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6 PROPOSTAS PARA O FORTALECIMENTO DO MODELO BRASILEIRO DE

6.8 O debate em torno das cotas de assento no Parlamento

A primeira hipótese levantada, quando ainda se estava iniciando a pesquisa, para aumentar e acelerar a igualdade entre os sexos na política, foi a instituição das cotas de assento no Parlamento, reservando-se, no mínimo, 30% (trinta por cento) das vagas da Câmara de Deputados e do Senado para o sexo minoritário na política.

Por certo, a instituição desse mecanismo de inclusão garantiria, em uma única eleição, o alcance imediato de um quadro mais igualitário entre os sexos no corpo parlamentar. Porém, após revisitar dados teóricos, estatísticas e analisar outros modelos de proteção à participação da mulher na política, se chegou à conclusão de que essa medida não seria a mais proporcional para a ser adotada, nesse momento, pelo ordenamento jurídico brasileiro na promoção da igualdade entre os sexos na política, pois corre o risco de sua adoção não se eliminar as barreiras de acesso mais democrático aos cargos político-eletivos. Ao revés, outras barreiras, mais difíceis de serem derrubadas, podem ser erguidas.

Primeiramente, é preciso se ter em mente que a igualdade deve se dar em um processo (PIOVESAN, 1998) por meio do qual outros valores também sejam levados em consideração, como a preferência política do eleitor na escolha de que os representará.

Ao fim e ao cabo, o eleitor é que detém o poder soberano de escolher o perfil do representante que ele deseja que ocupe os cargos parlamento. Essas preferências podem ser forjadas, é certo, e serem limitadas pelas poucas opções que o mercado político pode oferecer. Não se desconhece esse dado factual.

Por essa razão, entende-se que, nesse momento, é preciso haver uma remodelação do modelo legislativo brasileiro de proteção à participação política da mulher a fim de inseri- la no processo eleitoral, dando-lhe condições mais factíveis e reais de disputa para que ela possa se colocar como uma dessas opções do mercado político, apresentado suas perspectivas mediante a realização de campanha eleitoral e disputando por votos. O fortalecimento da participação política na esfera formal (processo eleitoral e partidos políticos) é importante nesse processo de aceleração da igualdade entre sexos.

A proteção do direito à participação política da mulher (direito-meio) aparece como um iter essencial nessa trilha que é alcançar mais inclusão de mulheres nos espaços de poder, pois ela não garante apenas a inserção (presença), como também o fortalecimento do debate (ideias) tão essencial à disputa política, ao passo que também permite uma maturação maior sobre esse processo de inclusão, permitindo a formação política de mulheres e a instituição de mecanismos que incentive essa participação.

Em momento de crise de legitimidade democrática, o direito à participação política deve ter seu exercício fomentado para que todas e todas possam se sentir incentivados a exercê-lo.

Acredita-se que se essa igualdade fosse instituída de forma automática pela instituição de cotas de assento, não haveria um processo de maturação desse modelo jurídico de fortalecimento, vez que, sendo a reeleição um fator determinante na não renovação das casas legislativas, é provável que apenas mulheres oriundas dos mesmos grupos que dominam a política brasileira é que teriam mais condições, preparo e recursos imediatos para acessarem esses cargos, o que não eliminaria todo o problema da exclusão que o progresso democrático tem como ideal resolver.

A inclusão das mulheres é importante, mas não pode ser realizada de forma a se desprezar que existem outros grupos socais, igualmente sub-representados, que precisam de espaço e representação política. Se o gênero é usado como critério para distribuir as vagas de candidatura devido ao seu caráter conglobante e não excludente, soluções fáceis que garantam apenas a igualdade entre os gêneros e desconsiderem essas outras clivagens que estão, também, dentro do grupo mulheres, não cumpre a finalidade das cotas.

Ademais, a literatura aponta que as cotas de assento são mais indicadas para os grupos que detém interesses específicos, não sendo o caso das mulheres, categoria que não possuem interesses unificados.

As cotas de assento são, assim, mais indicadas para grupos que atravessam as divisões partidárias. Já as cotas de assento no Parlamento, com reserva de vagas para grupos, são mais indicadas para grupos que “coincidem com as divisões de partido ou de organização política (pois seus membros tendem a pertencer a um único partido ou organização política)” (SOUZA, 2015, p. 49) 222.

222 Segundo Souza (2015, p. 49): “Pelo sistema de reserva de cadeiras, os grupos não se integram nos diversos

partidos existentes, obtendo o acesso ao poder político separadamente e, se for necessário, de forma independente em relação aos sistemas partidários em vigor [...]. Em alguns países, com grandes divisões internas de tipo étnico, religioso ou linguístico, a reserva de cadeiras para certos grupos foi adotada em virtude de um consenso para evitar guerras civil e/ou garantir estabilidade democrática”. Prossegue a autora: “Pelo sistema de

Assim, considerando que “a cota para cada sexo não pretende criar uma representação diferenciada para as mulheres”, as quais não possuem identidade de interesses, e sim “aumentar a igualdade entre os sexos em todo o espaço de convicção e ofertas públicas” (SOUZA, 2015, p. 48), ela – a cota – não pode concretizar seus objetivos de qualquer forma, de modo a criar novos problemas e custos sociais para a democracia.

Nesse debate entre cotas de assento e cotas de candidatura, discorda-se parcialmente da observação de que as cotas de candidatura não têm o condão de mudar as instituições políticas e que não permitem que “se estabeleçam maiores vínculos entre os representantes e representados desse grupo” (SOUZA, 2015, p. 51), vez que, se essas cotas forem instituídas com outras ações, como de incentivos a espaços que possam despertar no partido político o interesse em investir nas candidaturas femininas, o poder transformador dessas ações na performance das instituições políticas, como os partidos políticos, Parlamento e Justiça eleitoral será evidente.

Também será claro o estreitamento dos laços entre partidos e candidatas e candidatas e eleitores, vez que as mulheres terão mais condições de se inserem no mercado político de forma mais contundente e, assim, angariar mais votos para os partidos, que é uma variável determinante no poder deste dentro do sistema político.

Todavia o recurso às cotas de assento não é de todo descartada. Após a adoção, pelo Estado brasileiro, de medidas tais quais as propostas e se constando que mesmo com o fomento e proteção da participação política da mulher não se avança no processo de igualdade entre os sexos nesse âmbito, é plenamente viável se iniciar uma se não estaria seria o caso de se instituir uma reserva de vagas paras as mulheres diretamente no corpo Parlamentar.

Seria o caso de se avaliar se a exclusão política das mulheres não decorre, na realidade, de uma discriminação tão profunda e arraigada que apenas medidas como as cotas de assento no parlamento é que poderiam alcançar essa igualdade. No caso, essa discriminação enraizada seria o interesse específico que uniria todas as mulheres, suprapartidariamente e justificaria a adoção dessa medida, única adequada, necessária e proporcional (em sentido estrito) a concretizar a igualdade entre homens e mulheres no corpo político, acaso as demais falhem.

Considerando a importância do tempo e da participação do corpo de cidadãos nessa decisão, entende-se que essa proposta normativa deveria submeter-se a um plebiscito, reserva de cadeiras, os grupos não se integram nos diversos partidos existentes, obtendo o acesso ao poder político separadamente e, se for necessário, de forma independente em relação aos sistemas partidários em vigor” (SOUZA, 2015, p. 49).

que é uma importante forma de participação direta do cidadão no sistema democrático brasileiro (art. 14, I da CRFB/1988) (BONAVIDES, 2000).