• Nenhum resultado encontrado

2.6. Desafios Decorrentes da Constituição da SAD

2.6.2. O (Novo) Regime Fiscal das Sociedades Desportivas

O artigo 29º RJSAD determina que o regime fiscal das sociedades anónimas rege-se por lei especial. Lei essa que é a nº 56/2013 de 14 de Agosto, que entrou em vigor no dia subsequente, sendo que se ocorrer alguma omissão serão aplicáveis as leis fiscais gerais.

Ora, além de tal norma, registe-se que o novo diploma atinente ao RJSAD trouxe alterações a nível de política fiscal que procurou tornar-se mais benéfica para os

136 Cfr. JOSÉ MANUEL MEIRIM, Regime Jurídico das Sociedades Desportivas Anotado, Coimbra Editora, 1999, pág.107. 137 Sendo lícita a constituição de sociedade fora das competições profissionais, óbvio será que a manutenção das mesmas será

permitido pelo que não existe uma obrigação do clube extinguir a sociedade desportiva.

138

Um bom exemplo será o Sporting Farense que em 1999 constituiu uma SAD e entregou o seu controlo à espanhola Halcon que também controlava a recentemente extinta UD Salamanca. Porém, em 2001 por uma grave crise financeira venderia a sua participação à empresa municipal Ambifaro que manteria as acções . Porém, tal solução quase levaria o clube ao abismo e haveria de chegar aos escalões regionais.

Depois de voltar à essência associativa, o clube algarvio haveria de atingir em 2013/2014 a Liga de Honra – escalão profissional – constituindo novamente uma sociedade anónima desportiva.

clubes que assumissem a forma empresarial, de modo a incentivar a transformação nos modelos em estudo.

Fruto do RJSAD e da Proposta que o Grupo de Trabalho que estudou as SD analisando o regime jurídico e fiscal, a Assembleia da República emanou a Lei nº 56/2013 de 14 de Agosto tendente a adaptar a realidade fiscal destes entes ao diploma RJSAD.

Assim, logo no artigo 2º do referido diploma determina-se que as quantias atribuídas ao clube fundador que tenha estatuto de utilidade pública e que por este sejam investidas em instalações ou em formação desportiva são considerados gastos de exercício.

Tal preceito legal tem uma clara correspondência com o artigo 24º do anterior diploma regulador das sociedades desportivas que por sua vez inspirava-se no artigo 20º LBSD que propugnava por um regime que tivesse em atenção as sociedades desportivas e que procurava isentar de IRC os lucros das sociedades desportivas que fossem investidos em instalações e formação no clube fundador.

A preocupação de transposição do disposto legal para o novo diploma não causa surpresa, já que esta medida tem como objetivo incentivar os clubes a investir nos escalões de formação, bem como na manutenção das suas infra-estruturas. Encontramo- nos, pois, perante uma óbvia intenção de respeitar a norma programática do artigo 79º CRP139 que prevê o direito à cultura física e ao desporto e a que já aludimos no início do presente estudo.

Além de tal medida, logo de seguida no nº1 do artigo 3o do diploma determina- se que são aceites como gastos, logo passíveis de dedução, as amortizações referentes aos direitos de contratação de jogadores profissionais.

Para que tal ocorra, o ente desportivo poderá, a nível fiscal, aplicar determinadas taxas em função da duração do contrato celebrado entre o atleta e a sociedade.140 Tais

139 Cfr. GOMES CANOTILHO, “Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Almedina, 2ª Edição, 1998, pag 431 e ss “estas normas programáticas (...) para pressão política sobre os órgãos competentes. Todavia, sob o ponto de vista jurídico, a introdução de direitos sociais nas vestes de programas constitucionais, teria algum relevo. Por um lado, através de normas programáticas pode obter-se o fundamento constitucional da regulamentação das prestações sociais e, por outro lado, as normas programáticas, transportando princípios conformadores e dinamizadores da Constituição, são susceptíveis de ser trazidas à colação no momento da concretização.” Ora, indirectamente, a norma em apreço segue tal propósito, pois pretenderá que as sociedades não olvidem a

aposta no desporto de formação e nas infra-estruturas para que o tal se possa desenvolver.

140 Como exemplo, o relatório e Contas do Vitória SC de 2011/12, em que na página 9 se percebe claramente que o clube vai

amortizando partes do passe dos activos intangíveis na proporção dos anos de contrato remanescentes. Cfr.

http://vitoriasc.pt/download/Relatorio_Contas_2011-2012.pdf pag.9. A este método de amortização chama-se método das quotas

activos considerados intangíveis141 serão aqueles que apesar de não terem existência física, serão, todavia os mais valiosos que a sociedade possui.142

Outro ponto em que a lei concede benefícios às sociedades desportivas constituídas sob o novo diploma RJSAD reside na isenção de IMT, tal como regula o artigo 5º da Lei fiscal em apreço.

Ipso modo, existirá uma isenção total ou parcial de IMT quanto à transmissão de bens imóveis necessários à reorganização competente desde que seja reconhecido interesse municipal nisso, bem como uma isenção de imposto de selo, de emolumentos e outros encargos atinentes ao processo de reorganização. O conceito de reorganização é esclarecido pelo nº2 do sobredito artigo 5º e prende-se com a constituição de sociedades desportivas através dos modos narrados no sobredito disposto legal. Trata-se de um benefício fiscal143 tendente a facilitar a concretização dos objectos desejados pelo RJSAD, atendendo à obrigatoriedade que tal diploma impõe de constituição de forma societária.

Tal benefício é concedido por despacho do membro do Governo responsável pelas finanças a pedido dos clubes e mediante parecer da Autoridade Tributária e Aduaneira que deve solicitar pareceres à entidade competente da Administração Pública que tutela o desporto sobre a hipotética isenção de IMT quanto à transmissão de bens imóveis necessários à nova forma do clube e ao Instituto dos Registos e Notariado quanto à potencial isenção de imposto de selo, emolumentos e outros encargos necessários ao processo de reorganização.

Outro ponto relevante do neófito regime fiscal das sociedades desportivas atem- se com a responsabilidade fiscal destes entes. Numa tentativa de não diminuição de garantias para a administração tributária e da segurança social, o artigo 7º afirma a responsabilidade solidária entre clube e sociedade no período anterior à constituição da forma societária. Tal responsabilidade terá como limite o valor dos activos transferidos para a sociedade, confirmando a nossa tese de preocupação do legislador em não depauperar a segurança social e a administração fiscal das garantias que possuía em relação ao clube.

141 Tal terminologia só passou a ser utilizada na actual lei, pois antes a expressão usada era activo imobilizado. 142

Cfr. http://www.portaldecontabilidade.com.br/tematicas/ativosintangiveis.htm.

143 A definição de benefício fiscal encontra-se inserta no nº1 do artigo 2º do Estatuto dos Benefícios Fiscais e determina que

consideram-se “benefícios fiscais as medidas de carácter excepcional instituídas para tutela de interesses públicos extrafiscais