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O modo de abordagem da Aids

No documento vol4 10 (páginas 61-64)

E) A relação do “paralelo” com a Aids

3) O modo de abordagem da Aids

“Mas como a gente pode discutir sobre Aids sem falar sobre os outros problemas da vida da gente?” Isto foi o que uma adolescente deu em resposta a uma agente do PSF que ten- tou restringir sua fala ao tema específico da Aids. A menina havia se entusiasmado com a perspectiva da pesquisa, porque poderia “falar da violência em casa, das drogas, de todos os problemas que a gente vive”. É este um dos aspectos sensí- veis em relação à abordagem que se faz do tema da Aids, na comunicação das instituições.

A Aids como grupo de sintomas físicos, livres de contexto, que requer uma prática também descontextualizada, este tem sido o enfoque dominante. Em contraposição, encontramos uma grande necessidade de:

• informações locais;

• inter-relação da Aids com a vida das pessoas, não apenas com sua prática sexual;

• uma informação mais detalhada sobre os processos de con- taminação, geralmente dados de forma tímida, em detrimento

da informação genérica e associada com a recomendação do uso do preservativo ou de seringas próprias.

Por outro lado, os textos veiculados nos vários meios de comuni- cação tendem a contemplar o indivíduo, remetendo sempre para uma escolha pessoal, uma prática individual e uma responsabi- lização individual pelas conseqüências dessa escolha. Ou seja, as estratégias privilegiam o indivíduo, quando a prática é, so- bretudo, social. Nos adolescentes, principalmente, concepções, opiniões, escolhas, se fazem num plano coletivo, de grupo. A noção de indivíduo – valor moderno, nem sempre com resso- nância na nossa sociedade fortemente permeada por valores tradicionais – remete para a de prevenção, que está estreita- mente ligada à percepção do risco. Toda a possibilidade de se fazer prevenção depende da possibilidade de que as pessoas percebam e temam o risco de determinados comportamentos e atitudes. Podemos afirmar que:

• a noção de risco é absolutamente contextual, depende de inúmeros fatores;

• o peso que um determinado risco representa na vida das pessoas em relação a outros riscos é variável;

• correr risco não é necessariamente negativo. Pelo contrário, no caso dos jovens, pode ser altamente estimulante.

De um modo geral, os problemas apontados nesta pesquisa requerem, para sua solução, um grande e primeiro passo, que é a descentralização da comunicação, seja no seu diag- nóstico, no planejamento, na implementação ou na avaliação. Certamente isto demanda modificar toda estrutura atual das instituições públicas, inclusive dos seus critérios de finan- ciamento. Não é nada fácil, até porque muitos interesses se articulam em torno de uma opção pela centralização. Mas é urgente, até porque a comunicação na saúde vem caminhan- do na contramão da história e negando sistematicamente os princípios do SUS, fortemente direcionados para a descentrali- zação e o controle social em todos os níveis.

As avaliações costumam ter um baixo impacto sobre as po- líticas públicas, apesar do seu compromisso pragmático de mudança, de aprimoramento. Esperamos que esta possa de algum modo ser incorporada ao debate sobre a prevenção da Aids, resultando em uma mudança ou redirecionamento do olhar técnico sobre a comunicação. Não é nada fácil agir as- sim, temos que abrir mão de uma postura.

Ana Lúcia Lima Gomes.

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