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3. Currículo

3.2 O Currículo no 1.º Ciclo do Ensino Básico

A Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE – Lei n.º 46/86 de 14 de Outubro) faz referência à organização do Ensino Básico. Este está organizado por três ciclos de ensino, subdividindo-se cada um deles em anos de escolaridade. O 1.º Ciclo está dividido em quatro anos, o 2.º Ciclo em dois anos e o 3.º Ciclo em três. Ao longo deste percurso pretende-se que os alunos consigam aprofundar aprendizagens que já foram adquiridas em níveis antecedentes para níveis de abstração mais elaborados e complexos.

O Ensino Básico, em Portugal, constitui-se como “a etapa da escolaridade em que se concretiza, de forma mais ampla, o princípio democrático que informa todo o sistema educativo e contribui por sua vez, decisivamente, para aprofundar a democratização da sociedade, numa perspectiva de desenvolvimento e de progresso, quer promovendo a realização individual de todos os cidadãos, em harmonia com os valores da solidariedade social, quer preparando-os para uma intervenção útil e responsável da comunidade” (Ministério da Educação, 2004: 11). Tendo como principal objetivo formar cidadãos, a ação educativa deve incluir a dimensão pessoal da formação, a dimensão das aquisições

Cabe ao Professor, juntamente com outros professores da escola ou do agrupamento, a promoção de uma educação universal equilibrada. Aqui o currículo pode ser visto como um conjunto de orientações que não estão “[…] unicamente do lado da Administração Central, [do lado do MEC] existindo na escola e na sala de aula espaço para a tomada de decisões curriculares” (Pacheco, 2008: 11). Neste âmbito, os Professores têm que ter um papel que passe por dominar o que se ensina, mas também que saibam para quem ensinam e a quem ensinam, ou seja, é importante que sejam os próprios Professores os “configurador[es] do currículo” (Leite, 2003: 131). Deste modo, os Professores interpretam e desenvolvem o currículo tendo em consideração as características dos seus alunos, os recursos e materiais existentes, as condições da escola e o contexto social e escolar em que está inserido. Tal como refere Zabalza (1992: 47) “trata-se de entender o currículo como um espaço decisional, em que a partir do Programa e pela programação, a comunidade escolar, a nível da escola, e o professor, a nível da aula, articulam os seus respectivos marcos de intervenção”.

Tal como na Educação Pré-Escolar, no 1.º CEB existem documentos emanados pelo Ministério da Educação (ME) que o Professor deve ter em conta no momento de gerir o currículo são eles a OCP e as Metas Curriculares. O Currículo Nacional do Ensino Básico – Competências Essenciais também era um documento de referência mas tal como já foi referido anteriormente, deixou de fazer parte do apoio ao desenvolvimento curricular. Assim e segundo o Despacho n.º 17169/2011: 50080 de 23 de Dezembro, “o currículo deverá incidir sobre conteúdos temáticos, destacando o conhecimento essencial e a compreensão da realidade que permita aos alunos tomarem o seu lugar como membros instruídos da sociedade”. Deste modo, o desenvolvimento do ensino em cada disciplina curricular terá que ter como base os objetivos curriculares e conteúdos de cada Programa assim como as Metas Curriculares de cada disciplina.

No decorrer da atividade educativa desenvolvida no Estágio do 1.º CEB foram tidos como suporte a OCP para quase todas as disciplinas com a exceção do Português e da Matemática em que foram tidas em conta as Metas Curriculares.

Os programas são definidos, de acordo com o site da Direção-Geral da Educação – Programas e Metas Curriculares como “documentos curriculares de referência para o desenvolvimento do ensino, apresentando, de forma detalhada, as finalidades de cada disciplina, os objetivos cognitivos a atingir, os conteúdos a adquirir e as capacidades

gerais a desenvolver”. Relativamente aos Programas do 1.º CEB, estes estão organizados pelos diversos domínios disciplinares do currículo: Expressão e Educação: Físico- Motora, Musical, Dramática e Plástica; Estudo do Meio; Língua Portuguesa (agora designado por Português); Matemática – Áreas disciplinares de frequência obrigatória; Educação Moral e Religiosa – Disciplina de frequência facultativa. Em cada domínio disciplinar do currículo estão integrados as seguintes componentes: Princípios Orientadores; Objetivos Gerais e Blocos de Aprendizagem. Para além das disciplinas aqui referenciadas ainda fazem parte da estrutura curricular do Ensino Básico as Áreas não disciplinares – Área de Projeto; Estudo Acompanhado e Educação para a Cidadania e também as Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC) – atividades de caráter facultativo. Segundo Pacheco (2008: 121) a Área de Projeto, o Estudo Acompanhado e a Educação para a Cidadania visam “aprendizagens significativas, a formação integral dos alunos através da articulação e a contextualização de saberes”.

Uma vez que os Programas devem visar a promoção do sucesso educativo dos alunos, os mesmos devem ser utilizados conjuntamente com as Metas Curriculares. Assim e tendo em conta o Despacho n.º 5306/2012 de 18 de Abril: 13952, as Metas Curriculares são um documento onde são “definidos, de forma consciente, os conhecimentos e as capacidades essenciais que os alunos devem adquirir, nos diferentes anos de escolaridade ou ciclos e nos conteúdos dos respectivos programas curriculares”. As Metas Curriculares constituem-se assim, como um documento de referência para o desenvolvimento do currículo, apresentando os conteúdos de forma ordenada e hierárquica, ao longo das diferentes etapas de escolaridade. Passemos agora a descrever como estão organizadas as Metas Curriculares de Português e de Matemática. As Metas Curriculares de Português contêm quatro domínios de referência, a saber: Oralidade, Leitura e Escrita, Educação Literária e Gramática. Em cada um destes domínios são indicados os objetivos desejados assim como os respetivos descritores de desempenho dos alunos. As Metas Curriculares de Matemática também estão organizadas por domínios, a saber: Números e Operações, Geometria e Medida e Organização e Tratamento de Dados. Seguem-se aos domínios os subdomínios onde estão patentes os objetivos gerais, completados por descritores mais precisos.

O que é proposto tanto nos Programas do 1.º CEB como nas Metas Curriculares implica que “o desenvolvimento da educação escolar, […] constitua uma oportunidade para que os alunos realizem experiências de aprendizagem activas, significativas,

diversificadas, integradas e socializadoras que garantam, efectivamente, o direito ao sucesso escolar de cada aluno” (Ministério da Educação, 2004: 23). As aprendizagens ativas “pressupõem que os alunos tenham a oportunidade de viver situações estimulantes de trabalho escolar […]” (idem, 23) que deverão surgir do quotidiano dos alunos, manipulando e explorando diversos recursos e materiais e/ou situações problemáticas. As aprendizagens significativas estão relacionadas com as vivências realizadas pelos alunos fora ou dentro da escola e “[…] decorrem da sua história pessoal ou a que ela se ligam. […] [Estas] constroem-se significativamente quando estiverem adaptadas ao processo de desenvolvimento de cada criança” (ibidem, 23). Para isso, deve-se ter em conta a cultura, os interesses e as necessidades dos alunos. As aprendizagens diversificadas decorrem da exploração dos diversos conteúdos utilizando variados recursos. As aprendizagens integradas “decorrem das realidades vivenciadas ou imaginadas que possam ter sentido para a cultura de cada aluno” (ibidem, 24). Por fim, as aprendizagens socializadoras estão relacionadas com situações que promovem o desenvolvimento pessoal do aluno e a sua integração nos contextos socioculturais, reproduzindo “[…] formas de autonomia e de solidariedade que a educação democrática exige” (ibidem, 24). Estas experiências de aprendizagem são fundamentais e materializam-se no currículo através de objetivos gerais e específicos e de conteúdos por área e por diferentes anos de escolaridade.

Para promover estas aprendizagens cabe ao Professor respeitar as diferenças individuais de cada aluno bem como o seu ritmo de aprendizagem, valorizar as suas experiências, os seus interesses e necessidades e proporcionar um ambiente favorável ao desenvolvimento integrado do aluno.

Tal como as OCEPE, os Programas do 1.º CEB deixam transparecer uma imagem construtivista do saber, em que este é construído de forma articulada e onde a criança/aluno são a base para a progressão e alargamento desses saberes. Um pouco diferente é o currículo no 1.º CEB onde a tendência é “ […] alcançar, […] num ano escolar, determinado produto final” (Carvalho, 1999, cit. Serra, 2004: 118).