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Foto 15 Manifestações no Festival da Água e do PACUCA

2.4 O ESPAÇO URBANO E O PLANO DIRETOR

2.4.5 O Estatuto da Cidade

Chama-se de Estatuto da Cidade a Lei 10.257 de 10 de julho de 2001, que regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal. Esta lei foi sancionada pelo então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso e contempla o capítulo de política urbana na Constituição Federal Brasileira.

O Estatuto da Cidade veio suprir uma condição de executoriedade das normas inerentes à Constituição Federal, sobretudo no art. 182, já que o art. 183, da mesma forma contemplado por esta Lei, já poderia se reconhecer como auto executável. A prévia edição da lei federal era elemento necessário à atuação legislativa dos municípios, embora alguns aspectos pertinentes ao art. 182 da Constituição Federal já fossem diretamente disciplinados por lei municipal. (MEDAUAR; ALMEIDA, 2004).

Medauar e Almeida (2004) afirmam que esta legislação tem como propósito conciliar a gestão participativa à sustentabilidade ecológica e econômica, tal como inserir uma nova concepção de gestão urbana, com vistas a uma melhor ordenação do espaço urbano, com observância da proteção ambiental e a busca de solução para problemas sociais graves, como a moradia e o saneamento. Além de manter os princípios básicos estabelecidos na CFB, ao preservar o caráter municipalista, a centralidade do plano diretor e a ênfase na gestão democrática.

Isso requer, sobretudo o fortalecimento de um planejamento sistemático e integrado, construído a sob os patamares do modelo participativo de gestão urbana em todas as decisões de interesse público. Nos dois primeiros anos da década de 1990, durante os preparativos para a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92, foi possível se perceber a relevância da temática socioambiental, incorporando a necessidade da conciliação entre proteção ambiental com desenvolvimento econômico. (BOEIRA et al, 2009).

Em termos operacionais, o Estatuto da Cidade “estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem- estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental”.

Esta lei é composta por cinco capítulos: diretrizes Gerais (capítulo I, artigos 1º a 3º); os Instrumentos da Política Urbana (capítulo II, artigos 4º a 38); o Plano Diretor (capítulo III, artigos 39 a 42); a Gestão Democrática da Cidade (capítulo IV, artigos 43 a 45); e as Disposições Gerais (capítulo V, artigos 46 a 58).

Conforme consta nesta lei, a política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana e para tal se utiliza dos seguintes instrumentos: planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social, planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões; planejamento municipal; institutos tributários e financeiros; institutos jurídicos e políticos; estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV).

Em relação ao planejamento municipal, especificamente, que é o foco deste trabalho, a lei rege os seguintes instrumentos: plano diretor; disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do solo; zoneamento ambiental; plano plurianual; diretrizes orçamentárias e orçamento anual;

gestão orçamentária participativa; planos, programas e projetos setoriais; planos de desenvolvimento econômico e social.

O Capítulo III desta lei se destina exclusivamente ao Plano Diretor, envolve todo o território do município, não só a cidade, como muitas vezes se pensa.

Segundo Art. 39 do Estatuto da Cidade:

a propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor, assegurando o atendimento das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça social e ao desenvolvimento das atividades econômicas, respeitadas as diretrizes previstas no art. 2º desta Lei”, que tratam de sustentabilidade, cooperação, gestão democrática etc. (BRASIL, 2001).

O Plano Diretor é o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana, que deve ser aprovado por lei municipal, que uma vez instituída deve ser revista a cada dez (10) anos. Como ele faz parte do planejamento municipal, os demais instrumentos utilizados neste planejamento devem lhe dar subsídio e respeitar os seus ditames, que são: a disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do solo; o zoneamento ambiental; o plano plurianual; as diretrizes orçamentárias e orçamento anual; a gestão orçamentária participativa; os planos, programas e projetos setoriais; assim como os planos de desenvolvimento econômico e social. Neste sentido, um aspecto que se julga ser relevante para fins desta pesquisa é a forma de participação da comunidade municipal na elaboração do referido plano.

Ainda conforme Lei 10.257, Cap. III, Art. 40, § 4º,

no processo de elaboração do plano diretor e na fiscalização de sua implementação, os Poderes Legislativo e Executivo municipais garantirão: I – a promoção de audiências públicas e debates com a participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade;

II – publicidade quanto aos documentos e informações produzidos;

III – o acesso de qualquer interessado aos documentos e informações produzidos. (BRASIL, 2001).

Acredita-se para isso, possam ser realizadas audiências públicas, oficinas nas comunidades, grupos de discussões entre os diversos agentes das comunidades, para que em conjunto se possam identificar interesses comuns e isolados, que contemplem um planejamento municipal consolidado, com base nas reais necessidades das comunidades que compõem o município.

O Estatuto da Cidade é reflexo de uma história de mobilização social, simbolizada pelo MNRU e pelo movimento ambientalista, pelos conceitos de sustentabilidade e de democracia participativa. Ele emergiu da uma crise das forças dominantes no sentido de reproduzir suas concepções de mundo, assim como resulta de um esforço de atores sociais em prol de alternativas, que visem um planejamento urbano que lide com uma sociedade de incertezas.