito de Organização Internacional de Integração e Cooperação Econômica e

Em função do tópico precedente, verificamos que a integração econômica regional insere-se dentro do quadro de um sistema multilateral internacional do comércio, baseado nos normativos fixados pelo GATT, que, posteriormente, com a Rodada do Uruguai, em 1994, converteu-se na OMC. Mas este contexto é derivado de determinada construção histórica, especialmente do pós Segunda Guerra Mundial. Segundo Celso Lafer, após a alteração dos centros de polaridade até então existentes, a regulamentação do comércio internacional assume relevância na resolução de eventuais disputas, inclusive reconhecendo serem administráveis por processos regionais de integração, a saber:

“se o sistema internacional se transformou e hoje se caracteriza por polaridades indefinidas, uma vez que os países não mais se dividem em blocos ideológicos Leste/Oeste, tendo igualmente diminuído os conflitos de concepção sobre a organização da ordem mundial que separavam, através da polaridade Norte/Sul, os países desenvolvidos e em

desenvolvimento, isto não quer dizer que não existam vários e novos problemas políticos e de segurança, eventualmente administráveis por processos regionais de integração, que buscam a paz pelo comércio.”178.

E dada esta conjuntura, o quase que obrigatório relacionamento internacional dos Estados, com suas interações, disputas e arranjos, depende de ações pró-ativas lastreadas na necessidade e na mutabilidade do mundo em que vivemos. E para congregar valores e para fomentar em um primeiro momento a união de forças no Cone Sul, verificamos o surgimento do Mercosul.

O Mercado Comum do Sul – Mercosul – foi formado pela República Argentina, pela República Federativa do Brasil, pela República do Paraguai e pela República Oriental do Uruguai, mediante a assinatura, em 26 de março de 1991, do Tratado de Assunção179, fundado na reciprocidade de direitos e obrigações entre os Estados-Partes, e com o sério compromisso de harmonizar suas legislações internas com vistas a fortalecer o processo de integração.

178 LAFER, Celso. A OMC e a regulamentação do comércio internacional : uma visão brasileira. Porto Alegre : Livraria do Advogado, 1998, págs. 52 e 53

179 Tratado de Assunção – Tratado de Constituição de um Mercado Comum firmado entre a República Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do Paraguai e a República Oriental do Uruguai. Disponível em http://www.mercosur.int/innovaportal/file/655/1/CMC_1991_TRATADO_ES_Asuncion.pdf . Acesso em 10 de novembro de 2009

No preâmbulo do Tratado de Assunção180, as partes signatárias estabeleceram e esculpiram princípios e conceitos norteadores de suas ações e manifestações, visando o fomento e crescimento do bloco regional, buscando a ampliação das dimensões dos respectivos mercados nacionais por meio da integração181, aproveitando de forma mais eficaz os “recursos disponíveis, a preservação do meio ambiente, o melhoramento das interconexões físicas, a coordenação de políticas macroeconômicas e a complementação dos diferentes setores da economia, com base nos princípios de gradualidade, flexibilidade e equilíbrio.”182.

No início da década de 1990, dado o contexto internacional da época, e em função de movimentos internacionais pró-Consenso de Washington, ou seja, fortemente carregados por influência neo-liberal, os Estados-Partes reconhecem, na assinatura do Tratado de Assunção, “a evolução dos acontecimentos internacionais, em especial a consolidação de grandes espaços econômicos, e a importância de lograr uma adequada inserção internacional para seus

180 Tratado de Assunção – Preâmbulo: “A República Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do

Paraguai e a República Oriental do Uruguai, doravante denominados "Estados Partes"; Considerando que a ampliação das atuais dimensões de seus mercados nacionais, através da integração, constitui condição fundamental para acelerar seus processos de desenvolvimento econômico com justiça social; Entendendo que esse objetivo deve ser alcançado mediante o aproveitamento mais eficaz dos recursos disponíveis, a preservação do meio ambiente, o melhoramento das interconexões físicas, a coordenação de políticas macroeconômicas e a complementação dos diferentes setores da economia, com base nos princípios de gradualidade, flexibilidade e equilíbrio; Tendo em conta a evolução dos acontecimentos internacionais, em especial a consolidação de grandes espaços econômicos, e a importância de lograr uma adequada inserção internacional para seus países; Expressando que este processo de integração constitui uma resposta adequada a tais acontecimentos; Conscientes de que o presente Tratado deve ser considerado como um novo avanço no esforço tendente ao desenvolvimento progressivo da integração da América Latina, conforme o objetivo do Tratado de Montevidéu de 1980; Convencidos da necessidade de promover o desenvolvimento cientifico e tecnológico dos Estados Partes e de modernizar suas economias para ampliar a oferta e a qualidade dos bens de serviço disponíveis, a fim de melhorar as condições de vida de seus habitantes; Reafirmando sua vontade política de deixar estabelecidas as bases para uma união cada vez mais estreita entre seus povos, com a finalidade de alcançar os objetivos supramencionados Acordam: …”. (grifos nossos). Tratado de Assunção – Tratado de Constituição de

um Mercado Comum firmado entre a República Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do

Paraguai e a República Oriental do Uruguai. Disponível em

http://www.mercosur.int/innovaportal/file/655/1/CMC_1991_TRATADO_ES_Asuncion.pdf . Acesso em 10 de novembro de 2009

181 Reconhecendo, ainda, tal fator como condição fundamental para acelerar seus processos de desenvolvimento econômico com justiça social.

182 Tratado de Assunção – Tratado de Constituição de um Mercado Comum firmado entre a República Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do Paraguai e a República Oriental do Uruguai. Disponível em http://www.mercosur.int/innovaportal/file/655/1/CMC_1991_TRATADO_ES_Asuncion.pdf . Acesso em 10 de novembro de 2009

países”183, afirmando taxativamente o entendimento de que o processo de integração a ser desenvolvido pelo Mercosul é resposta adequada a tais acontecimentos.

O caminho para tornar efetivamente o Mercosul como uma Organização Internacional de Integração e Cooperação Econômica, com vistas a fomentar o comércio internacional, diretamente para o desenvolvimento das economias locais e regionais, e indiretamente para a crescimento do comércio internacional em sua esfera global, acaba por ganhar evidência e relevância, do ponto de vista de agentes internacionais, quando é reconhecida por atribuição a personalidade jurídica do Mercosul por meio do Protocolo de Ouro Preto – Protocolo adicional ao Tratado de Assunção sobre a Estrutura Institucional do Mercosul. Nos termos do Artigo 34 do Protocolo de Outo Preto, o Mercosul passaria, a partir daquele momento, a ter personalidade jurídica de Direito Internacional184.