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Pode-se afirmar, em síntese, que o Estatuto da Criança e do Adolescente tem por finalidade primordial proteger os interesses do menor.

27

CRESCER SEM VIOLÊNCIA, 1999, p. 38-40.

28

VERONESE; COSTA, 2006, p. 116.

29

RIBEIRO; MARTINS, 2008, p. 83.

30

Para tanto, o ECA apresenta dispositivos que coíbem a prática de violência doméstica, prevendo, neste particular, a prevenção, a fiscalização, e até mesmo, em situações extremas, o afastamento da criança do ambiente violento31.

Com o advento do Estatuto, foram criados, por expressa previsão legal deste, os Conselhos Tutelares, para a tarefa de fiscalizar e zelar pelos interesses das crianças e adolescentes. Tais Conselhos são organizados no âmbito municipal, onde promovem atendimento em casos de violações e/ou ameaças aos menores32.

Não é demais mencionar que a partir desse Estatuto, e de certa maneira só a partir dele, a criança e o adolescente passaram a ser vistos como sujeitos de direitos e pessoas em condições de desenvolvimento, razão pela qual o seu art. 70 prevê que: “É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente”33

.

Nos termos deste artigo, pode-se entender que qualquer tipo de violência contra criança e adolescente significa a violação aos seus direitos essenciais. De acordo com o art. 5º do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 5° Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais34.

O que foi previsto pelo ECA deve ser cumprido em nome de uma efetiva proteção às crianças e aos adolescentes, sem contar que, desrespeitando este artigo, poderá o agressor ser punido na forma da lei.

Mister mencionar, a respeito disso, as medidas de proteção previstas no Estatuto, no âmbito exato em que interessam ao tema do presente estudo:

Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: [...] 31 VERONESE; COSTA, 2006, p. 120. 31

CRESCER SEM VIOLÊNCIA, op. cit., p. 132-133.

32

VERONESE; COSTA, op. cit., p. 120.

32

CRESCER SEM VIOLÊNCIA, op. cit., p. 133.

33

BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm>. Acesso em: 11 maio 2011.

34

II – por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; [...]35.

E, na sequência, o art. 101 do ECA, no que tem correspondência com o tema em estudo, guardando ligação direta com o artigo transcrito acima:

Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:

[...]

VII – acolhimento institucional;

VIII – inclusão em programa de acolhimento familiar; IX – colocação em família substituta.

[...]36

Depois, no art. 129 do Estatuto, aparecem as medidas aplicáveis aos pais ou responsável, sendo relevantes a este trabalho as três últimas: perda da guarda,

destituição da tutela e suspensão ou destituição do poder familiar37.

Na sequência, o ECA traz ainda a previsão de uma medida cautelar a ser utilizada em determinados casos, como segue:

Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsáveis, a autoridade judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum38.

Assim, uma vez configurada a violência nas formas acima especificadas, os responsáveis (sejam os pais ou não) poderão ser afastados do lar, embora essa ocorrência se dê muito raramente. Isso porque, na prática, geralmente quando a criança ou o adolescente não possuem parentes próximos para assumir a responsabilidade, eles são encaminhados para algum abrigo ou casa-lar.

Muito brevemente, já de antemão é de se mencionar que, no âmbito do ECA, com relação à colocação da vítima em família substituta, os institutos cabíveis são os da tutela e da adoção, sempre preservando os interesses da criança e do adolescente. Para sua inserção na família substituta, entre outros fatores analisam-

35

BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990, loc. cit.

36

BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990, loc. cit.

37

Art. 129, incisos VIII a X. Cf. BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990, loc. cit.

38

se o grau de parentesco e a afinidade/afetividade entre o protegido e os que desejam protegê-lo39.

Vale reforçar que a criança e o adolescente, com o advento do mencionado Estatuto, passaram a ser considerados sujeitos de direitos, não mais cabendo serem vistas como objeto. Mas foi ainda antes disso, em 1988, com o advento da atual Constituição Federal, que se deu um avanço sem precedentes em relação ao tema do poder familiar. Isso porque os pais, homens e mulheres, foram submetidos ao princípio da igualdade. Depois, em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu art. 21, ratificou expressamente essa igualdade de condições entre eles, pai e mãe, que legalmente passaram a atuar em comum acordo em relação aos filhos e aos assuntos de família40.

Feitas tais abordagens, o presente trabalho passará, agora, ao estudo das possibilidades de destituição do poder familiar em razão de violência doméstica praticada contra crianças e adolescentes, para, ao final, analisar-se a razoabilidade de tal medida, certamente drástica, em virtude da violência no âmbito mencionado.

39

VERONESE; COSTA, 2006, p. 120.

39

CRESCER SEM VIOLÊNCIA, 1999, p. 134.

40

VERONESE; COSTA, op. cit., p. 120.

40

4 EXTINÇÃO DO PODER FAMILIAR

Na antiguidade, no Direito romano, como visto anteriormente o patria

potestas era absoluto, tinha caráter perpétuo, só se extinguindo com a morte dos

pais. Mas com os abrandamentos sofridos por esse poder, e com as mudanças ocorridas no instituto da família, o poder familiar passou a apresentar outras formas de extinção1.

Com a evolução do poder familiar, que passou a ter função de proteção integral e garantia dos interesses da criança e do adolescente, este poder revestiu- se de questão de ordem pública, passando a merecer e receber, portanto, ampla fiscalização do Estado.

A esse respeito, ensina Carvalho: “O Estado interfere na família para fiscalizar a criação e educação da prole pelos pais, com o propósito de evitar que o exercício do poder familiar possa ser nocivo aos filhos”2

.

Assim, nos casos em que os pais deixam de realizar adequadamente sua função protetora para com os filhos, abusando do poder familiar, o Estado deve se insurgir contra eles, através dos mecanismos de suspensão ou perda do poder familiar, conforme a situação, ambos previstos em nosso ordenamento jurídico3.

As formas de extinção do poder familiar estão definidas no art. 1635 do Código Civil:

Art. 1635. Extingue-se o poder familiar: I – pela morte dos pais ou do filho;

II – pela emancipação, nos termos do art. 5º, parágrafo único; III – pela maioridade;

IV – pela adoção;

V – por decisão judicial, na forma do art. 1638 (original sem grifo)4

.

Sobre as formas de extinção previstas do inc. I ao IV acima transcritas não se fará maiores considerações, tendo sido transcritas apenas ilustrativamente, uma vez que o foco do presente estudo é a extinção do poder familiar por decisão

1

ATAÍDE JÚNIOR, Vicente de Paula. Destituição do poder familiar. Curitiba: Juruá, 2009. p. 43.

2

CARVALHO, Dimas Messias de. Direito de família. In: ______. Direito civil. 2. ed. rev. ampl. e atual. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. p. 382.

3

ATAÍDE JÚNIOR, op. cit., p. 43.

4

BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em 30 maio 2011.

judicial, de acordo com o art. 1638 do Código Civil (inc. V acima), artigo este que trata das hipóteses de perda do poder familiar por via judicial, o que doravante se verá de forma mais detalhada5.