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O Decreto-Lei nº 10/2013 e a Obrigatoriedade da Adopção de Forma Societária

O ano de 2013 pode, desde já, ser considerado o da verdadeira revolução no paradigma organizativo do desporto profissional português.

Com efeito, o Decreto-lei nº 10/2013 de 25 de Janeiro constituiu uma inexorável mudança no paradigma organizativo cessando de vez o anteriormente previsto regime especial de gestão.

Para que tal diploma visse a luz do dia, antes pelo, já citado no ponto anterior, Despacho nº 12692/2011 emanado pelo Ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentar, Miguel Relvas, de 16 de Setembro houvera sido criado um grupo de trabalho para analisar o regime jurídico e fiscal das sociedades desportivas.38

Das conclusões deste grupo de trabalho resultaria a grande inovação no panorama desportivo profissional português, já que “o Grupo de Trabalho optou por propor a criação de um diferente tipo societário como alternativo ao único tipo actual, de sociedade anónima desportiva.”39

E tal pressuposto seria concretizado, através da conclusão de que “ as entidades que pretendam participar nas competições desportivas profissionais deverão fazê-lo (...) sob a forma de sociedade comercial desportiva, podendo escolher entre uma sociedade unipessoal por quotas – da qual o clube desportivo seja o único proprietário - ou uma sociedade anónima, com a participação de um mínimo de cinco accionistas (…) “.40

Com tal inovação, obviamente findava o regime especial de gestão que perdia a sua razão de existir.

Procurava-se, deste modo, manter um objectivo de profissionalização do desporto, buscando-se uma especialização da regulamentação que regulasse este tipo de sociedades, para além de uma maior transparência contabilística. O documento teve, essencialmente, preocupações fiscais, já que fruto de algumas especificidades da lei 41 como a impenhorabilidade das acções do clube (categoria A) por pessoas privadas, estes tornam-se

38 Este grupo coordenado pelo Professor Doutor Paulo Olavo Cunha e adoptou um modelo de inquéritos a diversos clubes e federações,

acabando por apresentar as propostas de alterações que haveriam de enformar o Decreto- Lei nº 10/2013. Tal documento pode ser consultado em http://www.portugal.gov.pt/media/364613/rel_gt_sad.pdf.

39 Cfr. Pág.29 idem. 40 ibidem. 41

O nº1 do artigo 10º do DL 10/2013 de 25 de Janeiro prevê que as acções de categoria A, pertença do clube, só podem ser oneradas ou apreendidas por pessoas colectivas de direito público, havendo mesmo jurisprudência que esclareceu essa questão através do Acórdão nº 620/04 do Tribunal Constitucional em que foi relator o Conselheiro Gil Galvão e que decidiu não julgar inconstitucional a outrora norma constante do nº2 artigo 12º.

um alvo controlado de modo mais fácil pelo Estado que consegue que uma parte do património dos clubes seja salvaguardada, para não ter os seus créditos defraudados.

Com base neste estudo, o Decreto-lei nº 10/2013 veria a luz do dia, ditando no seu artigo 33º que entraria em vigor no dia 01 de Julho de 2013 para as sociedades desportivas que pretendessem participar nas competições desportivas profissionais da época 2013/14.

No seu preâmbulo referia que o outrora regime especial de gestão “consistente (...) num conjunto de regras mínimas que pretendiam assegurar a indispensável transparência e rigor na respectiva gestão, e que era suposto ter efeitos penalizantes para os respectivos dirigentes”42

fora um rotundo malogro e urgia criar um sistema que “esbatesse a apontada desigualdade e colocasse todos os participantes (...) no mesmo patamar, com obrigações e deveres análogos.”43

Por essa razão em seguida se concluía que devia-se extinguir o dito regime e em alternativa possibilitar aos clubes que até essa data não tivessem adoptado o regime das sociedades anónimas desportivas duas hipóteses: a constituição sob forma de SAD ou, então, sob a forma de sociedade desportiva unipessoal por quotas (SDUQ) em que o clube fosse o titular da única quota.

Não obstante essa dúplice possibilidade, a verdade é que os clubes, salvo uma ou outra excepção, não tiveram dúvidas do caminho a seguir.

Deste modo, os, ditos, grandes clubes que constituíram ainda na vigência da lei anterior SAD’s mantêm uma desenfreada luta para ter um equilíbrio entre activo e passivo.

Outras entidades avançaram para as sociedades anónimas desportivas e grande parte dos integrantes no panorama desportivo profissional português optaram por constituir sociedades unipessoais por quotas.44

Esta última opção foi seguida por alguns clubes com menos recursos financeiros e com menor massa adepta pelo facto de “ os capitais sociais serem mais reduzidos e a sua orgânica ser mais condizente com a realidade do clube, não havendo garantia de que houvesse alguém capaz de investir, no caso de uma Sociedade Anónima Desportiva45” bem como com o objectivo “manter (...) na titularidade dos seus associados, a quem competirá

42 Cfr. Preâmbulo DL 10/2013. 43 Idem.

44 Entre os que optaram pela SAD, ainda seguindo a lei antiga, mas impulsionados pela futura obrigatoriedade consta o Vitória Sport

Clube que após uma intensa discussão pública e uma árdua busca por um investidor credível enveredou por este caminho. Refira-se que a deliberação em Assembleia-geral foi em Novembro de 2012 e a sociedade anónima, apenas, seria constituída em Abril de 2013. Ao invés, a Académica de Coimbra, após igual dilema, optou pelo caminho diversa, constituindo uma SDUQ, mas sem que antes uma intensa discussão animasse os adeptos dos conimbricenses. Igual modelo seguiram clubes como o Rio Ave, Moreirense, Gil Vicente ou Paços de Ferreira.

45 Cfr. http://desporto.sapo.pt/futebol/primeira_liga/artigo/2013/04/03/s_cios_aprovam_constitui_o_de_s.html no tocante à SDUQ

decidir, em exclusivo, a gestão, política desportiva e destino a dar à totalidade das receitas obtidas pelos 100 por cento da sua quota única e intransmissível”46

Deste modo, o legislador obrigou a adopção da forma societária o que causou alguma dificuldade na obtenção das certidões necessárias para aferir da legalidade da inscrição para competir47. Porém, tal opção, como veremos, mais aprofundadamente no decorrer deste trabalho não tem sido a panaceia para os males de que o desporto profissional padece.