• Nenhum resultado encontrado

4.2. O SIREVE

4.2.5. Relação do SIREVE com os Regulamentos da Liga Profissional de Futebol

desportivas vivem momentos agónicos em matéria financeira.

Tal deve-se à incapacidade de cumprir o estatuído no artigo 35º CSC, pois vão perdendo os seus capitais próprios fruto das dificuldades financeiras já mencionadas. Esta realidade conduz a que se encontrem numa das situações previstas no artigo 2º do DL nº 178/2012 de 3 de Agosto. Assim atendendo ao conceito lato de empresa previsto no artigo 5º do referido diploma, podem os clubes de futebol recorrer a este instrumento jurídico.509

Instrumento jurídico esse que fruto da intermediação do IAPMEI o torna num mero objecto de consensos que permite que se almejem os acordos de pagamento pretendidos, sendo os credores a chamar os indicados pelo devedor. Deste modo, afastar- se-ão os perigos de um requerimento de insolvência por parte de um credor menos paciente.510

Refira-se, ainda, que a própria LPFP assume um papel que potência o desencadear do recurso a este meio.

Desde logo, o nº2 do artigo 91º do Regulamento de Competições determina que para um clube se candidatar a participar nas competições profissionais e ter parecer favorável deverá respeitar os pressupostos previstos nas alíneas a) a e) do artigo 12º do Decreto-lei nº 303/99 de 6 de Agosto.511Estes requisitos passam pela obrigatoriedade do clube apresentar um orçamento e que este seja autónomo para a competição profissional em causa. Além destes elementos, deverão ser juntas as certidões comprovativas da regularização da sua situação perante a administração fiscal e a segurança social.512

Apesar da clareza da norma, os clubes conseguiram contornar o preceito, tornando-o mais maleável e permissivo, principalmente na parte referente à obtenção das

509 Vários clubes em Portugal, em situação económica difícil ou em insolvência actual ou iminente recorreram a esta hipótese sendo

sociedades desportivas ou não. Foram os casos do Vitória SC, do Boavista ou Varzim que recorreram a este programa para obterem um acordo extrajudicial com os credores através de um plano de pagamentos.

510 Não se pense que são poucos os clubes/sociedades que enfrentam pedidos de insolvência. Cfr.

http://www.maisfutebol.iol.pt/sporting/care/empresa-pede-insolvencia-do-sporting-por-alegada-divida de 10 de Novembro de 2012, relativamente ao Sporting. Cfr. http://sol.sapo.pt/inicio/Desporto/ Interior.aspx?content_id=26802 de 20 de Agosto de 2011, relativamente ao Vitória FC. Cfr. http://cronicasazuis.blogspot.pt/2012/01/belenenses-contesta-pedido-de.html de 26 de Janeiro de

2012 relativamente ao Belenenses. Estes foram alguns de vários clubes que enfrentaram este fantasma.

511 O Decreto-lei nº 303/99 de 6 de Agosto tem como objectivo regular a organização das competições desportivas profissionais bem

como através de um conjunto de princípios estabelecidos, em especial o princípio do equilíbrio financeiro, defender a sanidade económica dos clubes e das competições.

512 O orçamento a apresentar deverá respeitar o artigo 9º do diploma atinente ao equilíbrio financeiro. Este prende-se com o facto de as

receitas ordinárias deverem cobrir as despesas ordinárias, sendo que para além desse princípio os clubes deverão juntamente com a previsão orçamental apresentar uma certidão comprovativa da regularidade da sua situação tributária e referente à segurança social.

certidões, já que quanto à questão orçamental a mesma será dependente das boas contas dos responsáveis do ente desportivo.

Assim, os nos 6 e 7 do artigo 53º do Regulamento explicam, com clareza, a razão de os clubes em dificuldades financeiras recorrerem ao expediente em estudo. O nº 6 é claro ao afirmar que para qualquer clube/SAD poder registar novos contratos de trabalho de atletas ou usar os anteriormente registados, deverá demonstrar que possui a sua situação contributiva regularizada perante a Segurança Social e o Fisco.

Atendendo que já fomos demonstrando no decorrer do presente estudo que os entes desportivos (societários e não societários, ainda que em Portugal a forma societária, actualmente, nas competições profissionais se revista de obrigatoriedade) apresentam inúmeras dificuldades em cumprir tais compromissos513,o próprio disposto legal optou por prever uma hipótese mais permissiva para facilitar o registo de contratos de trabalho de novos jogadores do clube nas competições profissionais bem como a utilização dos atletas com contratos registados em épocas anteriores, não cerceando a sua possibilidade de competir. Tal hipótese previu, à falta das “supostamente” necessárias certidões, a possibilidade destas serem substituídas por reclamações, impugnações ou oposições fiscais devidamente comprovadas514. Além destas hipóteses, realce para outra e que para o presente estudo releva em maior grau: a possibilidade de os clubes, em vez de efectuarem tais requerimentos processuais, celebrarem acordos extrajudiciais de conciliação com os entes estatais credores.

O nº 7 do mesmo artigo, em complemento do número antecedente, determina que o impedimento de registo de contratos de atletas cessa com a apresentação de cópia certificada pelo IAPMEI da acta onde conste o acordo extrajudicial celebrado entre o clube, a Administração Fiscal e a Segurança Social.515

Atendendo a estas disposições legais, vislumbra-se uma finta, já que estamos a falar de clubes de futebol e, se nos é permitido o “arrevezado” da linguagem, do regulamento ao Decreto-Lei.

513 Além de tais dificuldades, a verdade é que o Regulamento foi elaborado pelos entes que fazem parte do órgão. Ora, os sócios da

Liga são os clubes que procuraram através de um regulamento permissivo facilitar a inscrição de todos os clubes.

514 O que a Liga pretende e demonstra o seu carácter permissivo é que se junte ao processo de candidatura uma mera cópia da peça

processual devidamente carimbada pelos serviços onde deu entrada. Mais um aspecto da permissividade da norma, ousamos alvitrar nós!

515 Pese o carácter permissivo, também com o intuito de aumentar a competitividade dos clubes através da aquisição de novos atletas, a

verdade é que no início da época 2012/13 nove clubes participantes nas competições profissionais encontravam-se impedidos de registar novos contratos de trabalho ou utilizar atletas com contratos de trabalho assinados em épocas anteriores. Eram eles: Vitória SC, Olhanense, Leixões, Belenenses, Naval 1º de Maio, Trofense, Atlético e Desportivo das Aves. Cfr.

http://www.dn.pt/desporto/interior. aspx?content_id=2630555 de 25 de Junho de 2012. Na época seguinte, a de 2012/2013 esse

número aumentou para dezasseis clubes que foram: Vitória FC, Belenenses, Olhanense, Desportivo das Aves, Paços de Ferreira, Gil Vicente, Académica, Farense, Chaves, Beira-Mar, Feirense, Sporting da Covilhã, Oliveirense e Santa Clara. Cfr.

Como sabemos, o decreto-lei é hierarquicamente superior ao regulamento, ainda para mais emanado por um órgão não estadual. Deste modo, deveria ser imperioso respeitar a obrigatoriedade da apresentação das certidões, ao invés do propugnado pelos supracitados nº6 e nº7 do artigo 53 que se bastam com a apresentação do comprovativo de entrada em juízo de uma peça processual de impugnação ou reclamação dos montantes em atraso ou, como interessa em grau superior para o presente estudo, através de um acordo de conciliação extrajudicial que possibilite a aceitação da candidatura para participar nas competições desportivos e concomitante registo de novos contratos de trabalho e a faculdade de utilização dos jogadores com contratos anteriormente lavrados e dados entrada no órgão receptor dos mesmos.

Além das vantagens acima mencionadas, a nosso ver, haverá outro relevante benefício que se repercutirá a nível de licenciamento tendente à participação em provas europeias. Como já demos conhecimento, a alínea e) do quarto ponto do nono anexo do regulamento de licenciamento para as provas na UEFA prevê a impossibilidade de participação nas provas europeias das entidades desportivas, societárias ou não, que se encontrem sob a protecção dos credores.

Ora, o conjunto de procedimentos previstos no SIREVE não poderão ser considerados como tendentes a colocar o devedor sob a protecção de quem quer obrigar ao cumprimento. Tratam-se, sim, de acordos extrajudiciais, ainda que mediados por uma entidade independente (IAPMEI), mas que permite afastar a ideia de protecção dos credores. Caso ocorra a situação prevista no nº2 do artigo 19º SIREVE, ou seja não tendo o clube conseguido chegar a acordo com a totalidade dos credores, mas mesmo assim os que concordaram com o plano extrajudicial preencham dois terços dos créditos em dívida, através do pedido de homologação judicial o juiz poderá suprir a concordância dos credores recalcitrantes, mesmo sem que isso queira significar a judicialização do processo.