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Foto 15 Manifestações no Festival da Água e do PACUCA

2.4 O ESPAÇO URBANO E O PLANO DIRETOR

2.4.2 Os conceitos e as origens dos estudos sobre a gestão do espaço

2.4.2 Os conceitos e as origens dos estudos sobre a gestão do espaço urbano

Nos dias atuais, há uma significativa dificuldade em se definir e delimitar o que é o “urbano”, pois hoje, as noções de campo e cidade

não mais se opõem. A mundialização do sistema capitalista característica do século XXI, tem abrangido países cada vez mais longínquos e, assim, a sociedade urbana pode ser encontrada em quase todos os espaços geográficos. (BEUAJEU-GARNIER, 1997).

Os espaços urbanos têm se apresentado de forma híbrida, dinâmica e complexa. Híbrida porque, dependendo da perspectiva que se olha, pode-se perceber um espaço urbano ou um espaço rural; a dinamicidade dos espaços também é uma característica marcante, pois além da possível mudança nos elementos materiais, as pessoas que compõem os espaços estão em constante alteração; e os espaços também são categorizados por uma expressiva complexidade, pois estão repletos de possibilidades que permitem uma variedade de atividades humanas ao seu entorno.

Frente a isso, para melhor compreender a gestão do espaço urbano, faz se necessária uma explanação sobre os conceitos e as origens da gestão do espaço urbano, bem como as cidades e a urbanização.

Percebe-se, em muitas situações, uma deturpação semântica e uma confusão de significados entre cidade, espaço urbano e município. No entanto, cabe esclarecer que cidade é o elemento fundamental da organização do espaço, uma concentração de pessoas, de necessidades e possibilidades de toda espécie, que atrai habitantes por meio da produção, comércio. Já o espaço urbano é um conjunto de diferentes usos justapostos, fragmentado, articulado, reflexo e condição social, de um espaço de símbolos e de lutas. O que acontece é que muitos, ao se remeterem ao espaço urbano, restringem o seu entendimento ao espaço físico das cidades; porém representa, além disso, toda organização social, política, econômica e o modo de vida característico das cidades. Deste modo, pode-se dizer que o espaço urbano é um dos elementos mais significativos do planejamento urbano. O termo município também é equivocadamente utilizado, em muitas ocasiões. Ele não é sinônimo de cidade, mas sim representa toda a área para onde uma cidade poderá crescer, é o conjunto das áreas urbanas, suburbanas e rurais pertencentes ao controle de uma cidade (sede da administração municipal). controle de uma cidade (sede da administração municipal). (CORRÊA, 1989).

Nesta linha de pensamento, emerge a ideia de rede urbana. A noção de rede refere-se ao padrão organizacional básico de todos os sistemas vivos e, neste sentido, cada um de seus componentes têm a função de transformar ou substituir os demais, propiciando a condição de regeneração contínua. Ao encontro disso, torna-se conveniente

apresentar, de forma elucidativa, o conceito de rede no âmbito das ciências sociais, advindo da trilogia de Castells (1999, p.498):

Redes são estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando novos nós. Desde que consigam comunicar-se dentro da rede, ou seja, desde que compartilhem os mesmos códigos de comunicação (por exemplo, valores ou objetivos de desempenho). Uma estrutura social baseada em rede é um sistema aberto altamente dinâmico, suscetível à inovação sem ameaças ao equilíbrio.

Asim, a rede urbana se configura nas relações funcionais existentes entre as cidades e também as áreas rurais, ou seja, às funções de comercialização, produção, prestação de serviços, distribuição e outras, que no sistema capitalista se remetem a processos sociais.

Sposito, em sua tese publicada em 2004, contempla a existência de três formas de organização da rede urbana: hierárquica, competitiva e as sinérgicas.

A organização hierárquica é aquele tipo de organização em que as redes de cidades são estruturadas em pólos de influência. Um exemplo seriam as regiões que possuem uma cidade pólo, e uma rede de cidades que dela dependem econômica e politicamente. A organização competitiva corresponde às redes que se estruturam por processos descontínuos, em que cidades de portes populacionais e/ou econômicos competem interna e externamente. Já as sinérgicas ou de inovação, como também é chamada, refere-se às redes caracterizadas por cidades com uma forte relação de complementaridade funcional e operam elementos que promovem inovação constante para as dinâmicas urbanas, e representam uma característica positiva para o desenvolvimento da rede. (SPOSITO, 2004).

Acredita-se que esta breve noção possa servir de fundamento a reflexões acerca de uma questão crucial na abordagem urbana, que é o modo de produção do espaço urbano. A urbanização é um processo social característico da modernidade que tem assumido um novo formato, diante dos novos contornos que caracterizam a relação entre o homem e o seu papel na sociedade. Posto isso, acredita-se que ao se pensar no “organizar” do espaço público, seja interessante se explanar as dinâmicas de produção do espaço urbano, seus agentes econômicos, as

escalas (locais e mundiais) e as formas de exclusão, típicas do sistema socioeconômico atual.

Frente ao cenário de transformação do espaço urbano, torna-se viável conhecer alguns agentes da dinâmica da produção da cidade.

O Estado, por exemplo, pode ser considerado produto da sociedade e, assim, o conhecimento de sua forma de atuação interliga-se à identificação de conflitos sociais. Em se tratando do urbano, o Estado se comporta como um agente produtor do espaço, atuando em mudanças espaciais com exímio poder de transformação, que é regulado pelo grau de interesse dos grupos sociais. A relação do urbano com o Estado apresenta uma intensidade de realce, pois é neste contexto que os aparelhos do Estado se concentram e o mesmo se materializa. Assim, ao mesmo tempo em que o urbano concede status de poder ao Estado, representa uma arena de contestações ao seu poder de atuação.

Abreu (1981) comenta que o Estado, ao adotar mecanismos discriminatórios, embasados em uma prática político-econômica centralizadora, proporcionou a elitização de certos espaços urbanos e a expulsão e periferização de classes de baixa renda. Esta urbanização, considerada excludente, teve na história brasileira o Estado como seu aliado no paradigma desenvolvimentista, advindo da concepção modernista de se pensar o espaço. (ABREU, 1981).

Mas, em meio ao sistema socioeconômico capitalista, a produção do espaço não se dá só pela ação do Estado, ela tem influência taxativa de outros agentes na economia, na sociedade e na cultura, que operando de modo isolado ou apoiando a atuação do Estado. Corrêa (1989) sintetiza que a produção do espaço resulta da ação sistemática e intencional dos agentes sociais, caracterizada pela complexidade e o remete a processos contínuos e descontínuos de organização. Além do Estado, ele destaca como agentes produtores do espaço: os proprietários dos meios de produção; os proprietários fundiários; os promotores imobiliários; e os grupos sociais excluídos.

Contudo, dentre todos os agentes, o Estado é o que usufrui de instrumentos mais amplos para atuar na produção do espaço e alguns instrumentos foram enfatizados por lei, como a do Estatuto da Cidade, como desapropriação da terra para utilização pública; precedência da compra da terra; o controle e limitação do preço do solo urbano; limitação da terra para construção; cobrança de impostos; implantação de infraestrutura; o crédito imobiliário para construção de habitação ou compra do solo. Posto isso, fica evidente o caráter regulatório, em que o Estado define o que pode ser feito na cidade, por meio dos Planos Diretores e induz áreas de crescimento da cidade. (LEI 10.257/ 2011).

Essas mudanças no ordenamento jurídico brasileiro vieram a refletir todo um cenário de mudanças também inerentes à configuração econômica, política e social dos últimos tempos, em âmbito mundial e nacional, que tumultuaram os alicerces modernistas de se conceber o espaço urbano.