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3. BASE LEGAL

6.3 O DESENVOLVIMENTO URBANO DO MUNICÍPIO

A Constituição Federal (BRASIL, 1988), reconheceu o município como ente federativo, o que lhe garantiu plena autonomia. Em que pese, a Carta Magna brasileira estabeleceu também que dentre os entes federativos, o município é o principal responsável em promover política urbana, visando sempre o desenvolvimento das funções sociais da cidade.

Dentre os inúmeros compromissos firmados na Conferência das Nações Unidas para o meio ambiente e desenvolvimento, mundialmente conhecida como Rio 92, estava o fortalecimento das ações locais como fator determinante para o alcance dos objetivos permeados pela Agenda 21(ONU, 1992[1995]).

28.1. As autoridades locais constroem, operam e mantêm a infra-estrutura econômica, social e ambiental, supervisionam os processos de planejamento, estabelecem as políticas e regulamentações ambientais locais e contribuem para a implementação de políticas ambientais nacionais e subnacionais. Como nível de governo mais próximo do povo, desempenham um papel essencial na educação, mobilização e resposta ao público, em favor de um desenvolvimento sustentável. (ONU, 1992[1995], p. 381)

Para falar do desenvolvimento de uma cidade como Laranjeiras não se pode dissociar do patrimônio cultural existente. Existem dois conceitos básicos para se entender a relação das pessoas com o lugar que vive, denominados por (LEFEBVRE, 2001), como valor de uso e valor de troca, considerando que existem locais de consumo e o consumo do local, situação que se adéqua perfeitamente ao município de Laranjeiras.

A renda per capita na zona rural em 2010 foi estimada em R$ 191, 00 (cento e noventa e um reais) e na zona urbana, aproximadamente R$ 225, 00 (duzentos e vinte e cinco reais). A economia local é oriunda da agricultura e pecuária, comércio e da indústria.

Calculado com base em três pilares, quais sejam, saúde, educação e renda, em 2010, o Índice de Desenvolvimento Humano-IDH do município era de 0,642, média que está abaixo do mesmo indicador no estado como um todo que é de 0,742 (IBGE, 2014).

Na economia da cidade, destaca-se hoje a presença de duas grandes fábricas de renome internacional, uma de cimento e uma de fertilizantes. O grande impacto ambiental da presença dessas fábricas é a poluição causada nas imediações e a exploração de minérios. As fábricas foram instaladas a certa distância da Zona Urbana da cidade, mas o crescimento desordenado e irregular acabou levando pessoas a viverem nas proximidades.

Na coleta de dados, em entrevista direcionada à Secretaria de Infraestrutura municipal, fora perguntado qual o ônus e bônus trazidos pela industrialização no município, sendo respondido que o ônus é a poluição causada nas imediações da fábrica, bem como as explosões de pedreiras e o bônus seria tanto os empregos que são gerados como o produto derivado da arrecadação de tributos destinado a melhorias para população.

A Secretaria de Meio Ambiente não respondeu o questionário acerca de informações sobre parcerias visando à compensação direta ou indireta, por possíveis danos ao meio ambiente causados por estes estabelecimentos. Segundo o IPHAN, existe uma parceria que envolve a SUBPAC, a Prefeitura de Laranjeiras e a Votorantim (fábrica de cimento) no Projeto denominado de Dia do patrimônio, desde 2011. O projeto compreende um conjunto de ações educativas, realizadas junto a comunidade escolar do município, através de atividades diversas, nas quais são reunidos alunos, pais, professores e comunidade. Dentre as atividades a serem realizadas destacam-se o Cinema na escola, oficinas de desenhos, espaços para brincadeiras tradicionais. No final de cada edição do projeto, as escolas são contempladas com kits de materiais que permitirão que as atividades permaneçam sendo desenvolvidas no cotidiano da Unidade de Ensino. Toda execução do projeto, incluindo as atividades são registradas através de imagens em vídeo feitas por uma equipe especializada, com o objetivo de futuramente virar um documentário.

No tocante aos empregos gerados, não visualizei nada de significante em termos de geração de empregos e renda de forma direta. A maioria dos funcionários das fábricas é de fora e em grande parte nem moram na cidade. Os que moram, não são nativos, mas funcionários de terceirizadas, que vivem em alojamentos mantidos pelas próprias empresas. Outro ponto o qual destaco é que apesar da imponência de duas empresas de grande porte presentes na cidade, o retorno é pouco visível. Um exemplo é a desativação da linha férrea, importante instrumento na logística de transporte da produção. Hoje esse transporte é feito

pela via terrestre em muitos trechos e se utiliza também o porto de Sergipe. Pode ser que a arrecadação seja de fato usada e contribua para melhorias na cidade, mas pouco foi visto de mudanças significativas em quase dois anos de observação. O que se presenciou foi uma população extremamente carente em todos os sentidos. No processo de desenvolvimento de Laranjeiras, se vê claramente o que (LEFEBVRE, 2001), chama de circuito frágil. Em que pese, um tipo de urbanização que pode se romper a cada instante, pela falta de industrialização ou com pouca industrialização. A cidade tende a crescer diante dessas perspectivas, inclusive atrai mais pessoas para o lugar, existe muita especulação, mas o crescimento não vai adiante.

E acredita-se que a cidade não cresceu em outros aspectos, não evoluiu, logo permanece a mesma lógica do século XIX, que a partir do momento em que se melhora o poder aquisitivo, deixa-se de viver na cidade e passa a morar em um lugar maior, principalmente pela proximidade com Aracaju. Em 2007, outro importante acontecimento impactou uma possível alavancada no desenvolvimento da cidade: a implantação do Campus da Universidade Federal de Sergipe. Segundo Nunes e Nogueira (2009, p. 11), “a instalação do Campus de Laranjeiras veio preencher uma lacuna na formação de profissionais nas áreas de Arquitetura, arqueologia, dança, música e teatro”.

Segundo o Professor Doutor Marcio Pereira12, “Laranjeiras é uma cidade dormitório com extrema dependência de Aracaju e a implantação da UFS na cidade poderá incrementar as atividades do setor de serviços e alavancar a divulgação da cultura local. Além disso, poderá impactar, através das ações de extensão, na melhoria dos indicadores sociais”. Para a Professora MSC Verônica Nunes13, “o Campus vai atrair um público mais jovem que, muitas vezes não conhecia a cidade e, terá um contato direto com a sua população, seus monumentos e sua cultura. Numa relação de troca, com perdas e ganhos para ambas as partes”.

Destaque para uma parceria entre a Universidade e o poder público municipal objetivando o desenvolvimento de projetos de arquitetura, paisagismo e urbanismo para colaborar no desenvolvimento da cidade, o qual inclui assistência técnica para a moradia da população de baixa renda da cidade, bem como a existência de um projeto de extensão chamado de “Boas práticas na construção civil: pintura e revestimentos cerâmicos” com o objetivo de capacitar moradores da cidade com minicursos ministrados pelos professores e alunos. A Universidade mantém ainda parceria com o IPHAN.

Com tudo isso não se observou uma interação entre a população da cidade e o Campus. Existe uma barreira invisível, conceitual que aquele espaço não pertence a comunidade local e entende-se que isso é algo que precisa ser rompido por atividades da própria Instituição de ensino.

Dentre desse contexto, é de suma importância reportar-se a um fato que ocorreu que trouxe a visibilidade essa distancia e ensejou uma nova discussão acerca da presença do Campus na cidade. Em maio de 2014, alunos e professores decretaram greve por falta de segurança e as atividades do Campus foram suspensas. É consenso que o processo de desenvolvimento traz coisas boas, mas também traz coisas negativas e uma das coisas negativas é o aumento da violência.

As cidades passam a atrair mais pessoas como é o caso de Laranjeiras em que a instalação do Campus aumentou e muito a circulação de pessoas na cidade. Por outro lado, como anteriormente já fora demonstrado, a população de Laranjeiras em termos gerais é de poder aquisitivo baixo, os frequentadores do Campus, já pertencem a classe média. Admitindo-se ou não, existe um processo de afronta inconsciente com aqueles que vivem de

12 Coordenador do Escritório Modelo do curso de arquitetura da Universidade Federal de Sergipe, professor do

magistério superior com dedicação exclusiva, vinculado ao DAU- Departamento de Arquitetura e Urbanismo- Campus- Laranjeiras em resposta a uma das questões apresentadas na Entrevista de coleta de dados da pesquisa.

13 Professora da Universidade Federal de Sergipe há 22 anos, atualmente vinculada ao Departamento de

Museologia- Campus- Laranjeiras, em resposta a uma das questões apresentadas na Entrevista de coleta de dados da pesquisa.

fato naquele lugar, que continuam vivendo de forma precária muito aquém com a realidade ideal.

Mas em que pese essa barreira é preciso também alertar que o fato já mencionado, demonstra uma falência da segurança pública no Estado, isso porque o aumento da violência não se deu apenas em Laranjeiras, mas se mostrou crescente em todo estado. Segundo Fonseca et all (2013, p. 11-14), no estado de Sergipe o índice de homicídios para cada 100 mil habitantes era de 28,12%, em 2010. Esse número aumentou para 30,42% casos. Segundo mesmo estudo, Laranjeiras em 2010, era a 15ª cidade mais violenta do estado, com um índice maior que o de Nossa Senhora do Socorro e Aracaju, que tiveram o crescimento populacional e o desenvolvimento urbano muito mais acentuado, não sendo justificativa plausível a tentativa de imputar à presença do Campus o aumento na violência.

No estudo da violência é necessário que causas potenciais sejam buscadas, relacionadas não apenas a alterações da sociedade, mas a alterações de um conjunto de fatores, onde se incluem os de localização relativa e vizinhança, que facilitam a interação de fatores que, direta ou indiretamente associados, podem favorecer a ocorrência de atos de violência. (FONSECA et all, 2013, p. 4)

Se existem responsabilidades, estas cabem ao Poder público estadual, responsável pela segurança pública, mas isso impacta em outros problemas, como a falta de policiamento ostensivo, que não é feito, em virtude do número baixo de efetivos e a falta de infraestrutura.

No entanto, acredita-se também, que deve partir da comunidade acadêmica a tentativa de tentar promover maior interação da comunidade laranjeirense com o mundo que existe dentro da Universidade.

Em se tratando de geração de empregos e renda, se observou que o comércio da cidade não é expressivo, ele serve apenas para atender algumas demandas da população, no entanto a proximidade de Aracaju faz com que essa renda seja transferida para lá.

Talvez o grande potencial gerador de renda e empregos para o município seja a exploração do turismo, transformando a cidade de acordo com o seu valor de troca. Mas segundo Leite, E. (2011, p. 44), a comercialização excessiva da cultura acaba criando uma caricatura estereotipada na comunidade que participa desse meio.

O turismo cultural pode gerar renda para os municípios e, também, a manutenção da cultura nas comunidades. Pode produzir melhoria na autoestima da comunidade e, consequentemente, melhoria da qualidade de vida da população local. Essa experiência dos habitantes pode ser incluída como um subproduto muito interessante

aos circuitos culturais turísticos. Nem sempre, contudo, a comunidade se dá conta da importância de suas práticas e de seus saberes específicos. (LEITE, E., 2011, p. 34)

No entanto, observando a cidade, pode-se ver que apesar do potencial, falta muito coisa para que Laranjeiras possa de fato vir a tornar-se um destino turístico. Não existe controvérsia de que a cidade de fato tem suas riquezas culturais e pode-se observar que a Prefeitura tem feito um trabalho ostensivo de divulgação do lugar. Mas não é só isso que faz com que a cidade desperte o interesse de turistas. Em termos de infraestrutura o município deixa muito a desejar. Aqui vale novamente retomar um ponto que já foi objeto da discussão, a proximidade que cria a dependência de Laranjeiras em relação à Aracaju.

No que diz respeito ao acesso à cidade, é bem fácil. Laranjeiras está localizada às margens da BR 101, entre Sergipe e Alagoas, num trecho inclusive já duplicado. Para o visitante que tem condução própria, chegar até o município é feito sem nenhum grande problema, apesar da falta de placas ao longo da estrada que indiquem a proximidade da entrada, se desavisados é possível que passe despercebido.

Já para o visitante que pretenda ir à cidade através do transporte público, este deverá ir para Aracaju e de lá pegar outra condução até o município. Essa ligação intermunicipal é feita por uma cooperativa que atua em boa parte do estado. Os ônibus são precários, velhos, sujos e sem nenhum tipo de conforto. Causa uma péssima impressão em qualquer visitante, principalmente os turistas advindos de outros países e do sul-sudeste do Brasil.

Sem contar que nem sempre em Aracaju, na chamada Rodoviária Nova14 tem horários diversos para Laranjeiras, ou seja, o turista vindo de outro estado desembarcaria obrigatoriamente na Rodoviária Nova e teria que ir para a Rodoviária Velha se não quisesse esperar longo tempo por outro horário. As pessoas ainda enfrentam constantes assaltos, principalmente nos horários em que estão viajando estudantes para as atividades do Campus universitário em Laranjeiras.

Outra opção e bem mais usada pela população, são as lotações, essas são feitas por carros pequenos de particulares, transportando passageiros de forma irregular. Merece destaque aqui que apesar de ser uma situação corriqueira e de conhecimento de todos, apesar

14 Em Aracaju, atualmente existem dois terminais rodoviários. Um que recebe o fluxo de transporte interestadual

e intermunicipal chamado popularmente de Rodoviária Nova, que fica na Avenida Tancredo Neves, na entrada da cidade via BR 235. E o outro terminal, fica no Centro da cidade e recebe exclusivamente ônibus do transporte intermunicipal, chamado popularmente de Rodoviária Velha.

da irregularidade, a atividade não é coibida pelas autoridades, até mesmo porque o transporte regular não seria suficiente e nem tampouco eficaz.

No tocante, a hospedagem, mais uma vez é importante destacar a dependência com relação à Aracaju. Não existem hotéis ou pousadas, no máximo algumas repúblicas ou pensionatos, montados na maioria das vezes pelos próprios alunos da Universidade.

Na questão de alimentação, apenas dois estabelecimentos têm condição de atender os visitantes com o mínimo necessário, o que se considera muito pouco para uma cidade com o potencial turístico de Laranjeiras. A Secretaria de Turismo não devolveu o questionário respondido.

Apesar de todos os problemas, vale a pena conhecer Laranjeiras e através de suas ruas viajar pela história do país. A cidade tem um clima de interior que se mistura com a imponência de sua arquitetura e torna o passeio agradabilíssimo