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Por ser uma medida menos grave que a perda, a situação da suspensão do poder familiar pode ser revertida. Em outras palavras: sanadas as “inconveniências” que autorizaram a suspensão, esta tem caráter temporário.

O instituto da suspensão do poder familiar possibilita que a abrangência dessa suspensão em si possa ser direcionada a determinados assuntos. Por exemplo: no caso de um pai que é violento e autoritário com seu filho, mas, por outro lado, garante plenamente as condições econômicas para o seu desenvolvimento, ele poderá ser suspenso apenas em relação à educação de seu filho, devendo arcar com a mantença das outras necessidades que lhe caibam6.

Se apenas um dos pais for suspenso no poder familiar, o outro o exercerá com exclusividade. Por outro lado, se os dois forem suspensos, o juiz nomeará tutor ao menor7.

Como a suspensão é cabível em casos, relativamente, de menor gravidade (se comparados aos mais graves, que justificam a perda), o juiz não está obrigado a aplicá-la diretamente, como primeira opção, podendo/devendo ele, dentre várias medidas, adotar as que lhe pareçam mais adequadas para cada situação8.

Prevê o caput do art. 1.637 do Código Civil:

Art. 1637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar, quando convenha9.

5 CARVALHO, 2009, p. 381. 6 Ibid., p. 382. 7 Ibid., p. 382. 8 Ibid., p. 382. 9

Assim, se os pais abusarem do poder familiar, algum parente ou o Ministério Público serão partes legítimas para requerer ao juiz a imposição de medidas que garantam a segurança do filho, sendo uma das medidas possíveis, como visto, a suspensão do poder familiar em relação aos pais.

No caput do artigo 1637, portanto, encontram-se os casos em que se autoriza a suspensão temporária, mediante decreto judicial, em processo contencioso. Pois, se caracterizado o abuso excessivo, o caso concreto poderá se enquadrar na hipótese, bem mais extrema, de perda do poder familiar10.

No caso de pais que deixem de exercer seus deveres de proteção e cuidado dos filhos, o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu art. 129, prevê as medidas a serem tomadas:

Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:

I – encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família;

II – inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;

III – encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; IV – encaminhamento a cursos ou programas de orientação;

V – obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua frequência e aproveitamento escolar;

VI – obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado;

VII – advertência; VIII – perda da guarda; IX – destituição da tutela;

X – suspensão ou destituição do pátrio poder11

. (original sem grifo)

Como se vê, são várias as possibilidades de medidas aplicáveis, numa escala que vai, por assim dizer, da menos até a mais gravosa. Ao juiz cabe pesar cada caso a fim de escolher a medida mais adequada, e é de se entender que quando ele opta pela suspensão ou destituição do poder familiar (inc. X acima), é porque a situação fática, por grave que é, pede uma solução à altura de sua gravidade, a fim de ver cessado o abuso sofrido pelas vítimas.

Os abusos no poder familiar podem se traduzir em maus-tratos, privação de alimentos, exploração, perversidade, omissão (esta última nos casos em que se deixam os filhos na ociosidade, sem estudo, sem cuidados necessários, de forma

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ATAÍDE JÚNIOR, 2009, p. 46.

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BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em:

que se comprometa sua saúde e segurança), exigência de que trabalhem em situações incompatíveis com a condição do menor, ou se arruinarem os bens dos filhos, por má administração ou dilapidação desses bens12.

A suspensão perdurará enquanto houver necessidade, tendo seu tempo estabelecido e limitado por lei. Após esse lapso temporal, e não havendo mais indícios da causa que motivou a suspensão, os pais retornarão ao exercício do poder familiar. Verifica-se, assim, que a suspensão exclui apenas o exercício do poder familiar. Um exemplo disso é quando os pais têm suspenso o direito ao usufruto dos bens dos filhos, mas ainda assim continuam obrigados a prestar-lhes alimentos13.

Um fato importante a ser mencionado é que a suspensão poderá servir como medida liminar nas ações de destituição do poder familiar, segundo o art. 157 do ECA14:

Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar a suspensão do pátrio poder, liminarmente ou incidentalmente, até o julgamento definitivo da causa, ficando a criança ou adolescente confiado a pessoa idônea, mediante termo de responsabilidade15.

Cabe ressalvar, por pertinente, que a situação de condição econômica desfavorável dos pais, por si só não constitui motivo para a perda ou suspensão do poder familiar. Vale dizer: a falta de recursos para criação dos filhos, o motivo de pobreza, não poderá acarretar, por si só, a perda ou a suspensão do poder familiar dos pais. Para que a decisão judicial se dê pela perda ou suspensão, o comportamento dos pais há de demonstrar, efetivamente, negligência e/ou abusos que justifiquem tal medida16.

Vale reforçar: verifica-se, portanto, que para que ocorra a suspensão do poder familiar é preciso que os pais, através de comportamentos imoderados, venham a cometer abusos contra seus filhos, prejudicando seus interesses, de forma que essa suspensão se torne estritamente necessária para se reverter a

12 CARVALHO, 2009, p. 383. 13 Ibid., p. 383. 14 ATAÍDE JÚNIOR, 2009, p. 48. 15

BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990, loc. cit.

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situação de abuso no caso concreto.