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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 Modelos de inovação

2.3.1 O modelo linear e os modelos interativos

No Brasil, a pesquisa aplicada ainda está algo distante das universidades, pois, apesar de todo o esforço feito até agora por governos e universidades, não existem regras muito claras entre parcerias universidade-empresa no que diz respeito a patentes ou contrato de divisão de lucros. Existe, sim, a vontade dos governos e universidades de participar do processo, mas não há, conforme mencionado, regras claras. Muitas pesquisas que poderiam ser importantes para o desenvolvimento do país não saem do espaço da universidade. É o caso, por exemplo, da parede composta, principalmente, de garrafas PET para casas populares, do Laboratório de Sistemas Construtivos da Universidade Federal de Santa Catarina e ou do nanocarregador para transporte de remédios no organismo, desenvolvido na USP, casos divulgados pela imprensa. Esses problemas não mudam o fato de que o modelo de criação e implantação de inovações tecnológicas é o que acaba por determinar a competitividade de um país. Conforme mencionado anteriormente, o Brasil ainda busca seu modelo, ainda que haja componentes consolidados, como a participação forte dos três níveis de governo e a existência de uma gama de incubadoras de empresas. (INOVABRASIL, 2010 e SIBR, 2010)

Viotti e Macedo (2003) apresentam o modelo linear de inovação (Figura 2) que estabeleceu bases da política de ciência e tecnologia nos Estados Unidos em 1945, com

resultados não menos que espetaculares e que exerceu influência sobre políticas de ciência e tecnologia em vários países do mundo.

Universidades e Institutos de pesquisa

(oferta de tecnologia)

Empresas

(demanda de tecnologia)

Figura 2: Modelo linear de inovação ( science push) Fonte: Viotti e Macedo, 2003

Esse modelo funciona, com nuances, até hoje. Vale lembrar um avanço recente, o desenvolvimento do iPod, que deu origem ao iPhone e ao iPad. Em 1988, Peter Grünberg e Albert Fert, da State University of Michigan, descobriram independentemente a GMR, Resistência Eletromagnética Gigante, que possibilitou discos rígidos de dimensões extremamente reduzidas. Em 2001 foi lançado o primeiro modelo do iPod e em 2007 Grünberg e Fert receberam o Prêmio Nobel de Física (NOBEL FOUNDATION, 2011).

O termo "pesquisa básica " refere-se ao avanço do conhecimento fundamental e o entendimento teórico das relações entre as variáveis. Por contraste, a "pesquisa aplicada" descreve o uso de teorias acumuladas, conhecimentos, métodos e técnicas, para uma finalidade específica. Assim separados, pesquisa básica precede logicamente a pesquisa aplicada, que por sua vez, precede a desenvolvimento de uma idéia em uma aplicação prática (WESSNER, 2009). Para o autor o modelo linear de inovação cria a impressão equivocada que o aumento dos investimentos públicos e privados em investigação resultará automaticamente de maior comercialização, reforçando, por sua vez, a competitividade de uma nação em mercados globais ou regionais.

A Figura 3 mostra um modelo mais complexo de inovação com diferentes fases de pesquisa onde, em algumas fases se misturam. Na prática, distinguir entre pesquisa básica e pesquisa aplicada é na maioria das vezes uma tarefa difícil, com os diferentes estágios e frequentes combinações de pesquisa. Esse modelo pode ser usado em áreas onde parceiros do setor público e privado colaboram de forma a desenvolver fortes insigths nas áreas de interesse. pesquisa aplicada pesquisa básica desenvolvimento experimental engenharia não rotineira produção e comercialização

Neste sentido, a principal vantagem dos parques de pesquisa é que eles oferecem aos cientistas, empresários, capitalistas de risco e outros, um ambiente favorável que incentive a colaboração entre disciplinas e feedback por meio dos estágios diferentes de inovação.

Figura 3: Modelo de mixing de inovação Fonte: Wessner, 2009

O modelo Elo de Cadeia (chain link model) de Kline e Rosenberg (1986) enfatiza as ligações existentes entre as diferentes atividades de pesquisa e as atividades industriais e comerciais. Neste modelo, o sentido das relações nem sempre vai da pesquisa básica para o desenvolvimento tecnológico, como no modelo linear. O processo de inovação evolui de técnicas simples para práticas mais complexas e sofisticadas. (Figura 4). O modelo Kline e Rosenberg pode ser utilizado para representar a atividade de inovação de uma única empresa, que desenvolve desde a pesquisa básica até a comercialização final dos produtos; ou de um conjunto de empresas que se inter-relacionam como clientes e fornecedores; ou de uma rede de cooperação para inovação, envolvendo, por exemplo, empresas e instituições de pesquisa (OECD, 2005).

Ainda que esse modelo traga uma nova percepção no processo de inovação nas empresas, com valorização da base de conhecimentos e capacitações, principalmente a capacitação tecnológica (VIOTTI e MACEDO, 2003), existe um exemplo que vem do século XVIII, a máquina a vapor, que começou como um meio de retirar água das minas de carvão

da Cornuália, na Inglaterra. A máquina a vapor, por meio de interações complexas entre várias empresas e usuários, acabou por se tornar a principal fonte de força motriz industrial no mundo por um longo tempo e ainda está presente na mais moderna turbina de uma usina termoelétrica.

Figura 4: Modelo Elo de Cadeia (chain link model), de Kline e Rosenberg Fonte: Kline e Rosenberg ,1986

É possível ver, por inspeção da Figura 4, que o processo de produção da máquina a vapor efetivamente seguiu o modelo chain link. Isso mostra que os modelos de inovação não têm uma cronologia em que a concepção segue a aplicação do modelo sendo a dificuldade para encontrar um modelo brasileiro.

O Modelo Sistêmico de Inovação (Figura 5) é uma apresentação complexa dos atores e as influências de uma variedade de fatores específicos dos países. Entre esses fatores, está o sistema financeiro, a estrutura legal e de regulação, o nível de educação e habilidades, o grau de mobilidade dos profissionais, as relações do trabalho e práticas gerenciais (OECD, 1999). Vale acrescentar as influências sobre a inovação a história e a cultura das nações, determinantes primeiros de vários desses fatores e também condicionantes diretos das práticas de inovação.

C ondições do M ercado de F atores Infra-estrutura de C om unicações C ondições do M ercado de P rodutos S istem a E ducacional e de T reinam ento C ontex to M acroeconôm ico e R egulatório O utros G rupos de P esquisa S istem a C ientífico Instituições de A poio E m presas (com petências internas

e redes ex ternas) G eração, D ifusão e U so do C onhecim ento

R ede de Inov ação G lobal

“C lu st e rs” d e I n d ú st ria s S is t. Reg. de Inov aç ã o D E S E M P E N H O D O P A ÍS

C rescim ento, criação de em prego, com petitiv idade S istem a N acional de Inov ação

C apacidade N acional de Inov ação

Figura 5: Modelo Sistêmico de Inovação Fonte: OECD,1999

Moreira e Queiroz (2007) colocam a dificuldade de se encontrar um esquema classificatório que consiga reunir todos os tipos de inovação em face de não se ter, na realidade, uma boa definição do que seja uma inovação, apesar do Manual de Oslo ser um guia mundial de grande valia para esta finalidade (OECD, 2007). No entanto, alguns tipos de inovação já se consolidam: a inovação técnica ou tecnológica é um exemplo, considerado por muitos, sinônimo de inovação. Os autores vêem ainda que existe dificuldade para estabelecer um “mapeamento mental” da inovação, exemplificando, se houver um estudo em nível de empresa: Existe uma classificação satisfatória dos estudos em inovação em nível de empresa? Há um consenso sobre as variáveis mais importantes que possam ser relacionadas aos esforços inovadores? Existem estratégias de pesquisa reconhecidas que possam ser aplicadas a modelos de estudo particulares?

Moreira e Queiroz (2007) argumentam que é impossível negar os efeitos positivos da inovação sobre o desempenho das empresas, mas ressalta a dificuldade de explicitar uma determinada medida de desempenho. Embora se discuta muito a geração dos processos de inovação, não está muito claro qual o melhor modelo para gerar inovações, que traga algumas que poderiam ser consideradas as ideais, como as forças do mercado e da demanda, ou pelo desenvolvimento tecnológico. Na verdade, essas forças estão presentes de modo diverso em

cada país ou mesmo em regiões diferentes do mesmo país, o que faz com que a existência de um modelo universal seja no mínimo duvidosa.