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O que se aprendeu com a análise das estratégias e discursos

No documento vol4 10 (páginas 47-51)

E) A relação do “paralelo” com a Aids

2) O disco do Bonde Teka-Teka

4.4 O que se aprendeu com a análise das estratégias e discursos

Como afirmado antes, os muitos textos obtidos na fase da mo- bilização, compreendidos como discursos, receberam um tra-

tamento analítico orientado pelo método da Análise Social de Discursos. No plano original – supondo-se que as estratégias fossem elaboradas com uma certa margem de tempo, antes do final da pesquisa de campo – as análises deveriam reverter em subsídios para o trabalho dos produtores e dinamizado- res, propiciando a discussão coletiva dos resultados. Em ou- tros termos, as vozes e discursos circulantes voltariam para o espaço local de mobilização, para alimentar o debate e o replanejamento das estratégias. De fato, elas retornaram, mas apenas como elemento de avaliação e reflexão local sobre a experiência vivida, uma vez que não havia mais tempo hábil para uma reorganização estratégica. Mas voltemos um pouco atrás, buscando uma fundamentação para se compreender a importância dessa fase da pesquisa.

Uma regra básica do nosso método era que tudo que surgisse como estratégia local deveria ser compreendido como texto e registrado de modo a possibilitar uma análise de discursos posterior. Conforme acentua Araújo (2002),

“o texto é o território de estabilidade, ainda que temporária, dos sentidos. É o território no qual e pelo qual se faz a me- diação negociada entre a produção e o consumo. E textos são analisados sempre em referência às suas condições de pro- dução, circulação e consumo, que incluem as assimetrias de recursos e de poder”.

Nesta pesquisa, consideramos “textos” entrevistas, depoi- mentos na TV Maluca, cartazes, faixas, gritos de guerra, painel de recados, letras de músicas (de autoria dos jovens ou apenas escolhidas por eles), roteiro e texto dos vídeos, frases lemas para as estratégias e falas nos encontros da pesquisa. Para analisar estes textos, escolhemos a Análise Crítica dos Discursos. Discurso é o lugar da produção social dos sentidos. Assim, os discursos emanados dos diversos interlocutores fo- ram tratados na pesquisa como espaços legítimos, não apenas de expressão, mas de produção dos sentidos sociais sobre a saúde e especificamente sobre a Aids.

Falando dos produtos culturais empíricos, criados por eventos comunicacionais (no nosso caso, citados acima), Pinto (1999) afirma que fazer análise de discurso é

“descrever, explicar e avaliar criticamente os processos de pro- dução, circulação e consumo dos sentidos vinculados àqueles produtos na sociedade”. (...) “Quando se analisam textos des- ta forma, abordando-os como parte de práticas sociais inseri- das em contextos determinados, dizemos que foram analisa- dos como discursos”.

A Análise de Discursos também é um método para investigar mudanças sociais, porque as ações de poder e a luta de poder moldam e transformam as práticas discursivas de uma sociedade ou instituição. Então, ela pode ser usada para detectar práticas e situações de dominação, de estigmatização, exclusão, mas tam- bém de resistência e contra-estratégias. Uma de suas premissas é que os textos trazem marcas das relações de saber e poder pelas quais as redes se formam e se movimentam. As marcas

são indícios que permitem relacionar os textos com processos sociais mais amplos, com suas condições de produção, circu- lação e consumo, dando conta de elementos de negociação dos sentidos que nem sempre se mostram nos métodos mais convencionais de análise.

Os princípios mais relevantes que regeram os procedimentos analíticos foram:

• AD não é estudo de intenções presumidas, mas de estraté- gias de comunicação: na multiplicidade textual, o trabalho a ser feito é desenredar, não decifrar;

• Textos são a superfície onde se encontram traços e pistas dos processos sociodiscursivos, mas não são esses processos; • É preciso deixar de lado a Verdade e buscar a lógica da representação;

• É necessário compreender as condições específicas de circu- lação e consumo de cada texto, não apenas as de produção (Pinto. 1999).

A linguagem atende a duas finalidades básicas: referenciação – fala-se sempre de alguma coisa; e comunicação – fala-se sem- pre a alguém. Estas duas funções agem sempre juntas e se reali- zam através de algumas operações na língua, que chamamos de operações enunciativas. São essas operações que a Análise de Discursos permite compreender e é através dela que se descobre as vozes que habitam a fala de qualquer indivíduo.

Através da AD, procuramos identificar essas operações na fala e estratégias dos jovens, para mapear seu imaginário em torno da doença. Buscamos também descobrir que vozes (falas vin- das de “outros lugares”) dizem presente nos discursos locais sobre Aids. Também era nosso objetivo identificar as estraté- gias discursivas adotadas pelos jovens no momento em que são solicitados a assumirem o lugar de produtores de mensa- gens e desta forma perceber como esses jovens se posicionam frente a um determinado conjunto de idéias sobre a Aids. Os sentidos que emergiram dessa análise passam a ser co- mentados.

O primeiro ponto a destacar é que se constatou uma enorme variedade de percepções e opiniões. No entanto, esta diver- sidade à primeira vista é ocultada por uma aparente homo- geneidade: quase todas as falas exprimem o conhecimento e uma aparente “convicção” de que a Aids pode ser evitada, que a prevenção é de responsabilidade individual e que o uso do preservativo é o melhor caminho. Esse efeito é provocado, a nosso ver, por dois fatores: a situação de comunicação (uma pesquisa, demanda institucional, gincana, reuniões, entrevis- tas) e a forte presença do discurso oficial. A segunda está liga- da à primeira. Isto é, ação de comunicação tende a direcionar a fala das pessoas.

Essa diversidade expressa a dinâmica e a complexidade social. A análise mostrou a forte presença de tensões e conflitos que são próprias das relações sociais e que também se manifestam

no contexto da prevenção da Aids (não deveriam, pois, serem ignoradas numa estratégia de prevenção). As principais oposi- ções encontradas foram:

Oposição de classe – das falas emergiu um antagonismo

entre pobres e ricos. Bairro e favela, Centro (ou Zona Sul) e periferia. Esta oposição aparece inclusive como desigualdades no acesso a serviços e a informações. Mesmo quando a per- cepção da Aids é a de um problema de saúde do indivíduo, e não da coletividade, estas dicotomias aparecem como expres- são de ressentimento social.

Oposição de gerações – entre jovens e adultos, jovens e

velhos, jovens e muito jovens.

Esta se manifestou tanto sob a forma de culpabilização dos jovens pela situação vivida, como ressentimento dos mais jo- vens em relação à atitude dos mais velhos.

Oposição de sexo – homens e mulheres. Esta oposição apa-

rece associada a um forte discurso moral que estabelece na relação amorosa papéis e lugares para o homem e para a mu- lher. Cabe ao primeiro seduzir, tomar a iniciativa, agir, atacar, enganar. Cabe à segunda impor os limites, exigir respeito, di- zer não, ter juízo, se cuidar. A mulher aparece como a guardiã dos valores morais: é ela que tem que exigir amor na relação. A mulher que não cumpre seu papel é “culpada” pela Aids. Mas a culpa também cabe ao homem, quando não respeita a regra de fidelidade. 0s homens defendem sua hegemonia, paternalizam suas relações com as mulheres, acusam-nas de engravidar de propósito furando as camisinhas, desconfiam das “oferecidas” e são por sua vez acusados de infidelidade e de contaminar suas parceiras. Há uma responsabilização mú- tua pela “culpa” da contaminação. As marcas são bem fortes nesse sentido e confirmam o que outros estudos sobre repre- sentações da Aids já estabeleceram a respeito.

A constante e marcante presença da oposição de gênero nos textos analisados pode ser devida ao componente sexual que a temática mobiliza, sendo portanto um elemento que se impõe ao planejamento estratégico da comunicação para a prevenção. A idéia de que “mulher que anda com camisinha é safada” tem implicações para a política de incentivo ao uso do preservativo.

A oposição entre homo e heterossexuais aparece muito fraca- mente e através das falas de pessoas mais velhas. Provavel- mente porque o esforço de desvincular a Aids dos homossexu- ais foi bem-sucedido e este discurso perdeu espaço e força no mercado simbólico da Aids, particularmente quando se trata de grupo etário muito jovem.

Estas oposições se manifestam também pelo desejo de inclusão, de participação, que é uma forma de superação das desigualda- des. As marcas desse desejo puderam ser observadas em vários momentos, desde alguns cartazes e hinos das equipes, até al- guns depoimentos na TV Maluca e nas entrevistas dos vídeos. As falas podem ser divididas em três grandes blocos: as relativas às políticas públicas (modos concretos de ação do Estado para

controle da Aids), as relativas às práticas comunicativas das ins- tituições e às referentes ao comportamento das pessoas.

Relativas às políticas públicas

Muito presente é a distribuição das responsabilidades entre a instituição e o indivíduo. À instituição de saúde cabe ofertar informações e serviços; aos indivíduos cabe procurar se infor- mar: indo, perguntando e escutando e procurar ajuda. Este é sem dúvida um sentido largamente construído pelas próprias instituições, através de décadas, na sua prática comunicativa. Boa parte dos materiais de comunicação em saúde traz pers- pectiva implícita ou explícita e é previsível que ela se manifeste nas falas.

Relativas às estratégias de comunicação

A análise apontou para alguns pontos que merecem atenção: • Há um certo incômodo com a repetição e a saturação da informação para a prevenção. Ou seja, os jovens dão conta de uma intensa presença de informação sobre como se previne a Aids e as DST. Mas reclamam da mesmice e falta de adequa- ção das formas pelas quais essa informação é veiculada. Mas a informação está associada sempre exclusivamente ao uso do preservativo. Há uma demanda em relação a conhecimentos mais específicos e diversificados e também a uma relação mais ampla com outros aspectos da vida.

Temos aqui dois ângulos da questão. Um refere-se à natureza da informação que chega aos jovens. Batendo sempre na mes- ma tecla, deixa de lado outros elementos que comporiam um conhecimento mais consistente sobre a Aids e que permitiriam aos jovens uma tomada de posição de caráter mais consciente e permanente. A insistência das estratégias de comunicação das instituições no “use a camisinha” é produto do modelo no qual se apóiam os processos de intervenção na saúde (cf. c/ contexto teórico da pesquisa), que acredita que comporta- mentos podem ser modelados mediante uma informação bem elaborada sobre o comportamento mais adequado, a ser ado- tado. A comunicação sobre a Aids vale-se, assim, de recursos da publicidade para tornar as mensagens mais atraentes, na suposição que sua eficácia estará assim garantida.

O outro ângulo parte do mesmo princípio, mas situa-se na desvinculação da informação sobre a Aids dos outros aspec- tos da vida dos jovens e adolescentes. As pessoas vivenciam problemas de saúde de forma articulada à sua vida; a rede de sentidos na qual a Aids está imersa e é parte constitutiva é formada por inúmeros textos, referentes não só a outros pro- blemas de saúde como a outras situações vividas no cotidiano. As instituições que têm a responsabilidade pela saúde coletiva tendem a desvincular a saúde do restante da vida, e dentro da saúde, particularizar subtemas, tratando cada um de forma separada. O resultado é a constituição de uma Aids separada das pessoas, que se transforma num objeto externo a elas, gerando um distanciamento e permitindo que se fortaleça a noção de “não vai acontecer comigo”.

O conjunto das análises apontou para uma extrema carência de uma informação contextualizada sobre a Aids, ou seja: não se tem conhecimento da configuração local da Aids (nem de qualquer outro problema de saúde), em contraposição a uma Aids que se aplica genericamente, que fala de (estereó)tipos de pessoas e comportamentos que, mesmo encontrando certa correspondência local, não falam de um local conhecido. Este problema é derivado da opção por uma comunicação produ- zida de forma centralizada, que obviamente não poderia con- templar especificidades. A pouca informação disponível sobre a situação vivida tanto no Lins quanto em Curicica despertou rápida e amplamente o desejo de saber mais, tanto que as estratégias dos jovens incluíram sempre como primeiro passo uma pesquisa local.

Ficou patente uma demanda de formas de comunicação que considerem e propiciem a interatividade, conotada como posi- tiva na relação entre instituições e jovens. Algumas falas apon- taram no sentido de mudar o pólo emissor: jovens falariam melhor para jovens. Por serem muito poucas e enunciadas no contexto da gincana, podemos considerar a hipótese de que tenham sido produto da situação de comunicação vivida. No entanto, fica o registro.

• Também com poucos registros, embora contundentes, há uma crítica quanto à culpabilização do jovem como potencial transgressor, portanto como potencial receptor de doutrina- ção. De um modo geral, o jovem foi considerado culpado, in- clusive por eles mesmos, da sua atitude irresponsável frente à epidemia de Aids. Mas, ao mesmo tempo, recusa-se esse lugar. Um bom exemplo disto foi uma encenação durante a gincana de um episódio familiar em que a mãe é viciada em droga, apesar dos apelos da filha, que acaba por socorrê-la e, diante do diagnóstico de Aids, exclama: “Também, com a vida que a senhora estava levando, só poderia dar nisso!”.

Relativas ao comportamento das pessoas

Aqui encontramos o maior número de referências. As princi- pais constatações são:

• A presença dominante do discurso “oficial” sobre o tema da prevenção Aids, veiculado nas campanhas e práticas educati- vas. É o discurso do Ministério da Saúde e de todo o sistema de saúde responsável pela prevenção, que está não só na co- municação que vem dos órgãos. Esse discurso emerge princi- palmente em situações onde há uma demanda institucional de opiniões, conhecimento e percepções, como na pesquisa ou na gincana.

• Mas, em situação mais informal, os debates sobre a Aids trazem à cena um contexto mais amplo, envolvendo relações familiares, de gênero, condições de vida, expectativas sociais e de vida. Traz o que chamamos de intertexto cultural, que inclui a existência de outros discursos circulando, ou que já circularam e pertencem a uma memória discursiva, que fazem parte da cultu- ra das pessoas e que se articulam com os discursos oficiais.

• No discurso dominante, encontramos a forte presença da noção de responsabilidade individual sobre a prevenção, que é uma marca da comunicação oficial. A responsabilidade pela prevenção recai sobre o indivíduo, através da diminuição do número de parceiros e do uso da camisinha e isto aparece em muitas falas. Mesmo quando o tema não é explicitamente Aids, essa noção aparece, como no ”Diário do Viciado”, ence- nação apresentada numa das provas da gincana: o vício é as- sociado à covardia (“o viciado é um covarde”); ao escapismo (“se esconde atrás das drogas para esquecer dos seus proble- mas”); à falta de controle (“você não é dono de si, a droga é que comanda você”).

• O tema da conscientização cabe aqui. A idéia que aparece é que cabe ao indivíduo ser consciente, “se conscientizar”, mas também aparece a expectativa de que o Estado tem o dever de promover ações para isto (divisão de atribuições, já mencio- nada). A consciência está associada mecanicamente à adoção de hábitos saudáveis e isto é próprio do modelo dominante da comunicação, que também supõe que uma informação ade- quada pode prover consciência.

• Também cabe neste tópico o tema da percepção do risco. Qualquer atitude de prevenção depende da noção de risco. E, sem dúvida, “risco” é um conceito cultural e contextual, não podendo ser estabelecido de forma genérica. É o contexto existencial das pessoas que determina a noção de risco. São suas condições de vida, sua experiência anterior, seu horizonte individual e social, os grupos aos quais pertence, sua experi- ência pessoal e familiar com as doenças, entre outros fatores, que determinarão o que é risco e se o risco é algo bom ou ruim de ocorrer; em outras palavras, se o risco vale a pena. Este ponto é fundamental nas estratégias de prevenção da Aids, que partem do princípio que o risco tem a mesma carga semântica e o mesmo valor para todas as pessoas.

• Este tema do risco remete para outro ponto relevante da análise: os discursos que subjazem nas falas, ocultados pelo altissonante discurso oficial sobre a prevenção. Na produção dos sentidos sociais, muitas das vezes o que não aparece ex- plicitamente nos enunciados age tão ou mais vigorosamente que se expressa na superfície das falas. Os textos analisados apontaram para:

Discursos moral e religioso

Encontramos a Aids associada com atitudes e comportamentos conotados negativamente da sociedade, tais como ociosidade, desrespeito, falta de caráter, más companhias. Também vem as- sociado e expresso na idéia de “punição”: a Aids aparece como punição para um comportamento moralmente reprovável. Um bom exemplo é o citado acima: “Com a vida que você levava só podia dar nisso”. No extremo oposto, marcas de outros tipos reafirmam a presença do discurso moral, como a revalorização da família e da monogamia. Estes fatores seriam a garantia contra a contaminação, menos por razões de ordem física e mais por uma relação “mágica” com o familiar e o conhecido.

Este discurso aparece em franca associação com outro, que identificamos como emanado dos meios religiosos, principal- mente da Igreja Católica, de tal sorte que fica difícil separar um do outro. A imbricação se manifesta na idéia forte de que o amor garante uma certa imunidade contra doenças sexu- almente transmissíveis, como a Aids. A confiança e a fideli- dade seriam a melhor forma de proteção contra a doença e a camisinha seria indicada, então, para os que transgridem essa regra básica. Tal representação encontra ressonância nas recomendações da Igreja Católica quanto ao sexo vinculado ao casamento e a fidelidade ao parceiro.

Tal constatação parece relevante quando se pensa em estratégia de prevenção, pois bate de frente com o modo como as campa- nhas tratam o tema: das mais variadas formas, se diz aos jovens “faça sexo, exerça sua sexualidade, mas use camisinha”.

Discurso do funk

O discurso que constitui e emana dos grupos de funk também deixou suas marcas, principalmente nas discussões entre os jovens, nos gritos de guerra da gincana (“que se exploda”), na identificação dos problemas em torno do uso da camisinha (expectativa curta de vida, viver intensamente). Houve uma forte identificação dos bailes e música funk com um “estado de prontidão” para o sexo, e o sexo sem proteção, porque pra- ticado num contexto de rebeldia e transgressão. O movimento funk apareceu no Lins como uma comunidade discursiva im- portante, que faz circular seus discursos através dos bailes e das rádios comerciais. Mesmo que não falem diretamente na Aids, suas músicas predispõem os jovens para uma atitude de desafio das regras em relação ao sexo. Já em Curicica ele tem presença diluída, transparecendo mais nos gritos de guerra e nos debates informais.

Numa articulação do discurso funk com o discurso moral, encontramos a noção de “comportamento de bandido”. O “bandido” é considerado um “indivíduo de risco” que, por ter expectativa curta de vida, pouco se importa com prevenção, sendo disseminador potencial do vírus. No Lins, muitos depoi- mentos deram conta de uma atração que os “bandidos” exer- ceriam sobre as adolescentes, por seus indicadores de renda – carro, relógios bonitos, jóias. “Aí, quando a menina se dá conta, bau bau, já foi”.

Discurso da superioridade do saber médico

Sempre devemos considerar que a situação de comunicação vivida – uma pesquisa de órgãos vinculados à saúde coletiva – pode ter exercido influência sobre os textos produzidos. A presença do discurso da superioridade do saber médico e do científico pode, portanto, ter sido acentuada pela situação de comunicação. O que os textos dizem? Que o médico, o hospital, a Ciência são os que podem resolver os problemas que se apre- sentam, geralmente produzidos por comportamentos e atitudes indesejáveis dos indivíduos. As autoridades médicas aparecem como os que sabem resolver. Aqui nós temos um espaço bem

favorável para o exercício da relação saber-poder. De um modo geral a comunicação institucional reforça bastante essa abor- dagem, descartando qualquer outra solução para os problemas

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