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Processos de Integração Regional e as Organizações Internacionais de Integração e

CAPÍTULO 1. A INTEGRAÇÃO E COOPERAÇÃO REGIONAL NAS RELAÇÕES

1.6. Processos de Integração Regional e as Organizações Internacionais de Integração e

Com o desenrolar do século XX, e com a sempre crescente influência do fenômeno da globalização (dada a redução dos espaços globais), é importante pensar o aspecto regional. O regionalismo pode ser apontado como uma esfera da globalização, mas é fortemente influenciado por fatores de defesa, tidos estes como uma alternativa para países não desenvolvidos ou com menor poder global114 agirem e interagirem frente a países desenvolvidos. Ou seja, o

coletividade, seja sociedade ou comunidade, necessita, para sua própria sobrevivência, da associação de seus membros em torno de um bem (ou conjunto de bens) que beneficie a todas e não apenas a cada um em particular, este “bonum commune” exige solidariedade de todos em proveito da coletividade, aumentada e aperfeiçoada a capacidade produtiva de cada um. A capacidade operacional do conjunto, com suas tarefas e finalidades, segundo o entendimento tomista, conduz a um efetivo bem-estar de todos. Mas só alcança sua perfeição material, intelectual e moral, se não lesado o direito de cada um em sua dignidade, o que constitui o núcleo do bem global da natureza humana. Esta a lição perene se Santo Tomás de Aquino. Assim, nos dias de hoje, ao ser analisada a difícil questão das relações entre autoridade e poder, sobretudo num mundo dividido entre Estados de diferentes ideologias, de convicções jurídicas antagônicas, separados pela riqueza e pela tecnologia, o problema essencial do bem-comum, sobretudo o internacional, parece acidental ou supérfluo em face da heterogeneidade de um mundo desigual diante de um mínimo objetivo de universalidade. As necessidades competitivas diante da infra-estrutura inferior do Terceiro Mundo não se acomodam com as exigências do bem-comum. É uma perigosa quimera pretender uma sociedade internacional perfeita.”.

LITRENTO, Oliveiros. A Ordem Internacional Contemporânea – um estudo da soberania em mudança. Porto Alegre : Sergio Antonio Fabris Editor, 1991, pág. 59

113 WANDERLEY, Luiz Eduardo W. A questão social no contexto da globalização: o caso latino-americano e o

caribenho. In Desigualdade e a Questão Social. Mariangela Belfiore-Wanderley, Lúcia Bógus, Maria Carmelita

Yazbek (org). 3ª ed. rev. e ampliada – São Paulo : EDUC, 2008, pág. 155

114 Poder global considerado aquele próprio da disputa mundial que envolve o tema da hegemonia e das relações internacionais. Tal debate envolve diversas denominações dada a aplicação de determinados conceitos e estruturas, podendo ser o debate “Norte/Sul”, ou debate dos “países desenvolvidos, subdesenvolvidos e/ou em desenvolvimento”.

regionalismo muitas vezes é compreendido e utilizado como um instrumento da luta pelo poder global ou por melhores condições frente à disputas de poder na esfera internacional.

Considerando tal questão, nos parece que os aspectos econômicos podem ter uma influência no plano regional, pelo fato de que o “regional” pode estar mais perto da Sociedade Civil do que o “global”. Assim, os processos de integração regionais acabam por impulsionar as comunidades integrantes em busca de complementaridade e aumento de suas potencialidades. Estes processos regionais, por outro lado, trabalham e devem trabalhar na redução das assimetrias conhecidas e presentes na Sociedade Civil, especialmente aquelas sócio-econômicas.

As mobilidades e a integração e inter-relação dos mais diversos agentes no plano global, acabam por impactar economias domésticas, ao modificar estruturas e padrões de mercados fechados ao comércio internacional, seja por motivações político-sociais, seja por ainda adotarem o regime de substituição de importações. Com isso, a liberalização e abertura econômica, com a redução de barreiras tarifárias e alfandegárias, sob as experiências advindas do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio – GATT, e agora da Organização Mundial do Comércio – OMC, percorreram debates técnicos, políticos e práticos de liberalização de comércio nacional e internacional, visivelmente marcados por disputas e “jogos” de poder.

Estes processos de integração econômica recebem diretamente impactos em função de movimentos, ações e influências alheias ao controle do Estado ou da Sociedade, acentuados, ainda, pela velocidade do fluxo de informações, capital, comércio e fatores de produção ao redor do mundo. As Organizações Internacionais, muitas vezes, levam tanto para debate, quanto para defesa, tais questões tentando canalizar energias e centralizar de temas e focos de interesse, com o objetivo de tentar equacionar tensões, conflitos e demais situações que podem surgir na interação de Estados nacionais e agentes transnacionais. Com esta necessidade de equacionamento comum de problemas, como aqueles decorrentes dos fluxos de fatores de produção e de capitais, mercadorias e serviços, no interior de blocos participantes de processos de integração econômica, bem como suas relações com outros países e blocos ao redor do mundo,

ressalta-se, ao nosso ver, a importância dos processos de integração regional e das Organizações Internacionais de Integração e Cooperação Regional.

Devemos lembrar, ainda, que as negociações multilaterais não são excludentes, muito menos impedem a integração e cooperação regional. No caso do Mercosul, por exemplo. Sua criação deve-se ao permissivo constante no artigo 24 do GATT, que, por meio da ALADI, permitiu ao Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai formarem o bloco. Segundo Leandro Araújo, o Mercosul “foi negociado no âmbito da ALADI por meio do Acordo de Complementação Econômica nº 18 (ACE-18). Atualmente, a ALADI é foro para a negociação de inúmeros acordos de integração de seus Estados-membros, tendo também a tarefa de elaborar uma base de informações e dados comerciais e econômicos.”115.

Tanto os foros multilaterais, quanto os regionais, buscam a questão de poder mas, em grande parte, a solução e a equação de questões comerciais, por razões óbvias, apresentam impactos nas esferas político-econômicas. Lembra Jorge Fontoura que apenas “países amigos praticam comércio e não há conflitos comerciais sem comércio ou potencialidade comercial. Logo, a expressão “guerra comercial”, tão cara aos meios jornalísticos e, pour cause, congressuais, é forma indevida de tratar-se uma disputa comercial, por mais árdua que seja. Isso o que pode contaminar o caráter amistoso que de forma ordinária deve conformar as relações internacionais.”116. Desta forma, o aspecto de negociação e de cooperação deve prevalecer, ainda que disputas acirradas e contenciosos possam surgir no curso da história, decorrentes de medidas protecionistas.

Neste plano de negociações políticas, participam os Estados, lastreados no ainda fortemente enraizado conceito jurídico de Estado-nação, como negociadores e principais atores internacionais. Mas deve ser considerada a existência de debates e de atuação efetiva de diversos agentes não-estatais em atuações globais, e em fóruns multilaterais. Como já destacamos, no 115 ARAÚJO, Leandro R. Associação Latino-Americana de Integração (ALADI). In Blocos Econômicos e integração da América Latina, África e Ásia. Araminta de Azevedo Mercadante, Umberto Celi Junior e Leandro Rocha de Araújo (coord.) Curitiba : Juruá, 2008, pág. 114

116 FONTOURA, Jorge. Os contenciosos comerciais e a agenda brasileira. In Pontes • Volume 4 • Número 5 • novembro de 2008. Disponível no website http://ictsd.net/i/news/pontes/32912/ . Acesso em 09/11/2008

plano nacional, a interação e a interligação entre a Sociedade Civil e o Estado acabam por levar à efetivação da identidade nacional com vistas à atuação internacional e global.