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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.11 Duas experiências mundiais de sucesso

2.11.2 Sophia Antipolis – França

O conceito do Parque Sophia Antipolis, na região de Nice (França) teve sua origem num artigo publicado pelo professor e depois diretor da Escola de Minas de Paris, Pierre Laffitte, no jornal Le Monde, em 1960, sob o título Latin Quarter in the Fields. Vale lembrar que Latin Quarter é, em Inglês, o mesmo que Quartier Latin, um bairro de Paris famoso por seus estudantes e intelectuais. O que Laffitte quis exprimir com o título do artigo é que ele

propunha agitação intelectual e mesmo vida boêmia em um lugar campestre, longe da azáfama da cidade. Ele desenvolveu um projeto de uma cidade internacional da Ciência, das Artes e da Tecnologia com a idéia de criar um centro de “fertilização cruzada” entre empresas “high-tech” e centros de pesquisa, longe de Paris, e em um lugar de especial beleza, como a Côte d’Azur (LONGHI, 1999).

A idéia foi gradualmente ganhando apoio governamental em diversos níveis. Em 1969 foi criada a Associação Sophia Antipolis e três anos depois, em 1972, o projeto foi finalmente aprovado por um Comitê Interministerial para o Manejo do Território. Sophia Antipolis foi o primeiro Parque Tecnológico criado na Europa, pouco antes do de “La Zirst”, perto de Grenoble (LONGHI, 1999; LIMA et al, 2009). A área inicialmente escolhida era totalmente coberta por vegetação natural e abrangia partes do território de cinco municípios – Antibes, Biot, Mougins, Valbonne e Vallauris. O Projeto previa que os prédios a serem construídos mantivessem uma harmonia com a paisagem e que dois terços da superfície total de área verde fossem preservados. A área foi posteriormente ampliada, até atingir os 2.300 ha atuais, sendo necessário para tal incorporar partes de mais quatro municípios – Villeneuve-Loubet, La Colle-sur-Loup, Opio e Roquefort-les-Pins.

A primeira fase do projeto, que durou do início da década de 60 até meados dos anos 70, consistiu essencialmente de articulações políticas e alianças para viabilizar a área e a infraestrutura física do parque. A credibilidade do projeto, tido como irrealizável por muitos atores chaves, ganhou força com a atração de algumas grandes empresas internacionais para a região (IBM, Texas, Thomson). O fato de o aeroporto da cidade turística de Nice ser o segundo da França, bem como a reconhecida qualidade de vida da região, foram fatores decisivos. Data também deste período a criação da Universidade de Nice, e da implantação da prestigiosa École de Mines, por influência direta do senador Laffite, professor da instituição.

Entre 1974 e 1985 houve um período de “crescimento aleatório” do parque com a instalação de grandes empresas e instituições públicas sem uma estratégia de atração definida; ao final de 1986 o Parque de Sophia Antipólis já era considerado um sucesso, com 460 empresas ou instituições lá instaladas, ocupando mais de 6.000 pessoas, mas estava ainda longe da visão de “espaço de fertilização cruzada”, que havia sido originada por Laffite.

O movimento de atração da primeira fase resultou em um crescimento exponencial na segunda etapa, entre 1985 e 1990, quando o parque se tornou a destinação preferida de grandes grupos multinacionais interessados em criar bases de pesquisa européias, longe da vida das grandes metrópoles. A direção do parque procurou posicioná-lo mais agressivamente como um cluster de excelência em tecnologia de informação. O ambiente ensolarado da

Riviera francesa, aliado à disponibilidade de infraestrutura de ponta em tecnologia de comunicação e informação, fez o número de empregos saltar para 15.000 em 1989.

Segundo Longhi (1999), a partir do início da década de 90 uma série de reestruturações de políticas de investimento em P e D das multinacionais fez diminuir substancialmente o volume de investimentos externos no parque. Foi a terceira fase. A dificuldade de atrair multinacionais foi combatida com um esforço redobrado de “endogenização” do crescimento. Data deste período a criação de associações inter- empresariais como o Telecom Valley, o High-tech Club e a “Maison des Entreprises”,em um esforço de incremento das atividades de fertilização cruzada.

O período atual, a quarta fase, é marcado por um movimento de consolidação do crescimento. Embora novos centros de pesquisa e design continuem a ser atraídos, poucos têm a escala ou intensidade tecnológica do período áureo da segunda metade da década de 80. Atividades de suporte não estritamente ligadas à produção de conhecimento foram incorporadas ao portfólio do parque, que hoje conta com 1.400 empresas e mais de 30.000 empregos. A área de tecnologia de informação e comunicação responde pela maioria dos postos de trabalho (43%), seguida por serviços gerais (30%), com 12% dos empregos em ensino / pesquisa e 9% em ciências da vida.

A área construída, ocupada por empresas e outras entidades, é superior a 1 milhão de metros quadrados. Existem no parque mais de 2.000 unidades residenciais e oito hotéis, complementados por inúmeras áreas para a prática de esportes e centros comerciais. A gestão do Parque está dividida entre três entidades: a agência Team Cote d’Azur, responsável pela atração de novos investimentos, pela promoção do empreendimento e pelo acompanhamento das empresas lá instaladas; a SAEM (Societé Anonyne d’Économie Mixte Sophia Antipolis

Côte d’Azur), responsável pelo manejo do solo, comercialização de áreas novas, elaboração

dos contratos e desenvolvimento dos projetos de infraestrutura, urbanismo e arquitetura, e a Fundação Sophia Antipolis, presidida por Pierre Laffitte, encarregada da divulgação do Parque, realização de eventos promocionais, relações internacionais e desenvolvimento de interações com investidores. Há dois sindicatos que participam da direção: o SYMISA (Syndicat Mixte de Sophia Antipolis), que dá orientação política à SAEM e tem poder de veto sobre a inserção de empresas no parque, e o SAM (Syndicat des Alpes Maritimes), criado posteriormente e integrado por representantes dos governos locais, da Câmara de Comércio e da Universidade, dedica-se especialmente ao desenvolvimento do Parque. Representa os interesses da população da região (SMI, 2001).