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Capítulo II- Metodologia e características do ambiente de aprendizagem

II.1- O lugar da pesquisa empírica

A pesquisa foi realizada em de uma turma de estudantes do Ensino Fundamental, em uma escola privada de Belo Horizonte. Os estudantes pesquisados pertencem à classe média e, em geral, têm acesso a bens culturais que não são acessíveis a todos os estudantes da escola pública. Fora isso, e fora o pequeno número de estudantes que compunham a turma, não havia nada de excepcional ou extraordinário com o ambiente em que desenvolvi a pesquisa ou com os sujeitos que lá encontrei.

A pesquisa, obviamente, não precisava ser realizada em uma escola particular. Minha intenção inicial era a de conduzi-la em uma escola pública. Algumas exigências do desenho metodológico, entretanto, restringiam as escolas com as quais eu poderia trabalhar. Não tendo tido facilidade para encontrar uma escola pública com as características exigidas pelo desenho metodológico que havia concebido e considerando o cronograma que eu tinha a cumprir, decidi iniciar os trabalhos na escola onde obtive boa receptividade e condições adequadas ao trabalho.

O acesso a essa escola foi facilitado pela intervenção de um pai de aluno, que era consultor pedagógico da escola para a área de ciências naturais. A autorização da direção da escola tanto quanto a adesão do professor ao projeto foram resultantes dessa intervenção. Esse mesmo sujeito, na condição de professor de prática de ensino de Física na UFMG, também orientou a escola quanto à escolha do professor de ciências, um ex-aluno seu que acabara de se formar. Esse professor de ciências assumiu as turmas de 7ª e 8ª séries do Ensino Fundamental. Iniciei a pesquisa com uma turma de 7ª série, determinado a concluir a última etapa de minha coleta de dados quando essa turma estivesse preste a terminar a 8ª série do ensino fundamental.

O fato do professor de ciências com o qual eu iria trabalhar ser licenciado em Física, a mesma área das ciências naturais na qual eu me formei, bem como sua disposição em participar do

projeto, me levou à conclusão de que eu dificilmente reuniria condições de trabalho mais favoráveis ao desenvolvimento do projeto em outra escola. Devido às características da investigação que eu pretendia conduzir, o interesse e a disposição do professor eram os pontos mais críticos do desenho de pesquisa.

É importante registrar duas avaliações sobre o professor com o qual eu tive a oportunidade de trabalhar e desenvolver a pesquisa. O desenho da pesquisa não previa qualquer tipo de treinamento do professor. Além disso, é bom lembrar que o professor em questão estava em início de carreira e aquela seria a primeira experiência de ensino regular que ele teria. Como, então, eu poderia esperar que um professor nessas condições pudesse participar do projeto sem comprometê-lo? Se tudo o que eu viesse a propor a esse professor fosse absolutamente novo para ele e diferente daquilo que já havia vivido antes, que chances eu teria de constituir um ambiente de aprendizagem propício ao tipo de pesquisa que eu queria desenvolver?

Eu tinha informações sobre esse professor que me levaram a acreditar em sua adequação à minha pesquisa. Ele contava com uma experiência de alguns anos em um projeto de educação de jovens e adultos mantido pela UFMG. Neste projeto, esse professor teve a oportunidade de vivenciar uma prática pedagógica dialógica, na qual os conteúdos eram abordados de modo a considerar o conhecimento prévio dos estudantes e suas impressões e opiniões acerca de suas próprias realidades.

Minha própria experiência como alfabetizador e educador de jovens e adultos me ensinou o quanto este tipo de vivência permite aprender a gerenciar ambientes de aprendizagem similares àquele que meu desenho de pesquisa sugeria. Na seção II.4 deste capítulo, caracterizo tal ambiente de aprendizagem. A mesma caracterização constava no projeto de pesquisa que foi entregue ao professor, à escola e ao professor da UFMG que facilitou minha entrada no lugar empírico de minha pesquisa.

Antes que eu começasse efetivamente a participar e a registrar suas aulas, o professor havia trabalhado com conteúdos ligados ao estudo do calor e temperatura. Isso ocorreu durante o primeiro trimestre de 2001, sem nenhum tipo de participação minha. Nesse período eu estava a elaborar as atividades que nutririam as aulas de ciências no segundo trimestre, e cujos temas

eram, originariamente, Luz e Visão e Som e Audição6. Esses temas, por sua vez, não foram escolhidos por mim. O conteúdo programático definido pelo professor e pela coordenação pedagógica previa esses temas para o segundo trimestre letivo. Tal escolha foi pautada no conteúdo do livro didático adotado para a sétima série, assim como pela análise dos conteúdos trabalhados nas séries anteriores e aqueles previstos para a continuidade dos estudos até o fim da oitava série do ensino fundamental.

O trabalho que o professor realizou no primeiro trimestre de 2001 era semelhante àquele que eu estava propondo, pois também se estruturava em torno de atividades experimentais de investigação. Minha intuição e minha sorte parecem ter me conduzido a um ambiente adequado para desenvolver a pesquisa que eu concebi, embora a falta de experiência do professor e o tempo limitado de interação com ele pudessem indicar o contrário.

As atividades que eu concebi e apresentei ao professor possuíam uma novidade em relação àquelas que ele havia utilizado no primeiro trimestre. Elas continham questões, informações e orientações, cuja intenção era auxiliar o professor a promover com os estudantes reflexões sobre aspectos específicos da natureza das ciências. Além das atividades, entreguei ao professor um anexo com comentários e orientações adicionais para a condução das atividades em sala de aula.